quinta-feira, janeiro 04, 2007

Portugal Prepara-se Para utilizar os "Cemitérios" Atómicos do Atlântico ?



“Se ganha a ditadura do Plutónio e permitirmos a militarização das energias doces, corremos o risco de caminhar até ao ano 2000 como números programados nos computadores, como cifras de consumo para industrias alimentares, como cérebros vazios submetidos à linguagem alienante dos meios audiovisuais”.
Santi Vilanova

A imprensa açoriana, a maioria dos partidos políticos com actividade na região e o próprio Governo Regional não há muito tempo tomaram posição contra o lançamento de resíduos radioactivos nos «cemitérios» atómicos situados a 600 milhas do nosso arquipélago.

É de estranhar, no entanto, a atitude do Governo Central que não tomou qualquer posição sobre o caso. Pelo que nos é dado conhecer só o PPM, através de Gonçalo Ribeiro Teles, manifestou a sua concordância com a resolução aprovada pelo Governo Regional do Açores. Mas, concerteza, nada fará, habituado que esta a engolir elefantes vivos… (não é verdade, senhor Ferreira do Amaral?)

A que será devido tal silêncio?

É que já vem de longe a intenção de optar pela via nuclear no nosso país. Em 1975, a E. D. P., num Encontro Nacional de Política Energética, apontava para uma opção nuclear a curto prazo. Em 1976, o primeiro-ministro de então, Mário Soares, prometeu a elaboração de um Livro Branco sobre a opção nuclear, opção esta advogada pelo seu Ministro da Indústria e Tecnologia Walter Rosa. Em 16 e 17 de Março de 1977, a E. D. P. volta à carga promovendo um seminário com o título: “Informação sobre Problemas Energéticos” que constou, num total de nove pontos, de seis ligados a problemas de uma possível opção nuclear. Mais recentemente, nos dias 11, 12 e 13 de Outubro, realizou-se em Lisboa um Simpósio sobre o Nuclear promovido pelos construtores franceses de centrais, Framatome, Alsthom e Comega que estão em melhores condições, segundo técnicos do sector, do que os canadianos que entram a corrida após acordos económicos firmados entre o primeiro ministro português, Francisco Pinto Balsemão e o chefe do governo federal canadiano, Pierre Elliot Trudeau.

A culminar todos estes estudos, conversações e acordos, o governo central parece disposto a aprovar um Plano Energético Nacional que prevê a construção de um máximo de 11 e um mínimo de seis centrais nucleares até ao ano 2000.

Perante tal atitude urge reforçar o movimento anti-nuclear no nosso país e na região, antes mesmo que o continente português esteja infestado de centrais nucleares, fábricas de reprocessamento, etc. e que o governo central decida despejar os detritos das “nossas” centrais no Atlântico.

É tempo de agir. “É necessário lutar contra o nuclear. É o problema mais importante do século, o resto não passa de um pormenor, estamos diante da morte da civilização”.
(Lanza Del Vasto)

(Publicado no jornal “Diário Insular”, 12 de Novembro de 1982)

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