domingo, agosto 05, 2007

SOCIEDADE DE CONSUMO: AMBIENTE E QUALIDADE DE VIDA (2)

Na sociedade de consumo em que vivemos, os Estados Unidos que representam 6% da população mundial consomem 25% do petróleo. Se 24% da população do nosso planeta consumisse ao mesmo nível da população norte-americana consumiriam todo o petróleo não restando nada para os restantes 76% da população mundial. Este é um exemplo que mostra que não é viável “dar à maioria da população uma forma de vida que se igualasse aos padrões dos países desenvolvidos, em consumo de energia, de proteínas, de escolaridade, de horas de trabalho, etc. É inviável porque os sistemas ecológicos existentes seriam incapazes de assimilar os impactos decorrentes da actividade desenfreada, decorrente de uma economia global girando ao triplo da sua intensidade actual”( Ruger, 1999).

Assim, há que mudar de rumo, implementar uma política coerente de qualidade de vida e esta, de acordo com RibeiroTeles (1985), abrange os seguintes componentes: ambiente e conservação da natureza; ordenamento do território e defesa do património paisagístico; recreio, desporto e ocupação dos tempos livres e defesa do consumidor.

Dado o âmbito deste texto, apenas nos referiremos à componente ambiente.

De acordo com a Lei da Bases dos Ambiente, Lei nº 11/87, de 7 de Abril, ambiente é o conjunto dos sistemas físicos, químicos, biológicos e suas relações e dos factores económicos, sociais e culturais com efeito directo ou indirecto, mediato ou imediato, sobre os seres vivos e a qualidade de vida do homem.

Ainda de acordo com a Lei de Bases do Ambiente, o ambiente possui componentes naturais, como o ar, a luz, a água, o solo, subsolo, a flora e a fauna e componentes humanos, como a paisagem, o património natural e construído e a poluição.

Se o homem pretender viver com qualidade de vida, traduzindo-se esta na situação de bem estar físico, mental e social e na satisfação e afirmação culturais, bem como em relações autênticas entre o indivíduo e a comunidade, terá que optar por um modelo de desenvolvimento diferente do que rege as sociedades actuais, que respeite o direito que todos têm de respirar um ar limpo, de beberem água pura, de acesso a um nível de luminosidade conveniente à sua saúde, bem estar e conforto, que utilize racionalmente o solo e subsolo, a flora e a fauna. Este modelo, o do desenvolvimento sustentável, é o que permite “satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias”.

O modelo de desenvolvimento sustentável foi proposto, em Abril de 1987, pela Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento (“O Nosso Futuro Comum”), presidida pela primeira ministra da Noruega, Gro Bruntdtland. De acordo com Fernandes (1992) o relatório da referida comissão apresentou, entre outras, as seguintes conclusões:
- a necessidade da compreensão de que a humanidade existe como uma parte da natureza e deve actuar de acordo com as leis ecológicas;
- a concepção de que critérios novos, éticos e estéticos, devem ganhar peso em relação às considerações utilitaristas e economicistas;
- a compreensão da necessidade de ter em conta os efeitos a longo prazo no ambiente natural e humanizado das concepções económicas e das actividades humanas.

Terminaria, citando Jonathon Porrit (1992), líder de uma das maiores Organizações Não Governamentais de Ambiente a nível interacional, os Friends of the Earth International , que nos chama a atenção para a urgência da sociedade, para além de garantir as necessidades fundamentais como a alimentação, o abrigo, o aquecimento, o vestuário, os cuidados de saúde e a educação que infelizmente não estão asseguradas para todos, dever garantir um conjunto de necessidades, que o dinheiro não consegue comprar, como:

- Bom emprego: não só pode ganhar a vida como tam¬bém sentir-se realizado e pode servir os outros ao fazê-lo.
- Segurança: poder confiar e gozar o afecto, a amiza¬de e o amor dos outros.

- Autonomia: ser independente, livre de dívidas, com o suficiente para satisfazer as suas necessidades e mais um bocadinho.
- Recreio: poder passar um bom bocado em boa companhia.

- Respeito: sentir-se apreciado pelos outros em casa no trabalho ou na comunidade.
- Desafio: sentir que ainda se tem coisas para fazer sem se sentir bloqueado a cada instante.
- Integração: sentimento de pertencer a uma rede in¬definível de família e amigos.

- Enraizamento: sentir-se parte de um lugar, confor¬tado mas não aprisionado por vistas familiares.
- Inspiração: ser projectado para fora de si mesmo ou profundamente iluminado por outras pessoas, expe¬riências raras, valores religiosos ou espirituais.
- Liberdade: a liberdade pessoal que é indispensável para procurar satisfazer estas necessidades.

BIBLIOGRAFIA

FERNANDES, J., (1992), “Educação Ambiental para um Desenvolvimento Global”, Dirigir, nº 22, pp 9-13.
MELO, J., PIMENTA, C., (1993), Ecologia e Ambiente, Lisboa, Difusão Cultural.
PORRIT, J. (1992), Salvemos a Terra, Lisboa, Círculo de Leitores.
RUGER, M. (1999), Reflexões sobre a Viabilidade do Desenvolvimento Sustentado (polic.).
SILVA, C. ( 1978), Ecologia e Sociedade- Uma introdução às implicações sociais da crise ambiental, São Paulo, Edições Loyola.
TELES, G. (1985), Para além da Revolução, Lisboa, Edições Salamandra.

(Publicado no “Açoriano Oriental”, 8 de Outubro de 2001)

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