quarta-feira, agosto 15, 2007

Ainda a propósito do litoral


No meu último texto, publicado no Açoriano Oriental, no passado dia 14 de Novembro, fiz referência ao projecto de âmbito europeu, Coastwatch Europe, que está a ser implementado na ilha de São Miguel, sob a Coordenação da Organização Não Governamental de Ambiente “Amigos dos Açores”. Neste texto, irei relatar um pouco do que tenho observado nas minhas visitas a diversos troços da costa da ilha de São Miguel e referir a um dos factores responsáveis pela degradação do litoral.

Até ao momento, já percorri alguns troços de costa dos concelhos de Ponta Delgada, Lagoa, Vila Franca e Ribeira Grande, onde, para além da descrição de uma faixa de 500 m de largura paralela à linha de costa e das zonas interdital e supradital, foi feito o registo da quantidade de cada um dos diversos tipos de resíduos encontrados, bem como a caracterização das entradas de água no mar.

Embora não se possa dizer que haja um sobrepovoamento das zonas visitadas, nem elevada pressão turística, sobretudo na Ribeira Grande, nomeadamente em Rabo de Peixe, poderei referir uma deficiente gestão dos resíduos sólidos gerados pelos agregados populacionais, o que se traduz no amontoado de lixos e de entulhos ao longo da sua faixa costeira, nomeadamente entre o porto e a fábrica de conservas. Na mesma zona, é possível encontrarmos esgotos a correr a céu aberto.

Nas freguesias mais ocidentais do concelho da Ribeira Grande que já visitei, como Fenais da Ajuda, Lomba da Maia, Maia e Porto Formoso, embora a situação não seja a ideal, o que mais foi encontrado na costa foram pedaços de madeira, provavelmente trazidos pelas ribeiras, o que mostra que, apesar do que tem sido feito, muito mais há a fazer, quer em termos de limpeza quer em termos de uma acção persistente de sensibilização e de educação ambientais.

Além disso, sobretudo na Lomba da Maia e no Porto Formoso as entradas de água no mar registavam a presença de nitratos. No caso do Porto Formoso, a sua concentração era de 100 mg/l. Embora não haja ligação directa entre a água que foi analisada e a de consumo público, este valor é um alerta para a necessidade de se monitorizar a água de abastecimento público, bem como de se proteger as nascentes existentes nas áreas das freguesias referidas.

Po último, é importante referir que as ameaças à costa não provêm apenas do interior dos territórios. As descargas de águas de lavagem dos tanques dos petroleiros, bem como os derrames de substâncias perigosas, por parte de navios cargueiros e de hidrocarbonetos por parte dos petroleiros poderão originar as chamadas marés negras com consequências, por vezes dramáticas para o meio marinho e para a vida das populações.

Pelas notícias transmitidas pela comunicação social relativas ao recente derramamento de petróleo próximo da Galiza, fiquei a saber que nem Portugal nem a própria Espanha têm meios suficientes para minimizar os efeitos produzidos. E se o desastre ocorresse próximo de uma das nossas ilhas?

(Publicado no Açoriano Oriental, 25 de Novembro de 2002)

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