domingo, dezembro 31, 2006

Mar dos Açores, "cemitério" de resíduos radioactivos

Os pricipais problemas levantados pela utilização da energia nuclear situam-se a dois níveis: as consequências directas que resultam dessa mesma utilização, com todos os perigos a ela inerentes dadas as actuais limitações nos conhecimentos, tanto na previsão dos riscos como na manutenção propriamente dita das centrais e os problemas subjectivos, essencialmente políticos, que o uso deste tipo de energia permite levantar.

Neste artigo abordarei, apenas, o problema do armazenamento dos resíduos radioactivos o qual se insere no primeiro tipo de consequências atrás mencionadas.

Sabe-se que uma central nuclear de 1000 MW produz, anualmente, tantos resíduos radioactivos como mil bombas de Hiroxima...É óbvio que os resíduos radioactivos, com níveis de radioactividade perigosos durante centenas e mesmo milhares de anos, não podem estar em contacto com o meio ambiente, sob pena de cosntituirem uma terrível ameaça a todas as formas de vida. Têm, pois, de ser guardadas em recipientes absolutamente estanques e armazenados em determinados locais durante todo esse tempo. Que fazer, então, com esses resíduos?

A primeira “solução” foi fazer imergir esses resíduos ao largo das costas do Atlântico e do Pacífico. É assim que, a 500 km a oeste do cabo Finisterra , ou seja a meio caminho entre a Península Ibérica e os Açores, há sete “cemitérios” de resíduos radioactivos onde são lançados os resíduos da laboração de 40 centrais nucleares europeias.

Sabendo que a corrente do golfo que passa na zona do “cemitério” se dirige na direcção dos Açores e que ao encntrar a cordilheira submarina do nosso arquipélago a corrente divide-se em duas, perdendo velocidade, fazendo com que, em caso de alguma rotura, eventuais partículas radioactivas tendem a depositar-se nas nossas águas.

Que consequências poderão advir, para nós açorianos, da existência de tais “cemitérios” no Atlântico?

Hoje, o problema do armazenamento dos resíduos radioactivos continua por resolver. Fazer contentores mais seguros, de modo que após 20 000 ou mais anos permaneçam intactos, é algo que ultrapassa as garantias mais optimistas que a ciência e atecnologia actuais podem fornecer. A agravar a situação, o comandante Cousteau, especialista internacionalmente respeitado, revelou que os contentores em que os resíduos são envolvidos rebentam no fundo do mar, espalhando partículas radioactivas em redor e no caso dos contentores lançados recentemente no Atlântico, os ecologistas afirmam que aqueles já vão em mau estado.

A riqueza, insuficientemente explorada, dos nossos mares está, pois, em risco de ser contaminada, e em risco estamos todos nós, pois como se sabe, o “mal” radioactivo vai-se acumulando ao longo da nossa cadeia alimentar que, ao chegar ao homem, poderá trazer níveis já muito elevados de radioactividade, com evidentes prejuízos para a nossa saúde (hipóteses de cancros, leucemias, modificações genéticas nas gerações futuras, etc.).

( Publicado no jornal “Açoreano Oriental”, 19 de Julho de 1981)

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