quinta-feira, agosto 16, 2007


DIA MUNDIAL DO AMBIENTE: TEMOS MOTIVOS PARA COMEMORAR?



Todos nós sabemos que são vários os problemas ambientais que afectam o nosso planeta. Estes podem ser reunidos em três grupos: a poluição, a sobreexploração dos recursos naturais e as ameaças globais. Em grande parte, decorrentes dos dois anteriores, podemos incluir neste último grupo as alterações climáticas, devidas ao conhecido efeito de estufa causado pelo aumento da concentração na atmosfera de dióxido de carbono e de metano, a rarefacção da camada de ozono e a destruição da biodiversidade.

Neste pequeno texto, apenas, iremos referir-nos à posição recentemente assumida pelo país mais desenvolvido do mundo que é também o mais egoísta. Com efeito, segundo se diz, pressionado pelas grandes empresas petrolíferas que financiaram a sua campanha eleitoral, o presidente George Bush decidiu desrespeitar o Protocolo de Quioto, documento que previa a tomada de medidas conducentes à diminuição de gases causadores do efeito de estufa. Os Estados Unidos que desde o início tentaram diminuir os efeitos do referido protocolo, introduzindo os chamados “mecanismos de flexibilidade” e a possibilidade de contabilizar como redução de emissões a absorção do dióxido de carbono pelos bosques e, ultimamente, pelas pastagens, pela voz do seu presidente demonstram ignorância e desrespeito pela biodiversidade e clima planetários.

Pela atitude da nação mais “desenvolvida”, que se comporta como se fosse o “umbigo do mundo”, persistindo num modelo económico que não pode ser estendido a todo o planeta, não temos motivos para comemorar o Dia Mundial do Ambiente. Com efeito, nos Estados Unidos da América 6% da população mundial consomem 25% do petróleo. Se 24% da população do nosso planeta consumisse ao mesmo nível da população norte-americana consumiriam todo o petróleo não restando nada para os restantes76% da população mundial. Este é um exemplo, entre muitos outros que poderiam ser dados, que mostra que não é viável “ dar à maioria da população uma forma de vida que se igualasse aos padrões dos países desenvolvidos, em consumo de energia, de proteínas, de escolaridade, de horas de trabalho, etc. É inviável porque os sistemas ecológicos existentes seriam incapazes de assimilar os impactos decorrentes da actividade desenfreada, decorrente de uma economia global girando ao triplo da sua intensidade actual”( Ruger, 1999).

No que respeita à situação regional, apesar da criação da Secretaria Regional do Ambiente, que julgávamos iria trazer uma nova dinâmica ao sector, motivos para comemorar também não existem. Assim, referiremos apenas três exemplos:

1- A 22 de Abril de 1990, num encontro que a associação Amigos dos Açores manteve com o então presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, foi advogada a necessidade das próprias populações gerirem mais convenientemente os seus resíduos de modo a diminuir a sua produção e a proceder à selecção dos restantes, facilitando a sua posterior reciclagem. Na mesma altura, foi defendida a implementação de um aterro sanitário. Hoje, ainda esperamos por ele e muito pouco foi feito para a implementação da política dos três R’s- Redução, Reutilização e Reciclagem.

2- Na mesma altura, os Amigos dos Açores alertaram para a necessidade da abertura ao público da Gruta do Carvão. Hoje, passados 11 anos, ainda está longe a criação de condições para a visita de turistas. Por outro lado, a sua classificação como monumento natural, cuja proposta foi enviada à Direcção Regional do Ambiente em 1997, tarda em chegar.

3- Desde 1993 aguarda-se que as Áreas Protegidas da Região Autónoma dos Açores sejam reclassificadas. Algumas das Áreas Protegidas foram criadas em 1974, ainda hoje aguardam pelos seus planos de ordenamento e nunca tiveram Órgãos de Gestão. Quanto tempo mais iremos esperar?

Apesar do quadro negro que traçamos, podemos apresentar como positivos os pequenos avanços alcançados, sobretudo na maior consciencialização por parte da sociedade em geral e sobretudo dos mais novos para as questões ambientais e da qualidade de vida. É essencialmente este o único motivo que temos para comemorar o Dia Mundial do Ambiente.

(Publicado no Açoriano Oriental, 18 de Junho de 2001)

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