quinta-feira, julho 12, 2007

Grutas- Um Património Natural que Urge Defender


No passado dia 30 de Janeiro, graças à amabilidade do sr. Belchior, tivemos a oportunidade de visitar uma das poucas grutas naturais existentes em São Miguel, que ainda não foram soterradas.

Hoje, completamente desprezadas e maltratadas, as grutas naturais foram no século passado alvo da visita de estrangeiros ilustres e acarinhadas por quem cá vivia. Walter Frederic Walker, membro da Royal Geographical Society, da Society of Biblical Archeology e de outras instituições de carácter cientifico, no seu livro «The Azores or Western Islands», publicado em 1886, faz uma descrição minuciosa da gruta existente num campo da Rua Formosa hoje secadores da Fabrica de Tabaco Micaelense, na Rua de Lisboa - e dá-nos uma explicação acerca da formação das grutas em regiões vulcânicas: «A teoria, segundo Sir. Charles Lyel, é que foram produzidas pelo endurecimento da lava durante o escape de grandes volumes de fluidos elásticos que são frequentemente expelidos, durante muitos dias seguidos depois da crise da erupção terminar».

Robin Bryans no seu livro «The Azores», publicado no início da década de 60, também se refere ao Algar da Rua de Lisboa e mais recentemente o dr. Willian Halliday, membro da Western Speleological Survey, dos Estados Unidos da América, que o visitou em 1980, refere-se àquela gruta nos seguintes termos: para além da parte baixa, a gruta torna-se mais ampla e tem características que mostram a forma como a lava correu através dela… com, apenas, um pouco de trabalho seria possível reabrir e ampliar uma das duas entradas (agora fechadas) para que os visitantes e estudantes compreendessem como a vossa bela ilha se formou… Na minha estimativa o comprimento da gruta é de cerca de 400 metros até à obstrução final».

Soterradas, a servir de esgoto ou de lixeira, as grutas além de constituírem um nó importante de explicação cientifica do nosso meio natural são parte integrante de património paisagístico (neste caso subterrâneo) e como tal deveriam merecer todo o respeito por parte de todos nós, em particular pelas entidades responsáveis, no caso presente a Câmara Municipal de Ponta Delgada e a Delegação de Turismo, devendo, depois de efectuados pequenos trabalhos de limpeza, serem integradas no roteiro turístico.

A inventariação, defesa e divulgação espeleológico existente em S. Miguel é uma das actividades que um grupo de associados dos Amigos da Terra/Açores pretende levar a cabo este ano. Para a concretização daquele seu objectivo precisam da colaboração das mais diversas entidades públicas e privadas e já pediram o apoio a espeleólogos estrangeiros e à Associação de Exploração Espeleológica «Os Montanheiros», da ilha da Terceira.

Apelamos a todas as pessoas que tenham conhecimento da existência de grutas naturais e a todos os interessados na sua exploração o favor de entraram em contacto connosco.

Teófilo de Braga, com a colaboração de George Hayes (membros dos Amigos da Terra/Açores)

(Publicado no “Diário dos Açores”, 2 de Fevereiro de 1988)

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