segunda-feira, janeiro 08, 2007

Armas nucleares, para quê?

Num mundo em que a escalada de violência, a par com a corrida desenfreada aos armamentos e consequente aumento de tensão entre as potências imperialistas, é uma nota constante é urgente que se enverede por uma política cujo o objectivo tem de ser o que está consignado no artigo 7º da Constituição «o desarmamento igual, simultâneo e controlado, a dissolução dos blocos político-militares e o estabelecimento de um sistema de segurança colectiva, com vista à criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os povos. É preciso condenar a política dos tratados de paz celebrados pelas duas super-potências pois o que pretendem é apenas manter o «equilíbrio» entre os dois blocos que permite-lhes perpetuar o seu domínio sobre as nações menos desenvolvidas.

Se tem sido o «equilíbrio», no que toca ao armamento tanto convencional como ao nuclear entre as superpotências, o que tem impedido que se tivesse deflagrado um conflito mundial, a existência de armas nucleares não deixa de representar uma ameaça a toda a humanidade. Basta que um louco atire «a primeira pedra» e adeus mundo! E, parece-me que o poder anda mesmo (?) na mão de loucos, senão vejamos: Roelof Botha, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Africa do Sul, defende o recurso à guerra nuclear para deter o expansionismo soviético, Sigvard Eklund, director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica, propôs em 11-8-80, que se fizesse explodir uma bomba nuclear para que o mundo passasse a conhecer a capacidade de destruição semelhante arma.

Para que possamos fazer uma avaliação mais clara e profunda do problema, falarei neste artigo, concretamente (e apenas) das consequências que adviriam, para a humanidade (e para Portugal) se um conflito atómico se declarasse.

Sabemos hoje que os Estados Unidos e a União Soviética possuem capacidade de se destruírem mutuamente cinquenta vezes. Os Estados Unidos possuem 30 mil bombas atómicas e a União Soviética 20 mil. Sabe-se também que um simples míssil balístico intercontinental tem um poder destrutivo de 25 megatoneladas, o que é bastante superior à bomba que foi largada sobre a Hiroshima (1945) que tinha uma capacidade destrutiva de cerca de 15 kilotoneladas de T.N.T..

A luta contra a energia e os armamentos nucleares, não é mais uma manobra comunista (credo!) como alguns pretendem fazer crer. É uma luta que é de todos os cidadãos amantes da paz e do progresso independente dos seus credos religiosos, políticos ou filósofos.

No dia 1 de Janeiro do ano passado, João Paulo II divulgou algumas conclusões de um relatório sobre as principais consequências de uma guerra nuclear. Entre elas salientamos: «a morte por acção directa ou retardamento das explosões de uma população que poderia ir de 50 a 200 milhões de pessoas».

Segundo o semanário «O Jornal» que cita por sua vez um documento de cientistas norte-americanos publicado no «New York Times», «uma guerra nuclear mesmo limitada mataria e feriria um número de pessoas sem exemplo na história da humanidade. A instalação de dispositivos de assistência não serve para nada: Do ponto de vista médico não existem medidas eficazes. A maioria dos hospitais será destruída, a maioria do pessoal médico será morta ou ficará ferida, grande parte das reservas alimentares tornar-se-ão incomestíveis. Não existe nenhuma protecção civil eficaz. A onda de choque, a difusão do calor e as radiações matarão mesmo aqueles procurarem refúgio nos abrigos. As nuvens radioactivas atingirão também os evacuados». ...«A exposição aos raios fará aumentar o número de abortos naturais, de perturbações no desenvolvimento embrionário, de leucemias e de cancro. As gerações futuras serão afectadas por anomalias genéticas. A temperatura terrestre será modificada e produzir-se-ão mutações nas plantas cultivadas. Depois disto o mundo ficará completamente alterado».

Quanto ao nosso país, dadas as suas dimensões pode ser destruído por um só míssil. Portugal é uma nação totalmente desprovida de abrigos anti-atómicos e com poucas caves e demais instalações subterrâneas sendo, consequentemente, a protecção dos cidadãos contra a radioactividade praticamente nula. Nem sequer existe um sistema de defesa civil e de prevenção contra as catástrofes.

Concluindo a nossa defesa contra um ataque atómico não deve consistir em permitir a instalação no nosso território de armas atómicas, da NATO, pois tal significaria ficarmos automaticamente incluídos entre os alvos de agressão por parte da organização militar contrária, o Pacto de Varsóvia. Em caso de guerra nuclear possuir armas não é alternativa à sobrevivência e à defesa nacional pois numa guerra deste tipo as armas não servem de nada.
Numa guerra nuclear, mesmo limitada, não há vencedor.

(Publicado no jornal “Diário Insular”, em 19 de Maio de1981)

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