domingo, dezembro 31, 2006

Mar dos Açores, "cemitério" de resíduos radioactivos

Os pricipais problemas levantados pela utilização da energia nuclear situam-se a dois níveis: as consequências directas que resultam dessa mesma utilização, com todos os perigos a ela inerentes dadas as actuais limitações nos conhecimentos, tanto na previsão dos riscos como na manutenção propriamente dita das centrais e os problemas subjectivos, essencialmente políticos, que o uso deste tipo de energia permite levantar.

Neste artigo abordarei, apenas, o problema do armazenamento dos resíduos radioactivos o qual se insere no primeiro tipo de consequências atrás mencionadas.

Sabe-se que uma central nuclear de 1000 MW produz, anualmente, tantos resíduos radioactivos como mil bombas de Hiroxima...É óbvio que os resíduos radioactivos, com níveis de radioactividade perigosos durante centenas e mesmo milhares de anos, não podem estar em contacto com o meio ambiente, sob pena de cosntituirem uma terrível ameaça a todas as formas de vida. Têm, pois, de ser guardadas em recipientes absolutamente estanques e armazenados em determinados locais durante todo esse tempo. Que fazer, então, com esses resíduos?

A primeira “solução” foi fazer imergir esses resíduos ao largo das costas do Atlântico e do Pacífico. É assim que, a 500 km a oeste do cabo Finisterra , ou seja a meio caminho entre a Península Ibérica e os Açores, há sete “cemitérios” de resíduos radioactivos onde são lançados os resíduos da laboração de 40 centrais nucleares europeias.

Sabendo que a corrente do golfo que passa na zona do “cemitério” se dirige na direcção dos Açores e que ao encntrar a cordilheira submarina do nosso arquipélago a corrente divide-se em duas, perdendo velocidade, fazendo com que, em caso de alguma rotura, eventuais partículas radioactivas tendem a depositar-se nas nossas águas.

Que consequências poderão advir, para nós açorianos, da existência de tais “cemitérios” no Atlântico?

Hoje, o problema do armazenamento dos resíduos radioactivos continua por resolver. Fazer contentores mais seguros, de modo que após 20 000 ou mais anos permaneçam intactos, é algo que ultrapassa as garantias mais optimistas que a ciência e atecnologia actuais podem fornecer. A agravar a situação, o comandante Cousteau, especialista internacionalmente respeitado, revelou que os contentores em que os resíduos são envolvidos rebentam no fundo do mar, espalhando partículas radioactivas em redor e no caso dos contentores lançados recentemente no Atlântico, os ecologistas afirmam que aqueles já vão em mau estado.

A riqueza, insuficientemente explorada, dos nossos mares está, pois, em risco de ser contaminada, e em risco estamos todos nós, pois como se sabe, o “mal” radioactivo vai-se acumulando ao longo da nossa cadeia alimentar que, ao chegar ao homem, poderá trazer níveis já muito elevados de radioactividade, com evidentes prejuízos para a nossa saúde (hipóteses de cancros, leucemias, modificações genéticas nas gerações futuras, etc.).

( Publicado no jornal “Açoreano Oriental”, 19 de Julho de 1981)

sábado, dezembro 30, 2006

Lixo Radioactivo Traz Enormes Riscos


“É necessário lutar contra o nuclear. É o problema importante do século, o resto não passa de um pormenor, estamos diante da morte da civilização”
Lanza Del Vasto

Está previsto para o próximo dia onze o lançamento de cerca de mil toneladas de lixo radioactivo num cemitério atómico situado a cerca de 500 milhas a nordeste do arquipélago dos Açores.

Apesar da Convenção de Londres sobre os Despejos de detritos nucleares nos oceanos ter aprovado, por maioria, a suspensaão do vazamento, o Japão e a Inglaterra continuam dispostos a continuar com tal prática.

Na referida Convenção, que reuniu entre 14 e 18 de Fevereiro, um estudo científico apresentado pelos governos de Kiribate e Nauru ( rep.do Pacífico) revelou que todos os cemitérios nucleares apresentam fugas radioactivas.

Que consequências poderão advir para nós, açorianos, da existência de tais “cemitérios” no Atlântico?

A não cessar, imediatamente, o despejo de lixo radioactivo no Atlântico a riqueza, insuficientemente explorada, dos nossos mares está em perigo e em risco estamos todos nós, pois como se sabe, o “mal” radioactivo vai-se acumulando ao longo das cadeias alimentares que, ao chegar ao homem, poderá trazer níveis já muito elevados de radioactividade, com evidentes prejuízos para a nossa saúde ( hipóteses de cancros, leucemias, modificações genéticas nas gerações futuras, etc.).

Que posição tomar, então?

Apesar de não sermos contrários à posição defendida pelo Governo Regional, que é favorável à imediata suspensão do lançamento de detritos nucleares no Oceano Atlântico e que passem a ser depositados nos países produtores e utilzadores de energia atómica, vamos um pouco mais além, isto é, somos pela manutenção do uránio no solo, bem no fundo das minas.

(Publicado no jornal “Diário Insular”, 8 de Julho de 1983)

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Carta Aberta aos Partidos Políticos

Na presente campanha eleitoral para a Assembleia da República, todos os partidos políticos têm utilizado temas ecologistas quer nos seus manifestos eleitorais quer nos programas de Governo que apresentam ao eleitorado.
A utilização de temas ecologistas nas campanhas eleitorais, para além de constituir uma forma oportunista (ou não) de arrecadar o maior número de votos possível do eleitorado, sobretudo dos sectores mais sensíveis para as questões do ambiente e da ecologia, mostra a universalidade e a necessidade do discurso ecologista. Por tais motivos, urge, desde já, esclarecer duas questões:

O que pretende o movimento ecologista independente?
Será o ecologismo um movimento de esquerda ou de direita?

Em relação à primeira questão trata-se de se saber o que, afinal queremos: “Um capitalismo que se acomode às pressões ecológicas ou a uma revolução económica, social e cultural, que vá abolir as pressões do próprio capitalismo e, consequentemente instaurar uma nova relação entre o homem e a colectividade, o meio ambiente e a natureza” (Michel Bosquet). A segunda alternativa é, não termos duvida, a opção dos ecologistas.

No que diz respeito à segunda questão já por várias vezes afirmamos que a ecologia não é uma questão de direita ou de esquerda. Trata-se, sim, de uma questão de vida ou de morte. De facto, a crise ecológica que atravessamos não poderá encontrar soluções na via produtivista seguida quer a Oeste quer a Leste.

A degradação da vida nas cidades, o excesso de poluição, o problema dos resíduos radioactivos, o esgotamento dos recursos naturais, o desemprego, etc, só poderão ser resolvidos com um novo modelo de sociedade (que poderá ser construída hoje mesmo, se nós quisermos) que promova a autogestão dos meios de produção, a criação de pequenas unidades de produção que pelas suas próprias características favorecem a criatividade humana, a descentralização administrativa, a reconversão das industrias bélicas em civis, a criação de uma alternativa humanista e não violenta à defesa nuclear, etc., etc.

Por último, gostaríamos que todos, mas todos os Partidos políticos se pronunciassem acerca se algumas reivindicações, que fazemos e que, quanto a nós, poderão ser implementadas a curto prazo.

Aqui vão elas:

Ratificação, pela Região, dos convénios internacionais sobre o meio ambiente.

Implementação, na Região, das medidas necessárias ao respeito pelos pareceres da Comissão Baleeira Internacional e aos acordos dos C.I.T.E.S e extensão a esta do decreto-lei 263/81, de 3 de Setembro.

Criação de legislação adequada com vista à protecção da Z. E. E que proteja a pesca e a fauna marinha e se oponha à contaminação das nossas águas costeiras.

Implementação de culturas agrícolas diversificadas e favorecimento de cultivos que aumentem a fertilidade do solo e contribuam para parar com a erosão aquífera do subsolo.

Supressão gradual de produtos fitofármacos na agricultura. Actualização da legislação sobre a homologação destes produtos e criação de uma lei-quadro que limite a sua utilização. Promoção da investigação e do desenvolvimento da luta integrada e biológica contra as pragas.

Condenar a construção de unidades energéticas de origem nuclear no Continente português e combater o despejo de resíduos radioactivos no Atlântico.

Promover estudos e apoiar o incremento da produção energética alternativa e definir/executar uma politica regional de conservação de energia.

Proibir as garrafas não reutilizáveis e estimular a reciclagem do papel. Evitar a proliferação de detergentes e bebidas gasosas, através de condicionamentos legislativos. Favorecer e incrementar a utilização colectiva dos bens de uso

Redução da jornada de trabalho com vista a diminuir o desemprego e incrementar a criatividade humana. Incentivar o “produza você mesmo”.

Dar prioridade aos transportes colectivos não motorizados nas cidades. Melhorar as vias actualmente existentes.

Elaboração de um programa educacional que se dirija ao desenvolvimento da autonomia e criatividade dos indivíduos, que tenha em conta os novos meios de comunicação e integre o ser humano no meio em que vive e na Natureza.

Fomento da medicina preventiva e dos métodos naturais de combate às doenças. Recusa de unidades hospitalares desumanas e demasiado grandes. Controle rigoroso dos produtos farmacêuticos.

Fiscalização da qualidade dos artigos de consumo, através de organismos administrativos em que estejam representadas organizações de consumidores.

Recusa da instalação de armamento nuclear no nosso País ou da sua passagem pelas nossas águas territoriais. Diminuição progressiva das despesas militares e consignação de parte da verba destinada às Forças Armadas à implementação de um instituto nacional de estudo sobre a defesa não violenta.

Criação de um estatuto de objector de consciência ao serviço militar que corresponda as razões éticas, morais ou políticas que a este presidam. Reconversão gradual das indústrias militares bélicas e controlo de todo o comércio de armas, que no nosso País encontra trave giratória.


(Publicado no Correio dos Açores, 21 de Abril de 1983)

Salvar o Meio Ambiente para Salvar o Homem

Há dez anos, precisamente entre 5 e 16 de Junho de 1972, realizou-se, em Estocolmo, a primeira Conferência Mundial sobre a Protecção do Meio Ambiente. Nesta conferência foi aprovada a “Declaração do Ambiente”, documento de extrema importância, cuja proclamação e princípios permanecem perfeitamente actuais.

Fazendo um pequeno balanço à situação do meio ambiente verifica-se que, apesar dos diversos acordos internacionais ratificados por cerca de 60 países, respeitando principalmente ao controle da poluição das águas oceânicas, a sua qualidade piorou significativamente em todos os sectores. Este facto levou a que o Dr. Mustajá Tolba, microbiólogo egípcio e director da U. N. E. P. (United Nations for the Environment Program), departamento do O. N. U. criado especialmente para a protecção do meio ambiente, em declarações recentemente prestadas afirmasse: “O mundo está ameaçado por uma catástrofe do meio ambiente tão extensa e tão irreversível quanto o holocausto nuclear”.
Passemos a confrontar a realidade com alguns aspectos do êxito da Declaração.
No seu primeiro capítulo, e no ponto três, pode ler-se: …Multiplicam-se à nossa volta os indícios crescentes de perigos, de destruições e de devastações causadas pelo homem em muitas regiões do globo: níveis perigosos de poluição da água, do ar, da terra e dos seres vivos; perturbações profundas e indesejáveis do equilíbrio ecológico da biosfera; destruição e esgotamento de recursos insubstituíveis; e graves deficiências no ambiente que o próprio homem criou, em particular naquele em que vive e trabalha, prejudiciais à sua saúde física, mental e social, o segundo capítulo, principio dois, diz-nos que “os recursos naturais do Globo, incluindo o ar a água, a terra, a flora, a fauna e, em especial, amostras representativas dos ecossistemas naturais, devem ser salvaguardadas no interesse das gerações presentes e futuras, mediante planeamento e ou gestão cuidadosa, como apropriado”.

Se se tivesse em consideração o texto referido, não se chegaria à situação, verdadeiramente lamentável, a que se chegou: dez anos após a conferência de Estocolmo falta a água potável a cada vez maior número de pessoas, os desertos avançam na superfície da Terra a uma média de 20 milhões de hectares por ano e a poluição dos oceanos agravou-se bastante.
É, porém, no chamado Terceiro Mundo que o problema da preservação do meio ambiente é bastante complexo. O êxodo rural é enorme, em termos globais cerca de 42% da população, em 1980, e à procura de emprego, deixou o campo para ir viver em cidades superpovoadas e insalubres. Ainda nestes países verifica-se a destruição maciça das florestas o que levou a Organização para a Agricultura e Alimentação a prever que, na viragem do século, cerca de 3 biliões de pessoas encontrar-se-ão sem uma fonte de energia que substitua a madeira. Para solucionar estes problemas a Declaração aponta que “ tais países devem portanto orientar os esforços no sentido do desenvolvimento, tomando em linha de conta as prioridades e a necessidade de salvaguardar e melhorar o ambiente. Com o mesmo objectivo os países industrializados devem procurar reduzir a lacuna existente entre eles próprios e os países em desenvolvimento”. Será que os governantes dos países do Terceiro Mundo e os dos países industrializados têm em conta estas disposições? A verdade é que a maioria não as tem em consideração e que, apesar de muitas conversações Norte-Sul, etc, etc., os países capitalistas (ou “socialistas”) desenvolvidos pagam matérias-primas do Terceiro Mundo a preços baixíssimos, enquanto que exportam a sua tecnologia a preços inflacionistas. A monocultura, a indiscriminada utilização de fertilizantes químicos e de formas mais sofisticadas de energia são “impostas” pelos neocolonialistas e colonialistas aos países subdesenvolvidos (não estarão eles a querer impingir-nos centrais nucleares?), trazendo para estes danos importantes, alguns mesmo irreparáveis, como acontece no Sahel, onde a desertificação avança a passos largos.
A completa eliminação e destruição das armas nucleares eram também recomendadas pela Conferência de Estocolmo. Hoje, passados dez anos, paira sobre nós a ameaça de uma guerra nuclear, a corrida aos armamentos por parte das potências imperialistas não para, apesar dos tratados de paz celebrados, das propostas de redução dos armamentos ou das moratórias.
Não queríamos terminar sem apelarmos a todas as pessoas, para que nas suas acções tenham, sempre em conta o que vem consignado na “Declaração do Ambiente”. Um apelo especial a todos os órgãos de informação de massa para que colaborem na defesa do meio ambiente, difundindo “informações de natureza educativa sobre a necessidade de proteger e melhorar o ambiente a fim de permitir que o homem se desenvolva em todos os aspectos”.

(Publicado no jornal “ A União, 5 de Junho de 1982)

Juventude e Ecologia

De alguns anos para cá, a Ecologia é uma ciência que “anda na moda”.
Para alguns esta “ciência do ambiente” deveria salvar a humanidade dos males da civilização industrial. Para outros, a Ecologia é “a ciência da poluição”, considerando-a uns poucos como a última das poluições, a do cérebro, pois alimenta a inquietação no espírito do homem.
A industrialização e a urbanização selvagens levam à devastação das grandes florestas, à esterilização das terras, ao envenenamento dos rios e mares, à extinção de espécies animais e vegetais, ao uso e abuso do nuclear e até ao risco de desaparecimento do próprio homem.
No mundo em que vivemos, tudo, até a vida é um investimento. Não é o bem-estar, a conservação do ambiente, o equilíbrio ecológico que está em causa, para eles o que conta é o lucro e a rapina. Que se danem as pessoas, que se lixe o planeta, o que interessa é lucrar hoje e manter a situação de qualquer forma.
Assiste-se, hoje, a um aumento significativo do interesse por este problema a par com o desinteresse crescente para com as “politiquices” da maioria dos políticos e respectivos partidos. Isto acontece principalmente devido à tomada de consciência de sectores cada vez maiores da juventude de que é necessário agir, de que o futuro não está traçado, de que a “catástrofe” só acontecerá se permanecermos alheios aos problemas.
Em suma ganha consciência entre os jovens o facto de a questão ”ecológica” não ser de direita ou de esquerda, mas sim uma questão de vida ou de morte.

( Publicado no suplemento “A Forja” do jornal “Diário Insular”, 21 de Outubro de 1981)

quinta-feira, dezembro 28, 2006

ECOLOGIA E PLANO A MÉDIO PLANO

O Plano a Médio Prazo (1981/84) apresentado pelo Governo Regional e que será discutido, ainda este mês, na Assembleia Regional estará longe, mesmo muito longe, de apresentar “soluções” ecológicas (as únicas) para os mais diversos problemas.

Assim as “soluções” apresentadas ou não passam de pura demagogia, pois apresentam-se objectivos e não se prevê verba ou realização nenhuma como no sector do ambiente, ou então são “soluções” que visam apenas melhorar o mal como no caso da saúde.

No que diz respeito à saúde podemos ler: “Com este programa pretende-se, na generalidade, melhorar a funcionalidade do sistema através, nomeadamente, de mais adequada cobertura sanitária do Arquipélago”. As verbas previstas destinam-se à beneficiação e apetrechamento de unidades de saúde, à construção de novas unidades e escolas de enfermagem, à aquisição de material de transporte e à construção de moradias para a fixação de pessoal.
Pretender atenuar os males (doenças) sem ir às causas mais não se faz do que agravar a situação. Mais hospitais não significa, necessariamente melhor saúde. Pode significar, sim, mais doentes.
Mas vejamos algumas opiniões sobre tal assunto.
Para Ivan Illich, a medecina, hoje, provoca mais doentes do que aqueles que cura. Michel Bosquet, em artigo saído em “Le Nouvel Observateur”, em 21 de Outubro de 1974, diz-nos: “Mas as doenças que se tratam em vez de prevenir não “compensam”, mesmo sem ser politicamente; fazem manter indústrias e portanto “riquezas”; o crescimento concomitante do número de doentes e das indústrias da “saúde” surge nos orçamentos nacionais como um “enriquecimento”, ao passo que o desaparecimento destas indústrias por falta de doentes se traduziria por um decréscimo do produto nacional e seria um duro golpe para o capitalismo. Em resumo, a doença dá lucro e a saúde não”.
A leitura do ensaio do Dr. Rocha Barbosa “O Problema da Saúde”, leva-nos a concluir que as medidas propostas pelo Governo pouco (ou nada) adiantam. Vejamos algumas passagens: “As verbas astronómicas de toda esta medicina, desviada erradamente dos seus reais objectivos, tem de ter um travão urgente, e a nossa sociedade terá de reciclar a sua mentalidade em relação a estes problemas, fazendo reviver as realidades ecológicas e eternas da vida, opondo um dique poderoso e eficaz a todas as formas de poluição e de degradação do meio ambiente e das condições de vida, e esse esforço, quando for feito, esse sim será o preço da saúde. Por ora, as verbas astronómicas que cada anos se gastam, quase incomportáveis já para os orçamentos de todos os Estados, isto é o preço de doença, preço exorbitante que se consome cada dia em hospitais cada vez mais numerosos e cada vez mais sofisticados, hospitais que, por mais avançada que seja a tecnologia, jamais serão capazes de resolver o problema da saúde, ainda que mostrem tantas vezes globalmente eficazes na sua missão industrial de tratar a doença”. E mais adiante: “Só aboliremos a doença e só teremos saúde quando os hospitais começarem a esvaziar-se, e isto na medida em que formos dando às pessoas condições de alojamento, condições de habitação, condições de trabalho, condições de cultura e objectivos sociais e humanos que façam esquecer para sempre a realidade dramática e alienante duma sociedade madrasta em que hoje vivemos e na qual nos vamos aniquilando irremediavelmente”.

No que toca ao ambiente, em que as medidas previstas pouco (ou nada) têm de ecológicas, queríamos apenas referir-nos a um dos objectivos propostos: “Defesa das espécies animais e recuperação de sistemas com vista à preservação das espécies em vias de extinção!”.

Estando o Governo tão preocupado com a defesa das espécies animais em vias de extinção, porque permitiu a continuação da caça ao cachalote, este ano, o que levou a que só os Açores ultrapassassem a cota autorizada no Atlântico, com a captura de 100 espécimes?

Sabendo-se que a cota fixada pela CIB, para 1982 é de zero, irá o Governo continuar a autorizar a caça ao cachalote?

Gerald le Grand num artigo de opinião, saído no jornal “Açores” de 1 de Outubro, diz a dado passo: “Pedimos uma vez mais aos Açorianos e ao Governo Regional para abrir o debate sobre a caça à baleia, para discutir sobre a reconversão de fábricas baleeiras e dos seus empregados, para discutir a promoção turística, caça fotográfica, regatas de baleeiras, festas de baleia… para discutir a criação de santuário para os mamíferos as aves e tartarugas marinhas na ZEE dos Açores.

Porque não dá o governo resposta nenhuma, nem se refere ao facto do presente plano?
Porque se limita a exemplificar, como espécie em vias de extinção e a preservar o priôlo?

( Publicado no jornal “Correio dos Açores”, 13 de Novembro de 1981)

domingo, dezembro 24, 2006

Ecologia, o que é?

A ecologia faz parte de um conjunto bastante vasto e diversificado de interesses e necessidades que motivam a juventude. Daí iniciarmos neste número uma série de artigos sobre o tema.

A palavra “ecologia”, aparecida em 1866, foi criada por Ernst Haeckel, biólogo alemão, que fundiu duas raízes gregas: oikos (a casa) e logia (o discurso). Segundo o Dicionário Enciclopédico Koogan- Larousse , ecologia é a “parte da biologia que tem por objectivo o estudo das relações dos seres vivos com o meio natural e da sua adaptação ao ambiente físico ou moral”.

Da visão que a ecologia tem das coisas, podemos tirar vários ensinamentos que Barry Commoner sintetizou em quatro grandes princípios:

- Tudo está relacionado com tudo;

- Todas as coisas dirigem-se para qualquer parte. É o enunciado vulgar da conservação da matéria, que poderá ser traduzido por: ninguém consegue despejar os caixotes de lixo do planeta;

- Não há refeição gratuita. É a degradação da energia. As actividades do homem, as suas “refeições” são pagas em energia;

- A natureza é sábia. Esta afirmação ilustra o funcionamento maravilhosamente equilibrado da natureza: a complexidade e a diversidade dos equilíbrios naturais são garantes da sua estabilidade. Mostra também o fascínio da ecologia pelo mundo selvagem que poderia ser visto como um modelo de organização...se não houvesse o homem cuja actividade primeira é modificá-lo profundamente.

Estudando os equilíbrios naturais, a ecologia apercebeu-se da sua degradação crescente. A industrialização e a urbanização selvagens levam à devastação das grandes florestas, à estirilização das terras, ao envenenamento dos rios e mares, à extinção de espécies animais e vegetais, ao uso e abuso da energia nuclear (quer so a forma de centrais, quer de armas) e até ao risco de desaparecimento do próprio homem.

Assite-se, hoje, a um aumento de interesse por esse problema, devido à tomada de consciência de sectores cada vez maiores da juventude de que é necessário e urgente agir, de que o futuro não está traçado, de que a “catástrofe” só acontecerá se permanecermos alheios aos problemas.

Para terminarmos esta introdução ao tema, apresentamos alguns conselhos de Sicco Mansholt aos jovens: “ Que não vivam como eremitas e menos ainda como santos. Que amem a vida, o teatro, as artes, a cultura. Que defendam o futuro das gerações vindouras não desbaratando o solo, nem a água, nem os recuros naturais que um dia lhes farão falta”.



( Publicado no jornal estudantil “Intervenção”, 23 de Dezembro de 1981)

sábado, dezembro 23, 2006

BALEIAS! ELIMINADA A AMEAÇA DE EXTINÇÃO?

Sabemos que, na Terra, houve mamutes, dinossauros, etc., mas nunca os vimos. As baleias, que já tivemos oportunidade (e facilidade) de ver, não é ainda um animal extinto. Mas se o massacre, de que são vítimas, continuar, apesar de a Comissão Baleeira Internacional (IWC) haver proibido a sua caça a partir de 1985, a ameaça de extinção de algumas espécies importantes de baleias continua latente.

Sabe-se que, desde o século XVIII, os nossos mares foram palco de capturas por parte de veleiros americanos. Entre nós, a indústria baleeira só começou a ser explorada a partir de 1886, em São Miguel (desconhecemos se a nível dos Açores) por iniciativa do Sr. Amâncio Júlio Cabral. A caça à baleia, na Região, após ter sido incrementada, neste momento está condenada a desaparecer por si, felizmente, sem trazer grandes problemas à economia regional, como poderemos ver adiante. Das 13 baleeiras existentes em 1974, hoje apenas restam sete, cinco no Pico, uma no Faial e uma nas Flores.

A pesca da baleia, entre nós, continua a ser feita de um modo que se pode considerar primitivo. Embora tal método não permita grandes capturas como o permite a utilização de métodos sofisticados, é, sem sombra de dúvidas, uma das formas mais cruéis de matar um animal. Com efeito, só ao fim de 2 a 5 horas de agonia e sofrimento a baleia morre.

Como já foi referido pela imprensa, a Comissão Baleeira Internacional decidiu proibir, a partir do próximo mês de Outubro, a utilização dos chamados “arpões frios”, utilizados também pelos nossos pescadores, que provocam uma morte lenta e dolorosa e recomendou que na caça à baleia sejam utilizados explosivos de modo a que a morte seja rápida.

Irá tal decisão ser acatada? Esperamos que, no mais breve espaço de tempo, o Governo Regional tome as medidas adequadas.

Do ponto de vista económico, as razões para a continuação do massacre das baleias são inexistentes. Para todos os produtos extraídos das baleias existem substitutos sintéticos, a preços mais compensadores. Hoje, dos cachalotes capturados nos Açores extrai-se óleo de fraca qualidade e de difícil venda. Existem na Região 800 toneladas de óleo à espera (até quando) de melhores preços.

Sabendo-se que são, apenas, sete os países que podem comprar o óleo açoriano sem correrem o risco de infringirem as posições que têm tomado no seio da IWC, quem estará interessado em comprar o nosso óleo?

No dizer de Zé Lima e Gérald Le Grand, em artigo publicado na revista “SOBREVIVER”, o verdadeiro lucro é o resultado do tráfico ilegal dos dentes de cachalote. O que faz lembrar o sinistro destino dos elefantes africanos, massacrados para que os turistas de todo o mundo pudessem ter direito ao seu “souvenirzinho”…”.

No que toca ao número de pessoas ligadas ao sector, podemos acrescentar que é tão diminuto que, facilmente, poderão ser encaminhadas para outras actividades também lucrativas.

O jornal “Açoriano Oriental” de 5 de Junho de 1981, num artigo publicado a propósito do Dia Mundial do Ambiente, referia-se às possibilidades de reciclagem da indústria baleeira, citando a dado passo; “… A MAIOR PARTE DAS EMBARCAÇÕES UTILIZADAS NA CAÇA À BALEIA, PODEM SER EMREGUES IMEDIATAMENTE NOUTRAS FORMAS DE PESCA. AS USINAS DE TRATAMENTO DE CACHALOTES SÃO TODAS MUITO VELHAS (apenas 1 funciona realmente) E A SUA TRANSFORMAÇÃO É URGENTE. SERIA MUITO MAIS ÚTIL PARA A REGIÃO MONTAR USINAS DE TRATAMENTO DE PEIXE DO QUE RENOVAR UMA INDÚSTRIA QUE DESAPARECERÁ DENTRO DE 10 OU 15 ANOS, LOGO QUE NÃO HAJAM MAIS BALEIAS. E ISTO NUMA ALTURA EM QUE SE DESENVOLVE O SECTOR DAS PESCAS NA REGIÃO… O DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO DOS AÇORES ESTÁ NA SUA JUVENTUDE E AS BALEIAS PODEM CONTRIBUIR PARA O SEU SURTO. NÃO HÁ MUITAS REGIÕES DO MUNDO ONDE SE POSSA ENCONTRAR AS BALEIAS, FOTOGRAFÁ-LAS E OUVI-LAS CANTAR. O EXEMPLO DA FLÓRIDA E DO SEU ARQUIPÉLAGO DO HAWAI MOSTRA QUE TAL ACTIVIDADE É PROCURADA E RENTÁVEL…”

Esperamos que o Governo Regional cumpra o que vem expresso no Plano a Médio Prazo (1981/84), nomeadamente o objectivo em que se propõe a defesa das espécies animais e a recuperação de sistemas com vista à preservação das espécies em vias de extinção.

É urgente começar-se, desde já, a pensar na reciclagem da indústria baleeira, para que em 1985 Portugal não esteja incluído na lista dos países responsáveis pelo extermínio das baleias.

Apesar do regozijo com que foi recebida, pelos ecologistas, a proposta apresentada pelas Seyshelles proibindo a partir de 1985 toda a caça comercial da baleia, pensamos que tal medida poderá funcionar como arma de dois gumes, já que não foi aceite por unanimidade. Segundo o “EXPRESSO” de 31 de Julho de 1982, “AO APROVAREM A PROIBIÇÃO TOTAL DA CAÇA DA BALEIA A A PARTIR DE 1985, OS PAÍSES DE ICW PODERÃO TER, DE FACTO, COLOCADO UM TRAVÃO NO EXTERMÍNIO NO MAIOR ANIMAL VIVO DA TERRA. MAS, AO MESMO TEMPO, PODERÃO TER ABERTO CAMINHO A QUE AS MAIORES POTÊNCIAS BALEEIRAS SE DESOBRIGUEM DAS DECISÕES DA COMISSÃO E PASSEM A EXERCER A CAÇA SEM QUALQUER CONTROLE INTERNACIONAL. E, NESSE CASO, SEM OUTRO TRAVÃO A ESSA PRÁTICA QUE O DAS HABITUAIS CONDENAÇÕES VERBAIS, NÃO PODERIAM ESTAR EM MAIOR RISCO OS POUCOS MILHARES DE BALEIAS QUE AINDA HOJE EXISTEM ESPALHADAS PELOS MARES”.

( Publicado no boletim “Priôlo”, nº 1, Primavera de 1983)