terça-feira, outubro 02, 2007

Educação Ambiental e Percursos Pedestres

“Os povos civilizados dependem demasiado da página impressa. Eu voltei-me para o livro do Grande Espírito, que é o conjunto da grande criação. Podeis ler grande parte desse livro estudando a natureza. Se tombardes todos os vossos livros e os estenderes ao sol, deixando durante algum tempo a chuva, a neve, os insectos fazerem a sua obra nada mais restará. Mas o Grande Espírito fornece-nos a possibilidade de estudar na universidade da natureza: as florestas, os rios, as montanhas e os animais”. (Tatanga Mani dos Stoney)

O caminho percorrido pela Educação Ambiental como procura de respostas para os problemas da biosfera teve início, em Junho de 1972, com a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, conhecida como a Conferência de Estocolmo. Com efeito, a Declaração sobre o Ambiente Humano recomenda o estabelecimento de um programa internacional de Educação Ambiental e reconheceu a esta o seu papel crítico para combate à crise ambiental no mundo. Outro marco histórico de enorme importância para o desenvolvimento da Educação Ambiental, talvez o mais decisivo, foi a Conferência Intergovermental sobre Educação Ambiental (Conferência de Tbilisi), que se realizou, entre 14 e 16 de Outubro, na Geórgia (Ex-URSS). A Declaração sobre a Educação, aprovada em Tbilisi, precisou a natureza da educação ambiental, definiu os seus objectivos e as suas características, assim como as estratégias para o seu desenvolvimento. O princípio geral da Educação Ambiental aprovado na Declaração de Tbilisi pode ser enunciado do seguinte modo: “Fazer compreender às pessoas e à comunidade a natureza complexa resultante dos factores físicos, biológicos, sociais, económicos e culturais, do ambiente natural e urbano e dar a estas pessoas ou comunidades a oportunidade de adquirir os conhecimentos, os valores, as atitudes e as aptidões práticas que lhes permitam ajudar de uma maneira responsável e eficaz a prever e resolver os problemas ecológicos e gerir a qualidade do ambiente”.

Para alcançar aquele princípio, a Educação Ambiental deverá respeitar, entre outros, os seguintes: considerar o ambiente no seu todo (natural, social, económico, político, moral, estético, histórico-cultural); constituir um processo contínuo, iniciando-se ao nível do ensino pré-escolar e prosseguir através de todas as etapas da educação formal e não-formal; adoptar uma abordagem eminentemente interdisciplinar orientada para a resolução de problemas locais; desenvolver o espírito crítico; procurar autonomia e a participação dos educandos na organização da aprendizagem.

Em 1992, subscrito por 34 associações de defesa do ambiente, entre os quais os Amigos do Açores, foi aprovado em Évora o “Contributo das Associações de Defesa do Ambiente para uma Estratégia Nacional de Educação”. Um dos objectivos definidos naquela proposta foi o de potenciar a participação das populações locais na Educação Ambiental formal e não-formal. Para a sua concretização aponta-se a criação de Centros de Iniciação ao Ambiente, bem como de Espaços Educativos de Suporte à Educação Ambiental e o estabelecimento de percursos pedestres de descoberta.

Desde 1985, data da sua fundação, os Amigos dos Açores já promoveram mais de uma centena de passeios pedestres / visitas de estudos destinadas a adultos e a jovens em idade escolar, já editaram e reeditaram 11 roteiros pedestres, num total 20.000 exemplares publicados, sempre com o objectivo de promover o contacto mais estreito entre o Homem e a natureza, possibilitando o conhecimento da espécies animais e vegetais, da história local, da Geologia, etc. Para além do referido, os percursos, não só constituem um importante instrumento pedagógico para a implementação da educação ambiental, mas também na promoção do turismo e do lazer.

Bibliografia

CONTENTE, J., BRAGA, T.(1996), Educação para o Ambiente, polic.
DIAS, G., (1992), Educação Ambiental: princípios e práticas, São Paulo, Editora Gaia, Ltda.
MELO, J., (1999), Os 500 anos do Brasil e a Educação Ambiental, polic.
OSTOLAZA, M. (1996), Eco-Auditoria Escolar, Vitória-Gasteiz, Servicio Central de Publicaciones del Gobierno Vasco.
ROCHA, P., (1999), Arte Educação Ambiental para uma cidadania Político-Participativa, polic.
(1992), Contributo das Associações de defesa do Ambiente para a Estratégia Nacional de Educação Ambiental, Évora, Centro de Iniciação ao Ambiente- Liga para a Protecção da Natureza.


(Publicado no “Açoriano Oriental”, 5 de Junho de 2000)

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