terça-feira, outubro 02, 2007

Problemas Ecológicos e Actividades Desportivas

Problemas Ecológicos e Actividades Desportivas


1- Problemas Ecológicos


Antes de mais, gostaria de referir que ao falarmos em ecologia por vezes estamos a referir-nos a coisa distintas. Com efeito, podemos distinguir duas vertentes do conceito de ecologia: a científica e a social.

O termo ecologia foi usado pela primeira vez, em 1886, pelo biólogo alemão Ernst Haeckel. Segundo ele, a ecologia é a “investigação das relações totais do animal tanto com o seu ambiente orgânico como inorgânico”.

A interacção existente entre a sociedade e natureza fez com que a ciência, aos poucos, se tornasse em actividade de intervenção política e social, em ecologismo – termo criado por Dominique Simonnet, em 1970, para distinguir ciência de intervenção social.

Apontar causas para os problemas ecológicos é tarefa que não fácil. Contudo, muitas vezes, atribui-se a responsabilidade à “mentalidade tecnológica” e ao crescimento demográfico, o que quanto a nós não faz qualquer sentido. Tal como Murray Bookchin, acreditamos que “as forças que contribuem para a destruição planetária têm as suas raízes na economia mercantil do “cresce ou morres”, num modo de produção que tem de expandir-se enquanto sistema concorrencial”. Sobre o mesmo assunto, Delgado Domingues refere que: ”Crescimento económico tem sido sinónimo de acumulação de capital construído pelo Homem, criando a ilusão de que esse capital pode substituir o capital natural, que são os recursos naturais, e não pode. É por isso que este tipo de crescimento é impossível e insustentável”.

Rejeitamos, categoricamente, a campanha oficial que pretende fazer crer que “todos somos responsáveis”, quando, quanto a nós, é à ordem social dominante no nosso planeta, que se rege pela lógica do crescimento ilimitado, que deve se imputada a causa primeira dos principais problemas ambientais e sociais existentes. Mas, tal como Emmanuelle de Lesseps, achamos importante que o cidadão “deixe de ser cúmplice do ciclo infernal produção-consumo” e aprenda a “economizar os recursos naturais, boicotar o sobreconsumo, lançar as bases dum novo modo de vida.

2 – Desportos e Ambiente

Nas últimas duas décadas os desportos de ar livre têm sofrido um crescimento que por muitos é considerado avassalador. Não só apareceram novas modalidades como o BTT ou o Parapente, como desenvolveram-se algumas que estavam “esquecidas” como a Espeleologia, a Escalada, o Montanhismo, etc.

De acordo com o Guia dos Desportos Aventura, da autoria de Incitare/João Matos, há que distinguir o desporto aventura do denominado desporto radical. Assim, o desporto radical implica para alguns praticantes uma filosofia de vida cuja característica principal é o viver intensamente cada momento, numa “busca contínua de sensações fortes, de adrenalina, onde os limites individuais são testados na cada passo” ao passo que o desporto aventura, embora não ponha de parte a emoção e alguma adrenalina, não vai muito além de “uma pausa na rotina do dia-a-dia, de preferência num ambiente calmo, despoluído e em contacto com a natureza”,

As modalidades desportivas ligadas à natureza, não só passaram a fazer parte dos currículos escolares, como, nalguns casos, são encaradas como uma ferramenta de formação, tendo como área preferencial o desenvolvimento organizacional.

Muitas são as vantagens atribuídas aos desportos de ar livre. Destas destacaríamos as relacionadas com a formação dos jovens e a protecção do ambiente:
- Desenvolvem capacidades de adaptação;
- Asseguram uma certa autonomia;
- Despertem o interesse pela actividade física;
- Contribuem para despertar o interesse para a riqueza da flora, fauna e actividades humanas;
- Oferecem uma oportunidade para a reflexão acerca dos problemas ecológicos.

Apesar das muitas vantagens que as actividades desportivas na natureza possam ter, elas poderão, também, contribuir para a degradação do património natural. Assim, as diversas actividades, feitas sem o mínimo de respeito para com o meio, poderão contribuir para:
- Aumentar a presença humana nos habitats mais sensíveis;
- Dispersar os lixos;
- Interferir com a fauna selvagem;
- Destruir a flora;
E, no caso das actividades motorizadas, para além do que vimos, são também responsáveis por:
- Incrementar a erosão dos solos;
- Perturbar e causar estragos em propriedades, sobretudo dos lavradores;
- Aumentar um ruído;
- Destruir os fundos aquáticos de lagoas e lagoeiros.

Terminaria com a apresentação de um extracto de um quadro onde se faz uma classificação do impacto ambiental de algumas actividades de ar livre, proposta pela Revista Integral (nº163, Julho de 1993). Gostaria de salientar que a classificação apresentada é muito subjectiva e algumas actividades à partida mais hostis para com o ambiente podem causar menor impacto se forem seguidas determinadas normas de conduta ao passo que, outras tido como ecológicas, poderão ter um impacto bastante negativo se forem realizadas de um modo irresponsável.

(texto que serviu de Base à comunicação apresentada no Seminário “Desporto e Ecologia”, promovido pela Escola Secundária das Laranjeiras, no dia 23 de Abril de 1998)

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