quarta-feira, agosto 15, 2007


Proteger o quê e porquê?



1- O ambiente e seus problemas

Todos nós sabemos que são vários os problemas ambientais que afectam o nosso planeta. Estes podem ser agrupados em três grupos: a poluição, a sobreexploração dos recursos naturais e as ameaças globais.

1- a poluição

A poluição contribui para a destruição do património natural, origina problemas de saúde nas populações, faz diminuir a sua qualidade de vida e faz com que os rendimentos na agricultura e no turismo diminuem. Nos países mais industrializados a poluição é devida sobretudo à industria e aos transportes, nos países subdesenvolvidos a origem está nos grandes aglomerados urbanos, onde se concentram esgotos e lixos domésticos, às indústrias altamente poluentes que já não são aceites pelas populações dos países desenvolvidos e ao depósito de resíduos tóxicos e perigosos.

2- a sobreexploração dos recursos naturais

Os sistemas económicos cujo objectivo primeiro é o lucro imediato, sobretudo nos países mais desenvolvidos e a necessidade de pagar a dívida externa e as necessidades de sobrevivência das populações sem outras alternativas nos países subdevenvolvidos tem levado à destruição dos seguintes recursos: a pesca, as florestas, as jazidas minerais, a água e as espécies vivas.

3- as ameaças globais

Em grande parte decorrentes dos dois anteriores podemos incluir neste grupo as alterações climáticas, devido ao conhecido efeito de estufa causado pelo aumento da concentração na atmosfera de dióxido de carbono e de metano, a rarefacção da camada de ozono devido à produção CFC’S (clorofluorcarbonetos) e a destruição da biodiversidade.

2- Ambiente e desenvolvimento

De acordo com a Lei da Bases dos Ambiente, Lei nº 11/87, de 7 de Abril, ambiente é o conjunto dos sistemas físicos, químicos, biológicos e suas relações e dos factores económicos, sociais e culturais com efeito directo ou indirecto, mediato ou imediato, sobre os seres vivos e a qualidade de vida do homem.

Ainda de acordo com a Lei de Bases do Ambiente, o ambiente possui componentes naturais, como o ar, a luz, a água, o solo, subsolo, a flora e a fauna e componentes humanos, como a paisagem, o património natural e construído e a poluição.

Se o homem pretender viver com qualidade de vida, traduzindo-se esta na situação de bem estar físico, mental e social e na satisfação e afirmação culturais, bem como em relações autênticas entre o indivíduo e a comunidade, terá que optar por um modelo de desenvolvimento diferente do que rege as sociedades actuais, que respeite o direito que todos têm de respirar um ar limpo, de beberem água pura, de acesso a um nível de luminosidade conveniente à sua saúde, bem estar e conforto, que utilize racionalmente o solo e subsolo, a flora e a fauna. Este modelo, o do desenvolvimento sustentável, é o que permite “satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias”.

O modelo de desenvolvimento sustentável foi proposto, em Abril de 1987, pela Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento (“O Nosso Futuro Comum”), presidida pela primeira ministra da Noruega, Gro Bruntdtland. De acordo com Fernandes (1992) o relatório da referida comissão apresentou, entre outras, as seguintes conclusões:
- a necessidade da compreensão de que a humanidade existe como uma parte da natureza e deve actuar de acordo com as leis ecológicas;
- a concepção de que critérios novos, éticos e estéticos, devem ganhar peso em relação às considerações utilitaristas e economicistas;
- a compreensão da necessidade de ter em conta os efeitos a longo prazo no ambiente natural e humanizado das concepções económicas e das actividades humanas.

3-A biodiversidade, causas da sua diminuição e razões para a sua manutenção

A biodiversidade pode ser entendida como “tudo o que é vida na Biosfera, isto é, são os milhões de organismos que a povoam, são as diversas comunidades bióticas que caracterizam os variados ecossistemas que a constituem, é, enfim a variabilidade genética das populações que formam as diferentes espécies”(Paiva, 1994). Sintetizando, o conceito de biodiversidade, pode ser sistematizado “segundo três vectores: a diversidade de ecossistemas numa dada região, a diversidade de habitats e de espécies num dado ecossistema e a diversidade genética dentro de cada espécie”(Melo e Pimenta,1993).

De acordo com Paiva(1994), desconhece-se o número de espécies de seres vivos existentes no mundo, aceitando-se que o seu número é de cerca de 30 milhões, estando apenas recenseadas cerca de 2,4 milhões de espécies. Por outro lado, calcula-se que anualmente se extingam 17 000 espécies (Wilson,1988,citado por Paiva, 1994) e que mantendo-se o ritmo actual de agressões ambientais, cerca de metade de todas as espécies terá desaparecido dentro de 50 anos (Melo e Pimenta,1994; Rosa,1994).

A redução da biodiversidade tem vindo a aumentar nas últimas centenas de anos devido à actividade humana. De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza, são as seguintes as causas básicas para a degradação e perda da biodiversidade:

1- A explosão demográfica e o consequente aumento do consumo dos recursos naturais;
2- O número cada vez mais reduzido de produtos agrícolas e florestais devido à monocultura industrializada;
3- Os sistemas económicos e políticos que não apresentam preocupações ambientais;
4- A desigual distribuição da propriedade com reflexos na gestão, utilização e conservação dos recursos biológicos;
5- A incúria, a falta de conhecimentos e a má utilização destes;
6- Os sistemas jurídicos e institucionais que promovem uma exploração insustentável dos recursos naturais;

Tendo em consideração que a conservação da biodiversidade não se deve reduzir à sobrevivência de uma qualquer espécie individualmente, mas sim à defesa dos ecossistemas suporte da vida, são, no dizer de Rosa(1994) cinco os argumentos a favor da manutenção da biodiversidade: estético, ecológico, científico, económico e ético. Vejamos cada um deles:

Argumento estético- embora haja muita subjectividade, não será quase consensual que para a maioria das pessoas um mundo com milhões de espécies de seres vivos, com cada indivíduo diferente dos restantes e enorme variedade de ecossistemas é preferível a um mundo totalmente humanizado e com uma biodiversidade muito reduzida?

Argumento ecológico- sabe-se que a biodiversidade é uma medida da saúde de um ecossistema, já que representa um factor essencial do seu equilíbrio e resistência a alterações quer naturais, quer provocadas pelo homem. Isto é, quanto maior a for a biodiversidade maior a capacidade do ecossistema para atingir novos equilíbrios.

Argumento científico- as espécies e os ecossistemas, encerram um conjunto de informações de carácter ecológico, biogeográfico, genético que por si só justificaria a manutenção da biodiversidade.

Argumento económico- são diversos os bens que a humanidade obtém a partir dos seres vivos: os alimentos, os medicamentos, os combustíveis, as matérias primas para diversas indústrias, etc. A biodiversidade é ainda economicamente importante por potenciar o eco- turismo. “Quem quereria visitar a Amazónia se a mesma se tornasse num imenso campo de pastagens?”

Argumento ético- a biodiversidade é resultado de uma evolução de milhões de anos, para a qual o homem nem contribuiu nem é capaz de reproduzir. Assim, não é eticamente aceitável que destrua um valor único e precioso, para que os vindouros possam também usufruí-lo.

BIBLIOGRAFIA

FERNANDES, J., (1992), “Educação Ambiental para um Desenvolvimento Global”, Dirigir, nº 22, pp 9-13.
MELO, J., PIMENTA, C., (1993), Ecologia e Ambiente, Lisboa, Difusão Cultural.
PAIVA, J., (1994), “A importância da diversidade biológica”, Iniciativa, nº especial, pp 65- 71.
ROSA, H., (1994), “Biodiversidade: Porquê conservá-la?” Iniciativa, nº especial, pp 65- 71.

(texto que serviu de Base à comunicação apresentada no “I Workshop Formação e Desenvolvimento”, promovido pela Escola Profissional de Vila Franca do Campo, no dia 5 de Junho de 2000)

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