sábado, agosto 18, 2007


A propósito do Dia Mundial da Floresta: É Urgente Preservar a Vegetação Autóctone

Graças à feliz iniciativa da Câmara Municipal da Povoação, no passado dia 21 de Março tive a oportunidade de participar num colóquio, na Vila da Povoação, onde para além de apresentar uma comunicação acerca da necessidade de protegermos a vegetação autóctone dos Açores, foi-me dada a oportunidade de tecer algumas considerações sobre o papel que cabe a cada um de nós, cidadãos, na defesa do nosso património natural. Neste texto, vou tentar sintetizar parte do que foi dito naquele dia.

Apesar de ter consciência de que a sensibilização ambiental não se pode ficar pela simples comemoração do dia disto ou daquilo, e no caso do dia da árvore, pela distribuição de cartazes, folhetos e autocolantes em abundância e, como é usual, pela plantação de uma árvore que se deixa morrer de sede logo no Verão seguinte, considero que o dia 21 de Março é uma data que não pode ficar esquecida e que deverá ser aproveitada para acções de informação/ formação.

No que diz respeito aos Açores, de acordo com o Relatório do Estado do Ambiente dos Açores- 2001, 30% da superfície das ilhas está ocupada por floresta, sendo a criptoméria a espécie mais abundante, ocupando cerca de 58% da área total das matas da região. Por seu turno, a floresta natural, ocupa apenas 2,4% da área do arquipélago. No que toca à origem das espécies presentes no arquipélago, verifica-se que a esmagadora maioria é exótica, isto é 702 espécies, 37 das quais apresentam carácter invasor, enquanto que o número de espécies endémicas dos Açores é próximo de 60.
A situação preocupante em que se encontra a flora autóctone dos Açores já havia sido apresentada num abaixo assinado promovido por várias associações de defesa do ambiente, entre as quais os Amigos dos Açores, em 1990, onde era, também, proposto aos órgãos de poder nacional e regional, a criação de um plano de emergência para a salvaguarda da vegetação natural dos Açores,

Como resultado desta petição a Assembleia Legislativa Regional aprovou uma Resolução (nº 13/95/A) onde recomenda que o governo implemente um plano visando a protecção e conservação efectiva das zonas ecologicamente mais valiosas do Arquipélago, do ponto de vista botânico, tendo em consideração os seguintes pressupostos:
- deveria ser dada prioridade à classificação de áreas de protecção relativamente vastas e com elevado número de espécies endémicas ameaçadas, em que estejam representadas o máximo de comunidades vegetais, em lugar da classificação de numerosas áreas homogéneas, pequenas e isoladas, mas altamente vulneráveis.

- deveria ser condicionada a introdução de espécies animais e vegetais exóticas no Arquipélago, devido à fragilidade e vulnerabilidade dos ecossistemas insulares, e era fundamental iniciar programas de controlo das plantas exóticas invasoras existentes.

Pouco ainda foi feito em relação à primeira sugestão, com efeito não basta enunciar que a Área Classificada Terrestre, abrangendo, as áreas da Rede Natura 2000 (criadas a partir da Directiva Referida e da Directiva Aves (79/409/CEE) e as Áreas Protegidas regionais ocupa 37 138 ha, isto é 16% do território, é urgente a criação de Planos de Ordenamento e Órgãos de Gestão para as Áreas Protegidas existentes. No que diz respeito à segunda, muito há por fazer, basta vermos a distribuição, na ilha de São Miguel, de algumas plantas invasoras hoje e comparar com o que acontecia há dez anos.

(Publicado no Açoriano Oriental, 31 de Março de 2003)

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