terça-feira, janeiro 16, 2007

COMBATE À POLUIÇÃO SONORA

Combate à poluição sonora, tarefa urgente!

Embora não seja tarefa fácil definir o que se entende por poluição sonora, podemos classificar de poluentes todos os sons que provocam reacções negativas (sons desagradáveis, perturbadores e até dolorosos). Mas aqui surge uma questão: não poderá um mesmo som ser considerado agradável para determinada pessoa e perturbador para outra?

Entretanto, é possível lidar-se com padrões bastantes objectivos. Não é difícil medir-se o volume dos sons, mais difícil é chegar-se à conclusão de quais sejam os limites aceitáveis para a saúde humana. Apesar de ser necessário ter em conta a distância a que a pessoa se encontra do gerador do barulho e o tempo de exposição a este, considera-se que o ouvido humano não pode tolerar mais do que 120 decibéis.

Embora a poluição sonora não seja, para nós Açorianos, o mais grave problema do ponto de vista ecológico, é, no entanto, fácil compreender-se que ela é um dos grandes males da nossa civilização e é urgente que as populações se consciencializem de que do ruído advêm inúmeras consequências para a saúde, sendo mesmo uma das principais causa da falta desta nas grandes cidades.

«… A chamada revolução industrial e a chamada vida moderna ocasionou uma intensificação quase incontrolável da produção de novos ruídos, cada vez mais numerosos e cada vez mais perturbadores do equilíbrio psicossomático. Numa cidade como numa fábrica, como em qualquer outro meio ambiente de vida ou de trabalho, os chamados ruídos de fundo podem atingir valores em decibéis que perturbam, alteram e modificam irreversivelmente as condições do nosso equilíbrio psicossomático, portanto a nossa saúde.
Os novos meios de transporte, não esquecendo os aviões que produzem habitualmente para cima de 150 decibéis, o que é insuportável, as novas máquinas, toda uma utensilagem doméstica e pública a mais variada, constituem fontes de ruídos permanentes que se entrechocam e se potencializam, levando a generalidade das pessoas à fadiga, ao mal-estar, ao nervosismo, à insónia, às perturbações do equilíbrio, à diminuição acelerada da capacidade de decisão. Digamos então que conduz à alienação e ao embrutecimento das pessoas. Conduz pela mesma razão, e pelo mensmo mecanismo, ao aumento da agressividade da intolerância, da degradação do convívio social normal e sereno, conduz finalmente, por um fenómeno de excitação permanente, ao embotamento do chamado eu moral das pessoas.
Portanto, fisiologicamente o caminho para a surdez, psicologicamente o caminho para o desequilíbrio psicossomático, para a excitação permanente, para a agressividade, para a neurose, para a depressão, para o aniquilamento do individuo, sob todos os aspectos considerado
». (1)

Além das consequências atrás apontadas, acrescentaríamos uma, talvez a mais alarmante, que é a possibilidade do ritmo cardíaco do feto ser acelerado por barulhos a que a própria mãe parece ter-se tornado tolerante.

Eliminar a poluição é praticamente impossível, já que existir é poluir. Contudo combater a poluição excessiva é necessário e, mesmo, imprescindível, caso se queira preservar a vida no planeta.

A 15 de Setembro, do ano transacto, foi criado, pelo Governo Regional, um grupo de trabalho com o objectivo de «estudar medidas tendentes ao combate à poluição sonora, proveniente de estabelecimentos industriais, de veículos a motor, de estabelecimentos comerciais e de locais de diversão pública» (2). Sabendo-se que a poluição sonora, é de fácil controle tecnológico, esperamos que sejam acertadas, e que não fiquem pelo papel, as deliberações do referido grupo de trabalho.

Alertamos, por último, a opinião pública para a existência de falsas campanhas: as que procuram responsabilizar, pelos males, igualmente todos os cidadãos, as que localizam erroneamente as causas, as que apontam soluções que são pouco mais do que simples paleativos.

(1) - in «Problema da Saúde» texto do Dr. Rocha Barbosa.
(2) - In «Boletim nº 1 da Direcção Regional da Comunicação Social.

(Publicado nbo jornal “Diário Insular” em 27 de Março de 1982)

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