quinta-feira, agosto 09, 2007

EDUCAÇÃO AMBIENTAL, O QUE É ?

Ambiente e a Educação são, nos nossos dias, dois dos temas mais debatidos em todo o mundo. A educação tornou-se paixão para alguns, o ambiente está na moda e a educação ambiental é a panaceia para todos os males, sendo, por oportunismo, muitas vezes transformada em mero acto de propaganda destinado à obtenção de meios financeiros ou de “bandeiras de qualidade”(Fernandes, 1997).

Será que se faz educação ambiental nas nossas escolas?

Em 1998, elaborámos e enviámos às 28 escolas dos Segundos e Terceiros Ciclos do Ensino Básico e às do Ensino Secundário da Região um questionário com o objectivo de saber que tipos de acções eram implementadas no sentido de formar cidadãos ambientalmente conscientes, onde eram feitas e quem tomava a iniciativa para a sua realização. Em síntese, obtivemos os seguintes resultados:

1- 88% das actividades eram da iniciativa dos conselhos directivos e dos professores e apenas 12% partiam de propostas dos alunos;
2- cerca de 40% das iniciativas decorriam nas aulas, 31% na denominada Área Escola;
3- das actividades implementadas, destacavam-se as visitas de estudo, as exposições e, por último, as palestras.

A resposta será afirmativa se as actividades que são realizadas contribuírem para grande finalidade da Educação Ambiental que é a de “formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os seus problemas, uma população que tenha os conhecimentos, as competências, o estado de espírito, as motivações e o sentido de compromisso que lhe permitam trabalhar individual e colectivamente na resolução das dificuldades actuais, e impedir que elas se apresentem de novo”(Carta de Belgrado,1975).

Para alcançar aquela finalidade, a Educação Ambiental deverá respeitar, entre outros, os seguintes princípios:

- considerar o ambiente no seu todo (natural, social, económico, político, moral, estético, histórico- cultural);
- constituir um processo contínuo, iniciando-se ao nível do ensino pré- escolar e prosseguir através de todas as etapas da educação formal e não- formal;
- adoptar uma abordagem eminentemente interdisciplinar orientada para a resolução de problemas locais;
- desenvolver o espírito crítico;
- procurar a autonomia e a participação dos educandos na organização da aprendizagem.

De acordo com os resultados apurados no inquérito referido, a maioria das acções decorre nas aulas, facto que contraria a perspectiva interdisciplinar que caracteriza a educação Ambiental. Além disso, o facto das acções se cingirem, essencialmente, a visitas de estudo, muitas das quais não passam de meros passeios, bem como a exposições com colagens de textos e imagens obtidos via internet, leva-nos a inferir que muito há ainda a fazer neste campo.

Se, por um lado, temos fortes reservas acerca do que se faz em nome da educação ambiental nas escolas dos Açores, por outro consideramos que já era tempo de se acabar com as acções episódicas e descoordenadas, que são feitas com a máxima das boas vontades e esforço por parte dos docentes da região, através da elaboração e implementação de uma Estratégia Regional de Educação Ambiental.

Terminaria, com a promessa de voltar ao assunto, citando um dos princípios do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global:

[a educação ambiental] não é neutra, mas ideológica. É um acto político, baseado em valores para a transformação social, que deve facilitar a cooperação mútua e equitativa nos processos de decisão, em todos os níveis e etapas, promovendo o diálogo entre indivíduos e instituições e integrando conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e acções. Deve converter cada oportunidade em experiências educativas de sociedades sustentáveis”

Ou como diz Gutierrez ( citado por Rocha, 1999):

A acção educativa não pode deixar de ser política, da mesma maneira que a política- a boa política- tem de ser pedagógica.

(Publicado no Açoriano Oriental, 26 de Fevereiro de 2001)

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