sábado, junho 16, 2007

CARTA DOS AÇORES


Nos Açores, as ideias independentistas, ao contrário do que é comum pensar-se não surgiram com o 25 de Abril de 1974. Numa nota de rodapé de uma publicação do princípio so século passado podemos ler: “O Gabinete impolitico de Portugal tornou os Açores um trono estéril, aniquilou os direitos dos seus habitantes em suas esperanças, e lhes deu em retribuição o indigente benefício de sua protecção e soberania. Os Açorianos há muito teriam deixado de aparecer no Mundo como um povo escravo e semi-bárbaro, se um governo livre e paternal tivera dirigido seu génio opresso por um regimen tirânico e supersticioso. Eles estão impacientes de sofrer o orgulho e desprezo Metropolitano, esperam somente o sinal para sacudir o jugo. Urge a honra tornar estes estados livres, e independentes, segurá-los com o escudo protector d’uma Nação poderosa, em sua Constituição política federativa aproximada à Helvética “(Thomaz Adson).

Em 1974, surgiram nos Açores diversos agrupamentos separatistas, destacando-se o MAPA e, depois, do desaparecimento deste, a FLA. Dirigidos por pessoas ligadas ao antigo regimen tinham como objectivo, entre outros, “liquidar a manipulação e o caciquismo comunista, o clima de desconfiança, medo e ódio, o caos económico, o isolamento interno e externo, o socialismo de miséria...”(Princípios Programáticos da FLA,1975). Em 1978, o Manifesto da Liberdade da autoria do Movimento Nacionalista Açoriano/FLA defende “a formação de uma democracia pluralista, mas defendida de ideologias totalitárias, nomeadamente as ideologias marxistas” e aemaça: “Se Lisboa manter uma atitude de permanente desprezo pelas aspirações dos Açoreanos o MNA/FLA procederá a um levantamento nacional armado do Povo Açoriano até à vitória final”.

Muito recentemente surgiu o Novo Independentismo Açoreano (NIA), promotor no passado dia 2 de Novembro de uma conferência que contou com a participação de Dorothée Piermont, militante do movimento pacifista alemão, eleita para o Parlamento Europeu numa lista dos Verdes. Apresentando-se como supra-ideológico e pacifista, o NIA tem “como meta a saída da CEE porque nós não poderemos sobreviver no contexto do Grande Mercado Interno”, pretende “fazer destas ilhas um exemplo de preservação ambiental para o mundo” e já estabeleceu contactos com “uma muito conhecida organização internacional de protecção do meio ambiente”.

Não me opondo, por princípio, à ideia de um auto-governo para os Açores, considero qu essa questão bem como a da ligação dos novos independentistas a políticos e associações da área ecologista, a nível internacional, merece uma reflexão mais profunda da parte de todos nós.

(Publicado no boletim “Iniciativa”, no Inverno de 1991)