segunda-feira, agosto 06, 2007

Às Escuras



No passado dia 7 de Julho, o GEOTA (Grupo de Estudos do Ordenamento do Território e do Ambiente), Associação de Defesa do Ambiente de âmbito Nacional, enviou ao Ministro da Economia uma carta propondo 10 Medidas de Política de Energia. No documento em causa, aquela organização defendia que o sector energético só será sustentável se forem tomadas medidas no sentido de reduzir as necessidades energéticas, sem se perderem os níveis de conforto ou de produção de riqueza, se se tiver em conta a necessidade de minimizar os impactos ambientais das energias convencionais e se for feita uma aposta nas energias renováveis.

No mesmo sentido, a Associação Amigos dos Açores, no passado dia 1 de Outubro, numa carta dirigida ao Director Regional do Comércio Indústria e Energia, alertou para o facto de desde 1990 não terem sido tomadas quaisquer iniciativas públicas no domínio da sensibilização e incentivo à utilização racional da energia, dirigidas quer às famílias, quer às empresas.

Embora não tenha havido, até ao momento, qualquer reacção por parte da Direcção Regional que tutela o sector energético, acreditamos que o apelo e a proposta dos Amigos dos Açores não cairá em saco roto e que o Governo Regional dos Açores irá, a curto prazo, promover uma campanha de poupança de energia que terá vantagens para toda a Região, quer em termos ambientais, quer em termos económicos para os próprios consumidores individuais ou empresas.

A implementação de qualquer medida política, para o sector energético ou outro, não deve ser feita sem a participação da população e sem sabermos em concreto qual o nível de conhecimentos do sector que aquela possui. Apesar de pensarmos que alguns sectores da população, sobretudo os de maior escolarização, estão mais despertos para a problemática dos impactes ambientais inerentes às diversas actividades humanas, temos algumas dúvidas acerca dos conhecimentos que terá acerca do sector energético pois desde a campanha do “Clik Clube- A Grande Aventura da Energia”, que terá ocorrido há cerca de onze anos, nada mais foi feito.

Em Abril de 1990, no decorrer do 1º Encontro Regional sobre Energia, promovido pela Direcção Regional de Energia, foi apresentada uma comunicação intitulada “Opinião Pública sobre a Energia nos Açores”. Segundo as conclusões apresentadas pelo Eng. Francisco Botelho, autor da comunicação, o público dos Açores apresentava um grau de conhecimento do sector da energia inferior à média do todo nacional, desconhecendo o grau de dependência da Região face ao exterior, não se recordando (cerca de 90% dos inquiridos) de qualquer medida tomada nos últimos anos no sector e identificando economia de energia com o “radical deixar de consumir”.

Hoje, passada uma década, apenas nas escolas e em actividades de algumas associações de defesa do ambiente as questões energéticas são abordadas. Embora louváveis, aquelas iniciativas são insuficientes para que tenhamos um público bem (in)formado, capaz de entender os problemas e julgar e contribuir para as possíveis soluções. É preciso muito mais. É necessário e urgente que as acções pontuais sejam substituídas por outras de carácter permanente, é preciso apoiar as escolas e todas as organizações que estejam disponíveis para ajudar a formar os cidadãos.

Por último, não basta introduzirmos nos discursos o tão apregoado “desenvolvimento sustentável” quando nada se faz para que este o seja, ou, pior, quando se está a percorrer o caminho inverso, incentivando o desperdício e o crescimento a todo o custo. A este propósito escreveu o Professor Lebreton, da Universidade de Lyon:

“mesmo que o petróleo volte a correr a jorros, mesmo que as economias industriais se mostrem capazes de pagar o justo preço aos países fornecedores, ditos subdesenvolvidos, deveremos realmente a creditar que se tenham posto e resolvido os verdadeiros problemas? No entanto, há anos que os ecologistas denunciam o carácter suicida de uma expansão indefinida num mundo finito, de um empolamento que não poderá perpetuar-se por muito mais tempo, sem colocar irreversivelmente em perigo, a natureza, o ambiente e o próprio homem”.

Teófilo Braga
(Publicado no “Açoriano Oriental, 5 de Novembro de 2001)

Sem comentários: