quinta-feira, janeiro 25, 2007

ECOLOGIA E ECOLOGISMO

O termo «ecologia» foi usado pela primeira vez, em 1866, pelo biólogo alemão Ernst Haeckel, na sua obra Generelle Morphologie der Organismen. Segundo ele, a ecologia é “a investigação das relações totais do animal tanto com o seu ambieente orgânico como inorgânico.
A Ecologia, que só a partir de 1919 deixou de ser um ramo da Biologia, pode ser definida como a ciência que estuda a dependência e a integração entre os sistemas biótico e abiótico da Terra.
Ao considerar que o homem vive, simultaneamente, num ambiente natural, social e psicológico Julian Huxley advoga a necessidade de se ampliar o conceito de Ecologia. Assim, segundo ele, a Ecologia Social “lida com as relações sociais do homem, tanto dentro como entre as sociedades humanas” e a Ecologia Psicológica “preocupa-se com as relações individuais e colectivas do homem, com as forças e recursos da sua natureza íntima e o mundo das ideias, crenças e valores que ele criou e com os quais se cercou”. É, no entanto, importante separar a Ecologia como ramo do conhecimento científico, da Ecologia como fenómeno sócio- -político.
“Ecologismo” é o termo usado para designar a globalidade dos movimentos de feição sócio-política centrados em torno da Ecologia.
O movimento ecologista fundamenta a sua actuação em dados fornecidos pela Ecologia cientifica, mas enquanto que a Ecologia científica pode servir de instrumento à construção de uma nociedade industrial preservada, os principais mentores do ecologismo lutam por uma ruptura imediata, propondo um outro modelo de sociedade.
O termo “Ecologismo” possui, segundo o seu criador, também a vantagem de unificar as acções práticas do movimento ecologista, sem esquecer a sua profund.a diversidade.
No mundo inteiro, o Ecologismo é contestação do sistema energético que modela as sociedadcs industriais do Leste e do Oeste. Porém não apresenta plano da sociedade ideal — nem sequer projecto preciso de sociedade. Nem revolucionário, no sentido histórico do termo, nem reformador, sonha em opôr aos Estados-nações um «planeta de federações» que corresponda aos princípios ecológicos do respeito pela diversidade.
Embora, o movimento ecologista não possua uma linha única, nem tão pouco um corpo doutrinário homogéneo, possui, segundo Dominique Simonet, três características:
1º — Para os ecologistas as actividades humanas não são reduzidas a meras relações de produção; a ecologia política tira o homo economicus do seu quadro intrincado de trabalhador-consumidor para o considerar como um ser único dotado de desejos e de uma cultura. A noção do melhor ser opôe-se à do mais ter, o processo social a crescimento económico. Os ecologistas não se interrogam somente acerca da propriedade dos meios de produção, mas também sobre a sua natureza e o seu desenvolvimento.
2º — Embora o movimento ecologista não seja uma entidade estruturada, desenvolve todavia aspirações difusas em que se pode distinguir o esboço de um desejo político em alguns elementos centrais; unidades de pequena envergadura, descentralização regional. ...Estas propostas condicionam a vida e a organização do movimento ecologista; inscrevem-se sobretudo num contexto cultural à margem da ideologia dominante e suscitam iniciativas “paralelas”, indiferentes ao código social em vigor, que se esforçam por criar «aqui e agora”, sem esperar por um hipotético entardecer ou um «amanhã que canta» como sonhava o esquerdismo.
3º — Uma ideologia ecologista põe profundamente em causa o determinismo científico e técnico que condiciona o desenvolvimento das sociedades modernas, interrogando-se sobre a influência do pensamento científico e sobre o da tecnologia dentro das escolhas de sociedade e modo de vida, O movimento ecologista põe antes de tudo a relação entre a natureza e a sociedade num século em que o homem «desnaturado», encerrado no seu papel social, é a principal vítima deste antagonismo. Medita sobre as noções de felicidade e de liberdade, dissociando uma da abundância, associando a outra à autonomia e formula ao mesmo tempo uma moral do comportamento quotidiano, olhando a sociedade do ponto de vista da natureza e do indivíduo.
(Publicado no jornal “Diário Insular”, no dia 13 de Agosto de 1982)

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