sábado, janeiro 06, 2007

Fábrica de Cimento e Poluição



“O homem industrial do mundo de hoje é como um touro à solta numa loja de porcelana, com a simples diferença que um touro, com metade da informação acerca das propriedades da loiça que nós temos acerca dos sistemas ecológicos tentaria provavelmente adpatar o seu comportamento ao seu ambiente, em vez de fazer o inverso. Pelo contrário, o Homo sapiens industrialis está disposto a adpatar a si a loja de porcelanas e, portanto, fixou-se no objectivo de a reduzir a cacos no mais curto período de tempo possível” (The Ecologist)

Qualquer um de nós, ao passar pelo Livramento, já observou que, nas visinhanças da fábrica de cimento, a apisagem perdeu as belas cores e está tingida de cinzento: os telhados, as árvores, as terras encontram-se cobertas por uma película, com maior ou menor espessura, de poeira de cimento. E Isto não nos deve fazere squecer que uma parte, não desprezíve, das partículs de menores dimensões é levada pelos ventos para distâncias mais afastadas da fábrica, constituindo uma das principais responsáveis pela presença de silicatos na atmosfera.

Para além de inundarem os arredores de poeiras de silicatos, as cimenteiras são responsáveis pela emissão, entre outros, do dióxido de enxofre e de óxidos de azoto, que conjuntamente com os óxidos de carbono, os aldeidos, os hidrocarbonetos gasosos libertados pela combustão incompleta dos hidrocarbonetos líquidos, são as principais “matérias primas” da poluição atmosférica.

O estabelecimento de indústrias do tipo poluente junto de centros urbanos constituiu um imperativo económico e financeiro durante o séc. XIX e na primeira metade do séc. XX, hoje constitui para as populações um sério risco para a saúde. Com efeito, se um complexo industrial ligado a um aglomerado urbano é uma fonte de lucro para o industrial, para uma colectividadeimplica um conjunto de despesas difíceis de calcular, em virtude do considerável número de parâmetros que entram em jogo quando se trata de avaliar os perigos resultantes da poluição atmosférica.

O que sabemos, e que deveria ter sido tomado em conta quando se pensou em ampliar a Fábrica do Livramento, é que a “poluição do ar, não é só perigosa para a saúde por contribuir para o desenvolvimento de doenças crónicas como enfisemas, bronquites, outras perturbações digestivas, mas é também uma ameaça para o próprio ambiente pelos efeitos nocivos na agricultura, pecuária, edifícios, armações metálicas, etc.”

Hoje, a tendência é de criar zonas industriais que agrupem as fábricas longe dos bairros residenciais e com o máximo de equipamentos colectivos, sendo do ponto de vista do ambiente, a melhor forma de rentabilizar as instalações de tratamento, públicas ou privadas.

A unica solução, para o caso a que nos vimos referindo, será a mudança das instalações da referida indústria. Aliás, seria a melhor “prenda” que o Governo Regional poderia dar aos jovens dos Açores, neste Ano Internacional da Juventude, por intermédio das crianças, jovens e população do Livramento.

(Publicado no jornal “Açoreano Oriental”, no dia 17 de Julho de 1985)

Sem comentários: