sexta-feira, agosto 17, 2007


EM DEFESA DO PATRIMÓNIO NATURAL DA RIBEIRA GRANDE (1)

O texto que a seguir apresento, tem como objectivo principal dar a conhecer algumas potencialidades do património natural do concelho da Ribeira Grande que não estão a ser devidamente aproveitadas, quer para melhorar a qualidade de vida dos ribeiragrandenses, quer para o fomento de actividades que possam atrair visitantes, nomeadamente as relacionadas com o turismo de natureza.

Nesta primeira parte, farei referência ao património espeleológico do concelho, à Ladeira da Velha e à Lagoa de São Brás. Na segunda parte, pretendo fazer uma breve abordagem aos sítios da Caldeira Velha e Reserva Natural da Lagoa do Fogo.

Património Espeleológico

A Ribeira Grande também possui um variado património espeleológico que se encontra totalmente desprezado e maltratado. Apenas os estrangeiros amantes da espeleologia e alguns membros da comunidade científica atribuem-lhe algum valor. Com efeito, as grutas da Ribeira Grande já foram estudadas, em 1989, por uma equipa de cientistas das Universidades de La Laguna (Canárias) , de Edimburgo (Escócia) e dos Açores, que localmente tiveram a colaboração dos Amigos dos Açores e dos Montanheiros. Nos últimos dois anos, uma bióloga da Universidade Clássica de Lisboa tem estado a fazer pesquisas com vista a elaborar a sua tese de doutoramento.

Os vários trabalhos científicos já publicados, revelam-nos a presença de diversas espécies cavernícolas recolhidas nas diferentes grutas, das quais se destaca a presença, na Gruta do Esqueleto, de um insecto só conhecido, até então, em grutas da Crimeia.

Abaixo, apresento as principais cavidades existentes no concelho, algumas das suas características e motivo de interesse.


Designação Localização Dimensões Motivo de interesse
Gruta do Pico da Cruz Pico da Pedra 100m Científico
Turístico
Didáctico
Desportivo
Gruta das Escadinhas Ribeirinha 31m Científico
Turístico
Didáctico
Desportivo
Gruta da Quinta Irene Ribeirinha 62 m Científico
Turístico
Didáctico
Desportivo
Gruta do Esqueleto 188 m Científico
Desportivo
Algar da Ribeirinha Ribeirinha 54 m/ 5,5 m Científico
Turístico
Didáctico
Desportivo
Algar do Pico Queimado Santa Bárbara 10 m/ 37 m Científico
Turístico
Desportivo


Ladeira da Velha

Local aprazível, com importância histórica, a Ladeira da Velha está integrada no Biótopo do Programa Corine “Ponta do Cintrão” que compreende uma estreita faixa litoral com 176 hectares que vai desde o bairro de Santa Luzia, na Ribeira Grande, até à Ponta Formosa, no Porto Formoso. Foi integrada no Projecto Corine devido ao seu interesse botânico e à presença de espécies raras e endémicas.

Já foi local de “banhos” devido às propriedades medicinais das suas águas, tendo existido uma pequena estância termal, hoje em ruínas. De acordo com Medeiros (1964), a sua água “carbogasosa, acídula fria hipotermal (30,4º), não fluroteada e com pH 5,3” que foi usada como água de mesa era usada no tratamento de doenças da pele.

Hoje, percorrido habitualmente durante os passeios pedestres organizados pelos Amigos dos Açores, o trilho que dá acesso à Ladeira da Velha merecia ser recuperado e o percurso integrado nos trilhos pedestres que estão disponíveis para o turismo. Numa fase posterior, porque não a recuperação dos antigos balneários ?


Lagoa de São Brás

Implantada numa cratera com um diâmetro de 600 m, a lagoa de São Brás ocupa uma área de 0,06 km2.

Na zona envolvente à lagoa é possível encontrar alguns elementos da vegetação natural dos Açores, como: a faia (Myrica faya), o feto do cabelinho (Culcita macrocarpa), oazevinho (Ilex perado ssp.azorica), o folhado (Viburnum tinus ssp. subcordatum), a uva-da-serra (Vaccinium cylindraceum), a malfurada (Hypericum foliosum), o tamujo (Myrsine africana) e o trovisco macho (Euphobia stygiana).

Na lagoa existe o achigã (Micropterus salmoides) e a ruivaca (Rutilus macrolepidotus) bem como a rã (Rana perezi) e o tritão de crista (Triturus cristatus carnifex).

É importante a sinalização do trilho que liga o Monte Escuro à Lagoa e a tomada de medidas para evitar que a eutrofização não a transforme num pântano. Perderiam os turistas um motivo de interesse e perderíamos todos nós um património natural de valor incalculável e um recurso ímpar para a educação ambiental.

(Publicado no Açoriano Oriental, 23 de Novembro de 2001)

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