sexta-feira, agosto 17, 2007




Plantas Medicinais e Educação Ambiental


É por demais conhecida, por um lado, a importância das plantas medicinais para a saúde humana e, por outro lado, a preocupante situação em que se encontram a nível mundial. A este respeito, em 1988, na Declaração de Chiang Mai, a Organização Mundial de Saúde chamava a atenção das Nações Unidas para a crescente e inaceitável perda destas plantas devido à destruição do seu habitat e às práticas insustentáveis de recolha.

Entre nós, os primeiros povoadores terão trazido consigo o conhecimento empírico e a grande maioria das plantas usadas na medicina popular. A prova está no que escreveu Gaspar Frutuoso a este propósito. Assim, referindo-se à ilha de Santa Maria, Frutuoso menciona “um João Vaz Melão, que se chamava das Virtudes, pela com que curava, natural de Viseu, donde veio à ilha logo no princípio, depois de ser achada... onde tinha muita fazenda e uma grande casa que lhe não servia mais do que dos enfermos que de muita parte o buscavam, os quais ele curava, por amor de deus, só com ervas e azeite, sem mais outra mezinha”. Do mesmo modo, ao descrever a fertilidade da ilha Terceira, Frutuoso relata a existência de “muito mel e bom pasto para ele, como é alecrim, rosmaninho, erva ursa, ou timo, queiró, poejos, cubres e muitas flores de árvores diversas, muito género de ervas, de que usam os boticários”.

As plantas medicinais poderão ser utilizadas como instrumento facilitador no processo de educação ambiental. Por outro lado, o trabalho com as plantas medicinais, por parte de todos os agentes educativos, a ser implementado, deverá contribuir para a valorização da cultura popular e para a conservação das plantas medicinais e dos conhecimentos que se têm sobre cada uma delas.

Neste texto, pretendo apenas apresentar algumas sugestões de actividades que podem ser feitas nas escolas, usando as plantas medicinais como recurso.

Em primeiro lugar, o estudo das plantas medicinais poderá oferecer uma oportunidade para interligar conhecimentos de várias disciplinas. A título de exemplo, refira-se que é possível explorar conteúdos da química (composição, produção de misturas, etc.), da biologia (fisiologia vegetal, saúde, habitats, etc.), da educação visual (desenho das plantas), da geografia (origem geográfica e diversidade das plantas), da história (o cultivo das plantas ao longo dos tempos), etc. Com a revisão curricular em curso, nas nossas escolas, o estudo das plantas usadas na medicina popular poderá ser um bom tema a tratar na Área de Projecto.

No que diz respeito à Educação Ambiental, a montagem de um herbário com as plantas medicinais usadas numa dada localidade é uma actividade que poderá entusiasmar os alunos. Ligada à montagem do herbário está sempre subjacente uma visita de estudo para a colecta das plantas, uma pesquisa sobre as designações comuns de cada uma delas, os seus nomes científicos, as exigências em termos de solos e água, os fins a que se destinam, as partes que devem ser utilizadas, eventuais contra indicações e perigos no seu uso e outras utilizações das plantas na região. A procura de informações sobre as diversas plantas não se deve limitar à pesquisa bibliográfica ou ao recurso à internet, é muito importante que se façam entrevistas a pessoas, sobretudo as mais idosas, que conheçam e/ou usem as plantas no seu dia a dia.

Outra actividade que poderá contribuir para a educação dos jovens alunos, para além de contribuir para a ocupação saudável dos seus tempos livres, é a criação de um pequeno jardim de plantas medicinais. Para a sua implementação, tudo o que foi dito sobre a criação do herbário pode, aqui, ser posto em prática.

Por último, toda a experiência acumulada por cada escola poderá ser alvo de divulgação, quer através da edição de uma pequena brochura, quer na produção de um vídeo ou de um CD. Para além de constituir um prémio para os alunos, que têm a possibilidade de ver o seu trabalho reconhecido e difundido, poderá ser um instrumento encorajador e facilitador do trabalho de outras escolas.

Bibliografia:
MARCATTO, C., (s/d), Utilização de Plantas Medicinais em Educação Ambiental (polic.)

(Publicado no Açoriano Oriental, 30 de Janeiro de 2002)

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