terça-feira, janeiro 16, 2007

ECOLOGIA E TRABALHO

O termo Ecologia foi usado pela primeira vez, em 1866, por Ernst Haeckel, na sua obra Generelle Morphologie der Organismen. Segundo ele, a ecologia é “a investigação das relações totais do animal tanto com o seu ambiente orgânico como inorgânico”.

A Ecologia, que só a partir de 1919 deixou de ser um ramo da Biologia, pode ser definida como “o estudo da dependência e da interacção entre os sistemas biótico e abiótico da Terra”.

Ao considerar que o homem vive, simultaneamente, num ambiente natural, social e psicológico Julian Huxley advoga a necessidade de se ampliar o conceito de Ecologia. Assim, segundo ele, a Ecologia Social “lida com as relações sociais do homem, tanto dentro como entre as sociedades humanas” e Ecologia Psicológica “preocupa-se com as relações individuais e colectivas do homem, com as forças e recursos da sua natureza íntima e o mundo das ideias, crenças e valores que ele criou e com os quais se cercou”.

Estudando a relação entre os seres vivos e o seu ambiente, a Ecologia interessa directamente a todas as pessoas. Talvez por isso, é uma ciência que está “na moda”, falando-se mesmo dela nos jornais e outros meios de comunicação ligados à Direita.

A Direita, sobretudo através da defesa do ambiente e da luta anti-poluição, adaptou a ecologia – ciência revolucionária, poia as suas leis exigem que transformações radicais na vida social sejam operadas caso se deseje manter a vida no planeta- com o objectivo de “escamotear e recobrir a luta de classes com as tintas idealistas da boa convivência pacífica”.

Ao contrário do que alguma esquerda acusa , a luta ecológica não desvia as massas trabalhadoras da luta de classes. Afonso Cautela, o “maluquinho” da Frente Ecológica, um dos históricos do movimento ecológico no nosso país, identifica-as mesmo. Eis o que nos diz sobre o assunto:
“A guerra de classes é planetária como planetária é a guerra ecológica. E não é por acaso que a guerra do extermínio ecológico coincida com o auge da guerra de classes que foi o Vietname.

Apesar de planetária, porém, esta guerra começa em casa, no prato da comida, na rua, no bairro, na aldeia, na vila: antes e depois de passar pelo lugar de trabalho (onde muitos ainda a querem restringir) a luta de classes ou guerra ecológica passa pela nossa intimidade, pelos nossos hábitos (de consumo, principalmente), pela nossa vida quotidiana, prosseguindo até onde a assassina sociedade do desperdício estende os seus tentáculos. Até onde o crime industrial lança as suas garras de poluição. Até onde a Burocracia aliena e avilta com as suas cadeias. Até onde os supersónicos (Concorde e Tupolev) destroem a fina camada de ozono que nos protege das radiações mortais. Até onde os arrastões de todas as frotas imperiais destroem toda a fauna marinha e todo o miniplancton que serve de base á cadeia alimentar e portanto à sobrevivência humana. Até onde o empório nuclear consegue fazer chegar os seus cancros radioactivos. Até onde o homem é apenas a cobaia de uma indústria médico-cirúrgica apenas ocupada em fabricar doentes para que os stocks de vacinas, antibióticos, anticoncepcionais, tranquilizantes se continuem escoando. Até onde a cidade polvo é um ninho de lacraus enraivecidos devorando-se entre si. Até onde o Ruído é institucionalizado e absolutamente constitucional…Até onde se gasta em armamento num dia oque não se gastou durante um século para atar a fome aos esfomeados do Terceiro Mundo”.

Enquanto que para os ambientalistas ( defensores do ambiente) o objectivo da sua luta é apenas alterar as relações entre os homens e o ambiente mantendo esta sociedade onde o lucro é o rei e o trabalho vassalo para o movimento ecologista a luta ecológica não é um fim em si, mas apenas uma etapa para se atingir um objectivo maior, a completa transformação da sociedade o que implica uma nova relação entre o homem e a colectividade, o meio ambiente e a natureza.

Se a crise em que vivemos é “democrática” já que atinge indiscriminadamente todos os membros da sociedade, a verdade é que são as classes mais desfavorecidas, os trabalhadores e os operários as principais vítimas.

Para além do desemprego, o actual sistema económico provocou novos males ao trabalhador. As más condições de trabalho causam um número bastante grande de acidentes. As doenças provocadas pela poluição ameaçam directamente a sua saúde. A automatização crescente criou empregos que facilmente levam ao desequilíbrio psicológico. O progresso tecnológico não levou à diminuição do trabalho semanal.

Embora poucos acreditassem foi o movimento ecologista e anti-nuclear que conseguiu desmascarar a lógica económica, o sistema industrial suportado pelo uso das energias duras e o controlo social dos meios tecnológicos.

Os ecologistas ao proporem uma série de medidas, algumas das quais serão mencionadas mais adiante, defendem que o sindicalismo deverá evoluir do actual economicismo até um maior interesse pelo quadro da vida e o controle da tecnologia..

Na verdade, a quem serve o progresso técnico se não aligeira o trabalho do homem?

Pondo em causa a actual orientação económica e resolvendo o problema do desemprego, os ecologistas defendem a redução da duração do tempo de trabalho, produzindo-se menos objectos mais úteis e duráveis, deixando assim mais tempo livre para outras actividades criativas.

Não concordando com as actuais reformas que fazem dos trabalhadores idosos exluídos da sociedade, os ecologistas propõem formas de reforma à escolha ou de anuidade sabática, permitindo desdobrar o trabalho ao longo da duração da vida de um mesmo indivíduo, tornando possível reparti-lo melhor entre as gerações.

A partilha dos trabalhos penosos e uma rotação entre trabalhos manuais e intelectuais são outras das medidas por eles defendidas.

(Publicado no jornal “1º de Maio, 1 de Maio de 1982)

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