quarta-feira, julho 18, 2007

Plantas Medicinais, o seu uso ao longo dos tempos…


É antiquíssimo, perde-se na noite dos tempos, o esforço do Homem para compreender e depois usar as plantas como alimento e como medicamento.

Na antiga China, os sacerdotes não só se ocupavam da religião mas também do estudo e emprego das plantas medicinais. No livro «PENTSÃO-CANG» um verdadeiro tesouro de botânica medicinal, encontram-se mais de onze mil preparações tendo por base produtos doreino vegetal.

Os ideogramas sumérios, datados de aproximadamente 2500 a.c., enumeram vários «medicamentos» de origem vegetal e os assírios tinham pelo menos 250 espécies na sua farmacologia.

No Egipto dos Faraós, nos famosos papiros de EBERS, uma complicação de obras anteriores datada de 2600 a 2100 a.C., encontraram-se enumeradas uma grande quantidade de doenças e as respectivas ervas recomendadas para a cura.

Segundo Daniéle Laberge, na Bíblia o termo erva aparece mencionado 17 vezes. O próprio rei Salomão é autor, segundo a historia, de um magnífico herbário. Em João 19,29 é mencionado o facto de ter sido dado a Jesus hissopo (símbolo da purificação). Os ervanários de então e de hoje usam-no no tratamento de feridas já que aquele protege-as contra as infecções e favorece a sua cura.

Entre os antigos gregos destacaram-se quatro homens: Aristóteles, Hipócrates, Teofrasto e Dioscórides.

Os gregos e, mais tarde, os romanos foram os grandes herdeiros dos conhecimentos egípcios. Aristóteles estudou a história natural e botânica. Hipócrates (fins do séc.V, princípios do séc.IV a.C.) considerava a alimentação o principal remédio para a doença, acreditava que o corpo humano é, em grande parte, auto curativo. Conhecia de 300 a 400 plantas com propriedades medicinais. Teofrasto, discípulo de Platão e de Aristóteles (372-287 a.C.) é autor de uma «Historia das plantas», publicação que teve uma profunda influência no desenvolvimento da medicina e da botânica durante quase 20 séculos. Agrupou cerca de 500 plantas, tendo estudado o seu aspecto exterior, habitat, uso, etc. Discórides, que viveu no início de era cristã, é autor de uma obra «De Matéria Medica», um autêntico protótipo das nossas grandes farmacopeias. Conhecia cerca de 600 plantas que dividia em 4 grupos: aromáticas, alimentares, medicinais e as que serviam para fazer vinho.

Na sua «história natural», Plínio – o Antigo – explica-nos o que foi o herborismo romano. Dos 37 volumes constituintes da sua monumental obra, 8 são dedicados às plantas medicinais.

Galeno, nascido em Pérgamo, na Grécia, no ano de 130 e falecido em 202, em Roma, deu um grande contributo aos conhecimentos farmacêuticos, sendo as suas fórmulas (preparações galénicas) ainda hoje usadas, embora com alterações.

Com a queda do império romano do ocidente e durante toda a idade média, apenas através da labuta de alguns monges e freiras, conhecedores do latim e do grego, se manteve parte da cultura antiga e foram os religiosos que cultivaram alguns grandes jardins de plantas medicinais para tratamento de doentes. Graças ao seu contacto com o mundo árabe, onde se destacaram Avicena, Avenzoar e Ibn- el-Beithar, a chamada «escola de Salermo» exerceu papel destacado, dando um contributo considerável aos progressos da medicina do seu tempo. Deste período destacaram-se, no séc. XII, a abadessa Santa Hildegrada e o abade Alexander Neckam de Cirencester que escreveram acerca das virtudes de algumas plantas.

Com o Renascimento uma nova concepção de vida surge no mundo ocidental. A valorização da observação e da experimentação, as viagens para as índias e América originaram um novo surto de progresso no domínio da botânica e consequentemente no conhecimento no uso das plantas para os mais diversos fins.

Paracelso, no início do séc. XIV, tenta estudar e descobrir a “alma” das plantas, da qual supõe proceder o seu poder curativo. O famoso médico suíço tentou estabelecer relações especulativas entre as virtudes medicinais das plantas e as suas propriedades morfológicas, sua forma e cor.
O italiano Andrea Mattioli, contemporâneo de Paracelso, descreve cem novas espécies e comenta a obra de Dioscórides.

No séc. XVII o farmacêutico Nicholas Culpeper esvreve um obra intitulada «The Complete Herbal» que é, em parte, uma tentativa para conseguir comercializar a produção do seu jardim, em Londres. Culpeper acreditava que havia uma relação íntima entre os planetas e as plantas, tendo em 1650 afirmado: «nenhum homem pode ser médico se não for mestre em astrologia». Ainda neste século., culminando todos os anteriores esforços de classificação, o botânico sueco Lineu estabeleceu no seu «Systema Natural» uma exaustiva classificação das plantas conhecidas até então.

No século XVIII, Jean Batiste Lamarck, alem de outras obras, publica a «Enciclopédia botânica» e a «ilustração dos géneros».

Já no nosso século o prestigiado médico francês H. Leclerc (1870- 1955) introduz o conceito de fitoterapia como sendo «a ciência que se ocupa do emprego das plantas medicinais (ou dos seus estratos) no tratamento dos doentes».

Em Maio de 1978 uma resolução da XXXI assembleia-geral da Organização Mundial de Saúde determina o início de um programa mundial com o fim de avaliar e utilizar os métodos da medicina popular, nos quais se inclui o recurso à fitoterapia.

De 21 a 26 de Março de 1988, é aprovada pela Internacional Consultation on Conservation of Medicinal Plants, organizada pela Worlds Heath Organization, IUCN e WWF, a Declaração de CHIANG MAI que chama a atenção das Nações Unidas, suas agências e estados membros, organizações não governamentais, etc., para:

1- a importância vital das plantas medicinais no cuidar da saúde;

2- a crescente e inaceitável perda destas plantas medicinais devido à destruição do seu habitat e praticas insustentáveis de recolha;


3- O significativo valor económico das plantas medicinais utilizadas actualmente e o grande potencial do reino vegetal para a produção de novos medicamentos;

4- A contínua perturbação e perda de culturas indígenas que muitas vezes têm conhecimentos que levam à descoberta de novas plantas medicinais que podem beneficiar toda a comunidade;

5- A necessidade urgente de cooperação internacional para estabelecer programas de conversação de plantas medicinais a fim de assegurar que quantidades adequadas estejam disponíveis para futuras gerações.

Teófilo de Braga (membro dos Amigos dos Açores/Associação Ecológica)


(Publicado no “Correio dos Açores”, em 11 de Abril de 1991)

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