quinta-feira, outubro 18, 2007

Impactos da Eucaliptização

Impactos da Eucaliptização

A monocultura do Eucalipto, ao contrário, do que pretendem fazer crer as indústrias de celulose, poderá trazer consequências dramáticas para a água, o solo, a flora e fauna, a economia e a cultura de uma determinada região.

1 - Para a Água
É sobretudo em áreas de baixa precipitação que o efeito dos eucaliptais poderá ter efeitos perniciosos sobre os recursos hídricos. Nas regiões mais secas “a armação do solo em terraços, aumentando as disponibilidades de água para as plantas devido à maior infiltração, aumenta a evapotranspiração e reduz ainda mais a saída de água das bacias”. Nos Açores, apesar da grande pluviosidade, por falta de estudos prévios as consequências são ainda imprevisíveis.

2 - Para o Solo
São sobretudo, as técnicas de instalação e a desprotecção causada pelos cortes rasos, as principais causas dos impactos negativos sobre os solos.
A ripagem, gradagem e terraceamento integral do terreno decapa o solo, expondo-o aos agentes atmosféricos e “a desprotecção provocada pelos cortes a intervalos muito curtos contribuem para a erosão laminar e ravinar, particularmente em solos declivosos”.
Depois de terminado o ciclo de produção ficará o terreno coberto de cepos. Estes se não forem removidos deixam o terreno improdutivo e inutilizável para a reconversão. “Por outro lado, a remoção dos cepos em solos compactos será particularmente difícil e onerosa, senão impossível, contribuindo para a forte erosão em declives acentuados.”

3 – Para a Flora e Fauna
A instalação de extensos povoamentos florestais e cortes, em períodos relativamente curtos pressupõe “a destruição das comunidades pré-existentes ou entretanto desenvolvidas durante o crescimento do povoamento”. Com a plantação indiscriminada, correrão perigo de extinção diversas espécies da nossa flora primitiva, já bastante ameaçada.
“A substituição sistemática das fitocenoses naturais que constituem valiosos habitats para a fauna, por eucaliptais exóticos extremamente pobres, em nichos ecológicos e de escassos recursos alimentares, constitui uma das mais importantes causas de abundância e diversidade faunística”.

4 – Para a Economia
Uma forte componente de capital estrangeiro da maior parte das empresas, faz com que grande parte dos lucros sejam «desviados» para países estrangeiros, os quais ficam livres de impactos negativos da eucaliptização.
É falso afirmar que o eucalipto é a espécie que mais rendimento proporciona. “Por exemplo, está calculado em cerca de 90 contos ha/ano o rendimento potencial gerado por um sobreiral na região do Ribatejo, enquanto que para a mesma área o eucaliptal não permitirá um rendimento superior a 55 contos ha/ano”.
“A opção económica pela monocultura intensiva do Eucalipto é altamente dependente das flutuações de preços a nível do mercado mundial”, o que não se verifica se a opção for pela floresta de uso múltiplo.

5 – Para a Cultura
A substituição de uma paisagem, parte integrante da identidade de uma região e de um povo, por outra, para além de ser um verdadeiro atentado à nossa identidade cultural, poderá trazer consequências graves para a actividade turística que se pretende para os Açores.

(Texto da responsabilidade dos Amigos dos Açores, escrito com base no documento “A Eucaliptização de Portugal”, subscrito pelas seguintes organizações: Quercus – Associação Nacional para a Conservação da Natureza, Liga para a Protecção da Natureza, Grupo de Estudos do Ordenamento do Território e Ambiente, Associação Portuguesa de Biólogos, Grupo Universitário de Évora de Estudos do Ambiente e Associação de Agricultura Biológica.)

(Publicado no “ Correio dos Açores”, 1 de Fevereiro de 1990)

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