terça-feira, janeiro 30, 2007

RESERVA DE RECREIO DA LAGOA DO CONGRO, POR QUE NÃO?

Um dos desafios com que se debate a Região é o do desenvolvimento turístico.

O desenvolvimento turístico uma arma de dois gumes. Pode ser um estímulo para a conservação e protecção dos recursos de uma região, mas também, e muito frequentemente, a falta de planeamento, a ganância, a pressão comercial e uma falta de visão levam à construção em sítios que arruínam as belezas naturais.

As ilhas dos Açores constituem um local privilegiado para o desenvolvimento de um turismo cultural e ambiental, “tendo por base o conhecimento da história, da arte e dos modos de vida do seu povo, bem como a exploração das suas paisagens, o seu vulcanismo, fauna e flora raras e específicas”.

Vila Franca tem que optar por um turismo de qualidade. Este concelho possui um grande número de recursos, como praias, paisagens, montanhas, reservas naturais, locais históricos, monumentos, o seu museu, etc. e só na procura de uma alternativa ao turismo de massas através de novas vias mais individualizantes, específicas, descentralizadas, sazonalmente distribuídas ao longo do ano, é que é possível não destruir as belezas que possuímos.

Como vilafranquense e AMIGO DA TERRA, queria aproveitar a oportunidade para apresentar, aos responsáveis autárquicos deste concelho, a seguinte sugestão: a zona das Lagoas do Congro e dos Nenúfares pela sua singularidade e localização possui características que fazem dela um local procurado por quem precisa de sossego e enorme interesse turístico pelo que merece ser enquadrada no Património Natural e Paisagístico da Região, com a categoria de Reserva de Recreio.

Tomei conhecimento, pela imprensa da intenção da Câmara Municipal de ponta Delgada ( será engano?) em melhorar os acessos à Lagoa do Congro e construir um miradouro. Relativamente ao primeiro ponto, estou perfeitamente de acordo, desde que o objectivo não seja o de permitir o trânsito a veículos automóveis, o que na minha opinião deverá ser expressamente proibido, por ser perturbador do descanso e da tranquilidade de quem foge da balbúrdia do dia a dia. Quanto ao segundo ponto, discordo completamente pois um miradouro naquele local, para além da descaracterização da paisagem, não serve ao desenvolvimento do turismo concelhio já que transforma aquele local em mero ponto de passagem.

Criada a reserva, nas suas imediações, possivelmente na antiga casa de campo, deveriam ser construídas todas as infra-estruturas necessárias e a partir delas, no Verão, poderiam ser organizados circuitos pedestres destinados a todos os interessados, turistas ou não. E há muito por onde escolher, desde percursos pequenos com possibilidade de visita a pequenas mas muito belas lagoas nos arredores (ex: a Lagoa do Areeiro, a Lagoa do Pico da Lagoinha, etc.), até percursos mais longos, como um passeio até à Lagoa de São Brás ou até ao Pico da Vela, donde se avista a Lagoa do Fogo.

(Publicado no jornal “Correio dos Açores, 23 de Junho de 1988)

sábado, janeiro 27, 2007

EUCALIPTO, ÁRVORE "NON GRATA"

Eucalipto, “Árvore non grata”

O eucalipto (Eucalyptus globulus Labill), originário da Tasmânia onde chega a atingir mais de 100 m de altura, foi introduzido na Europa no século XIX para enxugar e sanear os terreos húmidos e insalubres. Boa fonte de combustível para fins industriais e domésticos é cultivado sobretudo para servir de matéria prima para a indústria de pasta de papel. As suas folhas sobretudo as dos ramos mais velhos, são utilizadas para fins medicinais. O eucalipto, faz parte de inúmeras preparações farmacêuticas.

Hás dois anos existiam, nos Açores, na Ilha Terceira, apenas dois núcleos florestais com dimensão significativa. Em São Miguel e Santa Maria, ilhas onde existiam pequenos povoados e árvores dispersas, a área arborizada com aquela espécie era próxima dos 100 hectares.

Em ofício, dirigido aos Amigos da Terra/Açores, datado de 2 de Setembro de 1987, o Director Regional dos Recursos Florestais escrevia: “ As áreas cobertas com eucalipto só tendem a diminuir, ora pela reconversão com outras espécies com mais valor ora pela transformação dos terrenos para outras culturas”.

Passados dois anos, a eucaliptite(*) parece ter chegado à Região. O eucalipto ocupa já 50% da superfície arborizada da Terceira.

Por que razão esta espécie, de garnde utilidade, é considerada “non grata”?

Exigente em água, produz modificações micro e macroclimáticas e provoca alterações prejudiciais aos regimes hídricos dos cursos de água ou a nível das águas subterrâneas, sendo os seus efeitos desastrosos quando em situações de monoculturas extensas.

Na Ribeirinha, na propriedade conhecida por Lameiro, existe um exemplar digno de ser observado. Sdegundo A. Emiliano Costa, em artigo publicado no Boletim da Comissão reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, em 1953, media “10,20 m de circunferência à altura do peito, equivalente a 3,24 m de diâmetro e com a altura aproximada de 55 m”.

(*) “Doença virulenta e gravíssima, que tendo já atacado governantes e outros defesnores da nossa economia “independente”, está a alastrar assustadoramente por todo o país. É pior que o SIDA, pois não é necessário contacto para a propagação do Virús. Transmite-se através das notas bancárias, basta verem-se as notas que estejam inoculadas do Virús para se ser infectado, no caso de se sofrer já de “gula” pelo dinheiro”. In “ A eucaliptização da língua portuguesa”, Jorge Paiva, Jornal de Coimbra, 28 de Dezembro de 1988)

(Publicado no jornal “Correio dos Açores”, em 16 de Março de 1989)

quinta-feira, janeiro 25, 2007

ECOLOGIA E ECOLOGISMO

O termo «ecologia» foi usado pela primeira vez, em 1866, pelo biólogo alemão Ernst Haeckel, na sua obra Generelle Morphologie der Organismen. Segundo ele, a ecologia é “a investigação das relações totais do animal tanto com o seu ambieente orgânico como inorgânico.
A Ecologia, que só a partir de 1919 deixou de ser um ramo da Biologia, pode ser definida como a ciência que estuda a dependência e a integração entre os sistemas biótico e abiótico da Terra.
Ao considerar que o homem vive, simultaneamente, num ambiente natural, social e psicológico Julian Huxley advoga a necessidade de se ampliar o conceito de Ecologia. Assim, segundo ele, a Ecologia Social “lida com as relações sociais do homem, tanto dentro como entre as sociedades humanas” e a Ecologia Psicológica “preocupa-se com as relações individuais e colectivas do homem, com as forças e recursos da sua natureza íntima e o mundo das ideias, crenças e valores que ele criou e com os quais se cercou”. É, no entanto, importante separar a Ecologia como ramo do conhecimento científico, da Ecologia como fenómeno sócio- -político.
“Ecologismo” é o termo usado para designar a globalidade dos movimentos de feição sócio-política centrados em torno da Ecologia.
O movimento ecologista fundamenta a sua actuação em dados fornecidos pela Ecologia cientifica, mas enquanto que a Ecologia científica pode servir de instrumento à construção de uma nociedade industrial preservada, os principais mentores do ecologismo lutam por uma ruptura imediata, propondo um outro modelo de sociedade.
O termo “Ecologismo” possui, segundo o seu criador, também a vantagem de unificar as acções práticas do movimento ecologista, sem esquecer a sua profund.a diversidade.
No mundo inteiro, o Ecologismo é contestação do sistema energético que modela as sociedadcs industriais do Leste e do Oeste. Porém não apresenta plano da sociedade ideal — nem sequer projecto preciso de sociedade. Nem revolucionário, no sentido histórico do termo, nem reformador, sonha em opôr aos Estados-nações um «planeta de federações» que corresponda aos princípios ecológicos do respeito pela diversidade.
Embora, o movimento ecologista não possua uma linha única, nem tão pouco um corpo doutrinário homogéneo, possui, segundo Dominique Simonet, três características:
1º — Para os ecologistas as actividades humanas não são reduzidas a meras relações de produção; a ecologia política tira o homo economicus do seu quadro intrincado de trabalhador-consumidor para o considerar como um ser único dotado de desejos e de uma cultura. A noção do melhor ser opôe-se à do mais ter, o processo social a crescimento económico. Os ecologistas não se interrogam somente acerca da propriedade dos meios de produção, mas também sobre a sua natureza e o seu desenvolvimento.
2º — Embora o movimento ecologista não seja uma entidade estruturada, desenvolve todavia aspirações difusas em que se pode distinguir o esboço de um desejo político em alguns elementos centrais; unidades de pequena envergadura, descentralização regional. ...Estas propostas condicionam a vida e a organização do movimento ecologista; inscrevem-se sobretudo num contexto cultural à margem da ideologia dominante e suscitam iniciativas “paralelas”, indiferentes ao código social em vigor, que se esforçam por criar «aqui e agora”, sem esperar por um hipotético entardecer ou um «amanhã que canta» como sonhava o esquerdismo.
3º — Uma ideologia ecologista põe profundamente em causa o determinismo científico e técnico que condiciona o desenvolvimento das sociedades modernas, interrogando-se sobre a influência do pensamento científico e sobre o da tecnologia dentro das escolhas de sociedade e modo de vida, O movimento ecologista põe antes de tudo a relação entre a natureza e a sociedade num século em que o homem «desnaturado», encerrado no seu papel social, é a principal vítima deste antagonismo. Medita sobre as noções de felicidade e de liberdade, dissociando uma da abundância, associando a outra à autonomia e formula ao mesmo tempo uma moral do comportamento quotidiano, olhando a sociedade do ponto de vista da natureza e do indivíduo.
(Publicado no jornal “Diário Insular”, no dia 13 de Agosto de 1982)

quarta-feira, janeiro 24, 2007

A PROPÓSITO DE CHERNOBYL: ENERGIA NUCLEAR? SIM, MUITO OBRIGADO !



«As modernas centrais eléctricas atómicas soviéticas são as mais inofensivas do ponto de vista ecológico: o problema da defesa contra a radiação, na U.R.S.S., já foi resolvido. (…) Observações feitas ao longo de muitos anos têm evidenciado que as centrais eléctricas atómicas não alteram praticamente o estado radioactivo do meio ambiente. Graças aos sistemas de protecção de várias etapas, mesmo no caso de um desastre na central, não haverá fuga de radiações». Nikolai Tikhonov (chefe do Governo Soviético, 1983).

Muitos são os livros publicados por fanáticos, que se dizem ecologistas, a combater a utilização, de energia nuclear, mesmo para fins pacíficos. Esta não é, concerteza, a minha opinião. Acho que a utilização da energia nuclear, quer para fins pacíficos quer para bélicos contribui, como veremos, para o progresso científico e cultural da nossa civilização.

Em virtude de, ainda, estarmos em cima dos acontecimentos não nos referiremos ao que se passou na União Soviética. Confiamos, aliás, na sinceridade e abertura dos dirigentes soviéticos quanto a um futuro esclarecimento do sucedido. Basta recordarmos a rapidez com que o chamado acidente foi divulgado.
Com base no livro «A Nuclearização do Mundo», editado pela Antígona, tentaremos esmagar, de uma vez para sempre (e de que maneira !), alguns dos estafados argumentos contra o nuclear.

Um dos argumentos contra o nuclear, consiste em afirmar que as centrais nucleares correm o risco de sofrerem acidentes de consequências bastante nefastas e como exemplo é apontado o que ocorreu em Three Miles Island. Quanto a nós não se tratou de acidente mas, sim, de uma pequena falha resultante de um defeito anatómico comum, aliás, no homem da sociedade prénuclear que os malditos ecologistas pretendem perpetuar.

Assim, «segundo um dos peritos desta infalível comissão (Comissão de Regulamentação Nuclear), a enfiada de erros humanos que nesse 28 de Março de 1979 perturbou inoportunamente a central, esse desastroso encadeamento de circunstâncias teve por origem a proeminente pança de um dos operadores da central, cujo exorbitante volume ocultou desgraçadamente os mostradores do controle que, se tivessem estado no seu campo de visão teriam indicado a esse operador o disfuncionamento que lhe pertencia remediar. Não duvidemos que, munidos destas informações, os especialistas não se empenhem doravante a calcular os índices de tolerância nuclear em matéria de curva abdominal, a fim de determinar o perfil ideal do operador nuclear, e seu regime alimentar esperando poder modelar directamente, com a ajuda dos seus colegas geneticistas, a morfologia do HOMO NUCLEARES perfeito…».

Os ecologistas, cambada de ignorantes, ao defenderem que a energia nuclear é poluente mais não fazem do que poluir as mentes dos mais desprevenidos. Aos seus apelos não devemos dar nenhum crédito. A nossa estima e apoio devem cair em pessoas honestas e suficientemente cultas como o é, por exemplo, o lente Vladimir Kiriline, Presidente do Comité de Estado para a Ciência e Técnica e Vice-Presidente do Conselho de Ministros da União Soviética (não sei seja foi substituído), que afirmou: «A energia nuclear parece-nos a melhor reposta para a protecção do meio ambiente». Igual consideração nos merece o então primeiro-ministro de França, Raymond Barre, que declarou: «O que é preciso é familiarizar o público com a radioactividade» ou então um perito, cujo nome desconhecemos, que a propósito de mariscos pescados nas proximidades de fugas radioactivas de La Hague declarou que estava disposto a comê-los durante um ano.

Ainda há quem não acredite nesses homens?!

Ficaríamos com um pequeno excerto do já referido livro que, por si, desmarcará não só os ecologistas como também os chamados pacifistas: «Não possuímos nós doravante, graças ao aperfeiçoamento dessas mesmas técnicas, armas chamadas «bombas de neutrões» cuja delicadeza na protecção do meio ambiente chega a deixar tudo intacto, tocante solicitude que ousarei qualificar de ecologia no melhor sentido do termo? Deste modo, se por um motivo extraordinário se produzisse uma guerra antes que a nuclearização do mundo a tivesse tornado impossível – porque absolutamente inútil, como veremos mais adiante – não apresentaria em todo o caso nenhum dos traços o seu tanto chocantes, que apresentaram as guerras do passado. Mais uma vez, a acção militar se apresenta como uma antevisão promissora de progresso, destinada a servir a vida civil; pois é uma das evidentes superioridades da energia nuclear sobre as que precederam, a ser mesmo quando modifique em profundidade a natureza das coisas, eminentemente respeitadora das aparências: nada é mais discreta que uma radiação».

Para nós, açorianos, com tantos desafios para vencer e numa «época em que se caminha para a automização integral, é necessário que os homens se aproximem cada vez mais da eficácia das máquinas», não será o peixe radioactivo um «excelente óleo lubrificante dos «robots» humanizados e dos homens robotizados»?

(Publicado no jornal “Correio dos Açores”, de 8 de Junho de 1986)

quinta-feira, janeiro 18, 2007

ERMIDA DE SÃO JOÃO- À ESPERA DE RECONSTRUÇÃO

“Entre quantas existiam em Vila Franca e a incúria dos homens deixou abandonadas, a ermida de S. João parece desafiar o tempo mostrando a quem perto dela passa as suas velhas paredes e parece que pedindo a mãos generosas que a salvem da ruína total”. (in «A Crença» 3/3/85)

A cerca de 2Km de Via Franca do Campo, a nascente da Ribeira Seca e a poucas dezenas de metros da Estrada Regional encontra-se, transformada num montão de pedras cobertas por um silvado, a ermida de São João que tal como a de Santa Catarina, construída dentro da própria Vila, sobreviveu à destruição de Vila Franca pelo terremoto de 1522.

Anterior ao terramoto, «não se sabe quem a edificou, mas conta-se que no tempo dos primeiros povoamentos da ilha se atolara naquele sítio um nobre cavaleiro, que votara erigir um altar a São João, se de lá saísse a são e salvo, como aconteceu» (*). Pertenceu ao vínculo de Jorge da Mota Cavaleiro do hábito de Aviz, pai de Petronilha da Mota, e primeira freira micaelense e abadessa do Convento de Santo André.

Já em 1696 a ermida de São João necessitava de algumas reparações; em 1811 o Bispo D. José d’Azevedo concedeu um prazo de um ano para que fossem realizados alguns melhoramentos em várias ermidas, entre elas a de S. João «findo o qual ano, se assim se não cumprir, se não poderá nelas mais celebrar o Santo Sacrifício nem dar-se culto público».

O último administrador do vínculo de Jorge da Mota, o Morgado Luís Francisco Rebelo Borges de Castro, após a lei de desamortização, ficou sem obrigação de aplicar rendimentos na referida ermida. Esta foi deixada ao abandono e acabou por arruinar-se.

Ligada à história do nosso povo e da antiga capital de S. Miguel a ermida de São João bem merece que se gaste algum dinheiro na sua reconstrução. Em 1982 «A Crença» referia o interesse do actual proprietário do terreno em ceder o que fosse necessário à sua reedificação e que existiam pessoas interessadas em recolher fundos e mover influências para as obras de reconstrução da ermida.

Onde estão essas pessoas? Que fizeram nesse sentido?

Mãos à obra, podem contar com a minha inteira colaboracão!

(*) História das lgrejas, Conventos e Ermidas Micaelenses,Urbano de Mendonça Dias

( Publicado no Jornal “Correio dos Açores”, de 9 de Julho de 1986)

Eucaliptomania, Universidade e Partidos Políticos

Em Setembro de 1987, o Director Regional dos Recursos Florestais afirmava: “as áreas cobertas com eucaliptos só tendem a diminuir, ora pela reconversão com outras espécies com mais valor ora pela transformação dos terrenos para outras culturas”. Passados dois anos, a espécie nativa da Austrália (incluindo a Tasmânia) ocupa 50% da superficie arborizada da Terceira, estando uma das plantações sobre o lençol de água que abastece a cidade de Angra do Heroismo, no local da Caldeira do Guilherme. No Pico, só a Soporcel já arrendou cerca de três mil hectares de terras. A um passo de invadir São Miguel, qualquer dia irá cobrir por completo a ilha das Flores. Seria a concretização do sonho (ou pesadelo?) do deputado comunista que tem assento na Assembleia Regional.

Porque motivo, só agora, as empresas de celulose se lembraram de vir colonizar os Açores?

Escrevi colonizar pois o seu projecto não é apenas introduzir a monocultura intensiva do eucalipto. Preparam-se para “controlar’ a informação e “manipular o saber, financiando estudos a efectuar pela Universidade com vista a justificar a introdução do “petróleo verde” nos Açores. É que, como se sabe, nem toda a investigação é isenta e embora o seja a sua divulgação poderá ser impedida, quando não estiver de acordo com os interesses da empresa que os paga. Concordo com João Caninas, do GEOTA, quem em “O Jornal” de 12/01/90, referiu-se ao facto de a investigação cientifica andar a reboque da iniciativa privada não garantir a isenção necessária e faço minhas as palavras do arquitecto Ribeiro Teles que considerou o financiamento da investigação pelas empresas de celulose como a “prostituição da investigação e da própria Universidade”.

Se a monocultura do eucalipto é boa para a Região Açores, porque motivo as empresas têm necessidade de prometer financiamento a projectos de interesse turístico, recuperar o “boi açoriano”, construir um parque para a caça ao veado, oferecer dinheiro a intermediários para o arrendamento ou compra de terrenos, pagar viagens a jornalistas (não viram nem cheiraram os esgotos das fábricas!) e a deputados?
A propósito de deputados, não conhecemos nenhuma reacção do partido dito ecologista “Os Verdes” ao interesse manifestado pelo deputado Valadão que acha que nas Flores o eucalipto vai “dar vida às suas gentes”. Na Roménia o Nicolau destruia aldeias com o mesmo objectivo...

Os militantes ecologistas e todos os amantes e defensores da natureza pouco ou nada têm a esperar de um partido verde-raiado que passa a vida a servir de muleta a outros que estão mais preocupados com o seu umbigo do que os graves problemas ecológicos que ameaçam a humanidade.

(Publicado no jornal “Açoreano Oriental, 26 de Janeiro de 1990)

terça-feira, janeiro 16, 2007

PROTEGER AS AVES DE RAPINA

As aves de rapina estão ameaçadas de extermínio em todo o mundo. É o que acontece com o milhafre e o mocho aqui na região.

Este acontecimento parece não ter qualquer importância. É mesmo corrente dizer-se que as aves de rapina são nocivas.Não é raro alguns caçadores abaterem algumas a pedido de agricultores que alegam para tal o facto de aquelas andarem a comer a sua criação (pintos, etc.); outros abatem-nas pretextando que elas ‘dão cabo” da caça, o que é falso. Podemos apontar, ainda, como causas do extermnio das aves de rapina a captura para fins pseudo-cientificos, para colecções e ainda a morte motivada por acção de pesticidas e outros produtos tóxicos, mudanças de habitat, etc.

A verdade é que as aves de rapina não são nocivas, antes pelo contrário.


Tendo em conta o facto de, para além de embelezarem as nossas paisagens e enriquecerem o património cultural dos nossos filhos, desempenharem um papel essencial no equilíbrio da natureza, limitando o crescimento das espécies prejudiciais à agricultura (pequenos roedores, lagartixas, grandes insectos, etc.), desembaraçando o homem de animais doentes e cadáveres, impedindo assim epidemias, apela-se para que
haja da parte de todos e no interesse comum, a melhor compreensão para com essas aves, protegendo-as devidamente, impedindo-se que com ratoeiras ou pelo abate, se reduza ainda mais o número das que ainda existem.

Protegendo as aves de rapina defenderá a natureza, suporte físico e biológico da vida e do homem. A ave de rapina é saúde, equilíbrio e riqueza da natureza.
(Publicado no jornal “Em Marcha”, em 9 de Junho de 1982)

UM ESPAÇO ABERTO

É sempre com muito prazer que leio o Combate. Numa terra em que o jornalismo verdadeiramente independente quase não existe e numa altura em que os jornais situados à esquerda, vindos do continente, são tão fechados, o Combate, por ser espaço aberto, será sempre bemvindo.

A sua abertura a temas tão diversificados, o seu suplemento “Contracultura” e a colaboração vinda das mais diversas personalidades da vida política e cultural fazem do Combate um jornal ímpar no espectro da imprensa escrita no nosso país.

O facto de estarmos em pleno Ano Europeu do Ambiente poderia servir de pretexto para, se possível com a colaboração das mais diversas personalidades e associações ecologistas e naturalistas, ser feito um número inteiramente dedicado aos problemas ambientais e ecológicos com que Portugal se debate. Outra suguestão, alternativa, seria a criação de uma coluna mensal com os mesmos objectivos.

A minha condição de ecologista, independente de toda e qualquer organização de cariz político- partidário, não impede de dar a minha modesta colaboração , sempre que seja solicitada ou esteja ao meu alcance.

Resta-me felicitar toda a equipa que torna possível a saída do jornal e desejar os maiores êxitos no caminho que estão a trilhar.

( Publicado no jornal “Combate”, em Abril/Maio de 1987)

COMBATE À POLUIÇÃO SONORA

Combate à poluição sonora, tarefa urgente!

Embora não seja tarefa fácil definir o que se entende por poluição sonora, podemos classificar de poluentes todos os sons que provocam reacções negativas (sons desagradáveis, perturbadores e até dolorosos). Mas aqui surge uma questão: não poderá um mesmo som ser considerado agradável para determinada pessoa e perturbador para outra?

Entretanto, é possível lidar-se com padrões bastantes objectivos. Não é difícil medir-se o volume dos sons, mais difícil é chegar-se à conclusão de quais sejam os limites aceitáveis para a saúde humana. Apesar de ser necessário ter em conta a distância a que a pessoa se encontra do gerador do barulho e o tempo de exposição a este, considera-se que o ouvido humano não pode tolerar mais do que 120 decibéis.

Embora a poluição sonora não seja, para nós Açorianos, o mais grave problema do ponto de vista ecológico, é, no entanto, fácil compreender-se que ela é um dos grandes males da nossa civilização e é urgente que as populações se consciencializem de que do ruído advêm inúmeras consequências para a saúde, sendo mesmo uma das principais causa da falta desta nas grandes cidades.

«… A chamada revolução industrial e a chamada vida moderna ocasionou uma intensificação quase incontrolável da produção de novos ruídos, cada vez mais numerosos e cada vez mais perturbadores do equilíbrio psicossomático. Numa cidade como numa fábrica, como em qualquer outro meio ambiente de vida ou de trabalho, os chamados ruídos de fundo podem atingir valores em decibéis que perturbam, alteram e modificam irreversivelmente as condições do nosso equilíbrio psicossomático, portanto a nossa saúde.
Os novos meios de transporte, não esquecendo os aviões que produzem habitualmente para cima de 150 decibéis, o que é insuportável, as novas máquinas, toda uma utensilagem doméstica e pública a mais variada, constituem fontes de ruídos permanentes que se entrechocam e se potencializam, levando a generalidade das pessoas à fadiga, ao mal-estar, ao nervosismo, à insónia, às perturbações do equilíbrio, à diminuição acelerada da capacidade de decisão. Digamos então que conduz à alienação e ao embrutecimento das pessoas. Conduz pela mesma razão, e pelo mensmo mecanismo, ao aumento da agressividade da intolerância, da degradação do convívio social normal e sereno, conduz finalmente, por um fenómeno de excitação permanente, ao embotamento do chamado eu moral das pessoas.
Portanto, fisiologicamente o caminho para a surdez, psicologicamente o caminho para o desequilíbrio psicossomático, para a excitação permanente, para a agressividade, para a neurose, para a depressão, para o aniquilamento do individuo, sob todos os aspectos considerado
». (1)

Além das consequências atrás apontadas, acrescentaríamos uma, talvez a mais alarmante, que é a possibilidade do ritmo cardíaco do feto ser acelerado por barulhos a que a própria mãe parece ter-se tornado tolerante.

Eliminar a poluição é praticamente impossível, já que existir é poluir. Contudo combater a poluição excessiva é necessário e, mesmo, imprescindível, caso se queira preservar a vida no planeta.

A 15 de Setembro, do ano transacto, foi criado, pelo Governo Regional, um grupo de trabalho com o objectivo de «estudar medidas tendentes ao combate à poluição sonora, proveniente de estabelecimentos industriais, de veículos a motor, de estabelecimentos comerciais e de locais de diversão pública» (2). Sabendo-se que a poluição sonora, é de fácil controle tecnológico, esperamos que sejam acertadas, e que não fiquem pelo papel, as deliberações do referido grupo de trabalho.

Alertamos, por último, a opinião pública para a existência de falsas campanhas: as que procuram responsabilizar, pelos males, igualmente todos os cidadãos, as que localizam erroneamente as causas, as que apontam soluções que são pouco mais do que simples paleativos.

(1) - in «Problema da Saúde» texto do Dr. Rocha Barbosa.
(2) - In «Boletim nº 1 da Direcção Regional da Comunicação Social.

(Publicado nbo jornal “Diário Insular” em 27 de Março de 1982)

CONSERVAÇÃO DA NATUREZA: O QUE SE FAZ NOS AÇORES?

«A Terra é uma pequena ilha, um oásis de vida, o único local conhecido no Universo onde o Homem pode prosperar. Mas a teia da vida apenas existe na fina camada de ar, de água e solo da superfície do planeta. Inconscientemente, o Homem destrói isto, o seu próprio habitat, utilizando mal e explorando em demasia os recursos limitados de que se dispõe e esforçando os delicados mecanismos da vida ameaçando, não só a qualidade da vida como, até, a sua própria sobrevivência». (extraído de um folheto do NPEPVS)

A 13 de Abril do ano transacto, através do «Correio dos Açores», o Dr. Gerald Le Grand, responsável pela Divisão da Protecção da Natureza e Ornitologia do Departamento de Ecologia da Universidade dos Açores, lamentava-se pelo facto do Governo Regional não estar na disposição de se empenhar, a fundo, isto é ir além das palavras e decretos, na conservação da natureza. A situação era, na altura, deveras caricata. Um governo que tem as mãos largas para muitas coisas (ainda bem!) não possuía 50 mil escudos para o pagamento da estadia, durante um mês e meio, do professor Erik Sjogren da Universidade de Uppsala, Suécia, que tinha aceite vir aos Açores, em visita de estudo.

O plano para 1983, recentemente aprovado pela Assembleia Regional dos Açores limita-se a enunciar um conjunto de 14 medidas sem, sequer, prever, tal como o próprio Plano a Médio Prazo, verbas para as implementar. Enfim, na área do ambiente vamos continuar como até aqui; muita parra pouca uva…

A outro nível, que não o oficial, prossegue a luta pela defesa e conservação da natureza e meio-ambiente. Assim, embora com características por vezes bastante diferentes mas com objectivos que por vezes se confundem, começam a surgir, na Região, várias organizações que actuam neste campo. Entre elas destacamos: o Núcleo Português de Estudos e Protecção da Vida Selvagem (NPEPVS/DA), o Centro de Jovens Naturalistas, o «Luta Ecológica», «Os Montanheiros» e o grupo Ecológico da Universidade dos Açores.
Neste pequeno texto, referir-nos-emos, apenas ao NPEPVS/DA pelo simples facto de, até à presente data, ter sido a única organização a nos fornecer as informações por nós solicitadas.

Contando com cerca de 220 sócios, aqui na Região, o NPEPVS, que foi fundado em 18 de Dezembro de 1974 e que tem séde na cidade do Porto, tem promovido estudos, organizado congressos, reuniões, sessões em estabelecimentos de ensino; editado milhares de cartazes, folhetos, livros e boletins.

O NPEPVS tem, de acordo com os seus estudos, publicados no «Diário do Governo», III Série n.º 32 de 7/2/75, como objectivos prioritários:

a) Promover ou apoiar estudos sobre fauna e flora;
b) Realizar campanhas junto do público no sentido da protecção da Natureza, em especial da fauna e da flora;
c) Interceder junto das entidades oficiais e apoiá-las, no sentido da protecção da Natureza, em especial da fauna e da flora;
d) Tomar quaisquer medidas que visem a protecção da Natureza, em especial da fauna e da flora, por eventual decisão da assembleia-geral ou, em caso urgente da direcção.

Para o Engenheiro Duarte Soares, da Delegação do NPEPVS, o ano que agora se inicia será o do arranque da actividade do núcleo aqui nos Açores. Assim, em 1982, foi preocupação primeira daquele organismo encontrar uma séde, tendo também conseguido obter 11 filmes sobre a vida dos pássaros, filmes esses que poderão ser passados em todas as escolas da Região.

Muito em breve o NPEPVS lançará duas importantes campanhas: uma para a protecção das aves marinhas, possuindo desde já um autocolante para tal; outra para a protecção das aves de rapina (Milhafre e Mocho) para a qual possui 1000 posters que foram, gentilmente, cedidos pelo FIR (Fonds d’Intervantion pour les Rapaces).

(Publicado no jornal “Directo”, a 11 de Fevereiro de 1983)

ECOLOGIA E TRABALHO

O termo Ecologia foi usado pela primeira vez, em 1866, por Ernst Haeckel, na sua obra Generelle Morphologie der Organismen. Segundo ele, a ecologia é “a investigação das relações totais do animal tanto com o seu ambiente orgânico como inorgânico”.

A Ecologia, que só a partir de 1919 deixou de ser um ramo da Biologia, pode ser definida como “o estudo da dependência e da interacção entre os sistemas biótico e abiótico da Terra”.

Ao considerar que o homem vive, simultaneamente, num ambiente natural, social e psicológico Julian Huxley advoga a necessidade de se ampliar o conceito de Ecologia. Assim, segundo ele, a Ecologia Social “lida com as relações sociais do homem, tanto dentro como entre as sociedades humanas” e Ecologia Psicológica “preocupa-se com as relações individuais e colectivas do homem, com as forças e recursos da sua natureza íntima e o mundo das ideias, crenças e valores que ele criou e com os quais se cercou”.

Estudando a relação entre os seres vivos e o seu ambiente, a Ecologia interessa directamente a todas as pessoas. Talvez por isso, é uma ciência que está “na moda”, falando-se mesmo dela nos jornais e outros meios de comunicação ligados à Direita.

A Direita, sobretudo através da defesa do ambiente e da luta anti-poluição, adaptou a ecologia – ciência revolucionária, poia as suas leis exigem que transformações radicais na vida social sejam operadas caso se deseje manter a vida no planeta- com o objectivo de “escamotear e recobrir a luta de classes com as tintas idealistas da boa convivência pacífica”.

Ao contrário do que alguma esquerda acusa , a luta ecológica não desvia as massas trabalhadoras da luta de classes. Afonso Cautela, o “maluquinho” da Frente Ecológica, um dos históricos do movimento ecológico no nosso país, identifica-as mesmo. Eis o que nos diz sobre o assunto:
“A guerra de classes é planetária como planetária é a guerra ecológica. E não é por acaso que a guerra do extermínio ecológico coincida com o auge da guerra de classes que foi o Vietname.

Apesar de planetária, porém, esta guerra começa em casa, no prato da comida, na rua, no bairro, na aldeia, na vila: antes e depois de passar pelo lugar de trabalho (onde muitos ainda a querem restringir) a luta de classes ou guerra ecológica passa pela nossa intimidade, pelos nossos hábitos (de consumo, principalmente), pela nossa vida quotidiana, prosseguindo até onde a assassina sociedade do desperdício estende os seus tentáculos. Até onde o crime industrial lança as suas garras de poluição. Até onde a Burocracia aliena e avilta com as suas cadeias. Até onde os supersónicos (Concorde e Tupolev) destroem a fina camada de ozono que nos protege das radiações mortais. Até onde os arrastões de todas as frotas imperiais destroem toda a fauna marinha e todo o miniplancton que serve de base á cadeia alimentar e portanto à sobrevivência humana. Até onde o empório nuclear consegue fazer chegar os seus cancros radioactivos. Até onde o homem é apenas a cobaia de uma indústria médico-cirúrgica apenas ocupada em fabricar doentes para que os stocks de vacinas, antibióticos, anticoncepcionais, tranquilizantes se continuem escoando. Até onde a cidade polvo é um ninho de lacraus enraivecidos devorando-se entre si. Até onde o Ruído é institucionalizado e absolutamente constitucional…Até onde se gasta em armamento num dia oque não se gastou durante um século para atar a fome aos esfomeados do Terceiro Mundo”.

Enquanto que para os ambientalistas ( defensores do ambiente) o objectivo da sua luta é apenas alterar as relações entre os homens e o ambiente mantendo esta sociedade onde o lucro é o rei e o trabalho vassalo para o movimento ecologista a luta ecológica não é um fim em si, mas apenas uma etapa para se atingir um objectivo maior, a completa transformação da sociedade o que implica uma nova relação entre o homem e a colectividade, o meio ambiente e a natureza.

Se a crise em que vivemos é “democrática” já que atinge indiscriminadamente todos os membros da sociedade, a verdade é que são as classes mais desfavorecidas, os trabalhadores e os operários as principais vítimas.

Para além do desemprego, o actual sistema económico provocou novos males ao trabalhador. As más condições de trabalho causam um número bastante grande de acidentes. As doenças provocadas pela poluição ameaçam directamente a sua saúde. A automatização crescente criou empregos que facilmente levam ao desequilíbrio psicológico. O progresso tecnológico não levou à diminuição do trabalho semanal.

Embora poucos acreditassem foi o movimento ecologista e anti-nuclear que conseguiu desmascarar a lógica económica, o sistema industrial suportado pelo uso das energias duras e o controlo social dos meios tecnológicos.

Os ecologistas ao proporem uma série de medidas, algumas das quais serão mencionadas mais adiante, defendem que o sindicalismo deverá evoluir do actual economicismo até um maior interesse pelo quadro da vida e o controle da tecnologia..

Na verdade, a quem serve o progresso técnico se não aligeira o trabalho do homem?

Pondo em causa a actual orientação económica e resolvendo o problema do desemprego, os ecologistas defendem a redução da duração do tempo de trabalho, produzindo-se menos objectos mais úteis e duráveis, deixando assim mais tempo livre para outras actividades criativas.

Não concordando com as actuais reformas que fazem dos trabalhadores idosos exluídos da sociedade, os ecologistas propõem formas de reforma à escolha ou de anuidade sabática, permitindo desdobrar o trabalho ao longo da duração da vida de um mesmo indivíduo, tornando possível reparti-lo melhor entre as gerações.

A partilha dos trabalhos penosos e uma rotação entre trabalhos manuais e intelectuais são outras das medidas por eles defendidas.

(Publicado no jornal “1º de Maio, 1 de Maio de 1982)

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Sismos e Explosões Nucleares Subterrâneas

«Uma violenta explosão nuclear subterrânea ocorreu às primeiras horas do passado dia 28 na região de Smipalantinssky, na União Soviética a explosão foi registada pelo instituto sismológico da Universidade de Upsala, Suécia, às 3h 45 min de Lisboa e atingiu o grau 6,7 da escala de Richter» (Diário Insular, 8/12/81)

Desde que um tratado entre as duas super-potências, Estados Unidos e União Soviética, em que estas se comprometiam a abandonar as experiências nucleares realizadas na atmosfera, passando estas a ser subterrâneas, tem se notado certa relação (causa-efeito) entre os rebentamentos subterrâneos verificados no deserto do Nevada (E.U.A) e no perímetro de Semipalantinsk (U.R.S.S) e as vagas sísmicas que desde a altura têm assolado a Terra.

Embora, para os cientistas, não passe, ainda, de mera hipótese, o Comité Contra o Terror e o Genocídio Sísmico-Nuclear de Lisboa possui recolhidas e dispostas por ordem cronológica cerca de 300 notícias sobre sismos e rebentamentos subterrâneos com eles eventualmente relacionados. Vejamos dois exemplos dados por Afonso Cautela no seu artigo «Terror Atómico e Terramotos»: «…Segunda-feira, 18 de Setembro de 1978, os jornais noticiavam, após o descanso dominical, o sismo de sábado no Irão. Condolências, drama, carpideiras, a Madrasta Natureza sempre a fazer das suas, etc. Tudo se reparava, portanto, para entrar na rotina da fatalidade em que grandes potências e seus científicos cérebros conservam de vinha de alhos a consciência humana. A 20 de Setembro, quarta-feira, escapuliu-se, via ANOP, uma incómoda noticia, logo mal e porcamente anunciada pelos regressistas: o professor Heinz Kaminski, da R.F.A., teria atribuído o sismo no Irão à explosão nuclear subterrânea da U.R.S.S., na Sibéria, 36 horas antes «e mais adiante» posso enviar fotocópia da página do «Diário Popular» - a mesma página e não há truque de fotomontagem - com data de 28 de Julho de 76, onde vem a notícia do sismo na China (650 mil mortos), minutos depois da explosão no Nevada».

Apesar de a ciência não ter, até ao momento, provado a relação entre sismos e rebentamentos, uma coisa é certa, existem muitas, mesmo muitas notícias emq ue a uma explosão se segue um sismo. Cabe às duas superpotências, que se disputam pelo primado mundial na «defesa dos direitos humanos», facultar à opinião pública mundial, todos os dados necessários a um esclarecimento da verdade e não manter, como têm feito até aqui, um profundo silêncio sobre a questão. Todas, mas todas, as potênciais vítimas (e as falhas sísmicas nos Açores são abundantes) dos rebentamentos que para os eco observadores é, já hoje uma certeza de serem os causadores de vagas sísmicas, deverão permanecer vigilantes e denunciar, por todos os meios ao seu alcance, este monstruoso crime praticado contra toda a humanidade já que «só têm a perder uma trave de cimento em cima da tola ao próximo e primeiro sismo».

(Publicado no jornal “Correio dos Açores”, em 15 de Janeiro de 1982)

Armas nucleares, para quê?

Num mundo em que a escalada de violência, a par com a corrida desenfreada aos armamentos e consequente aumento de tensão entre as potências imperialistas, é uma nota constante é urgente que se enverede por uma política cujo o objectivo tem de ser o que está consignado no artigo 7º da Constituição «o desarmamento igual, simultâneo e controlado, a dissolução dos blocos político-militares e o estabelecimento de um sistema de segurança colectiva, com vista à criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os povos. É preciso condenar a política dos tratados de paz celebrados pelas duas super-potências pois o que pretendem é apenas manter o «equilíbrio» entre os dois blocos que permite-lhes perpetuar o seu domínio sobre as nações menos desenvolvidas.

Se tem sido o «equilíbrio», no que toca ao armamento tanto convencional como ao nuclear entre as superpotências, o que tem impedido que se tivesse deflagrado um conflito mundial, a existência de armas nucleares não deixa de representar uma ameaça a toda a humanidade. Basta que um louco atire «a primeira pedra» e adeus mundo! E, parece-me que o poder anda mesmo (?) na mão de loucos, senão vejamos: Roelof Botha, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Africa do Sul, defende o recurso à guerra nuclear para deter o expansionismo soviético, Sigvard Eklund, director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica, propôs em 11-8-80, que se fizesse explodir uma bomba nuclear para que o mundo passasse a conhecer a capacidade de destruição semelhante arma.

Para que possamos fazer uma avaliação mais clara e profunda do problema, falarei neste artigo, concretamente (e apenas) das consequências que adviriam, para a humanidade (e para Portugal) se um conflito atómico se declarasse.

Sabemos hoje que os Estados Unidos e a União Soviética possuem capacidade de se destruírem mutuamente cinquenta vezes. Os Estados Unidos possuem 30 mil bombas atómicas e a União Soviética 20 mil. Sabe-se também que um simples míssil balístico intercontinental tem um poder destrutivo de 25 megatoneladas, o que é bastante superior à bomba que foi largada sobre a Hiroshima (1945) que tinha uma capacidade destrutiva de cerca de 15 kilotoneladas de T.N.T..

A luta contra a energia e os armamentos nucleares, não é mais uma manobra comunista (credo!) como alguns pretendem fazer crer. É uma luta que é de todos os cidadãos amantes da paz e do progresso independente dos seus credos religiosos, políticos ou filósofos.

No dia 1 de Janeiro do ano passado, João Paulo II divulgou algumas conclusões de um relatório sobre as principais consequências de uma guerra nuclear. Entre elas salientamos: «a morte por acção directa ou retardamento das explosões de uma população que poderia ir de 50 a 200 milhões de pessoas».

Segundo o semanário «O Jornal» que cita por sua vez um documento de cientistas norte-americanos publicado no «New York Times», «uma guerra nuclear mesmo limitada mataria e feriria um número de pessoas sem exemplo na história da humanidade. A instalação de dispositivos de assistência não serve para nada: Do ponto de vista médico não existem medidas eficazes. A maioria dos hospitais será destruída, a maioria do pessoal médico será morta ou ficará ferida, grande parte das reservas alimentares tornar-se-ão incomestíveis. Não existe nenhuma protecção civil eficaz. A onda de choque, a difusão do calor e as radiações matarão mesmo aqueles procurarem refúgio nos abrigos. As nuvens radioactivas atingirão também os evacuados». ...«A exposição aos raios fará aumentar o número de abortos naturais, de perturbações no desenvolvimento embrionário, de leucemias e de cancro. As gerações futuras serão afectadas por anomalias genéticas. A temperatura terrestre será modificada e produzir-se-ão mutações nas plantas cultivadas. Depois disto o mundo ficará completamente alterado».

Quanto ao nosso país, dadas as suas dimensões pode ser destruído por um só míssil. Portugal é uma nação totalmente desprovida de abrigos anti-atómicos e com poucas caves e demais instalações subterrâneas sendo, consequentemente, a protecção dos cidadãos contra a radioactividade praticamente nula. Nem sequer existe um sistema de defesa civil e de prevenção contra as catástrofes.

Concluindo a nossa defesa contra um ataque atómico não deve consistir em permitir a instalação no nosso território de armas atómicas, da NATO, pois tal significaria ficarmos automaticamente incluídos entre os alvos de agressão por parte da organização militar contrária, o Pacto de Varsóvia. Em caso de guerra nuclear possuir armas não é alternativa à sobrevivência e à defesa nacional pois numa guerra deste tipo as armas não servem de nada.
Numa guerra nuclear, mesmo limitada, não há vencedor.

(Publicado no jornal “Diário Insular”, em 19 de Maio de1981)

domingo, janeiro 07, 2007

Jardim António Borges: Botânico ou Zoológico?

“Todo o animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no seu próprio ambiente natural- terestre, aéreo ou aquático- e tem o direito de se reproduzir” (artigo 4-1º da Declaração Universal dos Direitos do Animal)

A ideia do senhor Presidente da Câmara de Ponta Delgada de “encher” o Jardim António Borges de diversas espécies animais com o objectivo de constituir um pólo de atracção para a população citadina, que passaria a frequentar, com mais assiduidade, aquela zona verde e a gozar os benefícios daí advindos, foi colhida sem aparente oposição no meio local.

Mas, será que há, hoje, razões válidas para a manutenção de animais selvagens em cativeiro.

Vejamos alguns argumentos contra tal deplorante prática:

a) Obriga a capturas, algumas em massa, que, para além de provocarem traumatismos nos animais, constituem uma ameaça para a fauna;
b) São várias as doenças que atingem os animais, pelo simples facto de serem mantidos em cativeiro: afecções digestivas, cutâneas, propensão para infecções, “stress”, etc.;
c) Os animais poderão, eventualmente, transmitir várias doenças ao homem: tétano, raiva, febre aftosa, pneumonia, icterícia infecciosa, etc..

Os próprios jardins zoológicos desempenham um papel educativo muito limitado já que o comportamento dos animais em cativeiro é muito diferente do que teriam nos seus territórios. Hoje, aquela função pode, com vantagem, ser desempenhada pelo cinema e pela televisão. A RTP/Açores tem-nos brindado com excelentes séries sobre a fauna e a flora.

Depois de enumerados alguns (haveria muitos mais) aspectos negativos da manutenção de animais selvagens em cativeiro, facilmente se conclui que o Jardim António Borges deveria sofrer toodos os melhoramentos possíveis e continuar, como até aqui, como jardim botânico. Basta o “espectáculo” degradante que nos é dado pelos “reclusos” que já lá estão.

(Publicado no jornal “Correio dos Açores, em 23 de Janeiro de 1987)

sábado, janeiro 06, 2007

Fábrica de Cimento e Poluição



“O homem industrial do mundo de hoje é como um touro à solta numa loja de porcelana, com a simples diferença que um touro, com metade da informação acerca das propriedades da loiça que nós temos acerca dos sistemas ecológicos tentaria provavelmente adpatar o seu comportamento ao seu ambiente, em vez de fazer o inverso. Pelo contrário, o Homo sapiens industrialis está disposto a adpatar a si a loja de porcelanas e, portanto, fixou-se no objectivo de a reduzir a cacos no mais curto período de tempo possível” (The Ecologist)

Qualquer um de nós, ao passar pelo Livramento, já observou que, nas visinhanças da fábrica de cimento, a apisagem perdeu as belas cores e está tingida de cinzento: os telhados, as árvores, as terras encontram-se cobertas por uma película, com maior ou menor espessura, de poeira de cimento. E Isto não nos deve fazere squecer que uma parte, não desprezíve, das partículs de menores dimensões é levada pelos ventos para distâncias mais afastadas da fábrica, constituindo uma das principais responsáveis pela presença de silicatos na atmosfera.

Para além de inundarem os arredores de poeiras de silicatos, as cimenteiras são responsáveis pela emissão, entre outros, do dióxido de enxofre e de óxidos de azoto, que conjuntamente com os óxidos de carbono, os aldeidos, os hidrocarbonetos gasosos libertados pela combustão incompleta dos hidrocarbonetos líquidos, são as principais “matérias primas” da poluição atmosférica.

O estabelecimento de indústrias do tipo poluente junto de centros urbanos constituiu um imperativo económico e financeiro durante o séc. XIX e na primeira metade do séc. XX, hoje constitui para as populações um sério risco para a saúde. Com efeito, se um complexo industrial ligado a um aglomerado urbano é uma fonte de lucro para o industrial, para uma colectividadeimplica um conjunto de despesas difíceis de calcular, em virtude do considerável número de parâmetros que entram em jogo quando se trata de avaliar os perigos resultantes da poluição atmosférica.

O que sabemos, e que deveria ter sido tomado em conta quando se pensou em ampliar a Fábrica do Livramento, é que a “poluição do ar, não é só perigosa para a saúde por contribuir para o desenvolvimento de doenças crónicas como enfisemas, bronquites, outras perturbações digestivas, mas é também uma ameaça para o próprio ambiente pelos efeitos nocivos na agricultura, pecuária, edifícios, armações metálicas, etc.”

Hoje, a tendência é de criar zonas industriais que agrupem as fábricas longe dos bairros residenciais e com o máximo de equipamentos colectivos, sendo do ponto de vista do ambiente, a melhor forma de rentabilizar as instalações de tratamento, públicas ou privadas.

A unica solução, para o caso a que nos vimos referindo, será a mudança das instalações da referida indústria. Aliás, seria a melhor “prenda” que o Governo Regional poderia dar aos jovens dos Açores, neste Ano Internacional da Juventude, por intermédio das crianças, jovens e população do Livramento.

(Publicado no jornal “Açoreano Oriental”, no dia 17 de Julho de 1985)

sexta-feira, janeiro 05, 2007

De como eles se vestem de verde ou as cambalhotas que são obrigados a dar

Com a chegada da Primavera os campos tornam-se verdes. Durante as pré-campanhas e campanhas eleitorais os partidos políticos, da situação e da oposição, são pródigos em promessas e mais promessas; procuram, assim, impingir o seu produto falsificado (estragado quase sempre) através de todos os métodos publicitários, desde os mais sofisticados aos ilegais e fraudulentos.

Nos últimos tempos, talvez devido ao cada vez maior número de cidadãos eleitores (e não só) despertos para as questões ecológicas, os partidos políticos vestem-se de verde. Reclamando-se da Ecologia, no nosso país, existem dois pequenos partidos: O Partido Popular Monárquico e «Os Verdes». Se o primeiro está desmascarado, perante a opinião pública, devido à sua participação nos vários governos da Aliança Democrática, onde nunca se fartou de «engolir elefantes vivos», o segundo, ao utilizar uma linguagem diferente, ao apresentar-se como um partido/movimento e ao usar (abusivamente) uma sigla que é a de um movimento legalizado após o 25 de Abril de 1974 pode tornar-se perigoso já que poderá induzir em erro alguns eleitores que pensando votar «verde» estarão a votar «vermelho».

Quanto a nós, trata-se de uma manobra do Partido Comunista Português que, tal como todos os outros partidos, mais não pretende do que recuperar o movimento ecológico impedindo o crescimento de um movimento ecologista alternativo e independente.

Mas vamos ao objectivo principal deste artigo. Como é do conhecimento de todos os terceirenses, a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo decidiu encerrar as furnas de Água e do Cabrito. Tal decisão foi contestada por várias entidades entre elas, o recém-legalizado, grupo «Luta Ecológica» que na devida altura apresentou alternativas concretas para o aproveitamento da água sem ter de recorrer ao encerramento das grutas e à construção da célebre escada de caracol. Mas, adiante… (já agora, agradeciamos que se informasse o público da verba que se vai esbanjar na dita) a Câmara Municipal mantém a sua: ou grutas ou água. A Assembleia Municipal rejeita uma proposta do deputado socialista Dr. Dionísio de Sousa. Assunto encerrado.
Qual não foi o nosso espanto, passados poucos dias o Sr. Presidente da Câmara anuncia que o processo da «Furna do Cabrito» iria ser revisto e a 18 do corrente mês o «Diário Insular» noticia que os deputados do PSD, pela Terceira, irão apresentar na Assembleia Regional uma proposta de Decreto Regional com vista a proteger as grutas e zonas de interesse vulcânico e vegetal da ilha.

Sinceramente, não entendemos a que se deve tal cambalhota. Como diz o povo: «quando a esmola é muita até o santo desconfia»…

Que manobra ou manobras estão a tramar os nossos governantes? Terá sido uma jogada de antecipação ao Partido Socialista? Será uma jogada inserida na pré – campanha eleitoral, altura em que a caça ao voto já está aberta?

Bem, em relação a nós estejam descansados. De cá não levam nada. Consideramos os partidos políticos actuais demasiado subjugados por uma ideologia envelhecida, demasiado obcecados pelo poder (que não queremos, não nos serve para nada), demasiado «politiqueiros» para terem em conta as reivindicações urgentes do ecologismo.

(Publicado no jornal “A União”, em 23 de Março de 1983)

ECOLOGIA


O anúncio pelo movimento ecologista Greenpeace de que uma futura actuação nos Açores “para estudar a dimensão da caça à baleia” foi pretexto, para alguma imprensa regional, lançar uma série de calúnias acerca daquela prestigiada organização.

O matutino “Açoreano Oriental”, jornal que em tempos apoiava claramente o movimento separatista (FLA- Frente de Libertação dos Açores) e hoje apoia mais ou menos veladamente o Governo Regional dos Açores que o subsidia, na sua edição de 10 de Setembro de 85 escrevia o seguinte: “Vamos transcrever a crónica… sobre o Greenpeace, chamando a atenção dos leitores , e das autoridades açorianas, para alguns aspectos da actividade deste movimento ecológico cujas conotações são cada vez mais evidentes e vêm merecendo a atenção dos países ocidentais. É certo que o Greenpeace tentou uma acção na Rússia, os maiores caçadores de baleias em todo o mundo, mas a pronta reacção das autoridades soviéticas levou a organização a desistir de qualquer actividade no bloco oriental, concentrando os seus esforços ecológicos no ocidente e quase sempre em áreas particularmente sensíveis no aspecto estratégico, como foi o caso de Moruroa, onde decorrem experiências militares francesas, e, agora, nos Açores uma área do Atlântico Norte sempre em foco e onde os Estados Unidos e a França dispõem de importantes bases, com finalidades diferentes, mas igualmente importantes nos seus objectivos”.

Resumindo e concluindo, o apoio à acção terrorista do Governo de França contra o Greenpeace e o convite ao governo português para seguir as peugadas dos seus aliados franceses são por demais evidentes.

A caça ao cachalote na Região Autónoma dos Açores acabará definitivamente muito em breve, apesar da Corretora ter anunciado que iria retomá-la em São Miguel e do professor Moniz Bettencourt, gerente de uma das armações baleeiras do Pico, em entrevista à RDP- Açores, afirmar-se esperançado que a actividade recomece, embora noutros moldes (sob a forma de cooperativa), nas ilhas do Pico e do Faial, contando para tal com o possível apoio de alguns elementos do Governo Regional dos Açores naturais daquelas ilhas.

Quanto a nós, não havendo razões económicas nem financeiras para que a actividade prossiga, escasseando mesmo quem esteja disposto a dar continuidade àquele tipo de aventura tradicional, resta aproveitar, o máximo possível, todo o património das empresas baleeiras e aprofundar o estudo da actividade que foi, e ainda é, fonte de inspiração para as mais diversas manifestações de carácter cultural e até religioso.

(Publicado no jornal “Combate Operário”, Janeiro de 2006)

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Portugal Prepara-se Para utilizar os "Cemitérios" Atómicos do Atlântico ?



“Se ganha a ditadura do Plutónio e permitirmos a militarização das energias doces, corremos o risco de caminhar até ao ano 2000 como números programados nos computadores, como cifras de consumo para industrias alimentares, como cérebros vazios submetidos à linguagem alienante dos meios audiovisuais”.
Santi Vilanova

A imprensa açoriana, a maioria dos partidos políticos com actividade na região e o próprio Governo Regional não há muito tempo tomaram posição contra o lançamento de resíduos radioactivos nos «cemitérios» atómicos situados a 600 milhas do nosso arquipélago.

É de estranhar, no entanto, a atitude do Governo Central que não tomou qualquer posição sobre o caso. Pelo que nos é dado conhecer só o PPM, através de Gonçalo Ribeiro Teles, manifestou a sua concordância com a resolução aprovada pelo Governo Regional do Açores. Mas, concerteza, nada fará, habituado que esta a engolir elefantes vivos… (não é verdade, senhor Ferreira do Amaral?)

A que será devido tal silêncio?

É que já vem de longe a intenção de optar pela via nuclear no nosso país. Em 1975, a E. D. P., num Encontro Nacional de Política Energética, apontava para uma opção nuclear a curto prazo. Em 1976, o primeiro-ministro de então, Mário Soares, prometeu a elaboração de um Livro Branco sobre a opção nuclear, opção esta advogada pelo seu Ministro da Indústria e Tecnologia Walter Rosa. Em 16 e 17 de Março de 1977, a E. D. P. volta à carga promovendo um seminário com o título: “Informação sobre Problemas Energéticos” que constou, num total de nove pontos, de seis ligados a problemas de uma possível opção nuclear. Mais recentemente, nos dias 11, 12 e 13 de Outubro, realizou-se em Lisboa um Simpósio sobre o Nuclear promovido pelos construtores franceses de centrais, Framatome, Alsthom e Comega que estão em melhores condições, segundo técnicos do sector, do que os canadianos que entram a corrida após acordos económicos firmados entre o primeiro ministro português, Francisco Pinto Balsemão e o chefe do governo federal canadiano, Pierre Elliot Trudeau.

A culminar todos estes estudos, conversações e acordos, o governo central parece disposto a aprovar um Plano Energético Nacional que prevê a construção de um máximo de 11 e um mínimo de seis centrais nucleares até ao ano 2000.

Perante tal atitude urge reforçar o movimento anti-nuclear no nosso país e na região, antes mesmo que o continente português esteja infestado de centrais nucleares, fábricas de reprocessamento, etc. e que o governo central decida despejar os detritos das “nossas” centrais no Atlântico.

É tempo de agir. “É necessário lutar contra o nuclear. É o problema mais importante do século, o resto não passa de um pormenor, estamos diante da morte da civilização”.
(Lanza Del Vasto)

(Publicado no jornal “Diário Insular”, 12 de Novembro de 1982)

terça-feira, janeiro 02, 2007

Armamento Nuclear na Terceira


Há dias alertava, num artigo saído neste jornal, para os perigos que adviriam para todos nós se quem nos governa autorizasse a instalação de armas nucleares no nosso território.

Neste pequeno artigo, irei divulgar algumas das conclusões (só as que nos dizem respeito) de um estudo sobre questões militares da autoria de Alberto santos, doutor em Sociologia, antigo professor no Instituto de Ciências Sociais e Políticas de Lisboa, editado pela Fundação para os Estudos de Defesa Nacional de França, presidida pelo General Enri de Bordas.

A dado passo do seu trabalho, podemos ler:” Na Terceira, os americanos aumentaram consideravelmente o porto da Vila da Praia da Vitória a fim de que pudesse receber os submarinos nucleares Polaris- Poseidon” e mais adiante “... no porto da Vila da Praia da Vitória e ao largo do arquipélago estacionam os submarinos nucleares do tipo Trident e Poseidon”.

Que consequências poderão advir da presença de tais submarinos nas nossas costas?

Pesquisas realizadas pelo centro de estudos tecnológicos do Japão revelaram que a radioactividade subia de 30 a 40% em Okinava quando o navio nuclear norte-americano “Long-Beache” estacionava na base de “White Beache”.

E o que representa este aumento de radioactividade para o meio ambiente, isto é, para o solo, o ar e o mar?

Sabemos que as radiações atómicas atacam as células de todos os seres vivos, plantas, animais, ou o homem, provocando uma série de doenças que poderão ir no caso de um indivíduo, desde uma queimadura de pele até à morte em poucos dias por “doença de radiação”, passando por leucemia ou cancro de pulmão. Sabe-se, também, que, no homem e nos restantes animais, as células mais sensíveis às radiações são as células reprodutoras, que podem sofrer importantes mutações. Isto pode originar o aumento do número de abortos e de partos prematuros, nascimentos de seres defeituosos e até modificações permanentes nas espécies.

A simples presença destes submarinos constitui já de si um perigo para todos nós pois não existem meios quer humanos, quer técnicos que garantam o mínimo de segurança em caso de acidente dos vários engenhos nucleares quer sejam bélicos quer não. Este perigo é agravado se se confirmar a existência de depósitos de armamento nuclear como se pode deduzir do trabalho que venho citando, pois a dado passo, podemos ler: “ ...Outros silos de armas nucleares parecem estar instalados na Base bem como no interior da ilha Terceira”, logo em caso de um conflito nuclear só nos espera a destruição.

Existindo de facto armas nucleares em território português (no passado dia 2, o jornal “A União”, num artigo intitulado “Armas atómicas em Portugal por acordo secreto com os E.U.”, também levantava esta hipótese), tanto os nossos governantes, como os partidos da oposição têm conhecimentto de tal facto sendo, portanto, uma verdadeira hipocrisia quer as declarações que tanta tinta têm feito correr na nossa imprensa, quer os projectos de lei que têm sido apresentados na Assembleia da República.

( Publicado no jornal “Diário Insular”, 4 de Julho de 1981)