sexta-feira, janeiro 05, 2007

De como eles se vestem de verde ou as cambalhotas que são obrigados a dar

Com a chegada da Primavera os campos tornam-se verdes. Durante as pré-campanhas e campanhas eleitorais os partidos políticos, da situação e da oposição, são pródigos em promessas e mais promessas; procuram, assim, impingir o seu produto falsificado (estragado quase sempre) através de todos os métodos publicitários, desde os mais sofisticados aos ilegais e fraudulentos.

Nos últimos tempos, talvez devido ao cada vez maior número de cidadãos eleitores (e não só) despertos para as questões ecológicas, os partidos políticos vestem-se de verde. Reclamando-se da Ecologia, no nosso país, existem dois pequenos partidos: O Partido Popular Monárquico e «Os Verdes». Se o primeiro está desmascarado, perante a opinião pública, devido à sua participação nos vários governos da Aliança Democrática, onde nunca se fartou de «engolir elefantes vivos», o segundo, ao utilizar uma linguagem diferente, ao apresentar-se como um partido/movimento e ao usar (abusivamente) uma sigla que é a de um movimento legalizado após o 25 de Abril de 1974 pode tornar-se perigoso já que poderá induzir em erro alguns eleitores que pensando votar «verde» estarão a votar «vermelho».

Quanto a nós, trata-se de uma manobra do Partido Comunista Português que, tal como todos os outros partidos, mais não pretende do que recuperar o movimento ecológico impedindo o crescimento de um movimento ecologista alternativo e independente.

Mas vamos ao objectivo principal deste artigo. Como é do conhecimento de todos os terceirenses, a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo decidiu encerrar as furnas de Água e do Cabrito. Tal decisão foi contestada por várias entidades entre elas, o recém-legalizado, grupo «Luta Ecológica» que na devida altura apresentou alternativas concretas para o aproveitamento da água sem ter de recorrer ao encerramento das grutas e à construção da célebre escada de caracol. Mas, adiante… (já agora, agradeciamos que se informasse o público da verba que se vai esbanjar na dita) a Câmara Municipal mantém a sua: ou grutas ou água. A Assembleia Municipal rejeita uma proposta do deputado socialista Dr. Dionísio de Sousa. Assunto encerrado.
Qual não foi o nosso espanto, passados poucos dias o Sr. Presidente da Câmara anuncia que o processo da «Furna do Cabrito» iria ser revisto e a 18 do corrente mês o «Diário Insular» noticia que os deputados do PSD, pela Terceira, irão apresentar na Assembleia Regional uma proposta de Decreto Regional com vista a proteger as grutas e zonas de interesse vulcânico e vegetal da ilha.

Sinceramente, não entendemos a que se deve tal cambalhota. Como diz o povo: «quando a esmola é muita até o santo desconfia»…

Que manobra ou manobras estão a tramar os nossos governantes? Terá sido uma jogada de antecipação ao Partido Socialista? Será uma jogada inserida na pré – campanha eleitoral, altura em que a caça ao voto já está aberta?

Bem, em relação a nós estejam descansados. De cá não levam nada. Consideramos os partidos políticos actuais demasiado subjugados por uma ideologia envelhecida, demasiado obcecados pelo poder (que não queremos, não nos serve para nada), demasiado «politiqueiros» para terem em conta as reivindicações urgentes do ecologismo.

(Publicado no jornal “A União”, em 23 de Março de 1983)