sexta-feira, julho 13, 2007



A PROPÓSITO DE UMA RECENTE EXPEDIÇÃO ESPELEOLÓGICA AOS AÇORES

De 17 de Julho a 22 de Agosto, esteve, entre nós, uma equipa de 5 cientistas da Universidade de La Laguna, Canárias, e da Universidade de Edimbourg, Escócia, com o objectivo de estudar a flora e a fauna das grutas naturais e das correntes de lava. A equipa foi acompanhada, nas suas visitas, por um docente do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores e por membros dos Amigos dos Açores (ex. Amigos da Terra/Açores).

Em S.Miguel, foi visitada a gruta de Água de Pau, a do Pico da Cruz, na freguesia do Pico da Pedra, a da Batalha, no local com o mesmo nome, as duas do Pico do Enforcado, nas Capelas, a gruta de Rabo de Peixe, a gruta do Esqueleto e dois algares no Pico Queimado, na Ribeira Grande, e a parte Norte do Algar da rua de Lisboa (Carvão).

Dos tubos vulcânicos visitados, encontram-se em mau estado de conservação o da Batalha, devido ao lançamento de animais pelos lavradores e o da rua de Lisboa que continua a receber águas de um esgoto feito pela Câmara Municipal de Ponta Delgada e a servir de lixeira a uma moradora que tem no seu quintal uma abertura para aquele tubo e que quanto a nós devia ser selada quanto antes. Esta gruta é das que melhores condições apresenta para um futuro e desejável aproveitamento turístico, pelo que a Direcção Regional de Turismo deveria quanto antes agir e tomar medidas para que o entulhamento da sua abertura não prossiga e para acabar com o vazamento de lixos. Trata-se, segundo a opinião de membros da equipa que nos visitou, de uma gruta bastante bonita e de grande interesse sob o ponto de vista geológico. A gruta do Esqueleto, apesar de limpa, apresenta grandes desabamentos do tecto e corre alguns riscos devido aos arroteamentos que estão a ocorrer nas suas imediações.

Foram bons os resultados científicos alcançados. As conclusões dos estudos e recolhas efectuadas serão publicados oportunamente mas, podemos adiantar já que foi descoberta uma espécie nova para a ciência, na gruta de Água de Pau.

Durante a expedição, bastante frutuosa para nós, foram-nos ministrados alguns conhecimentos de espeleologia, nomeadamente técnicas de subida e descida na vertical com o apoio de equipamento próprio e explicado como fazer mapas e topografia de grutas, utilizando a bússola e o clinómetro.

Na mesma altura, foram visitados pela primeira vez dois algares no Pico Queimado, um deles, com cerca de 20 m de altura, terá sido visitado pela primeira vez a 4 de Agosto de 1989 e o primeiro ser humano que o percorreu foi, não temos duvida, o Dr. Pedro Oromi.

As grutas vulcânicas, resultantes de “rios” de lava que, arrefecem mais depressa à superfície e no contacto com as paredes e o leito onde correram que no interior, tornaram-se ocas quando se deram naturais escoamentos (G. Santos, 1970), são um dos habitas mais ameaçados nos Açores pelo que urge tomar medidas para a sua salvaguarda. Para que não tenham o mesmo fim que o célebre «Caldeirão», na estrada da Ribeira Grande, apesar dos apelos que se fizeram para o seu aproveitamento turístico.

Pela importância científica, as grutas naturais dos Açores merecem que se crie legislação que as proteja. À Direcção Regional do Ambiente caberá tomar iniciativa, contará com todo o nosso apoio, nosso trabalho de pesquisa, ex.. Nós prosseguiremos com o nosso trabalho de pesquisa, exploração e inventariação, muito em breve, após a aquisição do equipamento indispensável, iniciaremos a leitura de mapas e topografia das grutas já conhecidas tendo como objectivo imediato a edição de um Inventario das Grutas Naturais de S. Miguel.

(Publicado no “Correio dos Açores”, 7 de Setembro de 1989)

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