segunda-feira, agosto 13, 2007


PERCURSOS PEDESTRES E ECOTURISMO


O fomento do ecoturismo, segmento da actividade turística que utiliza de forma sustentável o património natural e cultural, incentiva a sua conservação, procura a formação de uma consciência ambientalista e promove o bem estar das populações locais, deverá ser um dos objectivos não só das entidades governamentais, mas também das organizações não governamentais de ambiente.

A experiência de outros países mostra-nos que se por um lado existem projectos na área do ecoturismo que são exemplares, por outro lado existem muitos outros em que o conceito de ecoturismo foi completamente adulterado. Nos Açores, estamos a tempo de aprender com as boas práticas e evitar alguns dos erros que têm sido cometidos noutras paragens. Assim, esperamos que na Primeira Bienal do Turismo Rural, realizada no passado fim de semana em São Jorge, todas as reflexões tenham sido no sentido contribuir para que, nas nossas ilhas, o ecoturismo possa crescer de um modo sustentado e que o crescimento implique necessariamente um planeamento adequado, a normalização de procedimentos, uma fiscalização eficaz e, ainda, a formação de todos os agentes envolvidos.

A Associação Amigos dos Açores tem promovido no decurso dos últimos quinze anos a realização de percursos pedestres mensais como forma privilegiada de contacto com a natureza. Esta actividade constitui, por um lado, um instrumento de educação ambiental e de ocupação de tempos livres e, por outro, apresenta-se como um veículo primordial de promoção do património natural e cultural açoriano, enquadrada numa actuação mais vasta no âmbito do ecoturismo. Nesse sentido, só nos últimos cinco anos, integrados no Projecto “Conhecer para Proteger”, a associação promoveu 65 passeios que contaram com a participação de 2349 pessoas e no âmbito do Projecto “Caminhar Para Melhor Conhecer e Proteger”, destinada exclusivamente a jovens, realizaram-se 27 passeios pedestres que contaram com a presença de 1248 participantes.
Para além das actividades mencionadas, a associação, com o apoio de diversas entidades governamentais regionais e nacionais, autarquias e empresas, tem editado um conjunto de roteiros de percurso pedestres e de livros de divulgação do património natural e cultural. Assim, também nos últimos cinco anos foram editados oito livros, com uma tiragem total de 9000 exemplares e 16 roteiros de percursos pedestres, sendo a tiragem de 43 000 exemplares.
Por outro lado, no âmbito de um protocolo celebrado com a Secretaria Regional da Economia, têm sido promovidas diversas acções de formação, com destaque para uma sobre Orientação, com a colaboração do Comando da Zona Militar dos Açores e da Escola Básica 3/S da Ribeira Grande e outra sobre “Pedestrianismo e Percursos Pedestres”, ministrada por Joaquim Gonçalves, Técnico de Percursos Pedestres e Director Técnico da Federação Portuguesa de Campismo. Além da formação, ao abrigo do referido protocolo estão em curso as seguintes actividades: elaboração do texto de quatro novos roteiros de percursos pedestres, na ilha do Pico, a propor à Secretaria Regional da Economia para posterior edição; reedição dos roteiros pedestres da associação em novo formato; edição de um roteiro geral dos percursos pedestres de São Miguel; fiscalização periódica do estado de conservação dos trilhos existentes em São Miguel; edição de uma folha informativa com novas informações, aconselhamentos e análise dos percursos.

Terminaria apresentando três aspectos que consideramos importantes para o fomento do pedestrianismo:

1- É imprescindível que os “Guias da Natureza” e demais agentes ligados à actividade frequentem acções de formação que visem uma aprendizagem, ou reciclagem, em diversas temáticas. De entre estas citam-se a Topografia e a Orientação, a Botânica e a Zoologia, a Ecologia, a Geologia, a Geomorfologia, a Meteorologia, o Socorrismo, a História Regional, o Património Edificado e a Legislação Ambiental.

2- É urgente que sejam tomadas medidas de carácter legislativo que permitam o acesso livre a caminhos privados e o acesso condicionado a propriedades privadas, desde que estas não sejam muradas e o pisoteio não prejudique as culturas. Em suma, é necessário que todos os turistas e demais praticantes do pedestrianismo tenham, no que diz respeito ao acesso a propriedades de carácter privado, no mínimo, os mesmos direitos dos cidadãos que se dedicam à actividade cinegética.
3- É necessário que seja implementado um futuro “Registo Regional de Percursos Pedestres”, à semelhança do que existe a nível nacional.
(Publicado no Açoriano Oriental, 23 de Abril de 2001)

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