sábado, agosto 18, 2007

ESPELEOLOGIA : UM POUCO DA SUA HISTÓRIA NOS AÇORES


Com este texto, inicio um conjunto de artigos sobre uma riqueza existente na região e que tem estado esquecida ou, mesmo, desprezada: o seu património espeleológico.

O vocábulo espeleologia é usado, quer quando se pretende referir à ciência que estuda as cavidades, quer quando se menciona a actividade desportiva que consiste na exploração do mundo subterrâneo.

Embora seja uma actividade muito antiga, só no século XIX a espeleologia tornou-se numa actividade organizada graças ao labor do francês, Eduard Martel, o “pai” da espeleologia, que estudou e divulgou centenas de grutas em toda a Europa, e do austríaco Adolf Schmidl, criador da espeleologia como ciência.


Em Portugal, os primeiros registos da actividade espeleológica são de 1758, data em que o Padre Manuel Dias descreveu a exsurgência dos Olhos de Água. Nos Açores, embora se conheçam descrições das grutas vulcânicas datadas do século XVI, da autoria de Gaspar Frutuoso, de em 1821 John White Webster ter descrito uma gruta na zona dos Arrifes, de George Hartung, em 1860, ter visitado a Gruta do Carvão, em Ponta Delgada e a Furna do Enxofre, na Graciosa, etc., a actividade espeleológica organizada iniciou-se, na ilha Terceira, na década de 60 do século passado através da Sociedade de Exploração Espeleológica "Os Montanheiros".

A Sociedade de Exploração Espeleológica “Os Montanheiros”, fundada em 1 de Dezembro de 1963 “tem por fim promover o conhecimento e divulgação de motivos naturais de interesse espeleológico ou paisagístico”, através da pratica do campismo e do montanhismo. Os MONTANHEIROS têm desempenhado um papel de relevo no apoio logístico a várias expedições científicas no âmbito da espeleologia e têm denunciado atentados à natureza, sobretudo na ilha onde a associação está sediada, a Terceira. Nesta associação, destacou-se Manuel Aguiar Silva, pelo entusiasmo e dedicação com que exerceu as suas funções de presidente da Direcção durante largos anos.

Ainda na década de 60 do século XX, Victor Hugo Forjaz descreveu num texto publicado no Boletim do Núcleo Cultural da Horta, em 1963, a Furna de Henrique Maciel, da ilha do Pico.

Em 1972, Luís Arruda, numa publicação da Sociedade Portuguesa de Espeleologia, escreve sobre as grutas do Pico.

Sobretudo no primeiros anos da década de 90, Albino Garcia faz a exploração de várias grutas no Pico e dá apoio logístico a diversos espeleólogos estrangeiros, entre os quais o cientista austríaco Herbert Franz.

Em 1988, os Amigos dos Açores dão início às primeiras explorações espeleológicas na ilha de São Miguel, tendo visitado todas as grutas e algares existentes na ilha. No ano seguinte, tem lugar uma expedição cientifica em que participaram especialistas das Universidades de Edinburg (Escócia), La Laguna (Canárias) e Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, chefiados, respectivamente, por Nelson Ashmole, Pedro Oromi e Paulo Borges .

No ano de 1991 foi criado, no seio dos Amigos dos Açores, o “Grupo de Trabalho de Espeleologia”, coordenado por João Carlos Nunes, o qual, desde então, estudou diversas cavidades subterrâneas da Ilha de S. Miguel, com especial destaque para a Gruta do Carvão.

Em 1992, organizados pelos Montanheiros realizaram-se, em Angra do Heroísmo, o III Congresso Nacional de Espeleologia e o I Encontro Internacional de Vulcanoespeleologia das Ilhas Atlânticas.

Em 1994, é editado o livro “Património Espeleológico da Ilha de São Miguel”, da autoria de João Paulo Constância, João Carlos Nunes e Teófilo Braga e é elaborada uma “Proposta de Intervenção Museológica na Gruta do Carvão”, a qual foi apresentada publicamente em Março, durante os trabalhos do “1º Encontro das Instituições Museológicas dos Açores”, realizado em Ponta Delgada, no Museu Carlos Machado.

Em 1998, o Conselho de Governo cria um Grupo de Trabalho Multidisciplinar Encarregado de Promover a Elaboração de um Estudo sobre as Cavidades Vulcânicas Existentes no Arquipélago, grupo este que ainda se encontra em funcionamento.

O crescente interesse pela visita a grutas poderá, desde que salvaguardada a segurança dos visitantes e a própria integridade das cavidades, constituir mais uma mais valia para a região. É que, para além dos aspectos de carácter científico e desportivo, poderão ser exploradas nas grutas as suas potencialidades didácticas e turísticas.

Voltarei ao assunto.

(Publicado no Açoriano Oriental, 8 de Abril de 2002)

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