sábado, dezembro 23, 2006

BALEIAS! ELIMINADA A AMEAÇA DE EXTINÇÃO?

Sabemos que, na Terra, houve mamutes, dinossauros, etc., mas nunca os vimos. As baleias, que já tivemos oportunidade (e facilidade) de ver, não é ainda um animal extinto. Mas se o massacre, de que são vítimas, continuar, apesar de a Comissão Baleeira Internacional (IWC) haver proibido a sua caça a partir de 1985, a ameaça de extinção de algumas espécies importantes de baleias continua latente.

Sabe-se que, desde o século XVIII, os nossos mares foram palco de capturas por parte de veleiros americanos. Entre nós, a indústria baleeira só começou a ser explorada a partir de 1886, em São Miguel (desconhecemos se a nível dos Açores) por iniciativa do Sr. Amâncio Júlio Cabral. A caça à baleia, na Região, após ter sido incrementada, neste momento está condenada a desaparecer por si, felizmente, sem trazer grandes problemas à economia regional, como poderemos ver adiante. Das 13 baleeiras existentes em 1974, hoje apenas restam sete, cinco no Pico, uma no Faial e uma nas Flores.

A pesca da baleia, entre nós, continua a ser feita de um modo que se pode considerar primitivo. Embora tal método não permita grandes capturas como o permite a utilização de métodos sofisticados, é, sem sombra de dúvidas, uma das formas mais cruéis de matar um animal. Com efeito, só ao fim de 2 a 5 horas de agonia e sofrimento a baleia morre.

Como já foi referido pela imprensa, a Comissão Baleeira Internacional decidiu proibir, a partir do próximo mês de Outubro, a utilização dos chamados “arpões frios”, utilizados também pelos nossos pescadores, que provocam uma morte lenta e dolorosa e recomendou que na caça à baleia sejam utilizados explosivos de modo a que a morte seja rápida.

Irá tal decisão ser acatada? Esperamos que, no mais breve espaço de tempo, o Governo Regional tome as medidas adequadas.

Do ponto de vista económico, as razões para a continuação do massacre das baleias são inexistentes. Para todos os produtos extraídos das baleias existem substitutos sintéticos, a preços mais compensadores. Hoje, dos cachalotes capturados nos Açores extrai-se óleo de fraca qualidade e de difícil venda. Existem na Região 800 toneladas de óleo à espera (até quando) de melhores preços.

Sabendo-se que são, apenas, sete os países que podem comprar o óleo açoriano sem correrem o risco de infringirem as posições que têm tomado no seio da IWC, quem estará interessado em comprar o nosso óleo?

No dizer de Zé Lima e Gérald Le Grand, em artigo publicado na revista “SOBREVIVER”, o verdadeiro lucro é o resultado do tráfico ilegal dos dentes de cachalote. O que faz lembrar o sinistro destino dos elefantes africanos, massacrados para que os turistas de todo o mundo pudessem ter direito ao seu “souvenirzinho”…”.

No que toca ao número de pessoas ligadas ao sector, podemos acrescentar que é tão diminuto que, facilmente, poderão ser encaminhadas para outras actividades também lucrativas.

O jornal “Açoriano Oriental” de 5 de Junho de 1981, num artigo publicado a propósito do Dia Mundial do Ambiente, referia-se às possibilidades de reciclagem da indústria baleeira, citando a dado passo; “… A MAIOR PARTE DAS EMBARCAÇÕES UTILIZADAS NA CAÇA À BALEIA, PODEM SER EMREGUES IMEDIATAMENTE NOUTRAS FORMAS DE PESCA. AS USINAS DE TRATAMENTO DE CACHALOTES SÃO TODAS MUITO VELHAS (apenas 1 funciona realmente) E A SUA TRANSFORMAÇÃO É URGENTE. SERIA MUITO MAIS ÚTIL PARA A REGIÃO MONTAR USINAS DE TRATAMENTO DE PEIXE DO QUE RENOVAR UMA INDÚSTRIA QUE DESAPARECERÁ DENTRO DE 10 OU 15 ANOS, LOGO QUE NÃO HAJAM MAIS BALEIAS. E ISTO NUMA ALTURA EM QUE SE DESENVOLVE O SECTOR DAS PESCAS NA REGIÃO… O DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO DOS AÇORES ESTÁ NA SUA JUVENTUDE E AS BALEIAS PODEM CONTRIBUIR PARA O SEU SURTO. NÃO HÁ MUITAS REGIÕES DO MUNDO ONDE SE POSSA ENCONTRAR AS BALEIAS, FOTOGRAFÁ-LAS E OUVI-LAS CANTAR. O EXEMPLO DA FLÓRIDA E DO SEU ARQUIPÉLAGO DO HAWAI MOSTRA QUE TAL ACTIVIDADE É PROCURADA E RENTÁVEL…”

Esperamos que o Governo Regional cumpra o que vem expresso no Plano a Médio Prazo (1981/84), nomeadamente o objectivo em que se propõe a defesa das espécies animais e a recuperação de sistemas com vista à preservação das espécies em vias de extinção.

É urgente começar-se, desde já, a pensar na reciclagem da indústria baleeira, para que em 1985 Portugal não esteja incluído na lista dos países responsáveis pelo extermínio das baleias.

Apesar do regozijo com que foi recebida, pelos ecologistas, a proposta apresentada pelas Seyshelles proibindo a partir de 1985 toda a caça comercial da baleia, pensamos que tal medida poderá funcionar como arma de dois gumes, já que não foi aceite por unanimidade. Segundo o “EXPRESSO” de 31 de Julho de 1982, “AO APROVAREM A PROIBIÇÃO TOTAL DA CAÇA DA BALEIA A A PARTIR DE 1985, OS PAÍSES DE ICW PODERÃO TER, DE FACTO, COLOCADO UM TRAVÃO NO EXTERMÍNIO NO MAIOR ANIMAL VIVO DA TERRA. MAS, AO MESMO TEMPO, PODERÃO TER ABERTO CAMINHO A QUE AS MAIORES POTÊNCIAS BALEEIRAS SE DESOBRIGUEM DAS DECISÕES DA COMISSÃO E PASSEM A EXERCER A CAÇA SEM QUALQUER CONTROLE INTERNACIONAL. E, NESSE CASO, SEM OUTRO TRAVÃO A ESSA PRÁTICA QUE O DAS HABITUAIS CONDENAÇÕES VERBAIS, NÃO PODERIAM ESTAR EM MAIOR RISCO OS POUCOS MILHARES DE BALEIAS QUE AINDA HOJE EXISTEM ESPALHADAS PELOS MARES”.

( Publicado no boletim “Priôlo”, nº 1, Primavera de 1983)

Sem comentários: