quinta-feira, agosto 16, 2007

Participação e Educação Ambiental


“Nenhum problema pode ser resolvido pela mesma consciência que o criou”
Albert Einstein

No passado mês de Novembro realizou-se, no Museu da Água, em Lisboa, o 12º Encontro Nacional das Associações de Defesa do Ambiente, subordinado ao tema Movimento Ambientalista, passado, presente e futuro.

Na sessão de abertura, a Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente reivindicou uma maior transparência, por parte do Estado, através do fornecimento de informação, em tempo real, aos cidadãos, permitindo a participação destes nos processos de tomada de decisão. Com efeito, hoje é inadmissível o convite às associações para se pronunciarem sobre documentos diversos quando estes são distribuídos na própria reunião e não com a antecedência necessária para permitir o seu estudo.

Outra das questões que foi debatida está relacionada com o facto de, apesar das associações serem cada vez mais chamadas a participar, os seus pareceres e propostas não serem tomados em consideração aquando das tomadas de decisão.

De igual modo, foi constatado que, para conquistar uma franja crescente do eleitorado sensível a questões ambientais, os partidos políticos incorporam no seu discurso questões do ambiente mas são inconsequentes, isto é, conquistado o poder “optam invariavelmente pelos interesses económicos de curto prazo, em detrimento de políticas de sustentabilidade”.

Para inverter a situação actual, fazendo com que os políticos pelo menos cumpram o prometido em campanhas eleitorais e com que os cidadãos participem mais nos debates em torno das questões ambientais e exijam mais dos órgãos de poder, penalizando eleitoralmente os não cumpridores, é urgente implementar uma verdadeira educação ambiental a todos os níveis etários, permitindo inserir nos processos educativos temas que discutam e promovam a
melhoria do ambiente e da qualidade de vida.

A finalidade da Educação Ambiental é, segundo a Carta de Belgrado, de 1975,
desenvolver um cidadão consciente do ambiente total, preocupado com os
problemas associados a esse ambiente, e que tenha o conhecimento, atitudes,
motivações, envolvimento e habilidades para trabalhar individual e
colectivamente em busca de soluções para resolver os problemas actuais e
prevenir os futuros. Havendo unanimidade quanto à finalidade e aceite por todos como indispensável, a questão coloca-se acerca do tipo de Educação Ambiental que será capaz de fomentar uma mudança de valores e de comportamentos.

De acordo com alguns autores a Educação Ambiental pode ser abordada segundo o ponto de vista arcaísta, catastrofista e holístico. Vejamos, em síntese, cada um deles:

1-na abordagem arcaísta é defendido que só o retorno aos valores e práticas características dos povos e culturas tradicionais, também chamados primitivos, pode trazer de volta a harmonia entre sociedade e natureza.

2-na abordagem catastrofista, os estudos ecológicos e as suas projecções catastróficas são usados como motivação para alterar os comportamentos.

3-para a abordagem holística, a vida, em qualquer das suas formas, apresenta valores intrínsecos independentes do utilitarismo, o que leva a uma quase adoração do mundo natural. É neste contexto que muitas vezes é defendido o contacto directo, ou o retorno à natureza.


Sendo física e socialmente impossível o retorno ao passado que nos é proposto por duas das abordagens anteriores e sendo pedagogicamente ineficaz a abordagem catastrofista, alguns autores defendem que está no estudo do passado “a chave para possibilitar a discussão sobre os valores que nos trouxeram até onde nos encontramos, abrindo espaço para a discussão
de novas escolhas tão necessárias”.

Por último, ainda segundo os mesmos autores, o educador ambiental teria a “responsabilidade de construir novas narrativas históricas, locais, regionais, nacionais e globais, de modo que o estudante receba ferramentas para analisar a crise ecológica moderna como um fruto de uma história da qual não tem como fugir, mas cuja análise pode conter pistas, as respostas ou
até mesmo soluções para os problemas tão graves que nos afligem”.
(Publicado no Açoriano Oriental, 20 de dezembro de 2001)

Sem comentários: