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sábado, agosto 18, 2007

ESPELEOLOGIA: ESTUDOS E PATRIMÓNIO ESPELEOLÓGICO


Como já tive oportunidade de escrever, nos Açores, apenas duas organizações não governamentais têm, de forma sistemática e contínua, dedicado o seu esforço à descoberta, inventariação, levantamento cartográfico e estudo geológico e /ou biológico das cavidades vulcânicas do arquipélago: a Sociedade de Exploração Espeleológica: Os Montanheiros, sediada na ilha Terceira, e os Amigos dos Açores- Associação Ecológica, com sede em São Miguel.

Como, também já escrevi, no artigo publicado neste jornal, no passado dia 8 de Abril, alguns especialistas nacionais ligados a diversas Instituições Universitárias, com destaque para os Doutores Victor Hugo Forjaz, Luís Arruda e Paulo Borges, deram o seu contributo para um melhor conhecimento da riqueza espeleológica dos Açores. Contudo, seria injusto não referir os nomes de diversos espeleólogos estrangeiros que nos têm visitado e que têm com o seu trabalho enriquecido o conhecimento que temos sobre as cavidades vulcânicas dos Açores.

Não querendo cometer qualquer injustiça, por omissão de algum nome, referia aqui o contributo dos seguintes espeleólogos e de alguns dos trabalhos por eles efectuados: P. Brunet e C. Thomas, franceses que visitaram a ilha do Pico e fizeram o mapa da Furna de Henrique Maciel; W. Halliday, americano que visitou várias ilhas e apresentou a primeira listagem das cavidades vulcânicas dos Açores, com um total de 25, 18 grutas e 7 algares; Montserrat e Romero, espanhóis, que descreveram várias grutas da ilha Terceira; T. Ogawa, japonês que visitou várias ilhas e que publicou um artigo com uma listagem das grutas dos Açores, com um total de 42 grutas inventariadas, e N. Ashmole e P. Oromi, o primeiro de nacionalidade inglesa e o segundo espanhol, que chefiaram uma expedição apoiada pela National Geographic Society, que percorreu várias ilhas dos Açores com o objectivo de proceder a estudos de carácter bioespeleológico.

No que diz respeito à quantidade de cavidades vulcânicas dos Açores, a última listagem publicada, da autoria de Paulo Borges, Manuel Aguiar Silva e Fernando Pereira, pode ser consultada no artigo “Caves and Pits from the Azores With Some Comments on Their Geological Origin, Distribution, and Fauna” publicado em 1992, nos Estados Unidos da América.
De acordo com os referidos autores, nos Açores existem 112 cavidades vulcânicas, distribuídas pelas seguintes ilhas: Corvo (1), Faial (4), Pico (36), Graciosa (17), São Jorge (12), Terceira (26), São Miguel (13), Santa Maria (3).

Atendendo a que na Graciosa, desconhece-se hoje grande parte da localização das grutas inventariadas, podemos dizer com rigor que a ilha onde existe maior quantidade de grutas é a do Pico, com mais de 10 km de extensão já conhecidos, seguindo-se a Terceira, com mais de 7 km e, em terceiro lugar, São Miguel, com cerca de 3 km de extensão já explorados.

Para além das cavidades que já se encontram abertas ao público, como o Algar do Carvão, a Gruta do Natal e a da Água, na Terceira, e a Furna do Enxofre, na ilha Graciosa, as ilhas do Pico e de São Miguel possuem grutas que, à partida, oferecem todas as condições para serem abertas ao público e como tal fazerem parte da oferta turística. Refiro-me, entre outros, ao caso da Gruta das Torres, com mais de 3 km de extensão já reconhecidos, situada na Criação Velha, na ilha do Pico, e à Gruta do Carvão, com cerca de 1500 m já explorados, nos seus três troços conhecidos, o dos ex-Secadores da Fábrica de Tabaco Micaelense, na Rua de Lisboa, o da Rua do Paim e da Rua João do Rego, em Ponta Delgada.

Sabendo-se que já existe um projecto da Direcção Regional do Ambiente para abertura da Gruta das Torres e que os Amigos dos Açores,em 1994, também apresentaram uma Proposta de Musealização da Gruta do Carvão, seria de todo o interesse para a Região que se dessem passos no sentido de concretizar, com a brevidade possível, ambas as intenções.
(Publicado no Açoriano Oriental, 19 de Agosto de 2002)

quinta-feira, julho 12, 2007

Grutas- Um Património Natural que Urge Defender


No passado dia 30 de Janeiro, graças à amabilidade do sr. Belchior, tivemos a oportunidade de visitar uma das poucas grutas naturais existentes em São Miguel, que ainda não foram soterradas.

Hoje, completamente desprezadas e maltratadas, as grutas naturais foram no século passado alvo da visita de estrangeiros ilustres e acarinhadas por quem cá vivia. Walter Frederic Walker, membro da Royal Geographical Society, da Society of Biblical Archeology e de outras instituições de carácter cientifico, no seu livro «The Azores or Western Islands», publicado em 1886, faz uma descrição minuciosa da gruta existente num campo da Rua Formosa hoje secadores da Fabrica de Tabaco Micaelense, na Rua de Lisboa - e dá-nos uma explicação acerca da formação das grutas em regiões vulcânicas: «A teoria, segundo Sir. Charles Lyel, é que foram produzidas pelo endurecimento da lava durante o escape de grandes volumes de fluidos elásticos que são frequentemente expelidos, durante muitos dias seguidos depois da crise da erupção terminar».

Robin Bryans no seu livro «The Azores», publicado no início da década de 60, também se refere ao Algar da Rua de Lisboa e mais recentemente o dr. Willian Halliday, membro da Western Speleological Survey, dos Estados Unidos da América, que o visitou em 1980, refere-se àquela gruta nos seguintes termos: para além da parte baixa, a gruta torna-se mais ampla e tem características que mostram a forma como a lava correu através dela… com, apenas, um pouco de trabalho seria possível reabrir e ampliar uma das duas entradas (agora fechadas) para que os visitantes e estudantes compreendessem como a vossa bela ilha se formou… Na minha estimativa o comprimento da gruta é de cerca de 400 metros até à obstrução final».

Soterradas, a servir de esgoto ou de lixeira, as grutas além de constituírem um nó importante de explicação cientifica do nosso meio natural são parte integrante de património paisagístico (neste caso subterrâneo) e como tal deveriam merecer todo o respeito por parte de todos nós, em particular pelas entidades responsáveis, no caso presente a Câmara Municipal de Ponta Delgada e a Delegação de Turismo, devendo, depois de efectuados pequenos trabalhos de limpeza, serem integradas no roteiro turístico.

A inventariação, defesa e divulgação espeleológico existente em S. Miguel é uma das actividades que um grupo de associados dos Amigos da Terra/Açores pretende levar a cabo este ano. Para a concretização daquele seu objectivo precisam da colaboração das mais diversas entidades públicas e privadas e já pediram o apoio a espeleólogos estrangeiros e à Associação de Exploração Espeleológica «Os Montanheiros», da ilha da Terceira.

Apelamos a todas as pessoas que tenham conhecimento da existência de grutas naturais e a todos os interessados na sua exploração o favor de entraram em contacto connosco.

Teófilo de Braga, com a colaboração de George Hayes (membros dos Amigos da Terra/Açores)

(Publicado no “Diário dos Açores”, 2 de Fevereiro de 1988)
EM DEFESA DO PATRIMÓNIO ESPELEOLÓGICO (3)

A Gruta de Webster, realidade ou ficção?



As ilhas dos Açores, praticamente desde o seu povoamento, têm sido alvo da visita de um avultado número de escritores e cientistas.

John White Webster, genro do primeiro cônsul americano, Thomas Hickling, «o revelador do vale das furnas às modernas gerações micaelenses, pois encantado com as belezas naturais do mesmo, ali mesmo fez construir o seu YANKEE HALL», rodeado de um magnifico jardim, foi autor de um dos mais valiosos livros sobre a ilha de São Miguel, «Description of the Island of St. Michael” editado em Boston em 1821. A sua tradução, da autoria do Dr. César Rodrigues, está ao dispor de todos os interessados no «Arquivo dos Açores, volume XIII».

Tal como Fouquê e Hartung, que em trabalhos de sua autoria fazem a descrição de vários tubos basálticos, alguns dos quais chegavam a atingir quilómetros de extensão, John Webster dedica um capitulo do seu livro ao relato de uma excursão a uma caverna situada a «cerca de três a quatro milhas a noroeste de Ponta Delgada».

Através do relato de Webster ficamos coma sensação que esta gruta era de enormes dimensões: «O precipício não tinha provavelmente d’altura menos de trinta pés; e como os archotes, com que nos tinham provido, apenas iluminassem fracamente a caverna, mandámos acender uma fogueira ao nosso guia. Pelo som das nossas vozes pareceu-nos que este lograr devia ser d’uma grande extensão, não nos sendo possível ver o tecto mesmo com o auxílio da luz a mais forte que podemos obter».

Algumas pessoas por nós contactadas duvidam da existência desta gruta. O Dr. William Halliday, num trabalho a que tivemos acesso, fala-nos de uma gruta nos Arrifes cuja entrada ficava próxima do quartel militar situado a norte daquela freguesia.

A descrição feita por um jovem empregado do sector dos lacticínios, que lhe mostrou alguns diapositivos, levou o Dr. William Halliday a levantar a hipótese de ser a gruta visitada por Webster.

Até ao presente não nos foi possível contactar com o interlocutor do Dr. Halliday, desconhecendo-se, portanto, o local exacto da sua entrada e se está em condições de ser visitada.

A título de curiosidade refira-se que a espeleologia, actividade que no nosso pais ainda não suscitou os apoios que merece, em vários países tem servido de suporte a um grande numero de experiências de índole cientifica, sendo em França tão praticada como o basquetebol.


(Publicado no “Correio dos Açores” em 14/4/1988)