quinta-feira, dezembro 28, 2006

ECOLOGIA E PLANO A MÉDIO PLANO

O Plano a Médio Prazo (1981/84) apresentado pelo Governo Regional e que será discutido, ainda este mês, na Assembleia Regional estará longe, mesmo muito longe, de apresentar “soluções” ecológicas (as únicas) para os mais diversos problemas.

Assim as “soluções” apresentadas ou não passam de pura demagogia, pois apresentam-se objectivos e não se prevê verba ou realização nenhuma como no sector do ambiente, ou então são “soluções” que visam apenas melhorar o mal como no caso da saúde.

No que diz respeito à saúde podemos ler: “Com este programa pretende-se, na generalidade, melhorar a funcionalidade do sistema através, nomeadamente, de mais adequada cobertura sanitária do Arquipélago”. As verbas previstas destinam-se à beneficiação e apetrechamento de unidades de saúde, à construção de novas unidades e escolas de enfermagem, à aquisição de material de transporte e à construção de moradias para a fixação de pessoal.
Pretender atenuar os males (doenças) sem ir às causas mais não se faz do que agravar a situação. Mais hospitais não significa, necessariamente melhor saúde. Pode significar, sim, mais doentes.
Mas vejamos algumas opiniões sobre tal assunto.
Para Ivan Illich, a medecina, hoje, provoca mais doentes do que aqueles que cura. Michel Bosquet, em artigo saído em “Le Nouvel Observateur”, em 21 de Outubro de 1974, diz-nos: “Mas as doenças que se tratam em vez de prevenir não “compensam”, mesmo sem ser politicamente; fazem manter indústrias e portanto “riquezas”; o crescimento concomitante do número de doentes e das indústrias da “saúde” surge nos orçamentos nacionais como um “enriquecimento”, ao passo que o desaparecimento destas indústrias por falta de doentes se traduziria por um decréscimo do produto nacional e seria um duro golpe para o capitalismo. Em resumo, a doença dá lucro e a saúde não”.
A leitura do ensaio do Dr. Rocha Barbosa “O Problema da Saúde”, leva-nos a concluir que as medidas propostas pelo Governo pouco (ou nada) adiantam. Vejamos algumas passagens: “As verbas astronómicas de toda esta medicina, desviada erradamente dos seus reais objectivos, tem de ter um travão urgente, e a nossa sociedade terá de reciclar a sua mentalidade em relação a estes problemas, fazendo reviver as realidades ecológicas e eternas da vida, opondo um dique poderoso e eficaz a todas as formas de poluição e de degradação do meio ambiente e das condições de vida, e esse esforço, quando for feito, esse sim será o preço da saúde. Por ora, as verbas astronómicas que cada anos se gastam, quase incomportáveis já para os orçamentos de todos os Estados, isto é o preço de doença, preço exorbitante que se consome cada dia em hospitais cada vez mais numerosos e cada vez mais sofisticados, hospitais que, por mais avançada que seja a tecnologia, jamais serão capazes de resolver o problema da saúde, ainda que mostrem tantas vezes globalmente eficazes na sua missão industrial de tratar a doença”. E mais adiante: “Só aboliremos a doença e só teremos saúde quando os hospitais começarem a esvaziar-se, e isto na medida em que formos dando às pessoas condições de alojamento, condições de habitação, condições de trabalho, condições de cultura e objectivos sociais e humanos que façam esquecer para sempre a realidade dramática e alienante duma sociedade madrasta em que hoje vivemos e na qual nos vamos aniquilando irremediavelmente”.

No que toca ao ambiente, em que as medidas previstas pouco (ou nada) têm de ecológicas, queríamos apenas referir-nos a um dos objectivos propostos: “Defesa das espécies animais e recuperação de sistemas com vista à preservação das espécies em vias de extinção!”.

Estando o Governo tão preocupado com a defesa das espécies animais em vias de extinção, porque permitiu a continuação da caça ao cachalote, este ano, o que levou a que só os Açores ultrapassassem a cota autorizada no Atlântico, com a captura de 100 espécimes?

Sabendo-se que a cota fixada pela CIB, para 1982 é de zero, irá o Governo continuar a autorizar a caça ao cachalote?

Gerald le Grand num artigo de opinião, saído no jornal “Açores” de 1 de Outubro, diz a dado passo: “Pedimos uma vez mais aos Açorianos e ao Governo Regional para abrir o debate sobre a caça à baleia, para discutir sobre a reconversão de fábricas baleeiras e dos seus empregados, para discutir a promoção turística, caça fotográfica, regatas de baleeiras, festas de baleia… para discutir a criação de santuário para os mamíferos as aves e tartarugas marinhas na ZEE dos Açores.

Porque não dá o governo resposta nenhuma, nem se refere ao facto do presente plano?
Porque se limita a exemplificar, como espécie em vias de extinção e a preservar o priôlo?

( Publicado no jornal “Correio dos Açores”, 13 de Novembro de 1981)

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