sexta-feira, agosto 17, 2007

EM DEFESA DO PATRIMÓNIO NATURAL DA RIBEIRA GRANDE (2)

Tal como havia referido no texto publicado no passado dia 23 de Novembro, nesta segunda parte do artigo, dedicado ao património natural do concelho da Ribeira Grande, farei uma breve alusão à Caldeira Velha, área que, quanto a nós, deveria ser classificada como Monumento Natural e à Reserva Natural da Lagoa do Fogo.

Caldeira Velha

A Caldeira Velha situa-se na encosta Norte da Serra de Água de Pau, na Freguesia da Conceição, ocupando uma área de declive acentuado aproximadamente entre as curvas de nível dos 350 metros e a dos 450 metros.

A Caldeira Velha constitui um importante campo fumarólico localizado numa importante falha do complexo vulcânico do Fogo (Forjaz, 1988), numa zona de risco vulcânico médio- alto e de baixo risco sísmico (Forjaz, 1985).

As águas da Caldeira Velha são sulfatadas e alumínicas, com uma temperatura de 90º C e pH 3,13. Um pouco acima da cota da Caldeira (315m), a água da ribeira , na cota de 328 metros, é alcalina ferruginosa e com a temperatura de 25,2º C. (Zbyszewski,1961).

A flora autóctone existente no local é residual, tendo dado lugar às plantas introduzidas, algumas das quais invasoras. Assim, hoje, predominam, entre outras, as seguintes espécies: acácia (Acacia melanoxylon), conteira, (Hedychium gardneranum), incenso (Pittosporum undulatum) e , criptoméria (Cryptomeria japonica).

No que diz respeito à avifauna, entre outras espécies, podem ser encontradas as seguintes: milhafre (Buteo buteo rothschildi), pombo torcaz (Columba palumbus azorica), tentilhão (Fringilla coelebs moreleti), canário (Serinus canaria), alvéola (Motacilla cinerea patriciae), estrelinha (Regulus regulus azoricus) e melro-negro (Turdus merula azorensis).

A Caldeira Velha é um local com aspectos únicos em toda a Região, possuindo interesse múltiplo: científico, paisagístico, turístico, recreativo e cultural. Além disso, constritui um importante recurso para o ensino da Geologia, Vulcanologia e História Natural que não tem sido devidamente explorado e desenvolvido.

A classificação da zona envolvente à Caldeira Velha como Monumento Natural, ou a sua integração na Reserva Natural da Lagoa do Fogo, é uma medida que tarda em ser tomada e que tem passado de governo para governo. A título de exemplo, importa recordar que a 23 de Abril de 1990, na altura da escritura pública de aquisição pela Região dos terrenos envolventes, pela voz do Secretário Regional das Finanças de um governo, da responsabilidade do Partido Social Democrata, foi anunciada a recuperação da Caldeira Velha. De igual modo, a 23 de Agosto de 1999, a Senhora Directora Regional do Ambiente, agora de um governo, da responsabilidade do Partido Socialista, garantiu, ao Açoriano Oriental, que “na Primavera do próximo ano será implementado na Caldeira Velha um plano de intervenção que evite a sua já prolongada degradação”. A dita Primavera já passou e quantas mais ainda teremos de esperar?

Lagoa do Fogo

A Lagoa do Fogo, uma das mais belas, senão a mais bela, das lagoas açorianas, ocupa uma caldeira com 3 km de diâmetro e 100 a 300 m de profundidade e foi formada há cerca de 15 000 anos.

Na área envolvente à lagoa é possível encontrar-se algumas das plantas que constituem a flora primitiva dos Açores, dezanove delas endémicas. Entre elas, destaca-se a presença das seguintes: faia (Myrica faya), feto do cabelinho (Culcita macrocarpa), cedro do mato (Juniperus brevifolia), azevinho (Ilex perado ssp.azorica), patalugo-menor (Leontodon filii), folhado (Viburnum tinus ssp. subcordatum), uva-da-serra (Vaccinium cylindraceum), malfurada (Hypericum foliosum), tamujo (Myrsine africana) e trovisco macho (Euphorita stygiana).

A fauna do local é bastante diversificada, sendo possível encontrar-se os seguintes mamíferos: morcego (Nyctalus azoreum), comadrinha (Mustela nivalis), coelho (Oryctolagus cuniculus), furão (Mustela furo) e rato (Rattus rattus).

No que diz respeito à avifauna as principais espécies que podem ser vistas são as seguintes: touto (Sylvia atricapilla attlantis), tentilhão (Fringilla coelebs moreletti), melro-negro (Turdus merula azorensis), santantoninho (Erithacus rubecula), estrelinha (Regulus regulus azoricus), canário (Serinus_canaria), alvéola (Motacilla cinerea patriciae), pombo torcaz (Columba palumbus azorica), milhafre (Buteo buteo rothschildi) e gaivota (Larus cachinans atlantis).

Nas águas da lagoa existem diversas espécies piscícolas, com destaque para a ruivaca (Rutilus macrolepidotus), a truta arco íris (Salmo irideus) e a carpa (Cyprinos carpio), sendo também de referir a presença do tritão de crista (Triturus cristatus).

A Lagoa está integrada na Reserva Natural da Lagoa do Fogo. A notável beleza paisagística, aliada ao interesse geológico, a existência de cerca de 20 espécies da nossa flora endémica, a sua riqueza em invertebrados e a presença de 8 subespécies endémicas da avifauna açoreana, fizeram com que esta Reserva e alguns terrenos adjacentes, perfazendo um total de 2920 hectares, fossem integrados no Projecto de Biótopos do Programa Corine da Comunidade Europeia.

A Reserva da Lagoa do Fogo, criada a 15 de Abril de 1974 (Dec. Nº 152/74) foi “recriada” pelo Decreto Legislativo Regional nº 10/82. De acordo com o mesmo, no prazo de um ano seria criada uma Comissão Administrativa, um Plano Director e um regulamento que definiria os órgãos e o modo de funcionamento daquela. Nada foi feito e desde 30 de Novembro de 1993 aguarda a sua reclassificação. Até quando?
(Publicado no Açoriano Oriental, 4 de Dezembro de 2001)

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