sábado, fevereiro 03, 2007

FÍSICA E DEFESA DO AMBIENTE


No século XX, sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial, assistiu-se ao desenvolvimento acelerado das ciências, entre as quais a Física, que alcançou uma maturidade que a maioria das restantes ainda não atingiu. Tal não foi obra do acaso. “A Física é, na realidade, a ciência que relações mais intimas tem com a tecnologia e, por isso, aquela que mais directamente serve o sistema produtivo”.

A civilização industrial encara a ciência de duas formas distintas: na primeira, a ciência “seria necessária para desenvolver a produção e activar os sectores de ponta da economia”, contribuindo para a expansão económica da sociedade; na segunda, a ciência seria necessária para desenvolver as forças produtivas, dominar a natureza e pôr esta ao serviço do homem, e ao colocar o desenvolvimento tecnológico dependente exclusivamente da obsessão do crescimento ilimitado e do incentivo do lucro está-nos a levar à beira da destruição.

A Física não escapa ao que nos vimos referindo, servindo até para manter esquemas de dominação imperialistas na maioria dos casos. Na verdade, a maioria dos cientistas põem os seus conhecimentos ao serviço de políticas armanentistas dos masi variados países e tem sido com os mesmos fins que têm prosseguido as investigações no domínio da física nuclear, nomeadamente no da energia nuclear em que a sua utilização para fins pacíficos não deixa de ser um subproduto da sua utilização para fins militares.

A ciência, os conhecimentos ciêntíficos e a tecnologia postas ao serviço da industrialização selvagem não têm contribuido para o surgimento da sociedade da harmonia, da abundância e do bem-estar, mas bem pelo contrário o modelo de crescimento exponencialista adoptado cada vez menos serve o homem e cada vez mais degrada o meio ambiente , e elimina as condições mínimas necessárias para a existência ou a sobrevivência da própria espécie humana sobre a Terra.

Dado que o progresso ilimitado que nos é proposto pela civilização industrial nem sempre teve em conta o conhecimento das leis da Natureza, é urgente que a ciência e a tecnologia se libertem da servidão ao “economicismo” e passem a prestar atenção à necessidade de manter o equilíbrio entre as sociedades humanas e o meio ambiente, entendendo por este o seu todo- natural, social, político, económico, tecnológico, ecológico, histórico, cultural, estético, etc..

Os cientistas, em particular os físicos deveriam desempenhar um papel importante na criação de uma sociedade onde, tal como nos diz o professor universitário Maurice Bazin, “a ciência deveria ser feita para o povo, quer dizer, servir o bem-estar de todos” e os físicos não deveriam sentir-se ameaçados por esta ideia, mas pelo contrário aceitar este desafio de responder às necessidades de todos os seres humanos”.

Em suma, a ciência, particularmente a Física, e a tecnologia deveriam apontar “o caminho da não-violência, ao invés da violência, da cooperação harmoniosa com a natureza; de soluções silenciosas, que gastem pouca energia, limpas e económicas, ao invés de soluções barulhentas, brutais, sujas e que levam ao desperdício e ao alto consumo de energia” (F. Schumacher)

(Publicado no jornal “Directo”, em 12 de Janeiro de 1983)

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