Blog onde se pretende registar um pouco da história das lutas e intervenções em defesa do ambiente nos Açores.
terça-feira, junho 05, 2018
“Não foi para morrer que nós nascemos”. O movimento Ecológico do Porto (1974-1982)
“Não foi para morrer que nós nascemos”. O movimento Ecológico do Porto (1974-1982)
Numa coedição do Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória”, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e das Edições Afrontamento, foi publicado recentemente, o livro de Bruno Madeira intitulado “Não foi para morrer que nós nascemos”. O movimento Ecológico do Porto (1974-1982)”.
Como se sabe, antes da chamada Revolução dos Cravos existia apenas uma organização de defesa do ambiente, a LPN-Liga para a Proteção da Natureza, fundada em 1948 por iniciativa do Prof. Carlos Baeta Neves e que teve uma ação, embora importante, muito limitada pelos entraves à participação cívica impostos pelo Estado Novo.
O livro referido, veio colmatar uma grande lacuna até então existente, pois veio dar a conhecer não só as principais organizações criadas após o 25 de abril de 1974, como as diversas publicações, as principais iniciativas e os pioneiros do multifacetado movimento de defesa do ambiente em Portugal.
Das organizações que surgiram logo a seguir à implantação do regime democrático, destaco o MEP-Movimento Ecológico Português fundado no dia 27 de julho de 1974, em Lisboa, por um conjunto de pessoas, sendo a mais conhecida o professor do primeiro ciclo, jornalista e escritor Afonso Cautela que também foi o responsável pela edição do jornal da organização denominado Frente Ecológica.
No Porto, tiveram grande responsabilidade pelo surgimento do movimento ecológico dois exilados que regressaram ao país, Jacinto Rodrigues e José Carlos Costa Marques. Este último, foi responsável, a partir de outubro de 1974, pela coleção Viver é Preciso, ligada às Edições Afrontamento, que ainda hoje existe e que publicou um conjunto de livros que muita influência exerceram sobre os seus leitores.
De acordo com Bruno Madeira, através dos escritos de José Carlos Marques, conclui-se que “o movimento ecologista portuense, afirma a equidistância e a recusa dos modelos capitalista e socialista soviético – ambos tidos como sistemas produtivistas e incompatíveis com o ideário e soluções propostas pelos ambientalistas”.
José Carlos Marques que tem visitado os Açores, a última vez aquando da apresentação do fabuloso livro de Aldo Leopold, “Pensar como uma montanha”, na qualidade de editor das Edições Sempre-em-Pé, que acaba de lançar o livro de Ivan Illich “Para uma História das Necessidades”, é quanto a mim a figura principal do movimento ecológico português. Sem ser muito exaustivo refiro que José Carlos Marques, em atividade desde abril de 1974, esteve ligado o MEP, foi um dos fundadores do Grupo Autónomo de Intervenção Ecológica do Porto e da sua revista “Alternativa”, foi um dos responsáveis pela revista “A Urtiga”, esteve envolvido na organização do I Festival pela Vida e Contra o Nuclear e foi um dos fundadores e é o atual presidente da associação de defesa do ambiente Campo Aberto.
Outra organização criada logo após o 25 de abril de 1974 foi o NPEPVS – Núcleo Português de Estudos e Proteção da Vida Selvagem que reuniu um grupo de pessoas que estiveram envolvidas numa tentativa de criação, ainda durante a ditadura de um “Clube dos Amigos da Natureza”.
Na criação desta organização esteve envolvido Nuno Gomes de Oliveira que também esteve ligado ao Grupo Autónomo de Intervenção Ecológica do Porto e foi colaborador da revista “Alternativa”. A partir de 1983, foi o principal dinamizador do Parque Biológico de Gaia, tendo sido seu diretor até 2016.
Que influência tiveram as organizações, as publicações ou as personalidades referidas nos Açores?
Começando pelo fim, o NPEPVS teve uma delegação nos Açores que chegou a possuir uma sede em Vila Franca do Campo. Em relação a Afonso Cautela sabemos que os seus textos, alguns disponíveis na internet, chegaram ao arquipélago e as publicações da responsabilidade de José Carlos Marques foram e continuam a ser lidas por alguns açorianos.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31538, 6 de junho de 2018, p. 17)
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