sábado, agosto 25, 2007

Meteoritos ou cometas?


De acordo com Manuel Moniz,Açoriano Oriental 5 de Junho de 1994, aqui estão as pessoas que "lançaram o Ambiente para a primeira linha das preocupações regionais".
Quem são elas?

Sentados: António Sousa (à esquerda)e Guilherme Figueiredo (à direita)

Em Pé (da Esquerda para a Direita): Carlos Elias, Hermenegildo Galante, João Porteiro, Carlos Gonzalez, (?), Teófilo Braga e Helena Calado

O que fazem hoje?

terça-feira, agosto 21, 2007

Açores: Toninhas Continuam Protegidas pela Lei

Por volta de 1840, começou a ser explorada na ilha de São Miguel a indústria de azeite de peixe, utilizado na iluminação pública, em grande escala, por ser muito económico.

As quelmas eram utilizadas pelos pescdores de P.Delgada e Rabo de Peixe e as toninhas (golfinhos) pelos de Vila Franca do Campo e Lagoa. O padre e historiador Ernesto Ferreira diz-nos que os pescadores de Vila Franca apanhavam em cada época de 1 000 a 1 100 indivíduos, número que em 1863 subiu a cerca de 3 000.

Com o emprego progressivo do petróleo e da electricidade, o uso do azeite de peixe foi decrescendo e por consequência diminuiu a captura dos “peixes” que o produziam.
Acabada a referida indústria as toninhas continuaram a ser usadas, em pequena escala, na alimentação e como isco para a pesca.

Em 1983, a Assembleia Regional dos Açores, com a aprovação do Decreto Legislativo Regional nº2/83/A, decide proibir a captura e comercialização de pequenos cetáceos (golfinhos e toninhas) nas águas dos Açores.

Em 1984, o deputado Emílio Porto alegando ser necessário “repor a verdade histórica e tradicional desta terra” propõe a revogação do decreto em vigor. A Comissão para os Assuntos Políticos e Administrativos da Assembleia Regional fica-se pelo meio termo e aprova a seguinte alteração: durante os cinco primeiros meses do ano é autorizada a captura, apenas para consumo dos pescadores.

Esta atitude foi logo contestada pelas mais diversas entidades e associações ecologistas, tanto nacionais como estrangeiras. Entre elas destacamos a posição assumida por Francisco Reiner e Manuel Eduardo dos Santos, do Museu do Mar de Cascais, a de um grupo de jovens do Faial que, segundo nos parece, numa manhã conseguiu um milhar de assinaturas de apoio a uma moção em defesa das toninhas que foi entregue na Assembleia Regional, em Junho, em cartas enviadas ao Parlamento, ecologistas e associações de defesa da fauna marítima da Europa condenam a matança de golfinhos nos mares dos Açores e, por último, o Núcleo dos Açores dos Amigos da Terra, quer através de comunicados de imprensa, quer através de cartas enviadas ao Presidente da Assembleia Regional.

Resultado da pressão exercida e do facto, segundo cremos, de uma parte (a maioria?) dos deputados ser contrária a qualquer alteração o assunto caiu no esquecimento não chegando a ser debatido no Parlamento Açoriano na presente legislatura.

A proibição continua pois em vigor e eseramos que o novo Parlamento, a eleger em Outubro, a mantenha.
(Publicado no boletim “Zimbro”, nº 2, Outubro de 1984)
Tropa? Não Obrigado!

“Toda a propaganda a favor da guerra é proibida por lei” (Pacto Internacional de Direitos Cívicos e Políticos, Artigo 20º, 16/12/1966)

O serviço militar cada vez menos surge na nossa vida como algo de muito natural e normal. Que significado tem, para nós, o ir para a tropa?

Cada vez menos a tropa é o modo dos jovens viajarem, conhecerem novas caras, fazerem amigos e viverem independentes da família.

A tropa aparece sim, como uma espécie de espada caindo na nossa juventude e dividindo-a, cortando-a: um emprego, estudos, qualificação profissional, realização pessoal, vida familiar, etc.

Diz-se que é bom ir para a tropa, para se saber o que é a vida, lá é que se fazem “homens”! Mas, o que se faz para tal?

Marchar, fazer exercícios físicos, aprender a ter um inimigo e o que há a fazer é matá-lo com uma arma que sabemos manejar.

Engraxar as botas, esquerdo direito, nada de política, cumprir sempre as ordens dos superiores, cumprir e calar. Nunca dialogar porque isso emperra a ordem de comando e o diálogo é o caos, não é próprio do homem.

Ser “homem” é também bater a pala, ter um cabelo que não é o nosso, entrar e sair fardado e vejam só tratar outros homens por meu...lidar com outros sem nome nem história como que a provar que o servilismo da idade média é modelo para fazer homens do século XX.

Num mundo em crescente e permanente espírito de ódio, violência e guerra qualquer jovem pode recusar-se a servir de carne para canhão ou elemento colaboracionista na destruição da humanidade, declarando-se objector de cosnciência.

A objecção de consciência é um direito pessoal, natural, de não acatar uma lei, de não cumprir uma ordem ou de não prestar determinado serviço (como por exemplo, o serviço militar) por imperiosas razões de consciência. Este direito é reconhecido pela Constituição da República Portuguesa e pela Resolução nº 337 da Assembleia Consultiva do Conselho da Europa, de 21 de Junho de 1967.

Recusar a tropa, numa altura em que a sobrevivência da humanidade exige a criação de uma dinâmica pacifista dos povos, capaz de deter a loucura da escalada armamentista que pode desembocar numa catástrofe nuclear, não é ser cobarde ou anti-patriota, é sim um verdadeiro acto de coerência ecológica.

(Publicado no boletim “Zimbro”, nº 5, Outuno de 1985)
Açores: Toninhas Continuam Protegidas pela Lei

Por volta de 1840, começou a ser explorada na ilha de São Miguel a indústria de azeite de peixe, utilizado na iluminação pública, em grande escala, por ser muito económico.

As quelmas eram utilizadas pelos pescdores de P.Delgada e Rabo de Peixe e as toninhas (golfinhos) pelos de Vila Franca do Campo e Lagoa. O padre e historiador Ernesto Ferreira diz-nos que os pescadores de Vila Franca apanhavam em cada época de 1 000 a 1 100 indivíduos, número que em 1863 subiu a cerca de 3 000.

Com o emprego progressivo do petróleo e da electricidade, o uso do azeite de peixe foi decrescendo e por consequência diminuiu a captura dos “peixes” que o produziam.
Acabada a referida indústria as toninhas continuaram a ser usadas, em pequena escala, na alimentação e como isco para a pesca.

Em 1983, a Assembleia Regional dos Açores, com a aprovação do Decreto Legislativo Regional nº2/83/A, decide proibir a captura e comercialização de pequenos cetáceos (golfinhos e toninhas) nas águas dos Açores.

Em 1984, o deputado Emílio Porto alegando ser necessário “repor a verdade histórica e tradicional desta terra” propõe a revogação do decreto em vigor. A Comissão para os Assuntos Políticos e Administrativos da Assembleia Regional fica-se pelo meio termo e aprova a seguinte alteração: durante os cinco primeiros meses do ano é autorizada a captura, apenas para consumo dos pescadores.

Esta atitude foi logo contestada pelas mais diversas entidades e associações ecologistas, tanto nacionais como estrangeiras. Entre elas destacamos a posição assumida por Francisco Reiner e Manuel Eduardo dos Santos, do Museu do Mar de Cascais, a de um grupo de jovens do Faial que, segundo nos parece, numa manhã conseguiu um milhar de assinaturas de apoio a uma moção em defesa das toninhas que foi entregue na Assembleia Regional, em Junho, em cartas enviadas ao Parlamento, ecologistas e associações de defesa da fauna marítima da Europa condenam a matança de golfinhos nos mares dos Açores e, por último, o Núcleo dos Açores dos Amigos da Terra, quer através de comunicados de imprensa, quer através de cartas enviadas ao Presidente da Assembleia Regional.

Resultado da pressão exercida e do facto, segundo cremos, de uma parte (a maioria?) dos deputados ser contrária a qualquer alteração o assunto caiu no esquecimento não chegando a ser debatido no Parlamento Açoriano na presente legislatura.

A proibição continua pois em vigor e eseramos que o novo Parlamento, a eleger em Outubro, a mantenha.
(Publicado no boletim “Zimbro”, nº 2, Outubro de 1984)

sábado, agosto 18, 2007


A propósito do Dia Mundial da Floresta: É Urgente Preservar a Vegetação Autóctone

Graças à feliz iniciativa da Câmara Municipal da Povoação, no passado dia 21 de Março tive a oportunidade de participar num colóquio, na Vila da Povoação, onde para além de apresentar uma comunicação acerca da necessidade de protegermos a vegetação autóctone dos Açores, foi-me dada a oportunidade de tecer algumas considerações sobre o papel que cabe a cada um de nós, cidadãos, na defesa do nosso património natural. Neste texto, vou tentar sintetizar parte do que foi dito naquele dia.

Apesar de ter consciência de que a sensibilização ambiental não se pode ficar pela simples comemoração do dia disto ou daquilo, e no caso do dia da árvore, pela distribuição de cartazes, folhetos e autocolantes em abundância e, como é usual, pela plantação de uma árvore que se deixa morrer de sede logo no Verão seguinte, considero que o dia 21 de Março é uma data que não pode ficar esquecida e que deverá ser aproveitada para acções de informação/ formação.

No que diz respeito aos Açores, de acordo com o Relatório do Estado do Ambiente dos Açores- 2001, 30% da superfície das ilhas está ocupada por floresta, sendo a criptoméria a espécie mais abundante, ocupando cerca de 58% da área total das matas da região. Por seu turno, a floresta natural, ocupa apenas 2,4% da área do arquipélago. No que toca à origem das espécies presentes no arquipélago, verifica-se que a esmagadora maioria é exótica, isto é 702 espécies, 37 das quais apresentam carácter invasor, enquanto que o número de espécies endémicas dos Açores é próximo de 60.
A situação preocupante em que se encontra a flora autóctone dos Açores já havia sido apresentada num abaixo assinado promovido por várias associações de defesa do ambiente, entre as quais os Amigos dos Açores, em 1990, onde era, também, proposto aos órgãos de poder nacional e regional, a criação de um plano de emergência para a salvaguarda da vegetação natural dos Açores,

Como resultado desta petição a Assembleia Legislativa Regional aprovou uma Resolução (nº 13/95/A) onde recomenda que o governo implemente um plano visando a protecção e conservação efectiva das zonas ecologicamente mais valiosas do Arquipélago, do ponto de vista botânico, tendo em consideração os seguintes pressupostos:
- deveria ser dada prioridade à classificação de áreas de protecção relativamente vastas e com elevado número de espécies endémicas ameaçadas, em que estejam representadas o máximo de comunidades vegetais, em lugar da classificação de numerosas áreas homogéneas, pequenas e isoladas, mas altamente vulneráveis.

- deveria ser condicionada a introdução de espécies animais e vegetais exóticas no Arquipélago, devido à fragilidade e vulnerabilidade dos ecossistemas insulares, e era fundamental iniciar programas de controlo das plantas exóticas invasoras existentes.

Pouco ainda foi feito em relação à primeira sugestão, com efeito não basta enunciar que a Área Classificada Terrestre, abrangendo, as áreas da Rede Natura 2000 (criadas a partir da Directiva Referida e da Directiva Aves (79/409/CEE) e as Áreas Protegidas regionais ocupa 37 138 ha, isto é 16% do território, é urgente a criação de Planos de Ordenamento e Órgãos de Gestão para as Áreas Protegidas existentes. No que diz respeito à segunda, muito há por fazer, basta vermos a distribuição, na ilha de São Miguel, de algumas plantas invasoras hoje e comparar com o que acontecia há dez anos.

(Publicado no Açoriano Oriental, 31 de Março de 2003)
ESPELEOLOGIA: ESTUDOS E PATRIMÓNIO ESPELEOLÓGICO


Como já tive oportunidade de escrever, nos Açores, apenas duas organizações não governamentais têm, de forma sistemática e contínua, dedicado o seu esforço à descoberta, inventariação, levantamento cartográfico e estudo geológico e /ou biológico das cavidades vulcânicas do arquipélago: a Sociedade de Exploração Espeleológica: Os Montanheiros, sediada na ilha Terceira, e os Amigos dos Açores- Associação Ecológica, com sede em São Miguel.

Como, também já escrevi, no artigo publicado neste jornal, no passado dia 8 de Abril, alguns especialistas nacionais ligados a diversas Instituições Universitárias, com destaque para os Doutores Victor Hugo Forjaz, Luís Arruda e Paulo Borges, deram o seu contributo para um melhor conhecimento da riqueza espeleológica dos Açores. Contudo, seria injusto não referir os nomes de diversos espeleólogos estrangeiros que nos têm visitado e que têm com o seu trabalho enriquecido o conhecimento que temos sobre as cavidades vulcânicas dos Açores.

Não querendo cometer qualquer injustiça, por omissão de algum nome, referia aqui o contributo dos seguintes espeleólogos e de alguns dos trabalhos por eles efectuados: P. Brunet e C. Thomas, franceses que visitaram a ilha do Pico e fizeram o mapa da Furna de Henrique Maciel; W. Halliday, americano que visitou várias ilhas e apresentou a primeira listagem das cavidades vulcânicas dos Açores, com um total de 25, 18 grutas e 7 algares; Montserrat e Romero, espanhóis, que descreveram várias grutas da ilha Terceira; T. Ogawa, japonês que visitou várias ilhas e que publicou um artigo com uma listagem das grutas dos Açores, com um total de 42 grutas inventariadas, e N. Ashmole e P. Oromi, o primeiro de nacionalidade inglesa e o segundo espanhol, que chefiaram uma expedição apoiada pela National Geographic Society, que percorreu várias ilhas dos Açores com o objectivo de proceder a estudos de carácter bioespeleológico.

No que diz respeito à quantidade de cavidades vulcânicas dos Açores, a última listagem publicada, da autoria de Paulo Borges, Manuel Aguiar Silva e Fernando Pereira, pode ser consultada no artigo “Caves and Pits from the Azores With Some Comments on Their Geological Origin, Distribution, and Fauna” publicado em 1992, nos Estados Unidos da América.
De acordo com os referidos autores, nos Açores existem 112 cavidades vulcânicas, distribuídas pelas seguintes ilhas: Corvo (1), Faial (4), Pico (36), Graciosa (17), São Jorge (12), Terceira (26), São Miguel (13), Santa Maria (3).

Atendendo a que na Graciosa, desconhece-se hoje grande parte da localização das grutas inventariadas, podemos dizer com rigor que a ilha onde existe maior quantidade de grutas é a do Pico, com mais de 10 km de extensão já conhecidos, seguindo-se a Terceira, com mais de 7 km e, em terceiro lugar, São Miguel, com cerca de 3 km de extensão já explorados.

Para além das cavidades que já se encontram abertas ao público, como o Algar do Carvão, a Gruta do Natal e a da Água, na Terceira, e a Furna do Enxofre, na ilha Graciosa, as ilhas do Pico e de São Miguel possuem grutas que, à partida, oferecem todas as condições para serem abertas ao público e como tal fazerem parte da oferta turística. Refiro-me, entre outros, ao caso da Gruta das Torres, com mais de 3 km de extensão já reconhecidos, situada na Criação Velha, na ilha do Pico, e à Gruta do Carvão, com cerca de 1500 m já explorados, nos seus três troços conhecidos, o dos ex-Secadores da Fábrica de Tabaco Micaelense, na Rua de Lisboa, o da Rua do Paim e da Rua João do Rego, em Ponta Delgada.

Sabendo-se que já existe um projecto da Direcção Regional do Ambiente para abertura da Gruta das Torres e que os Amigos dos Açores,em 1994, também apresentaram uma Proposta de Musealização da Gruta do Carvão, seria de todo o interesse para a Região que se dessem passos no sentido de concretizar, com a brevidade possível, ambas as intenções.
(Publicado no Açoriano Oriental, 19 de Agosto de 2002)
PÉROLAS A PORCOS

A GRUTA DO CARVÃO



No próximo mês, com o apoio da Secretaria Regional do Ambiente, uma delegação dos Amigos dos Açores irá participar no "X th International Symposiumon Volcanospeleology", onde apresentará alguns dos trabalhos desenvolvidos pela Associação, designadamente o IPEA- Inventário do Património Espeleológico dos Açores, a Base de Dados das Cavidades Vulcânicas dos Açores" e “A Gruta do Carvão Como Recurso Educacional”.

Conhecida desde o século XVI, a Gruta do Carvão é o maior tubo lávico da ilha de São Miguel e um dos mais importantes do arquipélago, com cerca de 5 km de extensão, tendo já sido explorados pelos Amigos dos Açores aproximadamente 1650 m. A Gruta do Carvão possui uma altura média na ordem dos 2 a 3 metros, havendo locais onde esta ultrapassa os 5 metros, e a sua largura é muito variável, atingindo valores superiores a 10 metros.

A Gruta do Carvão, sobretudo o troço compreendido entre os antigos Secadores da Fábrica de Tabaco Micaelense e a Avenida Antero de Quental, tem sido muito visitada por espeleólogos nacionais e internacionais. Por decisão da Direcção dos Amigos dos Açores e do seu Grupo de Trabalho de Espeleologia, deixaram de ser feitas visitas guiadas para turistas enquanto não forem criadas as condições para que tal possa ser realizado com alguma dignidade e apenas se mantêm visitas, com carácter pedagógico- didáctico, destinadas sobretudo a grupos escolares.

O número de alunos dos mais diversos graus de ensino e das mais diversas escolas da ilha, do continente português e das comunidades de emigrantes tem vindo a crescer de tal modo que a associação tem tido dificuldade em satisfazer as solicitações, encontrando-se em estudo uma proposta de regulamento para as visitas de estudo de forma a limitar o seu número. A título de exemplo, refira-se que, no ano de 2001, 177 pessoas participaram nas cinco visitas realizadas e que, apenas no primeiro semestre deste ano, realizaram-se dez visitas, com um total de 334 participantes.

Pela sua localização, dimensões e estruturas vulcânicas que possui a Gruta do Carvão é a que maiores potencialidades turísticas e didácticas apresenta nos Açores.

Da sua riqueza natural, destacamos as estruturas conhecidas como “bolhas de gás” que são sectores da parede da gruta que “rebentaram” sob acção de gases acumulados no seu interior, as inúmeras estalactites, quer primárias (lávicas e em geral de forma cónica e superfície lisa), que resultam da solidificação de pingos de lava, quer secundárias, resultantes de fenómenos de alteração e deposição a partir das águas de escorrência que se infiltraram na gruta. Para além do referido, importa registar a presença de longos troços de balcões (ou bancadas) nas paredes da gruta, testemunho de antigos níveis de lava fluida que percorreram o interior do túnel, bem como a existências de lajes, morfologias do tipo aa, lava encordoada e injecções de lava muito fluida em zonas mais escoriáceas (tipo clinker).

Em 1994, no Primeiro Encontro das Instituições Museológicas dos Açores, realizado no Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada, foi apresentada por João Paulo Constâcia, João Carlos Nunes e Teófilo Braga uma Proposta de Intervenção Museológica na Gruta do Carvão cujo objectivo passava pela sua classificação jurídica e pela sua abertura ao público assente num programa de intervenção museológica. Deste, faz parte a criação de um espaço expositivo exterior, que, localizado junto a uma entrada da gruta, inicie a visita, constituindo um centro de interpretação da temática vulcanológica e servindo de ponto de partida a diversas acções de dinamização pedagógica, de ocupação dos tempos livres e pólo de atracção turística.

Todo este potencial científico, turístico e educativo continua à espera que as mais diversas entidades, nomeadamente o Governo Regional dos Açores e a Câmara Municipal de Ponta Delgada, intervenham no sentido da sua recuperação e valorização. De promessas estamos fartos...

Bibliografia:

CONSTÂNCIA, J., NUNES, J., BRAGA, T., (1997), Proposta de Intervenção Museológica na Gruta do Carvão, Ilha de São Miguel, Ponta Delgada, Amigos dos Açores.

(Publicado no Açoriano Oriental, 2 de Setembro de 2002)
ESPELEOLOGIA : UM POUCO DA SUA HISTÓRIA NOS AÇORES


Com este texto, inicio um conjunto de artigos sobre uma riqueza existente na região e que tem estado esquecida ou, mesmo, desprezada: o seu património espeleológico.

O vocábulo espeleologia é usado, quer quando se pretende referir à ciência que estuda as cavidades, quer quando se menciona a actividade desportiva que consiste na exploração do mundo subterrâneo.

Embora seja uma actividade muito antiga, só no século XIX a espeleologia tornou-se numa actividade organizada graças ao labor do francês, Eduard Martel, o “pai” da espeleologia, que estudou e divulgou centenas de grutas em toda a Europa, e do austríaco Adolf Schmidl, criador da espeleologia como ciência.


Em Portugal, os primeiros registos da actividade espeleológica são de 1758, data em que o Padre Manuel Dias descreveu a exsurgência dos Olhos de Água. Nos Açores, embora se conheçam descrições das grutas vulcânicas datadas do século XVI, da autoria de Gaspar Frutuoso, de em 1821 John White Webster ter descrito uma gruta na zona dos Arrifes, de George Hartung, em 1860, ter visitado a Gruta do Carvão, em Ponta Delgada e a Furna do Enxofre, na Graciosa, etc., a actividade espeleológica organizada iniciou-se, na ilha Terceira, na década de 60 do século passado através da Sociedade de Exploração Espeleológica "Os Montanheiros".

A Sociedade de Exploração Espeleológica “Os Montanheiros”, fundada em 1 de Dezembro de 1963 “tem por fim promover o conhecimento e divulgação de motivos naturais de interesse espeleológico ou paisagístico”, através da pratica do campismo e do montanhismo. Os MONTANHEIROS têm desempenhado um papel de relevo no apoio logístico a várias expedições científicas no âmbito da espeleologia e têm denunciado atentados à natureza, sobretudo na ilha onde a associação está sediada, a Terceira. Nesta associação, destacou-se Manuel Aguiar Silva, pelo entusiasmo e dedicação com que exerceu as suas funções de presidente da Direcção durante largos anos.

Ainda na década de 60 do século XX, Victor Hugo Forjaz descreveu num texto publicado no Boletim do Núcleo Cultural da Horta, em 1963, a Furna de Henrique Maciel, da ilha do Pico.

Em 1972, Luís Arruda, numa publicação da Sociedade Portuguesa de Espeleologia, escreve sobre as grutas do Pico.

Sobretudo no primeiros anos da década de 90, Albino Garcia faz a exploração de várias grutas no Pico e dá apoio logístico a diversos espeleólogos estrangeiros, entre os quais o cientista austríaco Herbert Franz.

Em 1988, os Amigos dos Açores dão início às primeiras explorações espeleológicas na ilha de São Miguel, tendo visitado todas as grutas e algares existentes na ilha. No ano seguinte, tem lugar uma expedição cientifica em que participaram especialistas das Universidades de Edinburg (Escócia), La Laguna (Canárias) e Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, chefiados, respectivamente, por Nelson Ashmole, Pedro Oromi e Paulo Borges .

No ano de 1991 foi criado, no seio dos Amigos dos Açores, o “Grupo de Trabalho de Espeleologia”, coordenado por João Carlos Nunes, o qual, desde então, estudou diversas cavidades subterrâneas da Ilha de S. Miguel, com especial destaque para a Gruta do Carvão.

Em 1992, organizados pelos Montanheiros realizaram-se, em Angra do Heroísmo, o III Congresso Nacional de Espeleologia e o I Encontro Internacional de Vulcanoespeleologia das Ilhas Atlânticas.

Em 1994, é editado o livro “Património Espeleológico da Ilha de São Miguel”, da autoria de João Paulo Constância, João Carlos Nunes e Teófilo Braga e é elaborada uma “Proposta de Intervenção Museológica na Gruta do Carvão”, a qual foi apresentada publicamente em Março, durante os trabalhos do “1º Encontro das Instituições Museológicas dos Açores”, realizado em Ponta Delgada, no Museu Carlos Machado.

Em 1998, o Conselho de Governo cria um Grupo de Trabalho Multidisciplinar Encarregado de Promover a Elaboração de um Estudo sobre as Cavidades Vulcânicas Existentes no Arquipélago, grupo este que ainda se encontra em funcionamento.

O crescente interesse pela visita a grutas poderá, desde que salvaguardada a segurança dos visitantes e a própria integridade das cavidades, constituir mais uma mais valia para a região. É que, para além dos aspectos de carácter científico e desportivo, poderão ser exploradas nas grutas as suas potencialidades didácticas e turísticas.

Voltarei ao assunto.

(Publicado no Açoriano Oriental, 8 de Abril de 2002)

sexta-feira, agosto 17, 2007

A IMPORTÂNCIA VITAL DA ÁGUA



No final da década de 90 do século passado, de acordo com uma avaliação feita pelas Nações Unidas, em cerca de 1/3 dos vários países do mundo havia dificuldade ou mesmo impossibilidade em satisfazer as necessidades de água dos seus habitantes. Esta situação, devido ao crescimento populacional e económico, poderá agravar-se e atingir os dois terços até 2025.

Na Região, segundo o Relatório do Estado do Ambiente dos Açores-2001, embora já haja sobre- exploração de aquíferos em algumas ilhas, as disponibilidades de água aparentam ser suficientes para as necessidades, caso sejam implementadas medidas de gestão eficientes”

Devido à importância vital da água tanto para a manutenção da qualidade de vida humana como para a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas, 2003 foi declarado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, como Ano Internacional da Doce.

Neste ano, que deve ser de reflexão e de acção, todos nós, como indivíduos e como comunidades, devemos prestar atenção redobrada à protecção e respeito pelos recursos hídricos.
Espera-se que este não seja mais um ano para figurar nos calendários, apelando-se, desde já, a todas entidades governamentais ou autárquicas para a implementação de todas as medidas necessárias para uma correcta gestão dos recursos hídricos regionais e às Escolas, Organizações não Governamentais de Ambiente e Associações Juvenis para programarem actividades de formação e sensibilização.

A associação Amigos dos Açores incluiu no seu plano anual de actividades algumas acções que pretende integrar nas Comemorações do Ano Internacional da Água, com destaque para visitas guiadas com jovens a captações de água para abastecimento público, distribuição de folhetos, apelando ao consumo racional da água, e de “planos de aulas” destinados a docentes, elaborados pela Earth Day Network, rede internacional, que irá comemorar este ano sob o lema “Water for Life”.
(Açoriano Oriental, 20 de Janeiro de 2003)
EDUDAÇÃO AMBIENTAL, EM QUINTA FECHADA?


Em 1992, subscrito por 34 associações de defesa do ambiente, entre as quais os Amigos dos Açores, foi aprovado em Évora o “ Contributo das Associações de Defesa do Ambiente para uma Estratégia Nacional de Educação Ambiental”. A proposta apresenta o objectivos gerais que por sua vez se desdobram em diversos específicos e o modo como estes objectivos são concretizados em diversas áreas.

Na área do acesso à informação, o objectivo proposto é o da criação de um sistema nacional de informação de Educação Ambiental que assegure a realização, avaliação e melhoria da estratégia e programas de acção de Educação Ambiental que é concretizado através de um serviço de informação em rede e da difusão da informação.

Potenciar a participação das populações locais na Educação Ambiental formal e não formal é o segundo objectivo geral. Para a sua concretização, aponta-se a criação de Centros de Iniciação ao Ambiente, bem como de Espaços Educativos de Suporte à Educação Ambiental e o estabelecimento de itinerários de descoberta.

No campo da investigação e experimentação, pretende-se incrementar a investigação e experimentação relativamente aos conteúdos, métodos pedagógicos e estratégias de organização e transmissão de mensagens para a educação ambiental. Os objectivos específicos relacionam-se com a investigação e experimentação sobre novas áreas e conteúdos da educação, a investigação no domínio da concepção, tratamento e difusão da mensagem ambiental e das estratégias adequadas no quadro dos valores e atitudes indispensáveis à respectiva transposição para a acção volitiva e concreta e por último, a investigação de formas de avaliação sobre as diferentes componentes do processo educativo.

Na área dos programas educacionais e materiais didácticos, sugere-se o incremento da Educação Ambiental, mediante a elaboração de programas de estudo e materiais didácticos para o ensino em geral. Para a sua concretização indica-se a necessidade de intercâmbio de informação sobre a elaboração de programas escolares, nomeadamente com outros países, a elaboração de programas escolares piloto e de novos materiais didácticos e a avaliação dos programas escolares e dos materiais didácticos.

No que diz respeito à Formação de Formadores, a promoção da sua formação inicial e complementar é outro dos objectivos prioritários, propondo-se a formação inicial e em exercício dos docentes, bem como a sua formação complementar e a formação específica de monitores, animadores juvenis e outros agentes educativos extra-escolares.

Não é descurado o sistema de formação profissional, nesta área é proposta a integração da dimensão ambiental no sistema de formação profissional através da elaboração de programas e materiais de educação e formação, da formação de pessoal docente e monitores, sensibilização dos orientadores de estágio e investigação aplicada.

A intensificação da informação e educação dos cidadãos em matérias relacionadas com o ambiente, através da utilização dos meios de comunicação e das novas tecnologias de comunicação e informação, é destacada. Para tal é proposto a elaboração de programas educativos acerca dos meios de comunicação e sua utilização, a utilização dos novos meios de comunicação e métodos pedagógicos activos, a criação de um banco de programas e materiais audio- visuais, a criação e utilização de exposições, conferências e museus e a formação de jornalistas.

Por último, a integração da dimensão ambiental no ensino universitário, não é esquecida. Assim, pretende-se a sensibilização das cúpulas universitárias, a criação e adaptação de currículos adequados aos objectivos da Educação Ambiental, integrando-os nas mais diversas áreas disciplinares, a reorientação do pessoal docente e formação de formadores, a cooperação institucional intra e inter- universitária e a intensificação de formas de investigação básica que possam promover a colaboração activa com níveis de ensino anteriores.

A iniciativa da Kairós de instalar em São Gonçalo, Ponta Delgada, um Centro de Educação Ambiental e Rural denominado “Quinta do Priôlo” não é mais do que a concretização de um dos objectivos gerais da proposta de Estratégia Nacional de Educação Ambiental elaborada pelas Associações de Defesa do Ambiente: “Potenciar a participação das populações locais na Educação Ambiental formal e não formal”. A Quinta do Priôlo, que será gerida pela Kairós, conta, desde já, para o seu funcionamento, com a colaboração dos Amigos dos Açores, uma das entidades promotoras do projecto, a participação activa do Serviço de Desenvolvimento Agrário de São Miguel e o financiamento da Secretaria Regional do Ambiente. No que diz respeito à Ecoteca de Ponta Delgada, ficará instalada no interior da Quinta do Priôlo, é da iniciativa da Direcção Regional do Ambiente, cabendo àquela associação, no âmbito de um protocolo a celebrar com aquela entidade, assegurar a sua gestão.

Para a concretização do referido objectivo, a associação Amigos dos Açores pretende, também, colaborar na gestão da Ecoteca da Ribeira Grande e no Projecto de Itinerários Ambientais, dinamizado pelo Clube de Ambiente da Escola EB 2,3 Gaspar Frutuoso. Promoverá, ainda, de acções de sensibilização nas escolas sobre a didáctica dos percursos pedestres e um conjunto de visitas de estudo/ percursos pedestres destinados a grupos de jovens de escolas da ilha de S.Miguel, bem como a jovens pertencentes a Associações Juvenis ou a grupos de Jovens ligados às Paróquias.

( Publicado no Açoriano Oriental, 12 de Março de 2001)



Plantas Medicinais e Educação Ambiental


É por demais conhecida, por um lado, a importância das plantas medicinais para a saúde humana e, por outro lado, a preocupante situação em que se encontram a nível mundial. A este respeito, em 1988, na Declaração de Chiang Mai, a Organização Mundial de Saúde chamava a atenção das Nações Unidas para a crescente e inaceitável perda destas plantas devido à destruição do seu habitat e às práticas insustentáveis de recolha.

Entre nós, os primeiros povoadores terão trazido consigo o conhecimento empírico e a grande maioria das plantas usadas na medicina popular. A prova está no que escreveu Gaspar Frutuoso a este propósito. Assim, referindo-se à ilha de Santa Maria, Frutuoso menciona “um João Vaz Melão, que se chamava das Virtudes, pela com que curava, natural de Viseu, donde veio à ilha logo no princípio, depois de ser achada... onde tinha muita fazenda e uma grande casa que lhe não servia mais do que dos enfermos que de muita parte o buscavam, os quais ele curava, por amor de deus, só com ervas e azeite, sem mais outra mezinha”. Do mesmo modo, ao descrever a fertilidade da ilha Terceira, Frutuoso relata a existência de “muito mel e bom pasto para ele, como é alecrim, rosmaninho, erva ursa, ou timo, queiró, poejos, cubres e muitas flores de árvores diversas, muito género de ervas, de que usam os boticários”.

As plantas medicinais poderão ser utilizadas como instrumento facilitador no processo de educação ambiental. Por outro lado, o trabalho com as plantas medicinais, por parte de todos os agentes educativos, a ser implementado, deverá contribuir para a valorização da cultura popular e para a conservação das plantas medicinais e dos conhecimentos que se têm sobre cada uma delas.

Neste texto, pretendo apenas apresentar algumas sugestões de actividades que podem ser feitas nas escolas, usando as plantas medicinais como recurso.

Em primeiro lugar, o estudo das plantas medicinais poderá oferecer uma oportunidade para interligar conhecimentos de várias disciplinas. A título de exemplo, refira-se que é possível explorar conteúdos da química (composição, produção de misturas, etc.), da biologia (fisiologia vegetal, saúde, habitats, etc.), da educação visual (desenho das plantas), da geografia (origem geográfica e diversidade das plantas), da história (o cultivo das plantas ao longo dos tempos), etc. Com a revisão curricular em curso, nas nossas escolas, o estudo das plantas usadas na medicina popular poderá ser um bom tema a tratar na Área de Projecto.

No que diz respeito à Educação Ambiental, a montagem de um herbário com as plantas medicinais usadas numa dada localidade é uma actividade que poderá entusiasmar os alunos. Ligada à montagem do herbário está sempre subjacente uma visita de estudo para a colecta das plantas, uma pesquisa sobre as designações comuns de cada uma delas, os seus nomes científicos, as exigências em termos de solos e água, os fins a que se destinam, as partes que devem ser utilizadas, eventuais contra indicações e perigos no seu uso e outras utilizações das plantas na região. A procura de informações sobre as diversas plantas não se deve limitar à pesquisa bibliográfica ou ao recurso à internet, é muito importante que se façam entrevistas a pessoas, sobretudo as mais idosas, que conheçam e/ou usem as plantas no seu dia a dia.

Outra actividade que poderá contribuir para a educação dos jovens alunos, para além de contribuir para a ocupação saudável dos seus tempos livres, é a criação de um pequeno jardim de plantas medicinais. Para a sua implementação, tudo o que foi dito sobre a criação do herbário pode, aqui, ser posto em prática.

Por último, toda a experiência acumulada por cada escola poderá ser alvo de divulgação, quer através da edição de uma pequena brochura, quer na produção de um vídeo ou de um CD. Para além de constituir um prémio para os alunos, que têm a possibilidade de ver o seu trabalho reconhecido e difundido, poderá ser um instrumento encorajador e facilitador do trabalho de outras escolas.

Bibliografia:
MARCATTO, C., (s/d), Utilização de Plantas Medicinais em Educação Ambiental (polic.)

(Publicado no Açoriano Oriental, 30 de Janeiro de 2002)
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

ALGUNS CONCEITOS


ECOLOGIA E ECOLOGISMO

"Ecologia é ter o canto de uma ave na cabeça e os pés na terra"(Jean-Paul Ribes, "La Baleine")

O termo ecologia foi usado pela primeira vez, em 1866, pelo biólogo alemão Ernst Haeckel. A ecologia, que só a partir de 1919 deixou de ser um ramo da Biologia, pode ser definida como "a ciência que estuda as relações do homem com o meio ambiente vivo e a natureza que o envolve, a comunicação que se estabelece entre os organismos vivos, desde a mais pequena célula ao mais complexo sistema vivo".

A interacção existente entre sociedade e natureza fez com que, a partir de certo momento, a ecologia se tornasse, pouco a pouco, em actividade de intervenção política e social, em ecologismo - termo criado por Dominique Simonnet, em 1979, para distinguir ciência de actividade político/social.

Em suma, podemos distinguir duas vertentes no conceito de ecologia: a científica e a social. Estas "não podem ser entendidas numa antítese, mas sim como dois aspectos da mesma realidade global. A previsão científica permite orientar a intervenção social, e esta corrigir a primeira".




AMBIENTE

Ambiente é o conjunto dos sistemas físicos, químicos, biológicos e suas relações e dos factores económicos, sociais e culturais com efeito directo ou indirecto, mediato ou imediato, sobre os seres vivos e a qualidade de vida do homem.

QUALIDADE DE VIDA

Esta é o resultado de múltiplos factores no funcionamento das sociedades humanas e traduz-se na situação de bem estar físico, mental e social e na satisfação e afirmação culturais, bem como em relações autênticas entre o indivíduo e a comunidade, dependendo da influência de factores inter-relacionados, que compreendem designadamente:

a) a capacidade de carga do território e dos recursos;
b) a alimentação, a habitação, a saúde, a educação, os transportes e a ocupação dos tempos livres;
c) um sistema social que assegure a prosperidade de toda a população e os consequentes benefícios da Segurança Social;
d) a integração da expansão urbano – industrial na paisagem, funcionando como valorização da mesma, e não como agente de degradação.

ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

É o processo integrado da organização do espaço biofísico, tendo como objectivo o uso e a transformação do território, de acordo com as suas capacidades e vocações, e a permanência dos valores de equilíbrio biológico e de estabilidade geológica, numa perspectiva de aumento da sua capacidade de suporte de vida.

CONSERVAÇÃO DA NATUREZA: CONCEITO E ASSOCIATIVISMO

Durante muito tempo a Conservação da Natureza estava associada à defesa das espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção.

Preocupação muito antiga, a conservação da natureza só terá assumido carácter organizado com o movimento dos “naturalistas”, nos Estados Unidos, por volta de 1872, ano em que foi criado o Parque Nacional de Yellowstone.

Foi, contudo, a publicação do livro “Primavera Silenciosa”, em 1960, nos Estados Unidos, e, três anos depois, em França, de autoria da bióloga norte-americana Rachael Carson, que fez despertar as consciências para as crescentes agressões ambientais a que estava a ser sujeita a Mãe da Terra.

Em 1969 surge, em São Francisco, nos Estados Unidos, o movimento dos “Friends of the Earth”. No ano seguinte nasce, no Canadá, por iniciativa de um pequeno grupo de ecologistas americanos e canadianos, a organização “ Greenpeace.

Em Portugal, até ao 25 de Abril de 1974, apenas a Liga para a Protecção da Natureza (LPN), fundada em 1948, desempenhou um papel fundamental na educação e sensibilização para a conservação da natureza. Logo após aquela data é fundado, em Lisboa, o Movimento Ecológico Português e em Dezembro do mesmo ano surge, no Porto, o Núcleo Português de Estudo e Protecção da Vida Selvagem que chegou a possuir uma delegação nos Açores, com sede em Vila Franca do Campo.

A Associação Amigos dos Açores é uma Associação de Defesa do Ambiente, criada em Março de 1985, que tem como objectivo, em termos gerais, contribuir para a construção de um mundo mais limpo; mais justo e pacífico, privilegiando para isso métodos de trabalho e de intervenção não- violentos.

Com cerca de 750 associados individuais espalhados por várias ilhas dos Açores, em Portugal Continental e nas comunidades de emigrantes, a sua acção embora centrada na ilha de S. Miguel, tem-se estendido a todas as ilhas, quer através dos seus membros, quer através da colaboração com as autarquias e sobretudo com as escolas de todos os níveis de ensino.

A conservação é hoje assumida como a gestão da Biosfera, de modo a que o homem utilize os seus recursos de forma perene, satisfazendo as suas necessidades sem degradar o património, natural e cultural, que é uma herança que não nos pertence, porque pertence às gerações do futuro. Assim, é necessário que a política de conservação seja uma componente fundamental de todas as políticas sectoriais e abranja todo o território, em particular a agricultura a indústria, a floresta, etc. devem obedecer a critérios ambientais e de conservação.


ÁREAS PROTEGIDAS

São áreas terrestres, águas interiores e marítimas em que a fauna, a flora, a paisagem, os ecossistemas ou outras ocorrências naturais apresentem, pela sua raridade, valor ecológico ou paisagístico, importância científica, cultural e social, uma relevância especial que exija medidas específicas de conservação e gestão, em ordem a promover a gestão racional dos recursos naturais, a valorização do património natural e construído, regulamentando as intervenções artificiais susceptíveis de as degradar.


Parque nacional


Entende-se por parque nacional uma área que contenha um ou vários ecossistemas inalterados ou pouco alterados pela intervenção humana, integrando amostras representativas de regiões naturais caracterís¬ticas, de paisagens naturais e humanizadas, de espécies vegetais e animais, de locais geomorfológicos ou de ha¬bitats de espécies com interesse ecológico, científico e educacional.

Reserva natural


Entende-se por reserva natural uma área desti¬nada à protecção de habitats da flora e da fauna.

Parque natural


Entende-se por parque natural uma área que se caracteriza por conter paisagens naturais, seminaturais e humanizadas, de interesse nacional, sendo exemplo da integração harmoniosa da actividade humana e da Natureza e que apresenta amostras de um bioma ou região natural.


Monumento natural

Entende-se por monumento natural uma ocorrência natural contendo um ou mais aspectos que, pela sua ,singularidade, raridade ou representatividade em termos ecológicos, estéticos, científicos e culturais, exigem a sua conservação e a manutenção da sua integridade.


Paisagem protegida

Entende-se por paisagem protegida uma área com paisagens naturais, seminaturais e humanizadas, de interesse regional ou local, resultantes da interac¬ção harmoniosa do homem e da Natureza que evidencia grande valor estético ou natural.


O COMPORTAMENTO DAS PESSOAS NAS ÁREAS PROTEGIDAS



Nas áreas protegidas os visitantes deverão seguir algumas regras . Apresentamos 10 conselhos a que intitulamos “Regras de ouro dos Amigos da Natureza”:

1- És um convidado da natu¬reza - comporta-te como tal!

2- Não arranques plantas nem maltrates as árvores - a vegetação não pode fugir às tuas agressões.

3- Não faças ruídos que te privem dos sons da Natureza- nela podes encontrar a tranquilidade que não há nas cidades.

4- Não faças fogueiras nem lume fora dos sítios prepa¬rados para tal - qualquer descuido pode acabar com o que demorou anos a crescer.

5- Segue as indicações que encontres ou os conselhos dos guias.
6- Não deixes lixo ou desperdícios- não queiras deixar uma má recordação da tua visita.


7- Não incomodes nem maltrates os animais- a natureza é a sua casa.

8- Os espaços naturais existiam muito antes da tua chegada- deixa tudo como encontraste.


9- A observação, o estudo, o desenho e a fotografia são actividades que não prejudicam a natureza- podes aprender muito com ela.


10-Avisa imediatamente as auto¬ridades sempre que observes algo de anormal.





(texto base para uma acção de sensibilização para alunos do 7º ano de escolaridade da Escola EB 2,3 de Vila Franca do Campo, a convite da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, no dia 20 de Novembro de 1998)



A Propósito de Lixeiras

A notícia publicada, na passada sexta- feira, no Açoriano Oriental onde é referida a existência nos Açores de 772 pequenas lixeiras clandestinas não me apanhou de surpresa. Com efeito, embora não conheça directamente o que se passa nas outras ilhas, em São Miguel, basta sairmos das estradas regionais ou aproximarmo-nos do litoral, em zonas habitacionais, para encontramos montes de entulhos e de lixos

Seria fastidioso estar a mencionar todos os locais onde é possível encontrarmos lixos, contudo, dada a sua localização em locais de elevado interesse paisagístico e de grande procura por quem nos visita, vou mencionar aqui a orla costeira entre o palheiro da Ribeira Grande e a freguesia da Ribeirinha, parte do Biótopo do Programa da Comunidade Europeia CORINE denominado “Ponta do Cintrão” e uma grota na zona da Lagoa Seca, na freguesia das Furnas, localidade que ainda não percebemos por que razão não foi classificada como Área de Paisagem Protegida.

Para inverter o actual estado, o mais importante deverá ser a formação dos cidadãos. Enquanto as suas cabeças forem autênticas “lixeiras”, continuaremos a ver os vazadouros clandestinos a proliferar e não desaparecerão os maus hábitos de cuspir ou escarrar para o chão, de atirar papéis, e não só, pelos vidros dos automóveis, etc., etc. ...

Embora positiva, pois é sinal de que já se está a fazer alguma coisa, considero que a campanha que está a ser promovida pela Associação de Municípios da Ilha de São Miguel é bastante redutora, já que parece assentar no mito da reciclagem como a solução para o problema dos resíduos. Com efeito, onde pára a implementação da chamada política dos três R’S, a qual aponta primeiro para a redução dos resíduos, depois para a sua reutilização, vindo a reciclagem em último lugar.

Embora com atraso, como já é habitual, havemos de chegar ao que já se faz em alguns países, como o Canadá, a Nova Zelândia, a Dinamarca e os Estados Unidos da América, que estão a implementar a chamada política do Lixo Zero. Com esta nova abordagem do problemas dos resíduos, o que se pretende é fazer com que a sua produção se aproxime do zero, tornando os aterros e as (cobiçadas?)incineradoras quase dispensáveis. Tal só será possível se houver uma mudança na origem, isto é, nos sistemas de produção e distribuição e, não tenho duvidas, não será com a actual sociedade de desperdício.

(Publicado no Açoriano Oriental, 17 de Março de 2003)
ÁREAS PROTEGIDAS DO NORDESTE


INTRODUÇÃO

O concelho de Nordeste, com uma área de 101, 51 km2, fica situado no extremo oriental da ilha de São Miguel, a cerca de 74 km de Ponta Delgada, a 60 km da Ribeira Grande e a 22 km da Povoação.

Na ilha de São Miguel, o Nordeste é o concelho que possui menor densidade populacional, aproximadamente 54 hab/km2, sendo a densidade populacional média nos Açores de 103 hab/km2 e a de São Miguel de 144 hab/km2.

Outrora, simples lugarejo sujeito a Vila Franca do Campo, da qual dista cerca de quarenta quilómetros, o Nordeste foi elevado à categoria de Vila a 18 de Julho de 1514. Hoje, do concelho fazem parte sete freguesias: Nordeste, inclui as localidades de Pedreira e Vila; Lomba da Fazenda, com as localidades de Lomba da Cruz e Fazenda; Nordestinho, de que fazem parte São Pedro, Santo António e Algarvia; Santana, com as localidades de Feteira Grande e Feteira Pequena; Achada; Achadinha e Salga.

O concelho do Nordeste localiza-se na região mais acidentada de São Miguel, onde afloram as rochas mais antigas da ilha com uma idade aproximada de 4 milhões de anos. De acordo com Constância et al (1997), as erupções vulcânicas nesta região foram essencialmente de natureza basáltica, pouco explosivas, que originaram, nomeadamente, a formação de cones de escórias, actualmente muito degradados por acção da erosão, e ainda abundantes campos de escoadas lávicas, por vezes com vários metros de espessura.

As elevações de maior altitude existentes no concelho são: o Pico Redondo (980 m), o Pico Verde (927 m), o Pico Bartolomeu (887 m) e o Pico da Vara (1103 m), este último é o ponto mais alto da ilha de São Miguel.

O concelho do Nordeste apresenta uma vasta área arborizada, constituída por manchas de vegetação exótica, essencialmente criptoméria, e por zonas de vegetação primitiva de elevado valor científico, constituindo, por um lado, um local privilegiado para a implementação de actividades de interpretação da natureza e, por outro, possuindo um enorme potencial turístico que não está a ser suficientemente explorado.

Algumas destas áreas, de que são exemplos a Zona de Protecção Especial do Pico da Vara/ Ribeira do Guilherme, e as Reservas Florestais Naturais da Atalhada e dos Graminhais, encontram-se protegidas e classificadas, outras como o Biótopo do Programa Corine “ Ponta da Madrugada/Costa Leste” mereciam ser incluídas na futura Rede Regional de Áreas Protegidas.

É sobre estas áreas e a sua riqueza patrimonial que incidirá a nossa comunicação.

ÁREAS PROTEGIDAS DO NORDESTE

Na região autónoma dos Açores cerca de 23% do seu território encontra-se coberto por áreas protegidas. No Nordeste, a área protegida é de 1997 ha, estando distribuída do seguinte modo:

DENOMINAÇÃO PROTECÇÃO LEGAL ÁREA (ha)

Pico da Vara/Ribeira do Guilherme
(inclui a RFN dos Graminhais)
ZPE (Dec-Lei nº 140/99, de 24 de Abril)
1982
Atalhada Dec- Leg. Reg. 27/88/A 15
1997

Para além das áreas referidas, aproximadamente 50 % da área do Biótopo do Programa Corine “Ponta da Madrugada/Costa Leste”, que é de 374 ha, está localizada no concelho de Nordeste e, quanto a nós, como já afirmamos anteriormente, merece fazer parte da futura Rede Regional de Áreas Protegidas dos Açores.

De seguida, apresenta-se uma breve caracterização de cada uma das áreas. Comecemos pela maior e de mais importância em termos de conservação da natureza.

PICO DA VARA/ RIBEIRA DO GUILERME

A Reserva Florestal Natural Integral do Pico da Vara foi criada pelo Decreto Legislativo Regional nº 27/88/A, de 22 de Julho e o seu Regulamento Geral foi aprovado pela Portaria nº 9/91, de 19 de Fevereiro.

A vegetação do Pico da Vara é dominada pela densa floresta de Louro e Cedro completamente desenvolvida, nas suas diferentes formas de composição. Nesta área existem cerca 80% de todas as plantas endémicas dos Açores: De entre as espécies presentes destaca-se o Azevinho (Ilex perado spp azorica), o Canicão (Holcus rigidus), o Cedro-do-Mato (Juniperus brevifolia), o Conchelo do mato (Platanthera micrantha), o Feto-do-Cabelinho (Culcita macrocarpa), o Folhado (Viburnum tinus spp subcordatum), a Ginja (Prunus lusitanica spp azorica), o Patalugo (Leontodon filii) e o Sanguinho (Frangula azorica).
Neste local, para além da presença do priôlo, quase todas as espécies da avifauna terrestre dos Açores nidificam, sendo um dos raros locais da ilha de S. Miguel de nidificação da narceja e da galinhola. É, também, muito frequente o Morcego-dos-Açores e dos invertebrados, salienta-se a presença de doze espécies de moluscos e três espécies de lepidópteros endémicos da ilha ou do arquipélago.

Posteriorente à área ocupada pela reserva foi acrescentada outra de modo a também incluir a Reserva Florestal dos Graminhais que apresentava características biofísicas semelhantes, sendo criada uma Zona de Protecção Especial, a qual faz parte de uma rede de áreas protegidas denominada por Rede Natura 2000.

Esta Zona de Protecção Especial é de uma importância ecológica incalculável pois abriga a única população de aves endémicas dos Açores, o Priôlo, constante do Anexo I da Directiva 79/409/CEE (Aves).

ATALHADA

Tal como as Reservas Florestais Naturais do Pico da Vara e dos Graminhais, esta Reserva foi criada por abranger zonas de interesse geológico, riqueza botânica e paisagística, interesse para o estudo da evolução das formações vegetais e elevado potencial turístico.

Com características semelhantes às anteriores, a Reserva Florestal da Atalhada, é de acordo com o Doutor Paulo Borges da Universidade dos Açores, uma das áreas mais prioritárias em termos de biodiversidade de artrópodes, situando-se em quarto lugar (em 19) com base no Valor de Importância de Conservação para a fauna do solo e em décimo ( em 19) com base no Valor de Importância de Conservação para a fauna da copa.

PONTA DA MADRUGADA

O Biótopo do Programa Corine “Ponta da Madrugada/Costa Leste” abrange uma faixa costeira com uma área de 374 hectares, entre o Faial da Terra e a Ponta do Arnel. A classificação desta faixa da costa como Biótopo, isto é, um sítio de grande importância para a Conservação de Natureza e dos Recursos Naturais da Comunidade Europeia, deve-se ao facto de possuir um elevado interesse do ponto de vista panorâmico, ser um local importante para a nidificação de aves migradoras, como o cagarro (Calonectris diomedea borealis) e o garajau-comum (Sterna hirundo), por ser possível encontrar treze endemismos de invertebrados e por manter alguma vegetação primitiva da ilha de São Miguel, com realce para 7 endemismos, com destaque para a vidália (Azorina vidalii), malfurada (Hypericum foliosum), erva-leiteira (Euphorbia azorica), louro (Laurus azorica), o pau- branco(Picconia azorica) e a Spergularia azorica.



CONCLUSÃO

Para garantir um desenvolvimento sustentável é necessário que a política de conservação da natureza e dos recursos naturais abranja todo o território e seja uma componente das várias políticas sectoriais, não sendo de descurar a criação, e a gestão das Áreas Protegidas.

Nos Açores, as primeiras Áreas Protegidas, foram criadas em 1974 e, passados 28 anos, a esmagadora maioria continua sem planos de ordenamento, nunca teve Órgãos de Gestão e a vigilância nunca existiu ou tem sido ineficaz . Além disso, por força do estipulado no Decreto- Lei nº 19/93, de 23 de Janeiro, todas as áreas protegidas dos Açores aguardam a sua reclassificação.

Não temos dúvida que a Rede Europeia Natura 2000 de que fará parte a Zona de Protecção Especial “Pico da Vara/Ribeira do Guilherme”, é um importante instrumento de conservação da natureza pois visa a gestão e a conservação in situ das espécies faunísticas e florísticas e dos habitats mais importantes na União Europeia. O que não podemos aceitar é que as restantes áreas sejam deixadas ao abandono.

Para as áreas protegidas do concelho de Nordeste, consideramos que a proposta de Pereira (1999) faz todo o sentido, isto é as três áreas existentes deveriam ser integradas numa única, aumentando-se a zona de protecção integral a qual ficaria envolvida por uma zona de protecção parcial, com a possibilidade da criação de um jardim botânico na Atalhada e de um Centro de Educação Ambiental.

Além disso, é urgente a tomada de medidas no sentido de controlar as espécies invasoras, como a cletra, a conteira, o gigante e o incenso e proceder à replantação com espécies que sirvam de fonte de alimento para o priôlo e, por outro lado, disciplinar o acesso do cada vez maior número de visitantes às áreas protegidas.

Se, por um lado, achamos que nalgumas Áreas Protegidas poderão existir locais onde a presença humana deverá ser interdita ou quase, por outro lado, estamos de acordo com Pessoa (2002) ao afirmar que para algumas áreas protegidas o turismo poderá ser uma das alternativas para assegurar a sua perenidade. Contudo, ainda no dizer de Pessoa (ibidem) “não se pode pensar no turismo apenas como uma moda e muito menos um manancial de receitas”

Ainda segundo Pessoa (ibidem), é necessário implementar “um turismo cauteloso e controlado, encarado como suporte complementar das economias tradicionais, que beneficie sobretudo as populações locais residentes nas áreas protegidas” e este “deve sobretudo constituir mais um meio de educação para o ambiente, em especial para as populações urbanas, que poderão aprender a respeitar o trabalho, a cultura e a dignidade das populações rurais, guardiãs de valores insubstituíveis do nosso património colectivo”.

Terminaria, fazendo a apologia do chamado turismo sustentável, isto é, aquele que poderá servir o Concelho de Nordeste, pois para além de compatibilizar a utilização do território com a protecção do ambiente e dos valores culturais e sociais deverá garantir a disponibilidade dos recursos não só no imediato, mas também para as gerações vindouras (Umbelino, 2002)




BIBLIOGRAFIA

BORGES, P. , (ed), (2002), Reservas Florestais dos Açores : Cartografia e Inventariação dos Artrópodes endémicos dos Açores- Análise Final Global e Recomendações, Universidade dos Açores, Angra do Heroísmo.

BRAGA, T., (2000), Percurso Pedestre da Ponta da Madrugada, Amigos dos Açores, Ponta Delgada

CONSTÂNCIA, J., BRAGA, T., NUNES, J., MACHADO, E., SILVA, L., (1997), Lagoas e Lagoeiros da Ilha de São Miguel, Amigos dos Açores, Ponta Delgada.

PEREIRA, A., VERÍSSIMO, L., PEREIRA, M., “Plano de Gestão Preliminar Para a Reserva Florestal Natural do Pico da Vara e Centro de Educação Ambiental Integrado (S.Miguel-Açores)”, in BEJA, P., CATRY, P., OREIRA, F. (eds.), (1999), Actas do II Congresso de Ornitologia da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, SPEA, Lisboa

PESSOA, F., (2002), Áreas Protegidas e Turismo- conflito intransponível?, polic

UMBELINO, J., (2002), Turismo e Património: Novos e Velhos Olhares, polic

(texto que serviu de base a uma comunicação no colóquio “O Ambiente que nos Rodeia”, promovido pela Escola Profissional do Nordeste no dia 17-06-2002)
PARQUES ZOOLÓGICOS OU BIOLÓGICOS ?

“Sei que os bons jardins zoológicos são importantes
por muitas razões, mas aprendi o suficiente para me aperceber dos danos causados aos animais ao mantê-los cativos. E simplesmente não quis continuar”
Desmond Morris, responsável durante dez anos pelos mamíferos do Zoo de Londres


Com o texto que se apresenta, hoje, aos leitores do Açoriano Oriental pretende-se, por um lado, mostrar que são postos em causa alguns dos objectivos para que foram criados os Jardins Zoológicos e, por outro, dar a conhecer a experiência muito interessante de exposição de animais selvagens que é feita no Parque Biológico de Vila Nova de Gaia, a qual pretende não colidir com os princípios éticos e pedagógicos da Educação Ambiental.

De acordo com Barba e Ramis (2000), nos Zoológicos estão em causa a pretensa função educativa e o seu papel na conservação das espécies.

No que diz respeito à sua função educativa, o facto dos animais enjaulados em pequenos recintos apresentarem comportamentos anormais, em nada contribui para o real conhecimento das diversas espécies. Alguns pedagogos sustentam mesmo que o cinema, a televisão, as animações informáticas constituem um recurso muito mais útil do que os parques zoológicos.

A segunda ideia, a de que os jardins zoológicos contribuem para a preservação de algumas espécies com vista à sua reintrodução na natureza, é também posta em causa pelos autores que vimos citando. Com efeito, aqueles autores referem que são muito poucos os casos em que tal aconteceu e mencionam o facto de nos anos 90 das três mil espécies em cativeiro em zoológicos apenas 66 estavam em vias de extinção.

No ano passado, embora não haja um levantamento exaustivo da situação, calculava-se em mais de 50 o número de parques zoológicos existentes em Portugal, a maioria a funcionar de modo bastante precário. Assim, de acordo com Helena Freitas, presidente da Liga Para a Protecção da Natureza, “o que se verifica é que os parques zoológicos são meras instituições de actividades lúdicas e até de alguma exploração animal ligada a actividades financeiras, quase industrializadas.”

É verdade que, em todo o mundo, existem bons exemplos de Jardins Zoológicos que se têm modernizado e que apresentam bons resultados no campo da criação de animais em cativeiro e da educação ambiental.

Não sendo um parque zoológico, o Parque Biológico de Vila Nova de Gaia, com uma área de 35 hectares, possuiu 500 animais em cativeiro e semi-cativeiro espalhados por quarenta instalações e já recuperou e restituiu à natureza alguns milhares de animais selvagens.

A presença de animais em cativeiro, no Parque Biológico de Gaia, obedece a alguns princípios, de que se destacam:

1- Os animais presentes não podem sobreviver no estado selvagem ou porque já foram criados em cativeiro ou porque apresentam uma incapacidade permanente, isto é um ferimento ou habituação ao homem, ou são espécies domésticas.
2- A dimensão, a localização, o arranjo e a vegetalização das gaiolas são de modo a recriar as características do habitat natural e evitar o stress.
3- A observação dos animais é feita a partir de observatórios com informação sobre as espécies a serem observadas e que permitem a apreciação das espécies com comportamentos normais.
4- Em caso nenhum os animais são comercializados, para não incentivar essa prática.

Terminaríamos, apelando às entidades governamentais para que façam aprovar o mais cedo possível a legislação que adapta a Directiva Comunitária “relativa ao estabelecimento de normas mínimas para a manutenção de animais em jardins zoológicos” e a façam cumprir na íntegra. No caso dos Açores, é importante adaptar à Região o Decreto-Lei nº 565/99, de 21 de Dezembro e fazer aplicar a Resolução nº 148/98, de 25 de Junho que “visa limitar a possibilidade de disseminação através da evasão de espécimes, de espécies não indígenas, até à publicação da regulamentação sobre a detenção, criação em cativeiro e introdução de espécies exóticas”. Por último, chama-se a atenção para a necessidade da criação de Centros de Recuperação de Animais Selvagens, sobretudo para aves, na Região Autónoma dos Açores.

Bibliografia:

Anónimo, (2001), “500 Animais”, Parque Biológico de Gaia- Natureza em Festa”, Maio, pp. 12-13.
BARBA, C., RAMIS, S., (2000), “Serão hoje necessários?”, Ozono, Novembro, pp.29-32.
LUCAS, H., (2000), “Parques Zoológicos em Portugal”, Ozono, Novembro, pp.33-34.
Resolução nº 148/98, de 25 de Junho.
Decreto-Lei nº 565/99, de 21 de Dezembro.

(Publicado no Açoriano Oriental, 8 de Outubro de 2001)
Transgénicos Fora do Prato


No ano dois mil foi constituiu-se, em Portugal, uma Plataforma cujo objectivo principal é reunir o maior número possível de assinaturas, tanto de pessoas singulares como de colectivas, de adesão a uma moção sobre Organismos Geneticamente Modificados.

Com o texto de hoje, para além de divulgar a campanha em curso, pretendo dar a conhecer na íntegra o conteúdo da moção que abaixo se transcreve:

“A vida e saúde da nossa espécie e de todas as outras com quem partilhamos o planeta dependem de uma complexa rede de inter-relações ecológicas em grande medida desconhecidas. Qualquer intervenção que possa pôr em causa esse equilíbrio dinâmico, como a libertação no ambiente de organismos geneticamente modificados (OGM), deve pois ser objecto de análise prévia detalhada e sujeita às regras da democracia participativa. A comunidade científica neste momento está longe de ter demonstrado a segurança ou sequer a necessidade dos OGM, verificando-se grande controvérsia entre pares até na definição dos limites do risco envolvido. Os transgenes não podem ser retomados uma vez libertos na Natureza, mesmo se algo correr mal, pelo que todos os cuidados pecarão sempre por defeito.

Assim, entendemos que:

- a preservação da diversidade planetária, tanto biológica como genética, é um direito inalienável das gerações futuras;

- o Princípio da Precaução tem de informar todas as decisões políticas;

- as autorizações já atribuídas pela União Europeia para circulação e cultivo comercial de OGM devem ser suspensas e posteriormente reavaliadas;

- todas as libertações experimentais devem ser adiadas até à realização de ensaios de longo prazo em laboratório, em estufa e em 'ar livre simulado' que estabeleçam o impacto ecológico potencial de cada OGM para cada tipologia edafoclimática;

- nenhuma autorização futura deverá ser atribuída a OGM que, através de polinização cruzada com variedades convencionais ou outras formas de poluição genética, ponham em risco as opções agrícolas daqueles que não pretendem cultivar OGM ou as opções alimentares dos que não pretendam consumi-los;

- deve ser financiada a investigação em termos dos eventuais impactos dos OGM na saúde, no ambiente, na economia, na sociedade, na agricultura e no terceiro mundo de modo a garantir a idoneidade dos resultados, e tal deve preceder qualquer autorização;

- tem de ser estudado o papel hegemónico que as empresas de biotecnologia estão a assumir no sistema agro- alimentar, particularmente no que concerne o direito do agricultor a guardar semente, preservação e disponibilização de sementes de variedades convencionais e tradicionais, e auto-suficiência local;

- tem de ser claramente atribuída a responsabilidade legal de risco no caso de um desastre ecológico causado por OGM;

- os genes e outros blocos da vida celular não foram inventados pelos investigadores e como tal não devem poder ser objecto de patente;

- os princípios do comércio livre devem subordinar-se aos princípios de segurança em matéria de ambiente e de saúde e não devem constituir pretexto para os desrespeitar."

Esta moção já foi subscrita por diversas personalidades ligadas ao Meio Universitário e até ao momento conta com a adesão das principais associações nacionais da área do ambiente e da agricultura biológica, com destaque para as seguintes: Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente, Campo Aberto- Associação de defesa do Ambiente, Gaia- Grupo de Acção e Intervenção Ambiental, Quercus- Associação Nacional de Conservação da Natureza, Euronatura- Centro para o Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentado, Agrobio- Associação Portuguesa de Agricultura Biológica e Biocoop- Produtos de Agricultura Biológica, C.R.L..

Por último, apela-se à adesão de todos, pois só assim será possível fazer sentir às entidades governamentais a necessidade de tomarem medidas no sentido de protegerem o ambiente e os consumidores.

(Publicado no Açoriano Oriental, 19 de Fevereiro de 2003)
SEMANA CULTURAL DA MAIA

PROBLEMAS AMBIENTAIS

I

Na sociedade de consumo em que todos nós vivemos, a qualidade de vida é, por vezes, erroneamente identificada em função da quantidade de objectos consumidos pelo homem, encontrando-se este transformado num “furioso consumidor”. A lógica do consumismo tem levado ao abuso dos recursos humanos e naturais sendo a causa de diversos problemas ambientais que ameaçam o nosso planeta, os quais poderão ser agrupados em três grandes grupos: a poluição, a sobreexploração dos recursos naturais e as ameaças globais.

1- a poluição

A poluição contribui para a destruição do património natural, origina problemas de saúde nas populações, faz diminuir a sua qualidade de vida e faz com que os rendimentos na agricultura e no turismo diminuem. Nos países mais industrializados a poluição é devida sobretudo à industria e aos transportes, nos países subdesenvolvidos a origem está nos grandes aglomerados urbanos, onde se concentram esgotos e lixos domésticos, às indústrias altamente poluentes que já não são aceites pelas populações dos países desenvolvidos e ao depósito de resíduos tóxicos e perigosos.

2- a sobreexploração dos recursos naturais

Os sistemas económicos cujo objectivo primeiro é o lucro imediato, sobretudo nos países mais desenvolvidos e a necessidade de pagar a dívida externa e as necessidades de sobrevivência das populações sem outras alternativas nos países subdevenvolvidos tem levado à destruição dos seguintes recursos: a pesca, as florestas, as jazidas minerais, a água e as espécies vivas.

3- as ameaças globais

Em grande parte decorrentes dos dois anteriores podemos incluir neste grupo as alterações climáticas, devido ao conhecido efeito de estufa causado pelo aumento da concentração na atmosfera de dióxido de carbono e de metano, a rarefacção da camada de ozono devido à produção CFC’S (clorofluorcarbonetos) e a destruição da biodiversidade.


Na sociedade de consumo em que vivemos, os Estados Unidos que representam 6% da população mundial consomem 25% do petróleo. Se 24% da população do nosso planeta consumisse ao mesmo nível da população norte-americana consumiriam todo o petróleo não restando nada para os restantes 76% da população mundial. Este é um exemplo que mostra que não é viável “ dar à maioria da população uma forma de vida que se igualasse aos padrões dos países desenvolvidos, em consumo de energia, de proteínas, de escolaridade, de horas de trabalho, etc. É inviável porque os sistemas ecológicos existentes seriam incapazes de assimilar os impactos decorrentes da actividade desenfreada, decorrente de uma economia global girando ao triplo da sua intensidade actual”( Ruger, 1999).

II

A biodiversidade, causas da sua diminuição e razões para a sua manutenção

A biodiversidade pode ser entendida como “tudo o que é vida na Biosfera, isto é, são os milhões de organismos que a povoam, são as diversas comunidades bióticas que caracterizam os variados ecossistemas que a constituem, é, enfim a variabilidade genética das populações que formam as diferentes espécies”(Paiva, 1994). Sintetizando, o conceito de biodiversidade, pode ser sistematizado “segundo três vectores: a diversidade de ecossistemas numa dada região, a diversidade de habitats e de espécies num dado ecossistema e a diversidade genética dentro de cada espécie”(Melo e Pimenta,1993).

De acordo com Paiva(1994), desconhece-se o número de espécies de seres vivos existentes no mundo, aceitando-se que o seu número é de cerca de 30 milhões, estando apenas recenseadas cerca de 2,4 milhões de espécies. Por outro lado, calcula-se que anualmente se extingam 17 000 espécies (Wilson,1988,citado por Paiva, 1994) e que mantendo-se o ritmo actual de agressões ambientais, cerca de metade de todas as espécies terá desaparecido dentro de 50 anos (Melo e Pimenta,1994; Rosa,1994).

A redução da biodiversidade tem vindo a aumentar nas últimas centenas de anos devido à actividade humana. De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza, são as seguintes as causas básicas para a degradação e perda da biodiversidade:

1- A explosão demográfica e o consequente aumento do consumo dos recursos naturais;
2- O número cada vez mais reduzido de produtos agrícolas e florestais devido à monocultura industrializada;
3- Os sistemas económicos e políticos que não apresentam preocupações ambientais;
4- A desigual distribuição da propriedade com reflexos na gestão, utilização e conservação dos recursos biológicos;
5- A incúria, a falta de conhecimentos e a má utilização destes;
6- Os sistemas jurídicos e institucionais que promovem uma exploração insustentável dos recursos naturais;

Tendo em consideração que a conservação da biodiversidade não se deve reduzir à sobrevivência de uma qualquer espécie individualmente, mas sim à defesa dos ecossistemas suporte da vida, são, no dizer de Rosa(1994) cinco os argumentos a favor da manutenção da biodiversidade: estético, ecológico, científico, económico e ético. Vejamos cada um deles:

Argumento estético- embora haja muita subjectividade, não será quase consensual que para a maioria das pessoas um mundo com milhões de espécies de seres vivos, com cada indivíduo diferente dos restantes e enorme variedade de ecossistemas é preferível a um mundo totalmente humanizado e com uma biodiversidade muito reduzida?

Argumento ecológico- sabe-se que a biodiversidade é uma medida da saúde de um ecossistema, já que representa um factor essencial do seu equilíbrio e resistência a alterações quer naturais, quer provocadas pelo homem. Isto é, quanto maior a for a biodiversidade maior a capacidade do ecossistema para atingir novos equilíbrios.

Argumento científico- as espécies e os ecossistemas, encerram um conjunto de informações de carácter ecológico, biogeográfico, genético que por si só justificaria a manutenção da biodiversidade.

Argumento económico- são diversos os bens que a humanidade obtém a partir dos seres vivos: os alimentos, os medicamentos, os combustíveis, as matérias primas para diversas indústrias, etc. A biodiversidade é ainda economicamente importante por potenciar o eco- turismo. “Quem quereria visitar a Amazónia se a mesma se tornasse num imenso campo de pastagens?”

Argumento ético- a biodiversidade é resultado de uma evolução de milhões de anos, para a qual o homem nem contribuiu nem é capaz de reproduzir. Assim, não é eticamente aceitável que destrua um valor único e precioso, para que os vindouros possam também usufruí-lo.
III


Se o homem pretender viver com qualidade de vida, traduzindo-se esta na situação de bem estar físico, mental e social e na satisfação e afirmação culturais, bem como em relações autênticas entre o indivíduo e a comunidade, terá que optar por um modelo de desenvolvimento diferente do que rege as sociedades actuais, que respeite o direito que todos têm de respirar um ar limpo, de beberem água pura, de acesso a um nível de luminosidade conveniente à sua saúde, bem estar e conforto, que utilize racionalmente o solo e subsolo, a flora e a fauna. Este modelo, o do desenvolvimento sustentável, é o que permite “satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias”.

O modelo de desenvolvimento sustentável foi proposto, em Abril de 1987, pela Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento (“O Nosso Futuro Comum”), presidida pela primeira ministra da Noruega, Gro Bruntdtland. De acordo com Fernandes (1992) o relatório da referida comissão apresentou, entre outras, as seguintes conclusões:
- a necessidade da compreensão de que a humanidade existe como uma parte da natureza e deve actuar de acordo com as leis ecológicas;
- a concepção de que critérios novos, éticos e estéticos, devem ganhar peso em relação às considerações utilitaristas e economicistas;
- a compreensão da necessidade de ter em conta os efeitos a longo prazo no ambiente natural e humanizado das concepções económicas e das actividades humanas.

IV

Terminaria, citando Jonathon Porrit (1992), líder de uma das maiores Organizações Não Governamentais de Ambiente a nível interacional, os Friends of the Earth International , que nos chama a atenção para a urgência da sociedade, para além de garantir as necessidades fundamentais como a alimentação, o abrigo, o aquecimento, o vestuário, os cuidados de saúde e a educação que infelizmente não estão asseguradas para todos, dever garantir um conjunto de necessidades que o dinheiro não consegue comprar como:

- Bom emprego: não só pode ganhar a vida como tam¬bém sentir-se realizado e pode servir os outros ao fazê-lo.
- Segurança: poder confiar e gozar o afecto, a amiza¬de e o amor dos outros.

- Autonomia: ser independente, livre de dívidas, com o suficiente para satisfazer as suas necessidades e mais um bocadinho.
- Recreio: poder passar um bom bocado em boa companhia.

- Respeito: sentir-se apreciado pelos outros em casa no trabalho ou na comunidade.
- Desafio: sentir que ainda se tem coisas para fazer sem se sentir bloqueado a cada instante.
- Integração: sentimento de pertencer a uma rede in¬definível de família e amigos.

- Enraizamento: sentir-se parte de um lugar, confor¬tado mas não aprisionado por vistas familiares.
- Inspiração: ser projectado para fora de si mesmo ou profundamente iluminado por outras pessoas, expe¬riências raras, valores religiosos ou espirituais.
- Liberdade: a liberdade pessoal que é indispensável para procurar satisfazer estas necessidades.
V
Não há interesses particulares- nem direitos de propriedade nem lucros- que se sobreponham aos direitos humanos a um ar limpo, a uma água limpa e a uma atmosfera que permita a continuação da vida a Terra

Walter Cronkite

Ninguém cometeu um erro maior do que aquele que nada fez porque era muito pouco aquilo que podia fazer
Edmund Burke


(texto que sewrviu de base a uma intervenção na Semana Cultural da Maia em 14 de Maio de 2002)
EM DEFESA DO PATRIMÓNIO NATURAL DA RIBEIRA GRANDE (2)

Tal como havia referido no texto publicado no passado dia 23 de Novembro, nesta segunda parte do artigo, dedicado ao património natural do concelho da Ribeira Grande, farei uma breve alusão à Caldeira Velha, área que, quanto a nós, deveria ser classificada como Monumento Natural e à Reserva Natural da Lagoa do Fogo.

Caldeira Velha

A Caldeira Velha situa-se na encosta Norte da Serra de Água de Pau, na Freguesia da Conceição, ocupando uma área de declive acentuado aproximadamente entre as curvas de nível dos 350 metros e a dos 450 metros.

A Caldeira Velha constitui um importante campo fumarólico localizado numa importante falha do complexo vulcânico do Fogo (Forjaz, 1988), numa zona de risco vulcânico médio- alto e de baixo risco sísmico (Forjaz, 1985).

As águas da Caldeira Velha são sulfatadas e alumínicas, com uma temperatura de 90º C e pH 3,13. Um pouco acima da cota da Caldeira (315m), a água da ribeira , na cota de 328 metros, é alcalina ferruginosa e com a temperatura de 25,2º C. (Zbyszewski,1961).

A flora autóctone existente no local é residual, tendo dado lugar às plantas introduzidas, algumas das quais invasoras. Assim, hoje, predominam, entre outras, as seguintes espécies: acácia (Acacia melanoxylon), conteira, (Hedychium gardneranum), incenso (Pittosporum undulatum) e , criptoméria (Cryptomeria japonica).

No que diz respeito à avifauna, entre outras espécies, podem ser encontradas as seguintes: milhafre (Buteo buteo rothschildi), pombo torcaz (Columba palumbus azorica), tentilhão (Fringilla coelebs moreleti), canário (Serinus canaria), alvéola (Motacilla cinerea patriciae), estrelinha (Regulus regulus azoricus) e melro-negro (Turdus merula azorensis).

A Caldeira Velha é um local com aspectos únicos em toda a Região, possuindo interesse múltiplo: científico, paisagístico, turístico, recreativo e cultural. Além disso, constritui um importante recurso para o ensino da Geologia, Vulcanologia e História Natural que não tem sido devidamente explorado e desenvolvido.

A classificação da zona envolvente à Caldeira Velha como Monumento Natural, ou a sua integração na Reserva Natural da Lagoa do Fogo, é uma medida que tarda em ser tomada e que tem passado de governo para governo. A título de exemplo, importa recordar que a 23 de Abril de 1990, na altura da escritura pública de aquisição pela Região dos terrenos envolventes, pela voz do Secretário Regional das Finanças de um governo, da responsabilidade do Partido Social Democrata, foi anunciada a recuperação da Caldeira Velha. De igual modo, a 23 de Agosto de 1999, a Senhora Directora Regional do Ambiente, agora de um governo, da responsabilidade do Partido Socialista, garantiu, ao Açoriano Oriental, que “na Primavera do próximo ano será implementado na Caldeira Velha um plano de intervenção que evite a sua já prolongada degradação”. A dita Primavera já passou e quantas mais ainda teremos de esperar?

Lagoa do Fogo

A Lagoa do Fogo, uma das mais belas, senão a mais bela, das lagoas açorianas, ocupa uma caldeira com 3 km de diâmetro e 100 a 300 m de profundidade e foi formada há cerca de 15 000 anos.

Na área envolvente à lagoa é possível encontrar-se algumas das plantas que constituem a flora primitiva dos Açores, dezanove delas endémicas. Entre elas, destaca-se a presença das seguintes: faia (Myrica faya), feto do cabelinho (Culcita macrocarpa), cedro do mato (Juniperus brevifolia), azevinho (Ilex perado ssp.azorica), patalugo-menor (Leontodon filii), folhado (Viburnum tinus ssp. subcordatum), uva-da-serra (Vaccinium cylindraceum), malfurada (Hypericum foliosum), tamujo (Myrsine africana) e trovisco macho (Euphorita stygiana).

A fauna do local é bastante diversificada, sendo possível encontrar-se os seguintes mamíferos: morcego (Nyctalus azoreum), comadrinha (Mustela nivalis), coelho (Oryctolagus cuniculus), furão (Mustela furo) e rato (Rattus rattus).

No que diz respeito à avifauna as principais espécies que podem ser vistas são as seguintes: touto (Sylvia atricapilla attlantis), tentilhão (Fringilla coelebs moreletti), melro-negro (Turdus merula azorensis), santantoninho (Erithacus rubecula), estrelinha (Regulus regulus azoricus), canário (Serinus_canaria), alvéola (Motacilla cinerea patriciae), pombo torcaz (Columba palumbus azorica), milhafre (Buteo buteo rothschildi) e gaivota (Larus cachinans atlantis).

Nas águas da lagoa existem diversas espécies piscícolas, com destaque para a ruivaca (Rutilus macrolepidotus), a truta arco íris (Salmo irideus) e a carpa (Cyprinos carpio), sendo também de referir a presença do tritão de crista (Triturus cristatus).

A Lagoa está integrada na Reserva Natural da Lagoa do Fogo. A notável beleza paisagística, aliada ao interesse geológico, a existência de cerca de 20 espécies da nossa flora endémica, a sua riqueza em invertebrados e a presença de 8 subespécies endémicas da avifauna açoreana, fizeram com que esta Reserva e alguns terrenos adjacentes, perfazendo um total de 2920 hectares, fossem integrados no Projecto de Biótopos do Programa Corine da Comunidade Europeia.

A Reserva da Lagoa do Fogo, criada a 15 de Abril de 1974 (Dec. Nº 152/74) foi “recriada” pelo Decreto Legislativo Regional nº 10/82. De acordo com o mesmo, no prazo de um ano seria criada uma Comissão Administrativa, um Plano Director e um regulamento que definiria os órgãos e o modo de funcionamento daquela. Nada foi feito e desde 30 de Novembro de 1993 aguarda a sua reclassificação. Até quando?
(Publicado no Açoriano Oriental, 4 de Dezembro de 2001)

EM DEFESA DO PATRIMÓNIO NATURAL DA RIBEIRA GRANDE (1)

O texto que a seguir apresento, tem como objectivo principal dar a conhecer algumas potencialidades do património natural do concelho da Ribeira Grande que não estão a ser devidamente aproveitadas, quer para melhorar a qualidade de vida dos ribeiragrandenses, quer para o fomento de actividades que possam atrair visitantes, nomeadamente as relacionadas com o turismo de natureza.

Nesta primeira parte, farei referência ao património espeleológico do concelho, à Ladeira da Velha e à Lagoa de São Brás. Na segunda parte, pretendo fazer uma breve abordagem aos sítios da Caldeira Velha e Reserva Natural da Lagoa do Fogo.

Património Espeleológico

A Ribeira Grande também possui um variado património espeleológico que se encontra totalmente desprezado e maltratado. Apenas os estrangeiros amantes da espeleologia e alguns membros da comunidade científica atribuem-lhe algum valor. Com efeito, as grutas da Ribeira Grande já foram estudadas, em 1989, por uma equipa de cientistas das Universidades de La Laguna (Canárias) , de Edimburgo (Escócia) e dos Açores, que localmente tiveram a colaboração dos Amigos dos Açores e dos Montanheiros. Nos últimos dois anos, uma bióloga da Universidade Clássica de Lisboa tem estado a fazer pesquisas com vista a elaborar a sua tese de doutoramento.

Os vários trabalhos científicos já publicados, revelam-nos a presença de diversas espécies cavernícolas recolhidas nas diferentes grutas, das quais se destaca a presença, na Gruta do Esqueleto, de um insecto só conhecido, até então, em grutas da Crimeia.

Abaixo, apresento as principais cavidades existentes no concelho, algumas das suas características e motivo de interesse.


Designação Localização Dimensões Motivo de interesse
Gruta do Pico da Cruz Pico da Pedra 100m Científico
Turístico
Didáctico
Desportivo
Gruta das Escadinhas Ribeirinha 31m Científico
Turístico
Didáctico
Desportivo
Gruta da Quinta Irene Ribeirinha 62 m Científico
Turístico
Didáctico
Desportivo
Gruta do Esqueleto 188 m Científico
Desportivo
Algar da Ribeirinha Ribeirinha 54 m/ 5,5 m Científico
Turístico
Didáctico
Desportivo
Algar do Pico Queimado Santa Bárbara 10 m/ 37 m Científico
Turístico
Desportivo


Ladeira da Velha

Local aprazível, com importância histórica, a Ladeira da Velha está integrada no Biótopo do Programa Corine “Ponta do Cintrão” que compreende uma estreita faixa litoral com 176 hectares que vai desde o bairro de Santa Luzia, na Ribeira Grande, até à Ponta Formosa, no Porto Formoso. Foi integrada no Projecto Corine devido ao seu interesse botânico e à presença de espécies raras e endémicas.

Já foi local de “banhos” devido às propriedades medicinais das suas águas, tendo existido uma pequena estância termal, hoje em ruínas. De acordo com Medeiros (1964), a sua água “carbogasosa, acídula fria hipotermal (30,4º), não fluroteada e com pH 5,3” que foi usada como água de mesa era usada no tratamento de doenças da pele.

Hoje, percorrido habitualmente durante os passeios pedestres organizados pelos Amigos dos Açores, o trilho que dá acesso à Ladeira da Velha merecia ser recuperado e o percurso integrado nos trilhos pedestres que estão disponíveis para o turismo. Numa fase posterior, porque não a recuperação dos antigos balneários ?


Lagoa de São Brás

Implantada numa cratera com um diâmetro de 600 m, a lagoa de São Brás ocupa uma área de 0,06 km2.

Na zona envolvente à lagoa é possível encontrar alguns elementos da vegetação natural dos Açores, como: a faia (Myrica faya), o feto do cabelinho (Culcita macrocarpa), oazevinho (Ilex perado ssp.azorica), o folhado (Viburnum tinus ssp. subcordatum), a uva-da-serra (Vaccinium cylindraceum), a malfurada (Hypericum foliosum), o tamujo (Myrsine africana) e o trovisco macho (Euphobia stygiana).

Na lagoa existe o achigã (Micropterus salmoides) e a ruivaca (Rutilus macrolepidotus) bem como a rã (Rana perezi) e o tritão de crista (Triturus cristatus carnifex).

É importante a sinalização do trilho que liga o Monte Escuro à Lagoa e a tomada de medidas para evitar que a eutrofização não a transforme num pântano. Perderiam os turistas um motivo de interesse e perderíamos todos nós um património natural de valor incalculável e um recurso ímpar para a educação ambiental.

(Publicado no Açoriano Oriental, 23 de Novembro de 2001)
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ASSOCIATIVISMO

A educação ambiental, que aparece como resposta aos problemas da biosfera, não se limita a fornecer aos indivíduos mais informação e formação, ensina-lhes, também, a utilizar judiciosamente o ambiente. De acordo com as recomendações da Conferencia de Tbilisi, realizada na ex- URSS, em Outubro de 1977, o princípio geral da educação ambiental é:

“Fazer compreender às pessoas e às comunidades a natureza complexa resultante dos factores físicos, biológicos, sociais, económicos e culturais do ambiente natural e urbano e dar a estas pessoas ou comunidades a oportunidade de adquirir os conhecimentos, os valores, as atitudes e as aptidões práticas que lhes permitam ajudar de uma maneira responsável e eficaz a prever e resolver os problemas ecológicos e gerir a qualidade do ambiente.”

O modo como tem sido concretizadas entre nós, ao longo dos anos, várias actividades de educação ambiental, sem qualquer fio condutor, quase tão só para marcar a simples presença em comemorações dos mais diversos dias mundiais, deixa muito a desejar. Com efeito, as diversas acções, para além de não contribuírem para "suscitar uma consciência social que possa gerar atitudes capazes de afectar comportamentos" são, muitas vezes, uma fonte de frustação e de desperdício de recursos financeiros.

Para a implementação da educação ambiental é necessário reflectir sobre como integrá- la nos currículos escolares a todos os níveis de ensino, como deverá ser feita a formação dos professores, como e quem a fará na sua vertente não formal, quais os recursos necessários, que metodologias deverão ser usadas, etc.. Em suma, mais do que demonstrar alguma boa vontade, é importante, com urgência, elaborar uma Estratégia Regional de Educação Ambiental, tendo por base, entre outras, a Estratégia Internacional de Acção em Matéria de Educação e Formação Ambiental, adoptada pela Unesco e PNUA por ocasião do Congresso Internacional sobre Educação e Formação Ambiental, realizado em 1987 na cidade de Moscovo.


Outra preocupação que devemos ter, enquanto arquipélago, é a de evitar que nesta área, tal como em muitas outras, seja o peso eleitoral/partidário de determinadas ilhas, ou a simples localização geográfica das Secretarias Regionais, a determinar a localização dos Departamentos ou a realização dos eventos. Assim, corremos o risco de que a educação ambiental não chegue à maior parte da população alvo, que se situa na ilha de são Miguel.

As acções de educação ambiental não deverão ser exclusivas das diversas entidades governamentais. As associações de defesa do ambiente poderão desempenhar um papel de relevo nesta matéria, cabendo ao estado apoiá-las tal como está previsto no artigo 90 da Lei n0 10/87, de 4 de Abril.

A estas, mais importante do que terem assento em órgãos de cúpula de interesse duvidoso, é vital empenharem-se na dinamização da sua vida interna, chamando à participação um cada vez maior número de cidadãos, e desenvolverem um trabalho continuado junto das populações.

(Publicado no Açoriano Oriental, 9 de Dezembro de 2002)
PROMOVER O PEDESTRIANISMO. DEFENDER O AMBIENTE (1)


A Associação Amigos dos Açores, no âmbito do seu projecto “Conhecer Para Proteger, tem promovido no decurso dos últimos dezassete anos a realização de percursos pedestres mensais como forma privilegiada de contacto com a natureza”. Esta actividade constitui, por um lado, um instrumento de educação ambiental e de ocupação de tempos livres e, por outro, apresenta-se como um veículo primordial de promoção do património natural e cultural açoriano.

Além do referido, vários estudos confirmam que as caminhadas são benéficas para a saúde, apresentando diversas vantagens físicas e mentais. Com efeito, caminhar ajuda a queimar gorduras, alivia o stress, reduz o colesterol no sangue, fortalece e tonifica os músculos das pernas, coxas e ancas, fortalece os ossos, melhora a postura e alivia as dores nas costas, ajuda a atenuar estados depressivos, aumenta a auto- estima, etc.

Para além das actividades mencionadas, a associação, com o apoio de diversas entidades governamentais regionais e nacionais, autarquias e empresas, editou um conjunto de roteiros de percurso pedestres e tem promovido a pratica do pedestrianismo junto dos mais jovens, através do projecto anual “Caminhar Para Melhor Conhecer e Proteger”, que tem contado com o apoio da Direcção Regional da Juventude.

Para a prática do pedestrianismo- desporto dos que andam a pé- é importante, ou mesmo imprescindível, que existam trilhos previamente sinalizados com marcas e códigos internacionalmente conhecidos e aceites. No passado dia 23 de Setembro de 2000, a região deu o primeiro passo ao inaugurar, na Serra Devassa, o primeiro percurso pedestre nos Açores, devidamente sinalizado, usando a simbologia adoptada pela Federação Portuguesa de Campismo , entidade que a nível nacional compete promover e divulgar a prática do pedestrianismo e fazer o registo de todos os percursos pedestres, atribuir-lhes numeração e homologá-los de acordo com determinadas “Normas”.

Depois desta data, muito de positivo foi feito, mas também muitas falhas e alguns erros foram cometidos. Com efeito, alguns trilhos apresentam uma insuficiente marcação ou erros na utilização das marcas, outros, quanto a nós, por razões de segurança, não deveriam estar sinalizados ou mesmo deveria haver a indicação do seu elevado grau de perigosidade, como acontece em S. Jorge no trilho entre a Fajã dos Bodes e o Loural, outros, como é o caso do trilho que circunda a Lagoa do Fogo, por razões ambientais e pelo facto de parte do mesmo se fazer dentro de água, não deveriam figurar como oferta turística.

Além disso, para minimizar os efeitos negativos do pedestrianismo sobre o ambiente natural deverão ser tomadas diversas medidas, de que destacamos a localização dos trilhos de modo a evitar a perturbação dos elementos ecológicos mais importantes, o pisoteio das plantas, a erosão do solo, etc.. Por outro lado, a divulgação de um código de conduta e ética, que deverá ser respeitado por todos os que percorrem a pé as nossas ilhas, é outra das tarefas que não deve ser esquecida.

(Publicado no Açoriano Oriental, 16 de Setembro de 2002)
LIXO ZERO


Neste texto, pretendo recordar uma tomada de posição da associação Amigos dos Açores, datada de Junho de 1994, que ainda hoje está longe de ser implementada nos Açores, e dar a conhecer uma nova política para os resíduos: a política do Lixo Zero.

Antes, porém, não poderia deixar de referir, já que o assunto é lixos, que considero uma afronta a todos os cidadãos deste mundo, que sofrem de má nutrição ou mesmo morrem de fome, o abate de milhares de vacas, cuja carne, própria para consumo, foi enterrada.

Há quase oito anos a situação era caracterizada, pelos Amigos dos Açores, nos seguintes termos: “Todos sabemos que um dos mais gra¬ves problemas ambientais que a socieda¬de açoriana enfrenta é, sem dúvida, o dos resíduos. É cada vez mais frequente encontrar montanhas de lixo nos locais mais inesperados e desadequados. O problema, parece-nos, é tanto cultural como institucional. Se é verdade que muito do lixo que cobre vastas áreas costeiras e interiores das nossas ilhas foi para ali, indiscriminadamente, deposi¬tado por particularidades, também é verdade que a gestão do serviço público de recolha e destino final de resíduos deixa muito a desejar. Basta ver onde e como são muitas das lixeiras ou vaza¬douros municipais actuais, basta ver as limitações dos serviços de recolha, em particular de resíduos especiais, os quais, por vezes, nem sequer mesmo existem”.

Se é verdade que as chamadas lixeiras municipais têm os dias contados, não é menos verdade que a quantidade de lixos espalhados por toda a parte não tem parado de aumentar. Para evitar as situações referidas naquela altura, recordando propostas anteriores, a associação Amigos dos Açores considerava urgente que:

1- a região fizesse aprovar legislação sobre a gestão de resíduos, complemen¬tando-a dos indispensáveis meios que permitam a sua aplicação clara e impiedosa, com particular realce para as elevadas penalizações sobre deposições in¬discriminadas de resíduos por particulares;
2- se promovessem campanhas de sensibiliza¬ção das populações para a necessidade delas próprias gerirem mais convenien¬temente os seus resíduos, quer evitando ao máximo a existência dos mais problemáticos, quer procedendo à respectiva selecção por tipos, para facilitar o seu futuro tratamento.

3- houvesse incentivo à reutilização e à recicla¬gem dos resíduos, a exemplo da tendên¬cia actual na maioria dos países desen¬volvidos.

Quando, entre nós, algumas das medidas preconizadas pelos Amigos dos Açores, em 1994, ainda não saíram do papel e a política dos 3 R (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) não passa de um simples chavão, já se está a implementar em alguns países, como o Canadá, a Nova Zelândia, a Dinamarca e os Estados Unidos da América, a política do Lixo Zero.

Com esta nova abordagem do problemas dos resíduos, o que se pretende não é gerir os resíduos mas sim fazer com que a sua produção se aproxime do zero, tornando aterros e incineradoras quase dispensáveis. Tal só será possível se houver uma mudança na origem, isto é, nos sistemas de produção e distribuição.

De acordo com Margarida Silva, em artigo publicado na revista Ar Livre, nº 12, para que se implemente este novo conceito, é necessário que sejam criadas condições a três níveis: Governamental, Indústria e comércio e Autarquias e munícipes.

A nível governamental, deverá “haver incentivos ao consumo de matérias virgens para a promoção de recursos renováveis” e serem criados “mecanismos legais e económicos necessários à prossecussão dos objectivos concretos do lixo zero à escala nacional e com prazos concretos”.

A nível da indústria e do comércio, é necessário que haja investimento em eficiência energética e material, que sejam repensados “bens e embalagens” de modo a poderem ser reutilizados, reparados e reciclados e que “assumam a responsabilidade sobre o total do ciclo de vida do produto, por forma a receber todos os materiais no final do seu tempo de vida útil com vista a reutilização posterior”.

Por último, as autarquias e os cidadãos têm que pensar que o lixo não é “algo que deve ir para o lixo” mas sim um recurso de grande importância.

(Publicado no Açoriano Oriental, 11 de Fevereiro de 2002)