quinta-feira, janeiro 18, 2007

Eucaliptomania, Universidade e Partidos Políticos

Em Setembro de 1987, o Director Regional dos Recursos Florestais afirmava: “as áreas cobertas com eucaliptos só tendem a diminuir, ora pela reconversão com outras espécies com mais valor ora pela transformação dos terrenos para outras culturas”. Passados dois anos, a espécie nativa da Austrália (incluindo a Tasmânia) ocupa 50% da superficie arborizada da Terceira, estando uma das plantações sobre o lençol de água que abastece a cidade de Angra do Heroismo, no local da Caldeira do Guilherme. No Pico, só a Soporcel já arrendou cerca de três mil hectares de terras. A um passo de invadir São Miguel, qualquer dia irá cobrir por completo a ilha das Flores. Seria a concretização do sonho (ou pesadelo?) do deputado comunista que tem assento na Assembleia Regional.

Porque motivo, só agora, as empresas de celulose se lembraram de vir colonizar os Açores?

Escrevi colonizar pois o seu projecto não é apenas introduzir a monocultura intensiva do eucalipto. Preparam-se para “controlar’ a informação e “manipular o saber, financiando estudos a efectuar pela Universidade com vista a justificar a introdução do “petróleo verde” nos Açores. É que, como se sabe, nem toda a investigação é isenta e embora o seja a sua divulgação poderá ser impedida, quando não estiver de acordo com os interesses da empresa que os paga. Concordo com João Caninas, do GEOTA, quem em “O Jornal” de 12/01/90, referiu-se ao facto de a investigação cientifica andar a reboque da iniciativa privada não garantir a isenção necessária e faço minhas as palavras do arquitecto Ribeiro Teles que considerou o financiamento da investigação pelas empresas de celulose como a “prostituição da investigação e da própria Universidade”.

Se a monocultura do eucalipto é boa para a Região Açores, porque motivo as empresas têm necessidade de prometer financiamento a projectos de interesse turístico, recuperar o “boi açoriano”, construir um parque para a caça ao veado, oferecer dinheiro a intermediários para o arrendamento ou compra de terrenos, pagar viagens a jornalistas (não viram nem cheiraram os esgotos das fábricas!) e a deputados?
A propósito de deputados, não conhecemos nenhuma reacção do partido dito ecologista “Os Verdes” ao interesse manifestado pelo deputado Valadão que acha que nas Flores o eucalipto vai “dar vida às suas gentes”. Na Roménia o Nicolau destruia aldeias com o mesmo objectivo...

Os militantes ecologistas e todos os amantes e defensores da natureza pouco ou nada têm a esperar de um partido verde-raiado que passa a vida a servir de muleta a outros que estão mais preocupados com o seu umbigo do que os graves problemas ecológicos que ameaçam a humanidade.

(Publicado no jornal “Açoreano Oriental, 26 de Janeiro de 1990)

Sem comentários: