terça-feira, julho 31, 2007

Dia Mundial da Floresta- A Floresta Primitiva dos Açores


Não tendo em conta líquenes musgos, nos Açores existem cerca de 960 espécies de plantas naturalizadas (Le Grand, 1985). Destas, cercas de 280 são autóctones, sendo as restantes introduzidas, voluntariamente ou não, desde o povoamento do arquipélago no séc. XV. Do conjunto de plantas autóctones destacam-se 63 espécies endémicas, isto é, que não existem sob a forma espontânea noutra parte do globo (Dias, 1987).

Outrora coberta por frondosa e verdejante vegetação, desde a beira-mar ao cume dos montes hoje apenas 10% da superfície das nove ilhas constituintes do arquipélago dos Açores está revestida de florestas e só 1% de vegetação natural (Le Grannd. 1984).

Em Julho de 1988, em entrevista concedida ao jornal “O TELÉGRAFO” da cidade da Horta, o botânico sueco Erik Sjogren afirmava: “É terrível o ritmo da evolução do desaparecimento da floresta primitiva nos Açores que desde a minha primeira vista, por volta de 1960 teve uma diminuição da ordem dos 25%”.

A situação da flora indígena é deveras dramática já que aquela tendência não parece abrandar, encontrando-se de algum modo, ameaçadas de extinção 26 das 55 espécies vasculares endémica (Furtado 1984).

A DESTRUIÇÃO DO COBERTO FLORESTAL PRIMITIVO

Os primeiros povoadores encontraram estas ilhas totalmente cobertas de árvores e arbustos de tal modo que tiveram de fazer grandes queimadas com o objectivo de abrir clareiras para se instalarem e para a introdução de culturas e gados.

A vegetação primitiva também sofreu danos de vulto com as erupções vulcânicas que ocorreram nestas ilhas. Gaspar Frutuoso fala de “picos limpos e esburgados de todo o arvoredo”.

De 1500 a meados do séc. XIX, a agricultura desenvolveu-se e assistiu-se às crises que levaram ao desaparecimento de várias culturais industriais.

A procura da lenha após o povoamento foi tão intensa que no século XVI “as ordenações do reino, passam a fazer sentir-se mais de perto, levando os municípios a mandar plantar árvores nos baldios e em todos os lugares para isso igualmente convenientes, ao mesmo tempo que lhe impõe a obrigação de as mandar defender e guardar”.

Com a exportação de laranja para a Inglaterra, sobretudo a partir de 1747, a economia atinge o seu auge e, simultaneamente, divido à cessação de importação de madeira do Continente para fazer as embalagens daquele fruto, foram derrubadas grandes áreas de arvoredo (Moreira, 1987).

Se até 1800/1850 uma parte significativa das zonas de altitude permanecia ainda selvagem, por volta de 1890 começa a grande procura de madeira para o fabrico de embalagens para os frutos exportados, sobretudo do ananás. Por esta altura, a desflorestação ronda os 250 ha/ano e assistiu-se à introdução de espécies exóticas em grande escala, como o pinheiro, a criptoméria e a acácia. A utilização de leivas para a cultura do ananás, em S.Miguel, tem provocado alterações e desequilíbrios na paisagem e a destruição da flora característica de grandes altitudes.

Com a intensificação, a partir de meados deste século, da pecuária poucos são os recantos que ainda não foram atingidos, para tal basta que a máquina chegue e com a plantação da criptoméria, muitas vezes em locais sem viabilidade de exploração e já abandonados, a floresta primitiva está a diminuir consideravelmente e aumenta o risco de extinção de algumas espécies suas constituintes.

Regista-se ainda o facto de algumas espécies introduzidas com fins ornamentais, como a conteira, o gigante, a cletra, a lantana, etc… terem-se tornado infestantes e trazido problemas graves para as áreas naturais.

A IMPORTÂNCIA DA FLORESTA PRIMITIVA E DE ALGUMAS DAS ESPÉCIES SUAS CONSTITUINTES


A floresta primitiva desempenha um papel fundamental na regularização dos caudais das principais linhas de água. A sua destruição provoca alterações no meio, criando um tipo de vegetação mais exigente em água, à base de musgão (Sphagnum). O que modifica os fluxos hídricos, tornando-os mais irregulares (Le Grand. 1982). A sua substituição por prados tem provocado o aparecimento de afloramentos rochosos, a grandes altitudes. De registar que alguns já se encontram abandonados e cobertos por silvado.

De uma riqueza floristica bastante grande, pela sua originalidade já é um dos atractivos para um turismo de qualidade que se pretende para estas ilhas, pela sua riqueza em endemismos a floresta primitiva apresenta grande interesse do ponto de vista científico. Segundo Erik Sjogren: “a flora e a vegetação dos Açores oferecem excelentes facilidades para os estudos no campo da taxonomia, geografia, sociologia, ecologia, genética das plantas bem como para a história da vegetação”.


A importância económica e médica da nossa flora só poderá ser avaliada pelas gerações vindouras. Com efeitos, é cada vez mais frequente a utilização de plantas indígenas no combate às doenças à má nutrição. Recordo que algumas plantas indígenas são ou já foram utilizadas medicinalmente.

A floresta primitiva, desde o povoamento, forneceu matérias-primas e energia para quem aqui passou a residir. Foram os ramos de cedros-do-mato, azevinhos, paus-brancos, tamujos, urzes e queirós que iluminaram as noites dos primeiros povoadores. Foi a partir da baga de louro que foi extraído o primeiro óleo de origem vegetal utilizado nos Açores. O Dr. Francisco Carreiro da Costa diz-nos que aquele era muito apreciado e por isso resultavam grandes danos nas matas particulares e matos dos concelhos.

Termino, apresentando alguns exemplos de espécies de flora autóctone utilizadas para os mais diversos fins:
- A faia-da-terra é usada em sebes e dela chegou a produzir-se um carvão medicinal utilizado como “absorvente de gases do estômago e intestinos”. Também era utilizada em tinturaria para a preparação de uma coloração amarela.

- O cedro-do-mato foi utilizado pelos antigos na construção de igrejas, conventos e barcos, era empregue em tinturaria para a obtenção do cinzento-escuro e avermelhado. Trata-se da mais nobre essência dos bosques do arquipélago.
- O óleo da baga de louro para além de ser usado na iluminação era excelente remédio para a cura das feridas do gado e, com a sua madeira, leve e resistente, faziam-se charruas e cangas para as juntas de bois.
- A urze era usada em tinturaria para a obtenção do verde e no fabrico das vassouras.
- A madeira do folhado era usada no fabrico de alfaias agrícolas e a do pau- branco era muito procurada para a construção de carros.
- A madeira de azevinho, sanguinho e gingeira-do-mato era muito utilizada em obras de marcenaria.
- O fruto da camarinha era utilizado no Pico e os da uveira-da-serra (romania) são muito agradáveis sobretudo em compota.Da baga da uveira da Madeira (espécie muito semelhante à nossa) produz-se uma compota que segundo a tradição é bom remédio para a tosse e o catarro. Também nos últimos anos aquela baga foi exportada para um laboratório em França para o fabrico de um medicamento oftalmológico (Quintal, 1989). Não terá a nossa idênticas propriedades?
- A murta planta apreciada pela fragrância das suas flores era utilizada para fins medicinais e de perfumaria. Chegou a ser exportada da Inglaterra onde as suas folhas eram usadas no curtimento de peles.


A PROTECÇÃO DO COBERTO FLORESTAL


A protecção do nosso património natural (incluindo a floresta primitiva) só se tornará eficaz quando na região for implementada uma efectiva politica de ambiente, intimamente ligada a um ordenamento territorial e à gestão racional dos recursos naturais.

A criação de Reservas Naturais se fosse acompanhada da rápida aprovação dos seus Regulamentos Gerais e da criação de redes de vigilância adequadas poderia contribuir para a protecção da flora in situ.

As associações de defesa do ambiente têm alertado a opinião pública e as entidades oficiais sobretudo através dos meios de comunicação social para a situação em que se encontra a floresta primitiva dos Açores. Por enquanto, não se prevê a sua participação nos Conselhos Gerais das áreas protegidas e o próprio direito de consulta consignado na lei nº 10/87 de 4 de Abril, tem-lhes por vezes sido negado.

Na ausência de conservação eficaz in situ, torna-se urgente a criação de jardins botânicos a fim de cultivar algumas das espécies mais ameaçadas.

Com o objectivo de salvaguardar algumas espécies da nossa flora e servir de instrumento de formação e informação para todos os que se dignem visitá-lo, em Janeiro de 1987 surgiu o projecto de Jardim de Flora Indígena dos Açores. Situado na freguesia do Pico da Pedra, em terreno pertencente à Casa do Povo local no nosso jardim encontram-se 25 espécies que se têm aclimatado bem. É a nossa intenção num futuro próximo realizar por algumas escolas acções de sensibilização e criar um viveiro como o objectivo de fornecer a todos os interessados exemplares da nossa flora autóctone.


BIBLIOGRAFIA


Boletim da Comissão Reguladora dos cereais do Arquipélago das Açores (Diversos).
DIAS Eduardo – “ Património Natural dos Açores um legado pelo qual somos responsáveis”, in A UNIÃO, 20 de Maio de 1987.
Furtado D., SJORGREN. E., LE GRAND. G. – “Pico da Vara uma zona de valor internacional a preservar”. Ponta Delgada, 1982.
Furtado D.S., “Status e distribuição das plantas vasculares endémicas dos Açores”. in
Arquipélago nº 5 Ponta Delgada, Julho de 1984
HANSEN, A. & SUNDING P., Flora of Macaronesia Checklist of vascular plants”, in Sommerfeltia. nº 1 Oslo. 1985.
LE GRAND, G., “Ornithologie et conservation aux Açores”, Universidade dos Açores, Ponta Delgada 1984
Lei das associações de defesa do ambiente (lei nº 10/87-D.R.I série nº 79 de 4/4/87).
MOREIRA, José Marques,“Alguns aspectos de intervenção humana na evolução da paisagem da ilha de S. Miguel (Açores)”. Serviço Nacional de Parques Reservas e Conservação da Natureza, Lisboa, 1987.
QUINTAL & CAIRES, Celso,“Madeira da floresta primitiva ao jardim Botânico actual”, Clube de Ecologia Barbusano, Esc. Sec. Francisco Franco, Funchal, 1989
SJOGREN, E., “Flores”. Direcção de Turismo. Horta, 1985

(Publicado no “Açoriano Oriental”, 21 de Março de 1990)
AVES MARINHAS

Nos Açores nidificam oito espécies de aves marinhas, quase todas têm populações importantes no contexto internacional. Seis destas espécies estão classificadas como ameaçadas no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal e estão inscritas no Anexo I da Directiva 79/408/CEE “Aves Selvagens”.

A alma negra (Bulweria bulwerii) nidificava em pequenos ilhéus de Santa Maria e Graciosa. Le Grand (1984) refere a existência de uma pequena população na Graciosa.

O painho da madeira (Oceanodroma castro) ou alma de mestre, é provável que nidifique em S. Maria e em 1984 nidificava na Graciosa (Le Grand, 1984).

O estapagado ou frulho (Puffinus puffinus) segundo Azevedo (1992) “muito abundante na altura dos primeiros povoamentos, estava praticamente extinto em meados do século XVI, mantendo esse estatuto até à actualidade… A nidificação em covas abertas no solo, feitas sobretudo nos ilhéus mas também em terrenos de pastagem, tornava os estapagados presas fáceis quer para o homem quer para outros predadores, como os porcos. Atraídos à noite por fogueiras e mortos à paulada, “enchendo assim sacos deles”, eram caçados, tal como as cagarras, pelo óleo e pelas penas, servindo ainda como alimento. Chegaram, “em anos de fome”, a ser exportados secos para S. Miguel. Hoje, desconhece-se o seu estatuto, apenas conhecem-se dois registos de nidificação nas Flores em 1865 e no Corvo em 1929, onde possivelmente ainda nidifica…

O Pintainho (Puffinus assimilis) nidificava, de acordo com Le Grand (1984), em S. Maria e Graciosa em muito pequenas populações.
Os garajaus são duas espécies que em Abril migram da costa ocidental da África para os Açores onde nidificam. Ambas as espécies nidificam em colónias, situadas em praias rochosas sob falésias e em pequenos ilhéus sobretudo nas ilhas de Flores. As colónias têm normalmente 30 a 70 casais. A nidificação começa habitualmente no fim de Abril e prolonga-se até ao fim de Julho.

Em 1989 existiam nos Açores 4015 casais de garajau comum (Sterna hirundo) e 992 casais de garajau rosado (Sterna dougallii), sendo as ilhas de Flores, s. Maria e Graciosa as mais importantes para esta espécie com 80% da população dos Açores…

Entre 1989 e 1991 a população de garajau rosado manteve-se estável, com cerca de 1000 casais, isto é mais de 60% do total da população europeia. Em 1992 a população de Garajau rosado diminui para 750 casais e em 1993 para cerca de 380.

Existem vários problemas de conservação, sendo a perturbação pelo homem a maior ameaça para os garajaus dos Açores.

O cagarro (Calonectris diomedea) é uma ave marinha perfeitamente adaptada à vida no alto mar. Após alguns meses nos mares do hemisfério Sul, em Março os cagarros regressam e iniciam visitas nocturnas às colónias, situadas em ilhéus, falésias e arribas costeiras, dando assim o início ao período reprodutor de oito meses. No final de Outubro os jovens são abandonados, nos ninhos pelos adultos. Movidos pela fome, lançam-se ao mar para uma vida longa de mais de 40 anos.

Os Açores são, em todo o mundo, a zona mais importante para o cagarro. A sua população sofreu uma enorme regressão histórica sobretudo devido à pressão sobre o litoral.

A população de gaivota (Larus cachinnans atlantis) é mal conhecida mas admite-se que possa estar em expansão.

T. Braga (AMIGOS DOS AÇORES)

(Publicado no Suplemento de Turismo e Ambiente, Correio dos Açores, 24 de Agosto de 1997)
Educação Ambiental e Associativismo



A educação ambiental, que aparece como resposta aos problemas da biosfera, não se limita a fornecer aos indivíduos mais informação e formação, ensina-lhes, também, a utilizar judiciosamente o ambiente. De acordo com as recomendações da Conferência de Tbilisi, realizada na ex-URSS, em Outubro de 1977, o princípio geral da educação ambiental é:
“Fazer compreender às pessoas e às comunidades a natureza complexa resultante dos factores físicos, biológicos, sociais, económicos e culturais do ambiente natural e urbano e dar a estas pessoas ou comunidades a oportunidade de adquirir os conhecimentos, os valores, as atitudes e as aptidões práticas que lhes permitam ajudar de uma maneira responsável e eficaz a prever e resolver os problemas ecológicos e gerir a qualidade do ambiente.”

O modo como tem sido concretizado entre nós, ao longo dos anos, várias actividades de educação ambiental, sem qualquer fio condutor, tão só para marcar a simples presença em comemorações dos mais diversos dias mundiais, deixa muito a desejar. Com efeito, as diversas acções, para além de não contribuírem para “suscitar uma consciência social que possa gerar atitudes capazes de afectar comportamentos” são, muitas vezes, uma fonte de frustração e de desperdício de recursos financeiros.

Para a implementação da educação ambiental é necessário reflectir sobre como integrá-la nos currículos escolares a todos os níveis de ensino, como deverá ser feita a formação dos professores, como e quem a fará na sua vertente não formal, quais os recursos necessários, que metodologias deverão ser usadas, etc. Em suma, mais do que demonstrar alguma boa vontade, é importante, com urgência, elaborar uma Estratégia Regional de Educação Ambiental, tendo por base, entre outras, a Estratégia Internacional de Acção em Matéria de Educação e Formação Ambiental, adoptada pela UNESCO e PNUA por ocasião do Congresso Internacional sobre Educação e Formação Ambiental, realizado em 1987 na cidade de Moscovo.
Outra preocupação que devemos ter, enquanto arquipélago, é a de evitar que nesta área, tal como em muitas outras, seja o peso eleitoral/partidário de determinadas ilhas, ou a simples localização geográfica das Secretarias, a determinar a localização dos Departamentos ou a realização dos eventos. Assim, corremos o risco de que a educação ambiental não chegue á maior parte da população alvo.

As acções de educação ambiental não deverão ser exclusivas das diversas entidades governamentais. As associações de defesa do ambiente poderão desempenhar um papel de relevo nesta matéria, cabendo ao estado apoiá-lo tal com o que está previsto no artigo 9º da Lei nº 10/87, de 4 de Abril.

Dadas as especificidades da nossa região mais do que criar órgãos de consulta, onde eventualmente terão assento organizações que apenas existem formalmente, isto é, sem qualquer vida interna e sem trabalho continuado junto das populações, é prioritária a criação de legislação regional que incentive o associativismo, tornando-o mais forte e representativo. Mas, pior do que ficarmos pela criação de órgãos de cúpula, pela organização ou promoção de encontros onde se fala um pouco de tudo para não se levar nada à prática, é cair na tentação juntar uns rapazes com ambição, de preferência com alguns conhecimentos de uma dada disciplina das chamadas cientificas e com eles fabricar ambientalistas. São capazes de serem úteis nas operações de marketing dos partidos políticos, mas deles a sociedade nada pode esperar.

(Publicado no Açoriano Oriental, 7 de Maio de 1998)

sábado, julho 28, 2007

CAÇA À BALEIA

ALGUNS DADOS HISTÓRICOS



Datados de 10.000 a.C., foram encontrados na costa portuguesa enormes arpões de pedra, com a mesma configuração dos actuais que só poderiam ter sido utilizados na captura de cetáceos. Ossadas de baleia, de 1500 a.C., encontradas nos restos das fundações originais do Alasca mostraram que os esquimós apanhavam cetáceos desde aquela data.

Os povos primitivos aproveitavam, sobretudo, os cetáceos que encalhavam. Foi a partir do século XII com os bascos que teve início a caça organizada. Por essa altura, a diminuição do número de baleias francas no golfo da Biscaia levou-os a procurá-las mar adentro, tendo chegado à Gronelândia e Terra Nova no século XVI.

A baleação portuguesa ter-se-á iniciado no século XIV. No que diz respeito aos Açores, Gaspar Frutuoso refere o aparecimento de baleias no século XVI, nas costas da ilha de S. Miguel, do seguinte modo: «saem à costa d’esta ilha, algumas vezes, baleias, mais da banda do Norte que do Sul, principalmente na costa do lugar de Rabo de Peixe, onde se acham muitas favas do mar, que dizem ser-lhe agradável e natural manjar e, posto que muitas saíssem somente se aproveita o azeite delas, sem nunca se achar âmbar». Outras referências ao encalhamento de cetáceos podemos encontrar nas Saudades da Terra, contudo a seguinte, dizendo respeito a S. Maria, é deveras interessante: «onde esta ribeira se mete no mar saiu à costa uma baleia, haverá perto de 50 anos, de cujos ossos que se pudera fazer uma cabana, em que puderam caber uma dúzia de homens, assentados à vontade».

Por altura de 1602 as técnicas de caçar baleias usadas pelos bascos são introduzidas e utilizadas no Brasil, iniciando-se o chamado ciclo baleeiro do Brasil colonial. A partir de 1614, a caça no Brasil passa a ser controlada directamente pelo reino de Portugal.

Por volta de 1644 começa a caça organizada na Nova Inglaterra, utilizando o método de empurrar os animais para a praia. Só em 1712 é morto o primeiro cachalote ao largo dos Estados Unidos. No ano de 1729 regista-se o invento, pelo Dr. Thiercelim, do sistema de «bomb-lance».

Em 1750 começa a caça em Newport e Rhode Island, por iniciativa do judeu português Aaron Lopes e onze anos depois, faz-se ao mar, nos Estados Unidos o primeiro navio com a capacidade de derreter a gordura a bordo.

Em 1765 os Norte-Americanos já caçam no Açores e em Cabo Verde e, em 1744, já chegavam ao Brasil.

Segundo capitães ingleses, as suas embarcações, em 1767, colheram nos mares dos Açores cerca de 10.000 barris de óleo. Um ofício dirigido por D. Antão de Almada ao ministro Francisco Xavier de Mendonça Furtado, datado de 19 de Julho de 1768, refere a presença nos Açores, no verão daquele ano, cerca de 200 embarcações da Nova Inglaterra que conseguiram um rendimento no valor de 800 contos, o que naquela altura era quantia bastante avultada, de tal modo que o referido capitão defendia que com eles fosse celebrado um contrato. Por esta altura, já um pequeno número de açorianos se dedicava à caça à baleia, com o objectivo de utilizar o óleo na iluminação de suas casas.

Em 1784, Dinis Gregório Meio Castro suplica à Rainha para adoptar medidas no sentido de impedir a concorrência feita pelos estrangeiros aos povos locais. Não obteve resposta.

A situação dos açorianos era deveras caricata: tendo possibilidade de se bastarem a si próprios com o óleo de suas baleias este saída para Inglaterra, sendo eles, por sua vez obrigados a comprá-lo mais caro a negociantes locais que o importavam. Um deles, Nicolau Maria Raposo que o importava do Brasil e que era detentor no monopólio da sua venda nas ilhas foi, em 1788, obrigado, devido à proibição de o vender mais caro então imposta pela Câmara, a vender o óleo que lhe havia custado 59.955 réis a pipa por 48.000 réis.

Para proteger a indústria inglesa, o governo português criara o «exclusivo contrato das baleias, para não se fazerem armações sedentárias em qualquer parte dos domínios». Essa medida foi anulada pelo alvará de 18 de Maio de 1798.

Um dos países que mais contribuiu para o aperfeiçoamento das técnicas da caça à baleia foi a Noruega. Em 1851, Svend Foyon, sem dúvida o pioneiro da caça e das indústrias da baleia, inventa espingardas que mais tarde foram utilizadas na captura de cetáceos e, em 1867, inventa um canhão muito semelhante ao utilizado actualmente. Outro norueguês, Christofersen, inventou em 1870, um guincho simples e, em 1894 um guincho duplo e uma mola em espiral.

A primeira sociedade para explorar a caça à baleia é constituída no Faial, em Fevereiro de 1857. Foi armado em baleeira o brigue Francês-Astória. Três anos mais tarde, a praça da Horta já possuía 10 baleeiras. Nas Flores, já existia pelo menos uma companhia baleeira em 1860.

Finalmente, no ano de 1862, a 26 de Maio, é publicada uma lei com o objectivo de proteger a indústria nacional de pesca da baleia.

Na Calheta do Nesquim, ilha do Pico, foi fundada a primeira armação baleeira cujo bote e seus apetrechos foram adquiridos na América pelo Capitão Anselmo. Esta terá sido a primeira companhia com botes estabelecidos na ilha, regularmente estruturada e com escritura lavrada na Horta a 28 de Abril de 1876.

A lei de 10 de Abril de 1877 vem prorrogar por dez anos as disposições da carta de lei de 1862 e amplia as garantias dadas à indústria baleeira. Nove anos depois, é publicada uma portaria do Ministério da Fazenda, de 14 de Abril, que regula a execução do artigo 5º da lei de 26 de Maio de 1862.

No ano de 1885, chegaram a S. Miguel, provenientes do Faial, duas embarcações destinadas a dar inicio à actividade naquela ilha. No ano seguinte, caça-se à baleia nos quatros portos da costa norte de S. Miguel e em Vila Franca do campo.

Segundo Afonso Chaves, em 1888, estavam em actividade nos açores 86 canoas que capturavam por ano em média, 3 cachalotes cada uma.

Em 1894, terá sido construída a primeira canoa baleeira nos Açores e, a partir de 1900, todas as canoas passam a ser construídas cá.

No ano de 1917, a faina atinge o apogeu como consequência da guerra e do constante aumento dos derivados do cachalote.

Com a paz, a mão-de-obra a escassear face à quebra do preço do óleo e à possibilidade de arranjar empregos mais estáveis, menos perigosos e melhor remunerados. A industria no distrito da Horta passa por uma situação menos boa, de modo que, em 1938, a rivalidade devido à utilização dos «gasolinas» e atraso no pagamento das soldadas, faz com que seja pedida a intervenção do Estado.

Em S. Miguel, no ano de 1936, exploram a actividade três companhias, uma na Bretanha e duas nas Capelas. Em S.Vicente Ferreira, freguesia vizinha das Capelas, dois anos antes havia sido construída uma fábrica, no lugar dos Poços.

Na década de 40 baleeiras das Lajes do Pico vieram balear para São Miguel. Manuel Moniz Barreto e José de Brum balearam na Bretanha e Manuel Pereira Monteiro Júnior estiveram a balear nas Capelas.

Com a 2º guerra Mundial novo impulso surge e a actividade atinge o auge. A guerra, constituindo um impedimento para o desenvolvimento da industria, em muitos países as frotas baleeiras ficaram ancoradas nos seus portos e muitos barcos foram transformados para fins militares fez com que o nosso óleo tivesse uma procura que jamais conheceu. Durante este período, o número de embarcações aumenta, as capturas também de modo que chegam a representar 12.3% no conjunto das capturas mundiais. A proliferação de armações era tal que o governo viu-se obrigado a proibir a implantação de outras onde já existisse alguma. Construída a fábrica de Porto Pim, generaliza-se o reboque por lanchas, chegam os primeiros aparelhos de rádio, etc.

O ano de 1941 marca o início da actividade baleeira na ilha da Madeira. Em 1944, por iniciativa de 17 países, é criada a Comissão Baleeira Internacional (CBI).

Na década de 60, a montagem de fábricas de conserva de peixe, o incremento da pecuária, a emigração e as alternativas criadas pela industria ao óleo da baleia, trazem dificuldades ao seu escoamento e muitas companhias fecharam.

Em 1974, existiam nos Açores apenas 13 baleeiras e 15 lanchas pertencentes a oito sociedades.

Em 1981, a directiva europeia (348/81) proíbe a importação de todos os produtos derivados de cetáceos no espaço económico da Comunidade Económica Europeia.

Em Julho de 82, reunidos em Brigton Inglaterra, representantes de 39 países decidem proibir a caça à baleia a partir de 1985. Portugal ratifica a Convenção sobre o Comeércio Internacional das Espécies de Fauna e de Flora Ameaçadas de extinção, que inclui o cachalote no anexo I – comercio estritamente proibido.

Em Agosto de 84, ano em que foram capturadas 63 cetáceos, as armações baleeiras de Pico e Faial possuíam em «stock» 452 toneladas de óleo de cachalote. No primeiro semestre daquele ano, graças a um subsídio de 6$00 por kg, atribuído pelo Governo Regional, foram comercializadas 648 toneladas. Apenas a firma «Armações Baleeiras Reunidas», em S. Roque do Pico, continua a laborar. Em Outubro do mesmo ano, a «corretora» divulga a intenção de voltar à actividade, com base em S. Miguel, onde possui a fábrica nos Poços, fechada desde 1972.

O jornal «Correio dos Açores», de 7 de Julho do presente ano, noticia a existência de um projecto financiado pela Comunidade Europeia através das «Organizações Europeias para a Protecção Animal» que poderá atingir as 55.110 libras e que tem como objectivos investigar a possibilidade de observação das baleias o que poderá representar o nascimento de uma nova industria turística» e seria uma alternativa económica à sua caça.

Fernando Wallenstein Teixeira, segundo o Açoreano Oriental, de 13 de Agosto, está a desenvolver esforços no sentido de reiniciar a caça nas Capelas, tendo-se mostrado optimista quanto à concretização daquele seu objectivo.

Finalmente a 21 de Agosto, depois de 3 anos de interregno, pescadores das Lajes do Pico caçaram um cachalote de 20 toneladas e 15 metros de comprimento, a cerca de 15 milhas da costa.

Teófilo Braga (membro dos Amigos da Terra / Açores)

(Publicado no “Correio dos Açores”, de 23 de Setembro de 1987)

quarta-feira, julho 25, 2007

GEOTERMIA, QUEM APEDREJOU?


“Natalino Viveiros disse a Vasco Garcia, “as medidas tomadas para a reparação da área e diminuição da poluição da água”, numa atitude que o deputado considerou “que é de apoiar e louvar, pois é um assumir de responsabilidades, quando toda gente só pensa em atirar pedradas” (1)

1ª Pedrada

No passado dia 21 de Setembro, em entrevista concedida à RTP, o responsável pela Divisão do Ambiente, para além de responder evasivamente às questões postas, deu a entender que aquele departamento governamental estava a “leste” dos trabalhos em curso naquele local.

1ªAlerta

Em comunicado de 26/9/88 intitulado “Leis sobre a defesa do ambiente devem ser respeitadas”, a associação ecológica AMIGOS DA TERRA/AÇORES chamava a atenção para o facto da degradação ambiental não constituir “uma consequência inevitável do desenvolvimento económico e social, desde que se encontrem modelos de desenvolvimento adaptados à nossa Região que respeitem os limitares de utilização dos recursos e optimizem a sua gestão” e chamava a atenção para o facto de “serem os próprios organismos ou empresas publicas regionais os principais infractores da legislação em vigor”, como era o caso dos trabalhos na Reserva da Lagoa do Fogo que violavam o Dec.Reg. nº 10/82/A de 8 de Junho. (2)

2ªAlerta

Em artigo de opinião (3), Maria Laura Furtado Lima, a propósito da entrevista atrás referida, afirma “Nem as perguntas do locutor nem as respostas do responsável pelo ambiente me pareceram muito claras, ambas enfermando de pouca informação (sublinhado meu) sobre o referido assunto. Uma coisa porém é certa. Onde há fumo o fogo anda próximo e antes que este ateie em labaredas incontroláveis é urgente que quantos vão estar implicados neste problema tenham o senso necessário para nada ser resolvido que ponha em perigo e comprometa a utilidade e a beleza impar da Lagoa do Fogo”. E termina, magistralmente: “Que o elevado índice pluviométrico destas ilhas não nos faça, uma vez mais, meter água…”.

Já estamos com ela pelo pescoço! E Inquinada!

2ª Pedrada

“…Cumpre-me informar V.Exª que esta Câmara Municipal desconhece o que se pretende realizar no local em apreço.” (4) (Carta do Presidente da Câmara da R.Grande)

Num regime democrático e que diz apoiar o poder local não percebemos como é que uma Câmara Municipal é mantida na ignorância acerca de obras realizadas no seu concelho e que envolvem grandes riscos, como as do Projecto Geotérmico…
Centralistas são só os outros!

3ª Alerta

A Câmara Municipal “solicita ao presidente do Governo Regional, as providências convenientes para evitar a desfiguração do ambiente na verdade norte da Lagoa do Fogo” (5)

4ª Alerta

Com um “coice linguístico” o Engº Fernando Monteiro em artigo publicado no Açoreano Oriental (6) alerta para o facto de tudo ter sido “executado à revelia, sem o mínimo cuidado em preservar a Natureza” e acrescenta “então o furo não poderia ter sido feito em vertical que não destruísse o aquífero dos matos do José do Canto; então essa obra da modernidade não poderia ter sido calculada com uma prévia carta de riscos nos seus múltiplos efluentes…”.

5º Alerta

Os AMIGOS DA TERRA chamam a atenção para o facto de, para além dos danos já causados à população do concelho da Ribeira Grande, estar a haver violação da lei, nomeadamente do art 5, alínea c) do D.R. nº10/82/A e o ponto 3 do art 30º da Lei de Bases do Ambiente. No seu comunicado aquela associação exige: a) a suspensão dos trabalhos; b) a realização de um estudo de impacto ambiental; c) a indemnização das populações afectadas a custas do consócio geotérmico, em respeito pelo principio do “popuidor-pagador”. (7)

3ª Pedrada

“A Divisão do Ambiente considera que o processo está a ser demasiado acelerado executado de uma forma anárquica por parte da empresa adjudicatária do empreendimento”. (8)

Que os faz correr tão depressa? Querem bater algum recorde Oímpico?

A propósito, porque não está no local um “placard” com o (s) nome (s) dos responsáve (l)is pela obra? Ou a obra é clandestina?

4ª Pedrada

“O Senhor Vereador António Pedro Costa esclareceu que é do seu conhecimento ter a geotermia solicitado à SRES o acompanhamento dos trabalhos, o que não foi feito…” (9)

Têm tanto que fazer…

5ª Pedrada

“O Senhor Engº Raposo, disse que a Divisão do Ambiente nunca teve conhecimento de qualquer pedido para o acompanhamento dos trabalhos a realizar” (10)
Não é a primeira vez…

A Opinião do Consórcio

O Consórcio geotérmico assumiu já o pagamento de todos os prejuízos e Américo Natalino Viveiros, principal responsável, referiu ao Açoreano Oriental (11) que “tem o compromisso moral de repor integralmente a paisagem local”.

Queria aplaudir mas, por agora, não posso (Estou a lembrar-me que a PEPOM também disse a mesma coisa…)

Não dúvido das palavras dos responsáveis pelo Consórcio. O que acho e que não é assim que se trabalha. É necessário planear, estudar e executar as obras de acordo com todas as normas exigidas (mesmo as da engenharia civil!), sempre no mais estrito respeito pelas leis. Ou será que estas são só para o ZÉ POVINHO?

6º Alerta

“O que se está a verificar na vertente da Lagoa do Fogo, em particular, a movimentação de terras, a desarborização, a modificação no declive das vertentes e obstrução do leito da ribeira, pode ter um impacto decisivo no ambiente provocando alterações nas formas” estas são algumas das afirmações de F.A.M.C. Pereira, em artigo publicado no passado dia 28 de Novembro. (12)

7º Alerta

“O laboratório de Ponta Delgada… escusa-se a prestar informações sobre as mesmas, incluindo à própria Câmara Municipal. Segundo consta, corta-se parte da entrevista concedida ao Presidente da Câmara Municipal na RTP. Segundo diz a população, a água que corre na Ribeira Grande contém produtos químicos próprios do funcionamento do equipamento do furo. Que produtos? Que efeitos terão os mesmos sobre quem bebeu dessa água antes do alerta geral? (13) (Vítor Borges da Ponte, advogado)

Ao não divulgar os resultados das análises, ao não alertar atempadamente as pessoas para os perigos que corriam ao beber a água inquinada os responsáveis estão a agir de má fé. Deviam ser chamados à responsabilidade.

6ª Pedrada

Afinal a culpa não é do Consórcio (são uns santos!), foram os geólogos americanos que fizeram o “estudo de avaliação da natureza geológica do terreno e informaram o que se passava com base nos dados por eles recolhidos e estudados” (14). Podemos ficar descansados, foram os malvados dos americanos que não contentes com terem trazido o escaravelho japonês para a Terceira, agora sujam-nos a água da Ribeira Grande!

O extrato citado anteriormente foi de uma entrevista dada pelo Prof. Doutor Vasco Garcia ao C. dos Açores. Através da sua leitura tomei conhecimento que a CEE (a árvore das patacas!) financiou o projecto em 150 mil contos. Sei, também, que a mesma CEE é exigente no que diz respeito à realização de estudos de impacto ambiental e que por vezes cortam as verbas quando aqueles não existem.
Conclusão

O folhetim parece-me que vai continuar, o agravamento das condições da água da Ribeira Grande é o indício.

Não somos contra o aproveitamento da energia geotérmica, o que não podemos admitir é que se chame à destruição progresso. “O progresso é a educação que torna a mente livre para perceber a diferença entre existir e sobreviver; o progresso é criação ou renovação de valores que desmistifiquem as falsas necessidades; o progresso é a descoberta e construção de sistemas que libertam o Homem da angustia do amanhã e lhe dêm espaço e tempo livre para ser pessoa; o progresso é a criação de condições interiores que permitam a percepção do significado da vida e tornem o coração do homem a morado do Amor, da beleza e da alegria.” (Júlio Roberto)

Por último, como estamos em vésperas de Natal, peço ao Menino Jesus que não me ponha nada no sapatinho mas que faça com que o furo geotérmico não se transforme num grande buraco!

(1) Correio dos Açores, 7/12/88
(2) Correio dos Açores, 1/10/88
(3) Correio dos Açores, 4/10/88
(4) Ofício nº 4377 de 8/11/88 da C.M.R.G.
(5) Açoreano Oriental, 17/11/88
(6) Açoreano Oriental, 26/11/88
(7) Correio dos Açores, 29/11/88
(8) Correio dos Açores, 29/11/88
(9) Correio dos Açores, 29/11/88
(10) Correio dos Açores, 29/11/88
(11) Açoreano Oriental, 29/11/88
(12) Açoreano Oriental, 30/11/88
(13) Correio dos Açores, 4/12/88
(14) Correio dos Açores, 7/12/88




José Soares
8/12/88
EM DEFESA DA ÁRVORE

TEIXO

O teixo (Taxus baccata), árvore ou subarbusto da família das taxáceas, será uma das espécies extintas da nossa flora natural.

Embora citado para as ilhas do Pico, Faial, e Corvo, todas as diligências por nós efectuadas no sentido de encontrar alguém que tivesse visto uma simples exemplar foram infrutíferas. O Dr. Eduardo Dias, da Universidade dos Açores, afirmou-nos que na “ilha Terceira, as probabilidades da espécie existir são praticamente nulas – não é conhecido qualquer espécime e nas minhas explorações exaustivas nesta ilha sobre a distribuição da flora endémica nunca pode encontrar esta espécie – passando-se o mesmo para as ilhas do Pico e Faial, restando apenas a esperança em algumas ravinas ditas inacessíveis das encostas N do Pico, e, botânicamente, pouco exploradas”. Nas Flores, contactamos os Serviços Agrícolas que nos informaram nunca terem observado aquela espécie, pelo menos nos últimos anos.

Espécie bastante procurada devido à sua madeira dura e resistente, susceptível de bonito polimento, o teixo foi tão explorado pelos primeiros voadores destas ilhas que já Gaspar Frutuoso falava no seu desaparecimento na ilha de S.Miguel: «… e alguns teixos, que já se vão acabando por serem muito prezados e buscados para deles fazerem ricas mesas e bordas delas, cadeiras e, fasquias para ricos escritórios, que com ele se guarnecem, e já agora se ajudam com outros teixos trazidos da ilha do Pico, onde há muitos…» (Saudades da Terra, livro IV, vol. II, pág. 121, 1981).

Planta que se distribui pelas regiões boreais temperadas no Norte da Europa, Norte de África, Ásia Menor, América do Norte, Japão, Coreia e Man chúria, o teixo, possivelmente, extinto nos Açores, possui uma área de distribuição no continente português reduzida a enclaves montanhosos no Norte e Centro. Espécie largamente cultivada em parques e jardins em todo o mundo, não poderia ser reintroduzida entre nós com fins ornamentais?

Teófilo Braga (membro dos AMIGOS DA TERRA/AÇORES )
(Publicado no Correio dos Açores, 5 de Abril de 1989)

segunda-feira, julho 23, 2007

Em Defesa do Património Espeleológico (2)

O Algar da Rua do Paim


Com mais de 200 metros, o alagar da Rua do Paim desenvolve-se na direcção Norte-Sul, aproximadamente e é, segundo cremos, a continuação do da rua de Lisboa. Actualmente, possui duas entradas: a de mais fácil acesso num terreno situado na rua já referida, propriedade do senhor Belchior, e outra, a Norte, no quintal da Sra. Margarida Machado.

Das grutas e algares já visitados, este é o Algar que se encontra em melhor estado e possui maiores dimensões, possuindo nas partes mais baixas estalactites bastante pequenas, mas muito belas.A feitura de diapositivos de vários aspectos deste Algar poderia constituir um bom auxiliar ás aulas de Ciências da Natureza e Geologia das nossas Escolas Preparatórias e Secundárias.

Com o acesso ao público bastante condicionado, o que na nossa opinião deverá continuar, os principais problemas com que se debate este Algar são a deposição de lixos nas duas bocas e o entulhamento da entrada na rua do Paim, devido ao esgoto de águas e à deposição de restos das colheitas.

Pelo conhecimento que temos dos proprietários dos terrenos onde se situam as entradas, pensamos que dada a sua sensibilização para com a urgência em se defender o nosso património natural este Algar não correrá perigo de maior.

Como medidas conducentes à sua manutenção, pelo menos no estado actual, sugerimos a retirada do esgoto e a concessão de um pequeno apoio subsidiário para a conservação e limpeza da entrada principal.

No dizer do Dr. Pedro Oromi, do Departamento de Biologia Animal da Universidade de La Laguna, Canárias, «as ilhas dos Açores constituem uma região vulcanoespeleológico de primeira ordem, comparável a qualquer outra do mundo tanto pela riqueza das suas grutas como pela perculariedade de muitas delas».

Achamos que não devemos deixar que esta riqueza se perca entulhada em lixos, a servir de fossa ou soterrada. Na Assembleia Regional dos Açores poderia ser apresentada e aprovada uma proposta de Decreto Regional com vista a proteger as grutas, e algares e outras zonas de interesse vulcânico das nossas ilhas. Quem dá o primeiro passo nesse sentido?

Teófilo J. S. Braga (membro dos Amigos da Terra/Açores)

(Publicado no Correio dos Açores, em 24 de Março de 1988)

quarta-feira, julho 18, 2007

Plantas Medicinais, o seu uso ao longo dos tempos…


É antiquíssimo, perde-se na noite dos tempos, o esforço do Homem para compreender e depois usar as plantas como alimento e como medicamento.

Na antiga China, os sacerdotes não só se ocupavam da religião mas também do estudo e emprego das plantas medicinais. No livro «PENTSÃO-CANG» um verdadeiro tesouro de botânica medicinal, encontram-se mais de onze mil preparações tendo por base produtos doreino vegetal.

Os ideogramas sumérios, datados de aproximadamente 2500 a.c., enumeram vários «medicamentos» de origem vegetal e os assírios tinham pelo menos 250 espécies na sua farmacologia.

No Egipto dos Faraós, nos famosos papiros de EBERS, uma complicação de obras anteriores datada de 2600 a 2100 a.C., encontraram-se enumeradas uma grande quantidade de doenças e as respectivas ervas recomendadas para a cura.

Segundo Daniéle Laberge, na Bíblia o termo erva aparece mencionado 17 vezes. O próprio rei Salomão é autor, segundo a historia, de um magnífico herbário. Em João 19,29 é mencionado o facto de ter sido dado a Jesus hissopo (símbolo da purificação). Os ervanários de então e de hoje usam-no no tratamento de feridas já que aquele protege-as contra as infecções e favorece a sua cura.

Entre os antigos gregos destacaram-se quatro homens: Aristóteles, Hipócrates, Teofrasto e Dioscórides.

Os gregos e, mais tarde, os romanos foram os grandes herdeiros dos conhecimentos egípcios. Aristóteles estudou a história natural e botânica. Hipócrates (fins do séc.V, princípios do séc.IV a.C.) considerava a alimentação o principal remédio para a doença, acreditava que o corpo humano é, em grande parte, auto curativo. Conhecia de 300 a 400 plantas com propriedades medicinais. Teofrasto, discípulo de Platão e de Aristóteles (372-287 a.C.) é autor de uma «Historia das plantas», publicação que teve uma profunda influência no desenvolvimento da medicina e da botânica durante quase 20 séculos. Agrupou cerca de 500 plantas, tendo estudado o seu aspecto exterior, habitat, uso, etc. Discórides, que viveu no início de era cristã, é autor de uma obra «De Matéria Medica», um autêntico protótipo das nossas grandes farmacopeias. Conhecia cerca de 600 plantas que dividia em 4 grupos: aromáticas, alimentares, medicinais e as que serviam para fazer vinho.

Na sua «história natural», Plínio – o Antigo – explica-nos o que foi o herborismo romano. Dos 37 volumes constituintes da sua monumental obra, 8 são dedicados às plantas medicinais.

Galeno, nascido em Pérgamo, na Grécia, no ano de 130 e falecido em 202, em Roma, deu um grande contributo aos conhecimentos farmacêuticos, sendo as suas fórmulas (preparações galénicas) ainda hoje usadas, embora com alterações.

Com a queda do império romano do ocidente e durante toda a idade média, apenas através da labuta de alguns monges e freiras, conhecedores do latim e do grego, se manteve parte da cultura antiga e foram os religiosos que cultivaram alguns grandes jardins de plantas medicinais para tratamento de doentes. Graças ao seu contacto com o mundo árabe, onde se destacaram Avicena, Avenzoar e Ibn- el-Beithar, a chamada «escola de Salermo» exerceu papel destacado, dando um contributo considerável aos progressos da medicina do seu tempo. Deste período destacaram-se, no séc. XII, a abadessa Santa Hildegrada e o abade Alexander Neckam de Cirencester que escreveram acerca das virtudes de algumas plantas.

Com o Renascimento uma nova concepção de vida surge no mundo ocidental. A valorização da observação e da experimentação, as viagens para as índias e América originaram um novo surto de progresso no domínio da botânica e consequentemente no conhecimento no uso das plantas para os mais diversos fins.

Paracelso, no início do séc. XIV, tenta estudar e descobrir a “alma” das plantas, da qual supõe proceder o seu poder curativo. O famoso médico suíço tentou estabelecer relações especulativas entre as virtudes medicinais das plantas e as suas propriedades morfológicas, sua forma e cor.
O italiano Andrea Mattioli, contemporâneo de Paracelso, descreve cem novas espécies e comenta a obra de Dioscórides.

No séc. XVII o farmacêutico Nicholas Culpeper esvreve um obra intitulada «The Complete Herbal» que é, em parte, uma tentativa para conseguir comercializar a produção do seu jardim, em Londres. Culpeper acreditava que havia uma relação íntima entre os planetas e as plantas, tendo em 1650 afirmado: «nenhum homem pode ser médico se não for mestre em astrologia». Ainda neste século., culminando todos os anteriores esforços de classificação, o botânico sueco Lineu estabeleceu no seu «Systema Natural» uma exaustiva classificação das plantas conhecidas até então.

No século XVIII, Jean Batiste Lamarck, alem de outras obras, publica a «Enciclopédia botânica» e a «ilustração dos géneros».

Já no nosso século o prestigiado médico francês H. Leclerc (1870- 1955) introduz o conceito de fitoterapia como sendo «a ciência que se ocupa do emprego das plantas medicinais (ou dos seus estratos) no tratamento dos doentes».

Em Maio de 1978 uma resolução da XXXI assembleia-geral da Organização Mundial de Saúde determina o início de um programa mundial com o fim de avaliar e utilizar os métodos da medicina popular, nos quais se inclui o recurso à fitoterapia.

De 21 a 26 de Março de 1988, é aprovada pela Internacional Consultation on Conservation of Medicinal Plants, organizada pela Worlds Heath Organization, IUCN e WWF, a Declaração de CHIANG MAI que chama a atenção das Nações Unidas, suas agências e estados membros, organizações não governamentais, etc., para:

1- a importância vital das plantas medicinais no cuidar da saúde;

2- a crescente e inaceitável perda destas plantas medicinais devido à destruição do seu habitat e praticas insustentáveis de recolha;


3- O significativo valor económico das plantas medicinais utilizadas actualmente e o grande potencial do reino vegetal para a produção de novos medicamentos;

4- A contínua perturbação e perda de culturas indígenas que muitas vezes têm conhecimentos que levam à descoberta de novas plantas medicinais que podem beneficiar toda a comunidade;

5- A necessidade urgente de cooperação internacional para estabelecer programas de conversação de plantas medicinais a fim de assegurar que quantidades adequadas estejam disponíveis para futuras gerações.

Teófilo de Braga (membro dos Amigos dos Açores/Associação Ecológica)


(Publicado no “Correio dos Açores”, em 11 de Abril de 1991)

ENERGIA ELÉCTRICA


A falta de luz, ao que creio causada pelo mau tempo, e a chegada às mãos de um desdobrável do Centro de Estudos de Energias Alternativas, da EDA, EP fizeram com que passasse para o papel algumas dúvidas, as quais gostaria que fossem publicamente esclarecidas.

1- Já ouvi de um responsável da EDA, EP que aquela empresa estava em condições de exportar tecnologia. Se não estou a baralhar o que ouvi (li?), gostaria de saber qual?

2- Entre as formas/fontes de energia (alternativas?), apresentadas no referido desdobrável, aparece a energia térmica. Será que poderemos considerar a energia térmica aproveitada nas centrais termoeléctricas dos Açores, ao contrário do que é considerado em todo o mundo, como energia alternativa? Se sim, a quê?

3- A propósito, ainda de energia térmica, gostaria que me explicassem o último paragrafo do referido texto: Este tipo de energia generalizou-se mais devagar do que seria de esperar. Dependia da instalação de centrais, do petróleo, de um complexo sistema de fios, de redes de distribuição, mas acabou por progredir e continuar a ser de excepcional importância» (sublinhado meu).

4- No que diz respeito, à energia solar, os meus alunos do 10.º ano de escolaridade ficaram confusos com a original explicação do efeito fotovoltaico lá apresentada. Será que se trata do mesmo fenómeno que deu o prémio Nobel a Albert Einstein, ou é outro? Gostaria que explicassem o conteúdo do seguinte parágrafo: «O efeito fotovoltaico é obtido pela utilização de materiais, com determinadas propriedades, que, quando sobre estes incide radiação com um certo comprimento de onda faz «saltar» electrões para outro «mais livre».

Por falta de petróleo o candeeiro está a dar as últimas, por isso finalizo com um belo excerto do desdobrável dedicado à energia geotérmica (nunca fui detractor da dita nem sou cristão-novo): «a quantidade de energia que poderá vir a tornar-se acessível pela utilização desta tecnologia é considerada pelos cientistas como muito significativa, ou até mesmo, prodigiosa». Gostei do último adjectivo.

Já agora, sugiro também que se edite um folheto a explicar os originais conceitos e teorias «científicas» trazidos no desdobrável, para que este se torne mais acessível ao grande público, sobretudo aos jovens em idade escolar e respectivos professores.

O envio de exemplares ao Sr. Secretário de Estado da Energia e às Comunidades Europeias seria muito útil já que aquelas entidades precisam de ser sensibilizadas para o que de «prodigioso» por cá se faz no campo da electricidade.

Teófilo Braga (Professor da Escola Secundária da Ribeira Grande), 14/12/89

(Publicado no Correio dos Açores, 23 de Dezembro de 1989)

segunda-feira, julho 16, 2007



PASSEIO PEDESTRE AO PICO DA VELA

No passado dia 12 de Setembro, a Associação Ecológica Amigos dos Açores promoveu um passeio pedestre ao Pico da Vela. Os participantes concentraram-se pelas 9h e 30 minutos na Estação de Camionagem de Vila Franca do Campo e um quarto de hora depois, partiram em caravana automóvel em direcção à Ribeira Seca. No Largo de São João tomaram a chamada estrada do Carreiro e dirigiram-se para o Sanguinhal, tendo estacionado as viaturas no local onde a estrada bifurca em duas direcções: uma rumo ao Espigão do Salto e a outra ao Pico da Cruz. Neste local existe um fontenário de pedra lavrada datado de 1962.

A estrada do Carreiro não é mais do que um caminho municipal que foi projectado para ligar a Ribeira Seca à Lagoa do Fogo. Em Outubro de 1961 já estavam rompidos mais de sete quilómetros, a maior parte deles pavimentados. Hoje, volta-se a falar na sua pavimentação até às cumieiras da Lagoa do Fogo, o que discordamos. Com efeito, a partir do Pico da Cruz o caminho deixa de ter qualquer utilidade para a lavoura e será um contributo para a descaracterização da Reserva Natural da Lagoa do Fogo. Aliás, de acordo com o Decreto Regional n.º 10/82/A, de 18 de Junho que cria aquela reserva tal obra será ilegal. No que diz respeito ao desenvolvimento turístico, acreditamos que ele ganhará com a organização de passeios pedestres a partir das unidades hoteleiras ou de agências de viagens sediadas em Vila Franca.

À nossa frente, no local de início do percurso pedreste podemos observar, a par de matas de criptoméria, alguns exemplares da nossa floresta primitiva: azevinhos, louros, folhados, urzes, queirós, tamujos, etc. Neste local, de desagradável apenas o cheiro nauseabundo da lixeira municipal. Esperemos que seja por pouco tempo e que as autarquias de S. Miguel, com a colaboração do Governo Regional dos Açores, encontrem uma solução aceitável para o problema dos resíduos na nossa ilha.

A subida fez-se pelo caminho do Espigão do Salto. O tempo totalmente descoberto tornou possível uma vista à nossa direita, destacando-se, a curta distância, o Pico da Dona Guiomar, metade coberto com vegetação primitiva. Curiosamente é neste pico que conhecemos o único exemplar de sanguinho, planta endémica dos Açores e da Madeira, a qual, provavelmente, estará na origem do nome Sanguinhal. Na cratera do Pico da Dona Guiomar está situada uma pequena lagoa denominada Lagoinha do Areeiro. Ainda à nossa frente e à direita avistamos o Espigão da Ovelha e o Monte Escuro.

Ao chegarmos ao ponto mais alto, no cruzamento com o caminho que vem do Monte Escuro, o panorama é encantador. Daqui podemos ver o Pico da Vara. O Pico Bartolomeu, a depressão do Vale das Furnas, o Pico da Barrosa, as costas Norte e Sul da ilha de S. Miguel, etc. A vegetação é bastante rasteira, resultado de uma recuperação, muito lenta, de extracções maciças de leivas.

Prosseguimos o nosso passeio caminhando para a esquerda em direcção a uma elevação de 881 metros chamada Cumieira. Deste ponto, Vila Franca reduz-se a um aglomerado muito pequeno de casas e o ilhéu aparece com outra fisionomia.
Após a observação do majestoso vale da Ribeira de Água d`Alto, dirigimo-nos para o Pico da Vela, elevação com 863 metros de altitude. Circundamos o pico pela direita e ficamos por cima da Lagoa do Fogo que dali parece-nos outra.

A seguir ao almoço nas cumieiras, depois de darmos a volta completa ao Pico da Vela, regressamos pelo caminho que vai da Cumieira e passa ao lado do Pico da Cruz. Na descida, à nossa frente avistamos todo o concelho de Vila Franca do Campo.

Neste percurso pedestre, com duração aproximada de três horas, podemos observar algumas espécies da nossa avifauna das quais destacamos o pombo torcaz, o milhafre, o tentilhão e a alvéola.

(Publicado no jornal “A Vila”, 15 de Outubro de 1992)

sexta-feira, julho 13, 2007



A PROPÓSITO DE UMA RECENTE EXPEDIÇÃO ESPELEOLÓGICA AOS AÇORES

De 17 de Julho a 22 de Agosto, esteve, entre nós, uma equipa de 5 cientistas da Universidade de La Laguna, Canárias, e da Universidade de Edimbourg, Escócia, com o objectivo de estudar a flora e a fauna das grutas naturais e das correntes de lava. A equipa foi acompanhada, nas suas visitas, por um docente do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores e por membros dos Amigos dos Açores (ex. Amigos da Terra/Açores).

Em S.Miguel, foi visitada a gruta de Água de Pau, a do Pico da Cruz, na freguesia do Pico da Pedra, a da Batalha, no local com o mesmo nome, as duas do Pico do Enforcado, nas Capelas, a gruta de Rabo de Peixe, a gruta do Esqueleto e dois algares no Pico Queimado, na Ribeira Grande, e a parte Norte do Algar da rua de Lisboa (Carvão).

Dos tubos vulcânicos visitados, encontram-se em mau estado de conservação o da Batalha, devido ao lançamento de animais pelos lavradores e o da rua de Lisboa que continua a receber águas de um esgoto feito pela Câmara Municipal de Ponta Delgada e a servir de lixeira a uma moradora que tem no seu quintal uma abertura para aquele tubo e que quanto a nós devia ser selada quanto antes. Esta gruta é das que melhores condições apresenta para um futuro e desejável aproveitamento turístico, pelo que a Direcção Regional de Turismo deveria quanto antes agir e tomar medidas para que o entulhamento da sua abertura não prossiga e para acabar com o vazamento de lixos. Trata-se, segundo a opinião de membros da equipa que nos visitou, de uma gruta bastante bonita e de grande interesse sob o ponto de vista geológico. A gruta do Esqueleto, apesar de limpa, apresenta grandes desabamentos do tecto e corre alguns riscos devido aos arroteamentos que estão a ocorrer nas suas imediações.

Foram bons os resultados científicos alcançados. As conclusões dos estudos e recolhas efectuadas serão publicados oportunamente mas, podemos adiantar já que foi descoberta uma espécie nova para a ciência, na gruta de Água de Pau.

Durante a expedição, bastante frutuosa para nós, foram-nos ministrados alguns conhecimentos de espeleologia, nomeadamente técnicas de subida e descida na vertical com o apoio de equipamento próprio e explicado como fazer mapas e topografia de grutas, utilizando a bússola e o clinómetro.

Na mesma altura, foram visitados pela primeira vez dois algares no Pico Queimado, um deles, com cerca de 20 m de altura, terá sido visitado pela primeira vez a 4 de Agosto de 1989 e o primeiro ser humano que o percorreu foi, não temos duvida, o Dr. Pedro Oromi.

As grutas vulcânicas, resultantes de “rios” de lava que, arrefecem mais depressa à superfície e no contacto com as paredes e o leito onde correram que no interior, tornaram-se ocas quando se deram naturais escoamentos (G. Santos, 1970), são um dos habitas mais ameaçados nos Açores pelo que urge tomar medidas para a sua salvaguarda. Para que não tenham o mesmo fim que o célebre «Caldeirão», na estrada da Ribeira Grande, apesar dos apelos que se fizeram para o seu aproveitamento turístico.

Pela importância científica, as grutas naturais dos Açores merecem que se crie legislação que as proteja. À Direcção Regional do Ambiente caberá tomar iniciativa, contará com todo o nosso apoio, nosso trabalho de pesquisa, ex.. Nós prosseguiremos com o nosso trabalho de pesquisa, exploração e inventariação, muito em breve, após a aquisição do equipamento indispensável, iniciaremos a leitura de mapas e topografia das grutas já conhecidas tendo como objectivo imediato a edição de um Inventario das Grutas Naturais de S. Miguel.

(Publicado no “Correio dos Açores”, 7 de Setembro de 1989)

quinta-feira, julho 12, 2007

Grutas- Um Património Natural que Urge Defender


No passado dia 30 de Janeiro, graças à amabilidade do sr. Belchior, tivemos a oportunidade de visitar uma das poucas grutas naturais existentes em São Miguel, que ainda não foram soterradas.

Hoje, completamente desprezadas e maltratadas, as grutas naturais foram no século passado alvo da visita de estrangeiros ilustres e acarinhadas por quem cá vivia. Walter Frederic Walker, membro da Royal Geographical Society, da Society of Biblical Archeology e de outras instituições de carácter cientifico, no seu livro «The Azores or Western Islands», publicado em 1886, faz uma descrição minuciosa da gruta existente num campo da Rua Formosa hoje secadores da Fabrica de Tabaco Micaelense, na Rua de Lisboa - e dá-nos uma explicação acerca da formação das grutas em regiões vulcânicas: «A teoria, segundo Sir. Charles Lyel, é que foram produzidas pelo endurecimento da lava durante o escape de grandes volumes de fluidos elásticos que são frequentemente expelidos, durante muitos dias seguidos depois da crise da erupção terminar».

Robin Bryans no seu livro «The Azores», publicado no início da década de 60, também se refere ao Algar da Rua de Lisboa e mais recentemente o dr. Willian Halliday, membro da Western Speleological Survey, dos Estados Unidos da América, que o visitou em 1980, refere-se àquela gruta nos seguintes termos: para além da parte baixa, a gruta torna-se mais ampla e tem características que mostram a forma como a lava correu através dela… com, apenas, um pouco de trabalho seria possível reabrir e ampliar uma das duas entradas (agora fechadas) para que os visitantes e estudantes compreendessem como a vossa bela ilha se formou… Na minha estimativa o comprimento da gruta é de cerca de 400 metros até à obstrução final».

Soterradas, a servir de esgoto ou de lixeira, as grutas além de constituírem um nó importante de explicação cientifica do nosso meio natural são parte integrante de património paisagístico (neste caso subterrâneo) e como tal deveriam merecer todo o respeito por parte de todos nós, em particular pelas entidades responsáveis, no caso presente a Câmara Municipal de Ponta Delgada e a Delegação de Turismo, devendo, depois de efectuados pequenos trabalhos de limpeza, serem integradas no roteiro turístico.

A inventariação, defesa e divulgação espeleológico existente em S. Miguel é uma das actividades que um grupo de associados dos Amigos da Terra/Açores pretende levar a cabo este ano. Para a concretização daquele seu objectivo precisam da colaboração das mais diversas entidades públicas e privadas e já pediram o apoio a espeleólogos estrangeiros e à Associação de Exploração Espeleológica «Os Montanheiros», da ilha da Terceira.

Apelamos a todas as pessoas que tenham conhecimento da existência de grutas naturais e a todos os interessados na sua exploração o favor de entraram em contacto connosco.

Teófilo de Braga, com a colaboração de George Hayes (membros dos Amigos da Terra/Açores)

(Publicado no “Diário dos Açores”, 2 de Fevereiro de 1988)
Património Espeleológico dos Açores – Riqueza ainda por explorar

As grutas naturais são, na sua maioria, abertas em formações calcárias geralmente escavadas pela água. Nos Açores, elas são formadas por correntes de lava. Ao escorrer, a zona superficial de lava arrefece e endurece antes da lava subjacente. Quando o jorro de lava cessa pode deixar como que uma casca, formando-se então num túnel.

No arquipélago dos açores, região particularmente rica em cavidades vulcânicas foram os «MONTANHEIROS», de Angra do Heroísmo, os pioneiros da exploração de grutas e algares, sobre tudo na ilha Terceira, onde possuem localizadas e exploradas 34, no Pico e em S. Jorge. Em S. Miguel, apesar de vários entusiastas individualmente ou em grupo se terem dedicado à espeleologia, só o ano passado foi iniciada, pelos AMIGOS DOS AÇORES, uma pesquisa e exploração organizadas tendo por objectivo a inventariação do património espeleológico da ilha com vista a abrir caminho a um posterior estudo cientifico e a um desejável aproveitamento turístico.

Já Gaspar Frutuoso, ao descrever o litoral de Ponta Delgada, nas “Saudades da Terra”, nos dá notícias de túneis vulcânicos a poente da referida cidade: «além, a pouco espaço da fortaleza para oeste esta uma ponta que se chama a ponta dos algares, porque saiam ali dois com suas bocas, por dentro dos quais se caminha grande caminho por baixo da terra, por cujo vão parecer que correu na Ribeira de Pedra de Biscoito, em outro tempo, não sabido nem visto».

Desde os tempos mais remotos as grutas naturais foram percorridas e acarinhadas pelos habitantes destas ilhas e alvo da visita de estrangeiros ilustres. Walter Frederic Walker no seu livro «The Azores or Western Island», publicado em 1886 faz uma descrição minuciosa da gruta existente num campo da rua Formosa – hoje, secadores da Fábrica de Tabaco Micaelense, na rua de Lisboa. Tal como Fouquê, que descreve um conduto ovalar na ilha Terceira e Hartung que descreveu a Furna da Graciosa e outros algares dos Açores, John Webster, genro de primeiro cônsul americano. Thomas Hickling dedica um capítulo do seu livro ao relato de uma excursão a uma caverna situada a «cerca de 3 a 4 milhas a noroeste de Ponta Delgada».

M. Emygdo da Silva, jornalista continental, no seu trabalho «S. Miguel em 1893», considera o Algar da Rua Formosa o mais notável dos túneis vulcânicos dos Açores embora o de Angra seja também interessante pela sua secção, que chega a atingir uma altura de 5 a 6 metros e a largura de 10. É ainda deste ilustre autor que visitou o referido túnel na companhia de Afonso Chaves, o seguinte relato: «A abobada do túnel, da qual pendiam grossos e negros estalactites, as paredes laterais que se diriam guarnecidas de lambris muito moldados, e que marcam o tempo das paragens que a lava teve no seu movimento progressivo, as bocas das pequenas galerias que comunicam com esta…; aqui e alem um pequeno desabamento indicando que a exploração não é isenta de perigo; o solo irregular é de uma dureza vítrea, como a do átrio do Cavalo, no Vesúvio, tudo isto banhado pelo deslumbrante do magnésio, constitui um dos espectáculos mais empolgantes e mais grandiosos que o Dante certamente não rejeitaria para fazer passar alguma cena do inferno».

A título de curiosidade interessa registar que André Thevé, historiógrafo e cosmógrafo do Rei Henrique III, que teria visitado este arquipélago depois de 1550, fala na sua «Cosmographie Universelle», editada em 1575, numa gruta «para a parte do setentrião» onde encontraram «dois monumentos de pedra, cada um dos quais não tinha menos comprimento de doze pés e meio, e de largo quatro e meio». Pura fantasia que ainda em 1962 o escritor Robin Byrans quando esteve nos Açores estava convencido da sua existência bem como dos monumentos atribuídos aos judeus.

Até há tempo soterradas, a servir de esgoto ou lixeira, as grutas naturais além de constituírem um nó importante de explicação científica do nosso meio natural são parte integrante do património paisagístico (neste caso subterrâneo) e como tal deveriam merecer todo o respeito por parte de todos nós, em particular das entidades responsáveis pelo turismo e ambiente dos Açores, devendo, depois de efectuados pequenos trabalhos de limpeza, ser integradas nos roteiros turísticos.

O bom acolhimento dado, pelos vários organismos oficiais, às preocupações e sugestões dos AMIGOS DOS AÇORES para defesa e salvaguarda do património espeleológico leva-nos a concluir que finalmente aquela singular riqueza vai ter um tratamento tão digno como o que merece.

Embora sejamos de opinião que as grutas naturais devam ser protegidas não somos contra a sua abertura ao público. Defendemos que deveriam ser aproveitadas turisticamente 2 ou 3 grutas por ilha, sendo a sua abertura feita em moldes diferentes do tradicional. Haveria um grupo de guias que acompanhariam os visitantes como se tratasse de uma expedição espeleológica. As restantes destinar-se-iam exclusivamente a expedições científicas.

A riqueza espeleológica dos Açores merece ser estudada cientificamente por equipas construídas por especialistas dos mais diversos ramos das ciências naturais. No seu trabalho apresentado nas Primeiras Jornadas Atlânticas de Protecção do Meio Ambiente, o Dr. Pedro Omori, um dos membros de expedição cientifica da Universidade da La Laguna que se deslocou aos Açores no passado mês de Julho para estudar a fauna cavernícola, escrevia: «Era bom que os próprios açorianos fossem quem o fizesse, pelo que sugerimos aos organismos administrativos e à Universidade dos Açores a possibilidade de abrir um ramo de investigação naquele sentido. Se não se promove quanto antes virão fazê-lo outros e os açorianos perderão a oportunidade de enriquecer por si próprios o conhecimento do seu património».

Já em 1862 o grande naturalista Barbosa du Bocage afirmava: «é tempo de estudarmos por nossas cabeças o que é nosso…».

(Publicado no “Correio dos Açores”, 9 de Agosto de 1990)
EM DEFESA DO PATRIMÓNIO ESPELEOLÓGICO (3)

A Gruta de Webster, realidade ou ficção?



As ilhas dos Açores, praticamente desde o seu povoamento, têm sido alvo da visita de um avultado número de escritores e cientistas.

John White Webster, genro do primeiro cônsul americano, Thomas Hickling, «o revelador do vale das furnas às modernas gerações micaelenses, pois encantado com as belezas naturais do mesmo, ali mesmo fez construir o seu YANKEE HALL», rodeado de um magnifico jardim, foi autor de um dos mais valiosos livros sobre a ilha de São Miguel, «Description of the Island of St. Michael” editado em Boston em 1821. A sua tradução, da autoria do Dr. César Rodrigues, está ao dispor de todos os interessados no «Arquivo dos Açores, volume XIII».

Tal como Fouquê e Hartung, que em trabalhos de sua autoria fazem a descrição de vários tubos basálticos, alguns dos quais chegavam a atingir quilómetros de extensão, John Webster dedica um capitulo do seu livro ao relato de uma excursão a uma caverna situada a «cerca de três a quatro milhas a noroeste de Ponta Delgada».

Através do relato de Webster ficamos coma sensação que esta gruta era de enormes dimensões: «O precipício não tinha provavelmente d’altura menos de trinta pés; e como os archotes, com que nos tinham provido, apenas iluminassem fracamente a caverna, mandámos acender uma fogueira ao nosso guia. Pelo som das nossas vozes pareceu-nos que este lograr devia ser d’uma grande extensão, não nos sendo possível ver o tecto mesmo com o auxílio da luz a mais forte que podemos obter».

Algumas pessoas por nós contactadas duvidam da existência desta gruta. O Dr. William Halliday, num trabalho a que tivemos acesso, fala-nos de uma gruta nos Arrifes cuja entrada ficava próxima do quartel militar situado a norte daquela freguesia.

A descrição feita por um jovem empregado do sector dos lacticínios, que lhe mostrou alguns diapositivos, levou o Dr. William Halliday a levantar a hipótese de ser a gruta visitada por Webster.

Até ao presente não nos foi possível contactar com o interlocutor do Dr. Halliday, desconhecendo-se, portanto, o local exacto da sua entrada e se está em condições de ser visitada.

A título de curiosidade refira-se que a espeleologia, actividade que no nosso pais ainda não suscitou os apoios que merece, em vários países tem servido de suporte a um grande numero de experiências de índole cientifica, sendo em França tão praticada como o basquetebol.


(Publicado no “Correio dos Açores” em 14/4/1988)

segunda-feira, julho 09, 2007

Carta aberta ao Amigo da Terra Humberto Furtado Costa

Caro amigo,
Escrevo-te porque, apesar de «teres partido», sei que gostas de andar a par com o que se vai passando por cá.
A política agrícola regional não se alterou muito desde a altura em que escreveste no Açoreano Oriental (25/3/87) um artigo a propósito do Dia da Árvore. Continuamos a ter um Secretário da Pecuária e das Touradas e a agricultura não há maneira de deixar de ser apenas «vacas e erva». Continua-se a arrotear a torto e a direito, até parece que querem transformar estas ilhas em campos de futebol, em locais sem a mínima aptidão para a pastagem. O Pico da Água está, neste momento, a ser arredondado com uma «catarpiller», depois de terem cortado a mata e largado (?) fogo aos troncos e lenha que lá ficou. Coitados dos bombeiros que têm de acudir a tanto fogo posto! Será mais um arroteamento para daqui a alguns anos estar coberto de silvado, como muitos outros que bem conheces na zona do Monte Escuro e noutros locais.

Já andavas bastante doente quando surgiu mais um problema para os nossos agricultores. «Proíbe-se» o vinho de cheiro, fala-se em outras castas e em apoios à reconversão das vinhas, mas de concreto só palavras. Penso que estás de acordo comigo, o vinho de cheiro é mais prejudicial à saúde do que o outro, mas tenho as minhas dúvidas se relativamente ao vinho a martelo que por aí se vende. Como se diz na minha terra, Vila Franca do Campo, proíbe-se o nosso vinho mas continua-se a deixar entrar o que é feito com pós e água do Rio Tejo. Enfim, mais um problema a juntar a tantos outros…
Infelizmente para todos nós, o artigo que escreveste continua a ser actual no que diz respeito às Reservas Naturais. Estas continuam a ser apenas no papel. Na Reserva Natural da Lagoa do Fogo prosseguem os incêndios e a rapina de leivas, apesar deste ano já termos alertado a Secretaria Regional do Turismo e Ambiente por mais de uma vez. Está quase como a Serra Devassa que continua a ser devassada diariamente.

Sabias que já corre pelas cabeças de alguns iluminados cá da terra «recuperar» o que a PEPOM destruiu através da plantação de eucaliptos? Esta nem lembraria ao diabo! A propósito de eucaliptos, sabias que as empresas de celulose já cá estão prontas a tudo comprar, inclusive homens para procederem a plantações em locais menos próprios e que no Pico já compraram terrenos no valor de um milhão de contos? Não te cheguei a enviar a legislação que disciplina a plantação de espécies de crescimento rápido. Não me parece má, mas é como as outras: permite algumas fugas e tem de ser aplicada – não acredito que o seja enquanto não for criado um sistema de vigilância eficaz.
Por último, peço desculpa por discordar do que me disseste em Outubro passado, antes de partires para Lisboa, para te submeteres a uma intervenção cirúrgica. Na altura, dizias-me que nunca mais irias passear connosco, que nunca mais subirias o Pico da Vara. É verdade que a tua viagem não tem regresso, mas podes estar certo, estarás sempre connosco em todas as regiões, visitas de estudo e escaladas ao Pico da Vara.

Até breve,


Publicado no “Correio dos Açores”, 26 de Agosto de 1989
O Direito à Informação

“orientar e criar condições para que os cidadãos se motivem e participem activamente na nobre tarefa de defender o património comum que a natureza nos dá”(objectivo da Secretaria Regional do Turismo e Ambiente)

A participação dos cidadãos na defesa do ambiente e da sua qualidade de vida só se tornará eficaz se estes forem capazes de se agrupar em associações.
A importância dessas associações é tal que, em Abril de 1987, a Assembleia da República aprovou a Lei das Associações de Defesa do Ambiente, lei que “define os direitos da participação e de intervenção das associações de defesa do ambiente junto da administração central, regional e local com vista à promoção do direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado” e que veio, finalmente, reconhecer o importante papel que cabe às mais diversas organizações de cidadãos, dando-lhes meios para a acção.
Para poderem desempenhar cabalmente a sua acção pedagógica e crítica as associações precisam de ter acesso a toda a informação, entre ela a qualificada obtida nos trabalhos de investigação.
Apesar de garantido pela Lei nº10/87, de 4 de Abril, o direito de consulta e informação junto dos orgãos da administração, entre nós, ainda não é aceite pelo poder vigente.
Segundo o boletim “Factos novos-natureza”, nº 88-11, do Conselho da Europa, a Comissão Europeia apresentou uma Proposta de Directiva que “dará ao público um direito de acesso automático à informação sobre o meio ambiente detida pelas autoridades públicas a nível nacional, regional, e local e exigirá dos estados membros que publiquem relatórios regulares sobre o meio ambiente. O público terá também o direito de conhecer todos os pormenores dos projectos públicos ou privados susceptíveis de modificar o meio ambiente, assim como todas as medidas de protecção e de melhoramento do meio ambiente”.
Será que, para as nossas autoridades, da Europa só são bem vindos os ECU!?

Publicado em “O Pedagogo”, ano IV, nº4, 11 de Novembro de 1989
Política

A propaganda oficial pretende fazer crer que todos nós somos corresponsáveis pelo desequilíbrio ecológico. Nós não somos réus nem responsáveis. As causas primeiras da crise residem nas orientações políticas, económicas sociais que condicionam o comportamento individual de todo o cidadão. Como ecologistas, somos pela participação das pessoas em todas as decisões sobre tudo o que lhes disser respeito. Não aconselhamos ninguém a ficar de braços cruzados já que as acusações aos grandes responsáveis não devem fazer esquecer coisas muito mais pequenas e quotidianas.
Como estamos em véspera de eleições e porque há problemas cuja solução depende de decisões políticas, as propostas, que a seguir faço dizem respeito a possíveis tomadas de posição:

1- Não hesite em “meter-se em política” para defesa da Vida;
2- Não colabore no desperdício que significam as gigantescas campanhas de cartazes publicitários usadas pelos partidos políticos. Escreva para os partidos e organismos oficiais propondo outros métodos não tanto agressivos;
3- Forme “Grupos de Pressão” com os seus amigos e vizinhos com o objectivo de intervir junto das mais diversas instituições com vista à solução de problemas locais;
4- Participe nas realizações dos Organismos de que seja membro. Não deixe que os outros decidam por si;
5- Adira aos grupos de ecologistas da defesa da Natureza e da vida selvagem. Assine e colabore com as publicações ecologistas.

Não queria terminar sem transcrever um conselho dado, por Sicco Mansholt, a todos os jovens quanto à orientação a dar à sua vida: “Que não vivam como eremitas e menos ainda como santos. Que amem a vida, o teatro, as artes, a cultura. Que defendam o futuro das gerações vindouras não desbaratando o solo, nem a água, nem os recursos naturais que um dia lhes farão falta. E que não se esqueçam das palavras do poeta T.S.Eliot: “Assim acaba o mundo, não por uma detonação brutal, mas gemendo docemente”.

Publicado em “O Pedagogo”, ano IV, nº5, 25 de Novembro de 1989

sábado, julho 07, 2007

PLANTAS

O amor pelas plantas tem grande tradição nas nossas ilhas. Contudo, se se fizesse uma sondagem à população e aos nossos governantes perguntando se se preferiam estradas bordadas de hortências ou de flores indígenas, inexistentes em nenhuma outra parte do mundo, não temos dúvida que a preferência iria para as hortências, subentendendo-se que os açorianos aceitam a destruição do que é seu. Isto porquê?

A fábula do grilo e do camponês que a seguir transcrevo poderá ajudar-nos a encontrar uma explicação:

“Certo dia, um camponês caminhava por movimentada rua em companhia do seu amigo, criado na cidade, quando repentinamente tomou-o pelo braço, exclamando: Ouça o canto do grilo!
O pobre homem do asfalto nada ouvia, até que o camponês lhe mostrou uma fenda onde o grilo proclamava a sua presença, em ser ouvido pela multidão de transeuntes.
Como é que podes ouvir um som tão fraco no meio de todo este barulho?- perguntou admirado o homem da cidade.
Olha!- respondeu o camponês deixando cair uma moeda na calçada.
Cerca de uma dúzia de pessoas virou-se ao ouvir o fraco tilintar da moeda.
Tudo depende das coisas pelas quais a gente aprendeu a interessar-se.”

Urge acabar com a ideia de que tudo o que vem de fora é que é bom. A nossa flora é muito rica do ponto de vista florístico. No entanto, poucos conhecem as flores do bafo-de-boi, o exotismo do trovisco macho, o valor ornamental da vidália ou do folhado, etc.

Quem não tem um pequeno jardim ou terrenos onde possa cultivar, em vez de uma exótica, uma espécie que é nossa.
(Publicado em “O Pedagogo, ano IV, nº 3, 28 de Outubro de 1989